Ampulárias podem depositar ovos não fertilizados, que podem ser indistinguíveis de ovos normais. À medida que os ovos se desenvolvem, é esperado que o embrião opaco e mais escuro seja visível no seu interior, a dica é tentar olhar contra uma luz forte, da mesma forma que é feito com ovos de galinha. O ovo passa por uma mudança de cor também, tornando-se mais opaco e escuro. Se os ovos permanecerem claros, ou se estiverem demorando muito para eclodirem, pode se tratar de ovos não fecundados. Muitas vezes os ovos são malformados, com tamanhos diferentes e flácidos, ou formando cachos desorganizados. Estes tendem a apodrecer e a cheirar mal, ou ainda, desenvolver fungos.
Pode haver eliminação anormal dos ovos, por exemplo, todo o cacho de uma vez, submerso. É mais comum em ovos não fecundados, ou com outra anomalia. Pode acontecer também com ovos normais, especialmente se for a primeira oviposição da fêmea.
Cacho de ovos anormais sendo eliminados submersos. Vídeo e fotos cortesia de Alix Claire Erie.
Predação de ovos de Ampulárias por insetos
Não é propriamente uma doença das Ampulárias, mas decidimos incluir estas informações no artigo, por ser um achado relevante. Há alguns relatos de surgimento de larvas de insetos predando ovos de Ampulárias ornamentais, especialmente entre criadores dos EUA. O mais comum é por larvas de Mosquitinho-de-banheiro, dípteros da família Psychodidae, cujo artigo pode ser acessado aqui.
Sabe-se que ovos de Ampulárias possuem defesas contra predação, isto é mais evidente e mais bem estudado nas espécies do complexo canaliculata, como Pomacea canaliculata e P. maculata. Estes ovos de cores brilhantes (aposemáticos) são ricos em carotenoproteínas tóxicas, incluindo potentes neurotoxinas. No caso da espécie ornamental Pomacea diffusa, os ovos não possuem toxinas, mas carotenoproteínas estáveis e não-digeríveis que reduzem o valor nutricional destes ovos.
Embora incomum, há relatos de predação de ovos na natureza em diversas espécies, principalmente por formigas, como as Lava-pés (Solenopsis). Alguns trabalhos mencionam predação por outros animais, como caracóis e alguns dípteros, como Phoridae. Não há menção a Psychodidae, mas sabe-se que larvas de Psychoda alternata se alimentam de ovos de caramujos pulmonados como Biomphalaria e Lymnaea, sendo propostos até como agentes de controle biológico de vetores.
No caso dos relatos de aquaristas americanos, parece não se tratar da espécie comum Clogmia albipunctata, baseado em alguns detalhes morfológicos, como o formato dos cornos respiratórios das pupas. Trata-se provavelemnte de alguma espécie de Psychoda. Não parece haver relação com higiene ou condições de manutenção dos animais ou ovos. Geralmente são poucas larvas, predando principalmente aqueles quebrados, sem perda total do cacho de ovos.
Ovos de Pomacea maculata, fotografado na lagoa do Parque Martha Wellman, Tallahassee, Flórida (EUA). Nesta imagem, os ovos estão sendo atacados pela formiga invasora sul-americana Solenopsis invicta. Foto de Jess Van Dyke.
Larvas de Psicodídeos em ovos de Ampulária em um aquário ornamental dos EUA. Foto de Vicky Becerra.
Pupas de Psicodídeos que surgiram em ovos de Ampulária ornamental, nos EUA. Fotos de Laurie Alaimo.
Larvas de Clogmia albipunctata em ovos de Ampulária, em um aquário ornamental de São Paulo, SP. Fotos cortesia de Cindy Lopislazuli.
Larvas e pupas de Megaselia sp. (Phoridae) predando ovos de Ampulária em um aquário ornamental de Irbid, Jordânia. Fotos e vídeo cortesia de Ayman Alomari.
Bibliografia:
Bianchini AE, Descovi SN, Heinzmann BM, Baldisserotto B. 2021. Linalool induces relaxation of the mantle of golden apple snail (Pomacea canaliculata). Anais da Academia Brasileira de Ciências. v. 93, suppl 4, e20210078.
