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Diferenciando Pitus e Camarões-Fantasma 2 |
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Diferenciando Pitus e Camarões-Fantasma: Mitos e Verdades. |
artigo publicado em 24/03/2014, última atualização em 17/06/2022
Diferenciando Pitus e Camarões-Fantasma:
Mitos e Verdades (parte 2)
Adendo (2020): Chave auxiliar para diferenciar M. jelskii, M. amazonicum e M. acanthurus
Em 2017 foi publicado na revista Zootaxa a redescrição do Macrobrachim jelskii por
Ana Luiza Vera-Silva e colaboradores. O material tipo desta espécie
havia se perdido, então o artigo redescreve esta espécie com novo
espécime-tipo (link para o artigo pode ser visto aqui). O artigo é
bastante rico, vale uma leitura. Mas além disso, interessante para nós,
ele inclui uma chave de identificação com esta espécie e duas outras
que frequentemente são confundidos com ela, o M. amazonicum e M. acanthurus. Que são exatamente as três espécies que mais geram confusão em nós, aquaristas. Segue a tabela com as características usadas para a diferenciação, e algumas imagens ilustrativas:
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M. jelskii
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M. amazonicum
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M. acanthurus
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Rostro
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Mesmo comprimento do escafocerito,
ou discretamente maior
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Ultrapassa o escafocerito e com
curvatura proeminente para cima
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Mesmo comprimento do escafocerito,
ou discretamente maior
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Porção do rostro sem dentes
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Pouco evidente
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Mais evidente
|
Pouco evidente
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Razão entre carpo e quela
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Carpo claramente mais longo
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Carpo claramente mais longo
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Carpo e quela do mesmo
comprimento
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Aumento distal do carpo
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Abrupto
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Gradual
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Gradual
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Espinho posterior interno do
telso
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Claramente ultrapassa o ápice
mediano
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Não atinge o ápice mediano em
adultos
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Claramente ultrapassa o ápice
mediano
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Ovos
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Grandes, entre 10 e 69
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Pequenos, 696 a 2193
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Pequenos, 171 a 7043
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Comparação entre os rostros das três espécies, ilustração de Walther Ishikawa. Note as diferenças de comprimento, a crista basal e a porção sem dentes. Adaptado de Vera-Silva et al. Zootaxa 2017.
Rostro do Macrobrachium amazonicum, longo e com o ápice curvado para cima, com crista basal evidente e longa porção sem dentes. Foto gentilmente cedida por Flávio Mendes.
Rostro do Macrobrachium jelskii, mais curto e com pequena porção sem dentes. Foto gentilmente cedida por Flávio Mendes.
Rostro do Macrobrachium acanthurus, mais curto e com pequena porção sem dentes. Foto gentilmente cedida por Flávio Mendes.
Comparação
entre as quelas das três espécies, ilustração de Walther Ishikawa.
Note as relações de comprimento entre carpo e quela, e o aumento distal do carpo. Adaptado de Vera-Silva et al. Zootaxa 2017. Fotos de Juan Felipe Zulian Santos, Walther Ishikawa e Rafael Senfft.
Comparação
entre os telsos das três espécies, ilustração de Walther Ishikawa.
Note a relação entre os comprimentos do seu espinho posterior interno e o ápice mediano. Adaptado de Vera-Silva et al. Zootaxa 2017.
Comparação
entre os telsos das três espécies, fotos de Walther Ishikawa.
Comparação entre os telsos das três espécies, fotos de Guilherme A. Fischer, Gabriel Góes e Walther Ishikawa.
Comparação
entre os telsos do Macrobrachium amazonicum (acima) e Macrobrachium jelskii (abaixo). Fotos gentilmente cedidas por Flávio Mendes. Comparação
entre os ovos do Macrobrachium jelskii (acima), Macrobrachium acanthurus (centro) e Macrobrachium amazonicum (abaixo). Fotos gentilmente cedidas por Flávio Mendes. Macrobrachium lar? Em muitas fontes da internet em língua portuguesa se encontra a informação de que os “camarões fantasma” são da espécie Macrobrachium lar.
Certamente é uma informação equivocada, já que esta espécie é asiática,
e não existem registros de introdução ou coleta desta espécie exótica
no território nacional, apesar de ser um camarão bastante utilizado em
carcinicultura nos países de origem. Além disto, esta espécie atinge
grandes dimensões, é agressiva e têm pinças grandes, encaixando-se
muito mais no perfil de um “pitu” do que de um “fantasma”. A
origem deste erro é obscura, aparentemente foi uma informação errada
postada numa página alemã (parece ter sido uma confusão com o M. lanchesteri,
uma espécie bem comum de “fantasma” na aquariofilia européia), que foi
copiada por um fórum português, e dali se disseminou na internet
brasileira. Quer dizer, mais um erro que foi sucessivamente sendo
copiado, sem ninguém checar a veracidade dos dados.
Macrobrachium lar, fotografado emerso próximo a um riacho em Okinawa, Japão. Foto de Shawn Miller. Veja sua galeria do Flickr aqui.
Macrobrachium lar, exemplar de carcinicultura, criado em Vanuatu. Foto cortesia de SPC (Secretariat of the Pacific Community). Visite sua página aqui.
Macrobrachium lanchesteri, uma espécie comum de "fantasma" na Europa. Foto de Chris Lukhaup.
