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Hemípteros aquáticos 3  
Artigo publicado em 02/09/2012, última edição em 22/10/2023  

Gerre Limnogonus aduncus, forma áptera, fotografado em Vinhedo, SP. Girinos podem ser vistos também na imagem. Foto de Walther Ishikawa.



Hemípteros aquáticos


Terceira e última parte do artigo abordando os hemípteros aquáticos, a primeira parte pode ser vista aqui . Nesta página abordaremos as características das famílias das infraordens Gerromorpha e Leptopodomorpha.




2. Infraordem Gerromorpha


São os hemípteros chamados por alguns de "semi-aquáticos", a maioria vive sobre a superfície d´água, alguns são ripícolas e de áreas intertidais. Morfologicamente distinguem-se por terem antenas longas e conspícuas, inseridas na frente dos olhos. Possuem o corpo aveludado, coberto de pequenas cerdas hidrófobas. Suas asas anteriores não são claramente diferenciadas em uma porção coriácea anterior e membranosa posterior. Todos são predadores, e muitas espécies são gregárias.




Gerridae


Insetos de pernas longas e delgadas que passam praticamente toda a sua vida deslizando habilmente sobre a superfície da água, usando para isto a tensão superficial e suas pernas hidrofóbicas. São conhecidas popularmente como Aranhas d´água (embora não sejam aranhas), Gerres ou Jesus (por andarem sobre a água), em inglês são chamadas de Waterstriders ("andarilhos d´água").  Preferem locais sem correnteza, e algumas espécies são encontradas em alto mar (Halobates), associadas a algas sargaço. São animais bastante sensíveis a vibrações na superfície da água, usando-as para se comunicar e localizar presas.

13 gêneros ocorrem no Brasil, de tamanho variável, dentre as espécies brasileiras, de 1,5 mm (Rheumatobates minimus) até 20 mm (Cylindrostethus palmaris). Corpo de diversos formatos, de aspecto globular a alongado, pernas dianteiras curtas e fortes, pernas médias e posteriores sempre finas e muito alongadas. Grande polimorfismo alar, com indivíduos ápteros, micrópteros, braquípteros ou macrópteros (geralmente com predomínio dos primeiros), sendo frequentemente mencionado como exemplo de adaptação neotênica. Algumas espécies realizam autotomia (automutilação) das asas.




Gerre Limnogonus aduncus, fotografados em Barra Bonita, SP (primeira foto, uma ninfa), e Vinhedo, SP (demais). Muitos gerrídeos mostram grande polimorfismo no comprimento das asas, na segunda foto pode ser visto um indivíduo áptero. Medem cerca de 3 cm. Fotos de Walther Ishikawa.





Casal de um pequenino Gerre, Rheumatobates crassifemur crassifemur (cerca de 10 mm de envergadura, incluindo as patas), fotografados em Vinhedo, SP. Um dos poucos gêneros com dimorfismo sexual bem demarcado, o macho possui antenas e patas modificadas para se agarrar à fêmea, nos rituais de acasalamento. A segunda imagem mostra uma fêmea com uma presa, e a terceira, um macho. Fotos de Walther Ishikawa.



Close nas antenas de um casal de Rheumatobates, destacando a diferença nas suas antenas. Imagem gentilmente cedida pelo Dr. Abderrahman Khila.



Casal braquíptero de Rheumatobates crassifemur schroederi, fotografado no Rio Grande do Norte. Foto gentilmente cedida por Tibério Graco.



Rheumatobates sp. macróptero, bastante incomum, fotografado em Foz do Iguaçu, PR. Foto de Walther Ishikawa. 






Um minúsculo Gerre, Rheumatobates minutus, ninfas e adulto (cerca de 1 mm de comprimento do corpo das ninfas, 3 mm o adulto), a menor espécie brasileira, fotografados em Vinhedo, SP. Esta espécie não mostra o típico dimorfismo sexual do gênero. Fotos de Walther Ishikawa.












Um grande Gerre Cylindrostethus palmaris, fêmea, fotografado nas margens do Rio Jaguari, em Areia Branca, SP. Trata-se do maior gerrídeo brasileiro. Fotos de Walther Ishikawa.





Cylindrostethus palmaris, fotografado em Cláudia, MT. Foto de Kennedy Borges.





Brachymetra cf. albinervus, forma áptera (mais comum) e forma macróptera. Fotografados respectivamente em Buritis, MG (foto de Bruna Midori) e Brasília, DF (foto de Rodrigo Conte).







Ninfas de gerrídeos
Brachymetra cf. albinervus fotografados em Paraty, RJ. Fotos de Walther Ishikawa.



 

 






Gerrídeos Halobates micans, gênero que habita o alto mar, fotografados nas praias de Aquiraz, CE (primeiras fotos, de Walther Ishikawa), e em Tramandaí, RS (últimas f
otos, de Roberta Capra).




