Paludário de Caranguejos do Mangue (parte 2)
Texto e fotos de Walther Ishikawa
Os Caranguejos!!
A fauna estável do paludário é de cerca de 13 caranguejos, de
diversas espécies. Segue algumas reflexões sobre estes maravilhosos animais.
O maior caranguejo do paludário é um Guaiamum fêmea, que
consegui acompanhar seu desenvolvimento desde a sua coloração juvenil até a
adulta. Coletei ele pequeno, mas desde o início ele era o maior animal do tanque.
Isso me preocupou no início, mas não tive nenhum problema de agressividade. Era
bastante colorido, com áreas roxas bem intensas, e depois ganhou uma coloração
azul sólida. Já ouvi muitas histórias de Guaiamuns sendo criados em quintais
por décadas, reconhecendo e interagindo com o dono. Ficava entocado durante o dia,
mas era bem ativo à noite.
Quando estava desativando meu paludário, recebi uma doação de um Guaiamum de um pet shop. Um cliente da loja estava criando o caranguejo no quintal. Era uma grande fêmea, um fato interessante é que pouco após ter sido introduzido no paludário, os dois Guaiamuns mudaram de cor para uma coloração reprodutiva. Conviveram algumas semanas juntas, e aparentemente houve uma briga, a menor (mais antiga) perdeu uma das quelas. Pouco depois foram doados para um amigo, e criadas soltas. Soube que foram soltas na natureza alguns anos depois.
Guaiamum já bem adaptado, no início passava bastante tempo submerso.
O grande Guaiamum próximo à ecdise, já com mudança na sua coloração. Note o broto se formando no local onde perdera a quela. Passava muito tempo junto à sua toca, no canto mais isolado do paludário.
Ecdise do Guaiamum, submerso no fundo da sua toca. Note a quela regenerada nas fotos após. A coloração também já se aproxima de um padrão adulto.
Quando já estava desativando o paludário, recebi uma doação de um Guaiamum, que conviveu com o primeiro caranguejo por pouco tempo. Curiosamente, os dois mudaram para uma coloração reprodutiva pouco depois.
Tive também três Sesarma rectum (duas fêmeas e um macho),
na verdade não planejava ter muitos caranguejos da mesma espécie, coletei eles
acidentalmente pensando ser espécies diferentes. Era o segundo em termos de
dimensão (quase 3 cm de carapaça), muito bonitos, com áreas enegrecidas e de
laranja vivo. Eram os caranguejos mais ativos, caminhando por todo o tanque,
mesmo de dia. Foi interessante ter três animais, pude presenciar um complexo
relacionamento social, comunicando-se com sons estridulantes emitidos e percussões de objetos
com sua quela. Vi também o momento da cópula,
além de ter conseguido reproduzir-los, algo inédito na
ocasião, mesmo em literatura científica. Descrevi mais detalhes da reprodução neste artigo. Infelizmente descobri que são um pouco agressivos, presenciei uma
predação de um pequeno Armases, e provavelmente o desaparecimento de alguns
Violinistas foi por conta desta espécie.
Fêmea Sesarma,
já havia coletado ela bem grandinha, tinha um dos olhos deformados.
Reproduziu-se várias vezes no paludário, criei ela até morrer,
aparentemente de idade.
Mais fotos dos Sesarma no paludário, bastante ativos. Nas últimas fotos, o macho, com suas grandes quelas.
Ecdise da segunda fêmea Sesarma rectum, quando regenerou sua quela, e a bela coloração imediatamente após.
Cópula, uma das fêmeas ovada e a primeira desova do Sesarma rectum no paludário. Mais imagens da reprodução desta espécie em artigo específico.
Filhote de Sesarma rectum nascido no paludário.
Criei vários Armases angustipes (que vivem em bromélias) e
Armases rubripes, duas
espécies fascinantes. Ambos vivem em árvores, escalando troncos,
escaparam algumas vezes do paludário, obrigando-me a fechar toda
pequena fenda
na tampa, com adesivos e pedaços de papel alumínio. O incrível é que
eles escalavam
a parede pelo fio elétrico do filtro, e também por pequenas
irregularidades do silicone
nas quinas do aquário. Acredito que o A. angustipes viva melhor em água doce, se algum dia for criar esta espécie novamente, pretendo tentar num paludário de água doce, cheio de bromélias e outras plantas.