Palaemonetes? Muitas fontes de internet ainda se referem aos Camarões-fantasma brasileiros como “Palaemonetes”, por serem traduções de textos em inglês, já que a espécie de “Fantasma” no mercado de aquarismo norte-americano é o Palaemonetes paludosus (Gibbes, 1850) (atualmente Palaemon). Na realidade, as espécies mais frequentemente encontradas de “Fantasmas” no Brasil pertencem ao gênero Macrobrachium, como já vimos anteriormente. Também já foi mencionado que atualmente o gênero Palaemonetes não é mais considerado válido. Análises moleculares recentes (2013) invalidaram este gênero, considerando-o um sinônimo menor de Palaemon. Desta forma, o gênero Palaemon no Brasil passou a comportar seis espécies, englobando as quatro previamente classificadas como Palaemonetes.
Palaemon paludosus (antigo Palaemonetes paludosus), a espécie mais comum de "fantasma" nos EUA. Foto de Morbid (PlanetInverts).
“Camarões-fantasma” são mesmo pacíficos? É importante lembrar que todos os “fantasmas” são palaemonídeos. Ou seja, são diferente dos atiídeos (Atya, Potimirim), que se alimentam de algas, ou são filtradores de detritos. Palaemonídeos são onívoros, e parte da sua dieta é carnívora, consiste em animais caçados. Ou seja, é mais correto imaginá-los como pequenos parentes dos grandes “pitus” que se especializaram em um modo de vida que não é primariamente de caça. Mas não são animais herbívoros. Desta forma, é importante deixar claro que é seguro a manutenção de “fantasmas” com peixes, independente da sua dimensão. Porém, não é possível garantir a segurança de pequenos invertebrados bentônicos, especialmente se forem muito menores do que os camarões. Nesta categoria se encaixam os pequenos caramujos ornamentais (como o “Red Ramshorn”), e os camarões-anões (“Red Crystal”, “Red Cherry”, etc). Muitas vezes é possível uma convivência pacífica entre estes animais, mas filhotes são muitas vezes predados, especialmente se for um espécime mais avantajado de “fantasma”.
Bibliografia:
- Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
- Souza JSI. Enciclopédia Agrícola brasileira: C-D. São Paulo: EdUSP, 1996.
- D’Ávila CRG. et al. Revisão taxonômica dos camarões de água doce (CRUSTACEA: DECAPODA: PALAEMONIDAE, SERGESTIDAE) da Amazônia Peruana. 80f. Dissertação (Mestrado). MCT/INPA, Manaus, 1998.
- Sampaio SR. et al. Camarões de águas continentais (Crustacea, Caridea) da Bacia do Atlântico oriental paranaense, com chave de identificação tabular. Acta Biol. Par., Curitiba, 38 (1-2): 11-34. 2009.
- Melo SG. et al. Desenvolvimento larval de Macrobrachium birai Lobão, Melo & Fernandes (Crustacea, Decapoda, Caridea, Palaemonidae) em laboratório. Revista Brasileira de Zoologia 22 (1): 131–152, março 2005.
- Maciel CR, Valenti WC. 2009. Biology, fisheries and aquaculture of the Amazon River Prawn Macrobrachium amazonicum: a review. Nauplius 17(2):61-79.
- da Silva RR. et al. Fecundity and fertility of Macrobrachium amazonicum (Crustacea, Palaemonidae). Braz. J. Biol. vol.64 no.3a São Carlos Aug. 2004.
- Wowor D. Ng PKL. The giant freshwater prawns of the Macrobrachium rosenbergii species group (Crustacea: Decapoda: Caridea: Palaemonidae). Raffles Bulletin of Zoology 55 (2): 321-336. 2007.
- Moraes-Riodades PMC, Valenti WC. 2004. Morphotypes in male Amazon River Prawns, Macrobrachium amazonicum. Aquaculture, 236(1-4):297-307.
- Magalhães C, Bueno SLS. et al. Exotic species of freshwater decapod crustaceans in the state of São Paulo, Brazil: records and possible causes of their introduction. Biodiversity and Conservation (2005) 14: 1929–1945.
- http://www.sekaiscaping.com
- http://www.aquahobby.com
- http://www.fao.org
- http://www.caunesp.unesp.br
- http://www.dnocs.gov.br
- Vera-Silva AL, Carvalho FL, Mantelatto FL. Redescription of the freshwater shrimp Macrobrachium jelskii (Miers, 1877) (Caridea, Palaemonidae). Zootaxa. 2017 May 19;4269(1):44-60.
Agradecimentos aos colegas Alexander Mee-Woong Kim (EUA), Ricardo Hellmann, Melo Salazar (México), Rony Suzuki, Solange Nalenvajko, Fernando Barletta, Flávio Mendes, Juan Felipe Zulian Santos, Rafael Senfft, Mario Gervasi (Argentina), Mustafa Ucozler (EUA), Romina Arakaki (Argentina), Shawn Miller (Japão), Guilherme A. Fischer, Gabriel Góes e também ao CAUNESP (Centro de Aquicultura da Universidade Estadual Paulista) e SPC (Secretariat of the Pacific Community) pela cessão das fotos para o artigo.
As fotografias de Walther Ishikawa, Felipe Aoki Gonçalves, Chantal Wagner e Guilherme A. Fischer estão licenciadas sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
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