Heras H, Frassa MV, Fernández PE, Galosi CM, Gimeno EJ, Dreon MS. First egg protein with a neurotoxic effect on mice. Toxicon. 2008 Sep 1;52(3):481-8.
Frassa MV. Relación entre estructura y función de la perivitelina PV2 de Pomacea canaliculata (Gastropoda: Ampullariidae). Tesis de doctorado. Doctor en Ciencias Naturales. Facultad de Ciencias Naturales y Museo, Universidad Nacional de La Plata. 2011.
Dreon MS, Frassa MV, Ceolín M, Ituarte S, Qiu J-W, et al. (2013) Novel Animal Defenses against Predation: A Snail Egg Neurotoxin Combining Lectin and Pore-Forming Chains That Resembles Plant Defense and Bacteria Attack Toxins. PLoS ONE 8(5): e63782.
Pasquevich MY, Dreon MS, Heras H.The major egg reserve protein from the invasive apple snail Pomacea maculata is a complex carotenoprotein related to those of Pomacea canaliculata and Pomacea scalaris.Comp Biochem Physiol B Biochem Mol Biol. 2014 Mar;169:63-71.
Giglio ML, Ituarte S, Pasquevich MY, Heras H. The eggs of the apple snail Pomacea maculata are defended by indigestible polysaccharides and toxic proteins. Can. J. Zool.94, 777–785 (2016).
Fonseca AM, Sant’Anna BS. (2019) Predation on eggs of the apple snail Pomacea dolioides (Reeve, 1856) in rural and urban areas of the Amazon. Marine and Freshwater Research 71, 662-669.
Ituarte S, Dreon MS, Ceolin M, Heras H. Agglutinating activity and structural characterization of scalarin the major egg protein of the snail Pomacea scalaris (d’Orbigny, 1832). 2012. Plos One 7(11): e50115g
Santos NN, Miguel MCV, Mesquita EFM. Cultivo de Pomacea sordida (Swainson, 1823) em Cativeiro. Rev. bras. ciênc. vet. 2(3):81-86, set./dez. 1995.
Brola TR, Dreon MS, Qiu JW, Heras H. A highly stable, non-digestible lectin from Pomacea diffusa unveils clade-related protection systems in apple snail eggs. J Exp Biol. 2020 Oct 8;223(Pt 19):jeb231878.
El Bardicy S, Tadros M, Yousif F, Hafez S. Predatory activity of Psychoda alternata Say (Diptera: Psychodidae) larvae on Biomphalaria glabrata and Lymnaea natalensis snails and the free- living larval stages of Schistosoma mansoni. Australian Bas Appl Sci J. 2009;3:4503–4509.
Bever MM, Borgens RB. Eye regeneration in the mystery snail. J Exp Zool. 1988 Jan;245(1):33-42.
O’Brien MF, Pellett S. 2022. Diseases of Gastropoda. Front. Immunol. 12:802920.
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. 2018. Doenças de Animais Aquáticos de Importância para o Brasil - Manual de identificação no campo. CNA. 104p.
Damborenea C, Brusa F, Negrete L. Biol Manage Invasive Apple Snails. 2017. Symbionts and diseases associated with invasive apple snails; pp. 73–97.
Gorni GR, Alves RG. 2006. Naididae (Annelida, Oligochaeta) associated with Pomacea bridgesii (Reeve) (Gastropoda, Ampullaridae). Revista Brasileira de Zoologia 23 (4): 1059-1061.
De-Carli BP, Rotundo MM, Paschoal LRP, Andrade DP, Cavallari DC, Oceguera-Figueroa A, Alonso DD. 2014. First record of the association between the leech Helobdella triserialis (Hirudinea, Glossiphoniidae) and two species of Pomacea (Gastropoda, Ampullariidae) in Brazil. Pan-American Journal of Aquatic Sciences, 9(2): 136-140.
Fisher GR, Dimock RV Jr, Kuhn RE. The symbiotic water mite Unionicola formosa (Acari: Unionicolidae) ingests mucus and tissue of its molluscan host. J Parasitol. 2000 Dec;86(6):1254-8.
