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"Potimirim potimirim"  
Artigo publicado em 12/05/2012, última edição em 28/12/2020  



Potimirim – Potimirim potimirim

 

Nome em português: Potimirim, Potim, Camarão miúdo, Camarão-neon.

Nome em inglês: -

Nome científico: Potimirim potimirim (Müller, 1881)

Origem: Face Atlântica da América Central e do Sul.

Tamanho: fêmeas adultas chegam a 2,6 cm
Temperatura da água: 18-26° C
pH: 6,4-6,8

Dureza: indiferente
Reprodução
: primitiva, necessita de água salobra para as larvas

Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil

 

 

 

Apresentação

            O Potimirim é um pequeno camarão brasileiro de água doce, belo e pacífico, cada vez mais popular no hobby. Das seis espécies de Potimirim, duas ocorrem no Brasil, P. brasiliana e P. potimirim. As duas espécies são muito parecidas.

Apesar de apresentar uma distribuição geográfica mais ampla, o P. potimirim é mais raramente visto no comércio.

            Etimologia: Potimirim vem do Tupi-guarani Poti (camarão) e Mirim (pequeno).


Potimirim potimirim, fêmea ovada,  fotografada em Paraty, RJ. Foto de Walther Ishikawa.



Potimirim potimirim, macho, foto de Werner Klotz.


Potimirim potimirim, fotografados em um riacho de Paraty, RJ. Note a variação nas cores e padronagens. Fotos de Walther Ishikawa.





Origem

O Potimirim potimirim é uma espécie com uma distribuição geográfica mais ampla, sendo encontrado em riachos de drenagem atlântica da América Central e do Sul, ocorre desde as Antilhas e Costa Rica até o Estado de Santa Catarina. Já foi detectado na Flórida (EUA) como espécie invasora.

Suas larvas têm parte do seu ciclo de vida em água salobra, desta forma ocorrem somente em rios litorâneos conectados ao mar. Pelo mesmo motivo, não são comuns em locais muito afastados da costa.

São encontrados em grandes colônias, muitas vezes simpátricos com o P. brasiliana, mas tende a habitar ambientes intermediários mais próximos do mar, rios mais profundos, lodosos e turvos, com menor correnteza, fundo arenoso e maior riqueza de folhiço em decomposição e outros materiais orgânicos submersos. Vivem aderidos à vegetação marginal submersa, plantas aquáticas, sobre folhas mortas, rochas e cascalho.






Distribuição geográfica do Potimirim potimirim no Brasil. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 2003 e Torati LS 2009.



Potimirim potimirim, foto de Marne Campos.



Potimirim potimirim, coletado em um riacho em Aracruz, ES. Note o grande rostro. Foto de Rodrigo Borçato.


Aparência

 

São pequenos camarões com o formato do corpo muito parecidos com outros pequenos carídeos ornamentais, como o Takashi Amano. Vale lembrar, alguns fornecedores vendem Potimirim como sendo Amanos verdadeiros, ou ainda, com nomes fantasiosos como “Amano Brasileiro” ou “Caridina Brasileiro”.

Os dois primeiros pares de pernas possuem tufos de cerdas terminais em forma de leque nas extremidades, semelhante aos Filtradores Atya. Quando fechadas, se assemelham a um pincel.

            Sua coloração é extremamente variável, desde indivíduos praticamente transparentes até animais opacos e escuros, de cor marrom ou verde. O padrão mais comum é um corpo translúcido e o dorso de coloração alaranjada, com uma faixa longitudinal amarelada, mediana, se estendendo por quase todo seu corpo, lembrando bastante a padronagem de algumas populações de Atya scabra. Pode ter uma borda verde oliva escura ou negra margeando a faixa clara. Ao invés de uma faixa longitudinal clara no dorso, alguns indivíduos podem ter um padrão com ramificações transversais, semelhante a uma “espinha de peixe”. Outras colorações possíveis, mais incomuns, são indivíduos azulados, ou claros com manchas avermelhadas. A coloração não permite a diferenciação entre as duas espécies de Potimirim, embora estas cores mais intensas sejam bem mais comuns em P. potimirim, especialmente em grandes fêmeas ovígeras. 