Gerrídeos Halobates micans, ovos em uma concha de Spirula spirula, e as ninfas recém-nascidas. A foto em Aquiraz, CE (foto de Walther Ishikawa), vídeo em Aracaju, SE (cortesia de Miguel Macedo Luz Vieira).






Gerres, Halobatopsis platensis, cerca de 0,8 cm em Vinhedo, SP, e Halobatopsis delectus, cerca de 2,5 cm, fotografados em Monte Verde, MG. São casais, o macho de menores dimensões. Um pequeno besouro Girinídeo também é visível na última foto. Fotos de Walther Ishikawa.











Halobatopsis
sp. (Talvez H. spiniventris), fotografados em Jundiaí, SP. Nas duas últimas fotos, duas fêmeas pós-ecdise (daí sua cor clara), com as exúvias. Fotos de Walther Ishikawa.



Exemplar alado de
Halobatopsis cf. chrysocastanis, fotografado em Brasília, foto gentilmente cedida por Victor Vanazzi.





Ninfa de Halobatopsis sp. junto a um Barqueiro Notonectídeo, fotografado nas margens do Rio Jaguari, em Areia Branca, SP. Foto de Walther Ishikawa.




Neogerris sp.fotografados em Iranduba, AM. Fotos de Roberto E. Llanos-Romero.





Provável ninfa de Neogerris 
fotografado em Nazaré Paulista, SP. Foto de Walther Ishikawa.





Tachygerris fotografado em Marco, Belém, PA. Note as típicas antenas bastante longas. Este gênero só tem indivíduos alados. Foto de Roberto E. Llanos-Romero.





Um gerrídeo Rheumatobates e um velídeo simpátricos que habitavam o estuário do Rio Cavalo, em Itamambuca, Ubatuba, SP. Rheumatobates são comuns em estuários e manguezais. Fotos de Walther Ishikawa.




Veliidae


É o grupo de hemípteros aquáticos mais numeroso em termos de espécies no Brasil, com cerca de 105 espécies catalogadas. Robustos, medem até cerca de 10 mm. Lembram percevejos comuns, com cabeça curta e larga, mas com pernas longas e adaptadas à patinação na superfície da água.  Polimorfismo alar comum, com espécies ápteras, micrópteras, braquípteras e macrópteras. Pode haver evidente dimorfismo sexual, com dois padrões: fêmeas medindo quase o dobro dos machos, que podem ser foréticos passando boa parte do tempo agarrado sobre as costas das fêmeas (há até espécies onde o macho se alimenta de uma secreção nutritiva produzida pelas fêmeas); e no caso do Microvelia longipes, machos medindo quase o dobro das fêmeas. Este último caso é explicado como uma forma de seleção sexual, há também pernas exageradamente longas (hiperalometria), usadas para combates entre machos, e maior agressividade no comportamento reprodutivo.


Assim como Gerridae, são muito bem adaptados à vida na superfície da água, sendo encontrados em uma maior variedade de habitats, sendo frequentes também em locais com bastante correnteza, como os Rhagovelia. Também ocorrem no mar, mas não em mar aberto. Alguns poucos gêneros são semiterrestres. Existem gêneros adaptados à vida em fitotelmata de bromélias, outras vivem em massas de espumas de rios, outras em tocas de caranguejos do mangue.


Os Rhagovelia representam o extremo em termos de modificações morfológicas para a vida epineustônica. Possuem longas cerdas nas extremidades das pernas, que podem ser abertas na forma de leque, que auxiliam na sua flutuação. Quando abertos, este mecanismo permite uma movimentação muito ágil sobre qualquer superfície aquática, inclusive águas com correnteza. Estes insetos apresentam outro truque interessante: expelem uma substância química surfactante na saliva, que reduz a tensão superficial da água à sua frente, desta forma impulsionando o animal, parecendo planar sobre a água.








Grande colônia de percevejos na superfície de um lago, talvez Microvelia pulchella, em Vinhedo, SP. Note o evidente dimorfismo sexual, neste caso, machos alongados e fêmeas arredondadas. Fotos de Walther Ishikawa.


Minúsculos percevejos em um aquaterrário, provavelmente da mesma espécie acima. Foto de Walther Ishikawa.



Exemplares de duas espécies do gênero Rhagovelia, fotografados em Caraguatatuba, SP (primeira imagem, macho à esquerda) e Paraty, RJ (segunda imagem, macho áptero e fêmea macróptera). Este gênero possui cerdas nas pernas, que podem ser abertas como leques. Fotos de Walther Ishikawa.



Close nos pés de outra espécie de Rhagovelia, exibindo as cerdas abertas em forma de leque. Foto gentilmente cedida por Arlo Pelegrin.







Rhagovelia cf. plaumanni, fotografados em Paraty, RJ, fotos realizados em um pequeno aquário. Embora sejam epineustônicos, estes percevejos são hábeis nadadores, todas estas fotos mostram os insetos submersos. As últimas fotos mostram um macho. Fotos de Walther Ishikawa.