Chapurina YE, Konopleva ES, Vidrine MF, Vikhrev IV, Lunn Z, Chan N, Win T, Kondakov AV, Zubrii NA, Bespalaya YV, Aksenova OV, Gofarov MY, Bolotov IN. New Molecular-Based Phylogeny of Mussel-Associated Mites Reveals a New Subgenus and Three New Species Representing an Example of a Host-Driven Radiation in Indochina and Confirms the Concept of Division of the Genus Unionicola Haldeman, 1842 (Acari: Unionicolidae) into Numerous Subgenera. Diversity. 2022; 14(10):848.
Vidrine MF. 1985. Six new species in the subgenus Polyatax (Acari: Unionicolidae: Unionicola) from North America, with a re-evaluation of related taxa. International Journal of Acarology 11 (4): 273-287.
Zivano A. Temnocephala (Platyhelminthes, Rhabdocoela) asociados a moluscos (Caenogastropoda, Ampullariidae): ecología y biogeografía. Dissertação (Doutorado em Ciências Naturais) - Facultad de Ciencias Naturales y Museo – Universidad Nacional de La Plata, Buenos Aires, Argentina, 2022.
Schmidt-Ukaj S, Gumpenberger M, Mutschmann F and Richter B (2023) Case
report: Four cases of kidney disease in Giant African Land Snails (Lissachatina
fulica). Front. Vet. Sci. 10:1152281.
Falkingham P, Rae R. 3D morphology of nematode encapsulation in snail
shells, revealed by micro-CT imaging. Sci Rep 11, 2523 (2021).
Grewal PS, Grewal SK, Tan L, Adams BJ. Parasitism of
molluscs by nematodes: types of associations and evolutionary trends. J
Nematol. 2003 Jun;35(2):146-56.
Agradecimentos a Stijn Ghesquiere, responsável pelo portal applesnail.net, e também a Bill Frank(Jacksonville Shell Club) e Jess Van Dyke (Snail Busters), por permitir o uso do material e fotos. Agradecimentos também à aquarista norte-americana Donya Quick, moderadora do fórum deste portal, muitas das informações deste artigo foram extraídas de tópicos fixos no fórum, e de documentos de sua página pessoal, que pode ser acessada aqui. Agradecemos também às aquaristas Natália Aratanha, Kauê Braga, Carolina Colicigno, Amanda Donegá, Arthur Belver, Paula Antonino, Mariana Milhomem, Gabriel Saes, Telma Perrotta de Campos, Cláudio Moreira, Bruno Zaneratto Nascimento, Cindy Lopislazuli, Felipe Brandão,Terri Bryant (EUA), Alison Sherman (EUA), Madisen Nick (EUA), Meg Lo (EUA), Lavnyia (Lav´s Snails, EUA), Amy Lynn (EUA), Laurie Alaimo (EUA), Vicky Becerra (EUA), Ali Marie Cox (EUA), Mike Merstorf (EUA), Jeanne Swanstrom (EUA), Kacie Cozy Buchanan (EUA), Angela Harrison (EUA), Rachel Fahey (EUA), Heidi Anne Rebarchik (EUA), Leah Miramontes (EUA), Hannah Warzecha Seitz (EUA), Madeliene Lathrop (EUA), Lauren Hermann (EUA), Gary Levitt (EUA), Isadora Cascante (EUA), Andrew Schwab (EUA), Jess Peck (EUA), Brooke Buchholz (EUA), Eric Dilley (EUA), Julia Emily (EUA), Jonathan Thomas (EUA), Grace Micholic (EUA), Kaitlyn Rutman Hilaski (EUA), Beck James (EUA), Amy Peters (EUA), Tim Kilian (EUA), Deb Dyer (EUA), Katie Ravenwood (EUA), Megan Bourg (EUA), Alix Claire Erie (EUA), Karen McKown (EUA), Katryna Bredin (Canadá), Danielle Johnson (Canadá), Tabetha Rousom (Canadá), Sophie Louise (Austrália), Cathy Flanagan (Austrália), Jaimee Whittington-Werry (Nova Zelândia), Fahad Anwar (Índia) e Ayman Alomari (Jordânia) por nos permitir usar suas fotos e vídeos no artigo.