Geralmente é possível a diferenciação entre o P. potimirim e o P. brasiliana através do aspecto do rostro. Existem várias outras diferenças, mas de difícil análise em animais vivos. Seu rostro tem comprimento bastante variável, mas geralmente é mais longo do que o do P. brasiliana. A maioria dos indivíduos (especialmente fêmeas) têm o rostro se estendendo até pelo menos a metade do segundo segmento do pedúnculo antenular. A margem superior do rostro é perfeitamente reta em ambos os sexos, e seu extremo pode ou não ser curvado para baixo.

 



Parâmetros de Água

 

Originam-se de rios e córregos límpidos e com rápida correnteza. É uma espécie relativamente adaptável, na natureza são coletados em águas montanhosas e frias, com uma temperatura de cerca de 20° C, num pH ácido de 6,4. A dureza da água não é crítica. Como outros camarões, são bastante sensíveis a compostos nitrogenados, e metais pesados são mortais para estes animais.

 


Potimirim potimirim, foto de Rafael Senfft.


Dimorfismo Sexual

 

As fêmeas são maiores do que os machos, e têm algumas estruturas anatômicas mais desenvolvidas. Os espinhos antenal e pterigostomial estão presentes somente nas fêmeas. Os machos possuem um apêndice em forma de leque no segundo pleópode, mas que dificilmente é visível em indivíduos vivos.

Pigmentação mais intensa e escura parece ser bem mais comum em fêmeas ovígeras de maiores dimensões, assim como a característica faixa clara dorsal.

Embora o Potimirim mexicana apresente hermafroditismo protrândrico, sabe-se que as duas espécies brasileiras de Potimirim são dióicos, sem evidências de hermafroditismo (gonocóricos).







Larvas zoea I de Potimirim potimirim, fotos de Fernando Barletta.



Reprodução

Reproduz-se ao longo do ano, com picos em épocas mais quentes e chuvosas. Todos os Potimirim são espécies com reprodução primitiva, gerando ovos pequenos e em grande número, dos quais nascem formas planctônicas de nado livre. É quase certo que as formas larvares dependem de água salobra para seu adequado desenvolvimento, o que limita bastante sua reprodução em cativeiro. O ajuste da salinidade é difícil, assim como a alimentação nas primeiras fases larvares.

Uma fêmea em boas condições produz cerca de 250 pequenos ovos, alongados, medindo cerca de 0,5 mm no maior eixo. Os ovos têm uma coloração inicialmente marrom escura, passando a marrom claro esverdeado ao final do desenvolvimento. O tempo de desenvolvimento dos ovos varia com a temperatura, entre duas e quatro semanas.

Fêmeas ovígeras são mais comumente encontradas em locais mais próximos dos estuários, sugerindo que estas migrem em direção ao mar para se reproduzirem. Reforçando este fato, sabe-se que a taxa de sucesso na eclosão dos ovos é maior em água salobra, numa salinidade de cerca de 8%o. A eclosão dos ovos ocorre geralmente à noite. As larvas são liberadas, medindo cerca de 1,0~1,5 mm ao nascerem. Larvas morrem em 8 dias se mantidas em água doce. Larvas zoea I não se alimentam, consumindo nutrientes do saco vitelínico. A partir de zoea II se alimentam de zooplâncton, podem ser alimentadas com náuplios recém-eclodidos de Artêmia em cativeiro.

As larvas se desenvolvem melhor numa salinidade de cerca de 18%o, numa temperatura entre 21 e 26º C. As larvas passam por 11 estágios de zoea e um megalopa, até se tornarem pós-larvas, num período de cerca de 40 dias.

 


Potimirim potimirim, foto de Frederico Kusma Mendes.


Potimirim potimirim, fêmea ovada,  fotografada em Paraty, RJ. Foto de Walther Ishikawa.



Comportamento

 

Pequenos e pacíficos, não brigam com outros animais nem com camarões da mesma espécie. Pelo contrário, por serem pequenos, são presas fáceis para peixes e outros predadores, deve-se escolher cuidadosamente seus companheiros de aquário, evitando espécies grandes ou agressivas. Em especial, tornam-se vulneráveis após a ecdise.

São camarões gregários, formando grandes colônias na natureza, desta forma sugere-se a manutenção desta espécie em grupos.