Armases rubripes,
coletei vários pequenos, desenvolveram-se muito bem no paludário.
Vários foram capturados sem pernas, que se regeneraram no paludário.
Ecdise e regeneração de quelas nos Armases rubripes.
As primeiras fotos mostram exúvias de um casal, as últimas um dos
caranguejos que foi coletado sem ambas as quelas, que regeneraram. A
última foto mostra as quelas ainda bem clarinhas e translúcidas, após a
ecdise.
Armases rubripes e Armases angustipes tentando fugir do paludário. Na natureza, estas duas espécies escalam árvores. Nas duas primeiras fotos, A. rubripes, escalando o fio elétrico e pendurado na tampa do aquário. Na terceira, dois A. angustipes subindo pelo fio elétrico do filtro.
Caranguejo-da-bromélia, Armases angustipes. Na primeira foto, junto ao Catanhão.
Havia também um único Catanhão, também bastante ativo.
Depois descobri que é uma espécie agressiva, mas não tive problemas, talvez por
ser pequeno. Construía tocas na areia, muitas vezes conseguia ver o interior da
toca através do vidro do aquário. E também um único Uçá, pequeno e muito
tímido, ficava meses sem ver ele.
Catanhão explorando o paludário na sua porção submersa.
Toca do Catanhão, construída junto ao vidro do paludário.
Ecdise do Catanhão, e o caranguejo com as cores bastante vivas após. Na segunda foto, junto à torre do FBF, a exúvia pode ser vista ao fundo.
Uçá na sua toca, no tronco oco no centro do paludário.
Caranguejo-do-mangue ou Uçá, na porção aquática do paludário.
Coletei acidentalmente um pequeno Aratu-vermelho, que
consegui identificar somente quando cresceu um pouco. Muito ariscos e
agressivos, confirmei que não são uma boa opção para sere criados com outras
espécies.
Filhote de Aratu-vermelho (Goniopsis cruentata), introduzido acidentalmente no paludário, retirado depois. Espécie agressiva, não indicada para criação junto a outras espécies.
Tentei criar vários Violinistas, incluindo alguns grandes Leptuca thayeri, que morreram em poucos meses. Hoje acredito que tenha sido
um problema de salinidade, já que preferem ambientes um pouco mais salinos.
Alguns outros pequenos devem ter sido predados. Se algum dia for tentar novamente com Violinistas, acho que montaria um paludário dedicado a este tipo de caranguejo, com um grupo de espécies que vivam bem em determinada salinidade.
Outra espécie que foi
introduzida e morreu em pouco tempo foi um Pachygrapsus transversus. É uma
espécie encontrada tanto em litorais marinhos e estuários, embora resistente,
talvez não consiga viver em água salobra por muito tempo.
Chama-marés ou Violinistas, respectivamente Leptuca thayeri, Leptuca leptodactyla, Minuca mordax, e Minuca rapax.
Pachygrapsus transversus, uma bela espécie que infelizmente não se adaptou bem à água salobra.
Pensei em criar alguns outros invertebrados de água salobra
juntos, como Neritinas e alguns Camarões-fantasmas deste tipo de habitat (como o
Palaemon pandaliformis), mas não consegui coletar neste período. O único que
foi introduzido foi o pequeno Caracol cafezinho-do-mangue (Melampus coffea), que se
adaptou bem. Outro caracol que gostaria de ter tentado são os do gênero Littorina.
Caracol cafezinho-d-mangue, o único invertebrado que habitava o paludário além dos caranguejos.
Foi uma experiência fascinante, espero que este artigo possa inspirar outros aquaristas a montar estes paludários salobros, seja com caranguejos ou com outros animais e peixes destes ambientes. É um tipo de montagem bastante incomum, em parte porque carrega uma aura de dificuldade. Não é difícil, sabendo alguns truques básicos.
Obrigado pela leitura!!