Rhagovelia cf. plaumanni, fotografados na Cachoeira do Pé Vermelho, em Águas da Prata, SP. Fotos de Walther Ishikawa.





Rhagovelia relicta, macho fotografados em Águas da Prata, SP. Fotos de Walther Ishikawa.



 

 





 
 


 

Rhagovelia cf. plumbea (grupo salina), fotografados no manguezal junto à foz do Rio Pacoti, em Aquiraz, CE. Este grupo habita águas salobras e salgadas, mas não em alto mar. Nesta espécie, o macho é bem menor do que a fêmea, tem comportamento forético, vivendo agarrado nas costas da fêmea. 
Fotos de Walther Ishikawa.



Rhagovelia
 cf. plumbea. Havia uma grande colônia movendo-se agilmente na superfície da água salobra, praticamente salgada, peto das margens do rio. Ao perigo, podiam ficar submersos, agarrados a algum substrato, envoltos por uma bolha de ar. 
Foto de Walther Ishikawa.




Outras duas espécies de Percevejos Velídeos Veliinae, fotografados em Santo Antônio do Pinhal e Vinhedo, SP. Fotos de Walther Ishikawa. Na terceira imagem, note a cabeça de Guarú, para escala.




Percevejos Velídeos, Microvelia longipes, fotografado em Barra Bonita, SP. Alguns velídeos exibem um exacerbado dimorfismo sexual, neste caso, o macho mostra pernas extremamente longas. Fotos de Walther Ishikawa.


Formas ápteras de Microvelia longipes, fotografado em Vinhedo, SP. Note novamente o exacerbado dimorfismo sexual. Foto de Walther Ishikawa.


Pequeno velídeo áptero fotografado em uma caverna granítica em Itu, SP. Foto de Walther Ishikawa.




Hebridae


Conhecidos em inglês como Velvet Bugs, devido à superfície aveludada dos seus corpos. Alguns dos menores Gerromorpha pertencem a esta família, podendo medir entre 1,3 e 3,7 mm. Lembram Velídeos muito pequenos, e são raramente registrados, devido ao seu diminuto tamanho e hábitos crípticos. Podem ser diferenciados destes por detalhes das antenas e garras tarsais. Não caminham sobre a água, vivendo na vegetação marginal, e outros locais permanentemente úmidos. 







Hebrus sp. fotografado em Ribeira do Pombal, BA. As últimas fotos mostram um indivíduo durante ecdise. Fotos de Miguel Macedo Luz Vieira.




Mesoveliidae


Chamados em inglês de Water-Treaders, também são diminutos percevejos que varia muito em termos de aparência e desenvolvimento alar. Medem de 1,2 a 4,2 mm. Não possuem aspecto aveludado, as cerdas estão restritas à cabeça e região prosternal do tórax. Geralmente com a cabeça mais alongada do que os Veliidae, ao microscópio são facilmente distinguíveis dos demais grupos por possuírem garras na extremidade dos tarsos. Caminham habilmente sobre a água, mas preferem estar associados a plantas flutuantes ou marginais. São vistos também em ambientes marinhos entre-marés.













Diminutos percevejos Mesovelia fotografados na represa de Vinhedo, SP. Fotos 
de Walther Ishikawa.



Percevejos Mesovelia fotografados 
em Ribeira do Pombal, BA. Foto de Miguel Macedo Luz Vieira.



Hydrometridae


Um curioso grupo com aspecto distinto dos demais hemípteros, possuem corpos e pernas extremamente longas e delgadas, medem até 22 mm. São chamadas em inglês de Water Measurer, porque caminham lentamente na superfície da água, parecendo estar tomando medidas do local  enquanto caminham. Porém, se necessário, podem se mover em grande velocidade na superfície. Preferem locais com água estagnada, associados à vegetação marginal.







Percevejo Hidrometrídeo fotografado em um lago em Vinhedo, SP. Na primeira imagem, o inseto em tanatose. Fotos 
de Walther Ishikawa.




3. Infraordem Leptopodomorpha


Pequeno grupo de hemípteros com somente cerca de 380 espécies. Chamados em inglês de Shore Bugs, todos estão associados a ambientes marginais, marinhos ou de água doce. São conhecidos também pela sua habilidade de saltar. Quatro famílias compõem a Infraordem, de longe a mais numerosa é Saldidae, com 350 espécies. É a única família encontrada no Brasil.


Saldidae


Pequenos hemípteros que vivem em locais próximos a corpos d´água, com corpo achatado e oval, não ultrapassando 7 mm. São muito mais comuns nas regiões Neártica e Paleártica, com poucas espécies sul-americanas. Maioria das espécies predadora, alguns são carniceiros. No Brasil ocorrem os gêneros Rupisalda e Saldula.
 



Percevejo Saldídeo fotografado em um lago em Santo Antônio do Pinhal, SP. Fotos de Walther Ishikawa.




Veja a bibliografia e créditos fotográficos do artigo sobre Hemípteros Aquáticos   aqui  .
 
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