Na natureza realizam longas migrações correnteza acima, percorrendo distâncias em locais secos arrastando-se sobre rochas. Mesmo no aquário, podem escalar rochas semi-emersas, canos de filtros e o próprio vidro, outro motivo pelo qual é fundamental manter o aquário bem tampado.

 



Potimirim potimirim, variação de cor em fêmeas ovadas, fotografadas em Paraty, RJ. Fotos de Walther Ishikawa e Fernando Barletta.




Potimirim potimirim, coletados no mesmo riacho das fêmeas acima, mostrando a variação na cor. Foto de Walther Ishikawa.



Alimentação

 

Embora possuam tufos de cerdas nas primeiras pernas, semelhante aos Atyas, os Potimirim possuem hábito alimentar distinto. Eles utilizam estas cerdas para raspar e varrer superfícies, ao invés de filtrar passivamente a água. Quando abertos, estas estruturas foram amplos leques, capazes de varrer uma grande área de superfície. Quando fecham, as cerdas convergem acumulando detritos na sua face interna, formando um bolo, que é levado à boca.

Possuem alimentação onívora e detritívora, coletando microalgas e detritos na superfície de rochas, plantas e outros objetos submersos. Por este motivo, vive melhor em tanques antigos e bem maturados, com maior riqueza de microalgas. Aceitam bem ração industrial.

Muitos aquaristas relatam problemas na manutenção de Potimirim com plantas de folhas macias, como Elodeas. Embora algívoros, estes camarões acabam destruindo e consumindo folhas tenras, no processo de raspagem da sua superfície.

 

 

 

 

Bibliografia:

 

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Torati LS. Revisão taxonômica das espécies brasileiras de Potimirim Holthuis, 1954 e filogenia do grupo baseado em dados moleculares. Dissertação (Mestre em Ciências – Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas – área de concentração Biologia Comparada) – Departamento de Biologia, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto 2009.
  • Molina FMLR. Biologia de Potimirim brasiliana Villalobos, 1959 (Crustacea, Decapoda, Atyidae). Dissertação (Doutor em Ciências – Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas) – Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP 1987.
  • Lima GV, Silveira CM, Oshiro LMY. Estrutura populacional dos camarões simpátricos Potimirim glabra e Potimirim potimirim (Crustacea, Decapoda, Atyidae) no rio Sahy, Rio de Janeiro, Brasil. Iheringia, Sér. Zool. 2006  Mar; 96(1): 81-87.
  • Lima GV, Oshiro LMY. Partição ambiental de Potimirim glabra (Kingsley) e Potimirim potimirim (Müller) (Crustacea, Decapoda, Atyidae) no rio Sahy, Mangaratiba, Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Bras. Zool. 2002, 19(Suppl. 2), 175-179.
  • Alonso-Reyes MDP, Bortolini-Rosales JL, Álvarez F. Análisis discriminante aplicado a los grupos sexuales de Potimirim mexicana, camarón hermafrodita protándrico. Revista Mexicana de Biodiversidad, Nº. Extra 81, 2010, págs. 187-192.
  • Anger K, Moreira GS. Morphometric and Reproductive Traits of Tropical Caridean Shrimps. Journal of Crustacean Biology Vol. 18, No. 4 (Nov., 1998), pp. 823-838.
  • Torati LS, De Grave S, Page TJ, Anker A. Atyidae and Palaemonidae (Crustacea: Decapoda: Caridea) of Bocas del Toro, Panama. Check List. 7(6): 798-805.
  • Grilli N, Terossi M, Mantelatto F. Sexual system of the freshwater shrimps of the genus Potimirim Holthuis, 1954 (Decapoda: Caridea: Atyidae): is there a pattern in the genus? Marine and Freshwater Research, 2014, ahead of print.
  • Moraes AB, Moraes DCS, Alencar CERD, Silva WP, Freire FAM. First record of Potimirim potimirim (Müller, 1881) (Crustacea, Decapoda, Atyidae) from Rio Grande do Norte, northeastern Brazil. Check List, [S.l.], v. 13, n. 2, p. 2060, mar. 2017.




Agradecimentos especiais aos aquaristas Frederico Kusma Mendes, Marne Campos, Rodrigo Borçato e Fernando Barletta, e também a Werner Klotz, pela cessão das fotos e vídeos para o artigo, e valiosas informações.


 As fotografias de Walther Ishikawa estão licenciadas sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.

 
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