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"Macrob. heterochirus"  
Artigo publicado em 07/04/2013, última edição em 05/06/2020  



Nome em português: Pitú, Camarão de Rio.

Nome em inglês: Tiger Shrimp, Cascade River Prawn

Nome científico: Macrobrachium heterochirus (Wiegmann, 1836)

Origem: Américas, costal atlântico.
Tamanho: machos adultos chegam a 16 cm
Temperatura da água: 21-26° C
pH: 6.8-7.5

Dureza: média
Reprodução
: primitiva, necessita de água salobra para as larvas
Comportamento: agressivo
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

            Embora a rigor o nome “Pitú” designe somente a espécie Macrobrachium carcinus, todo camarão agressivo de grandes garras é chamado no comércio aquarístico de “Pitú”. Dentre estas espécies, a mais comumente disponível é o Macrobrachium acanthurus, mas existem outras espécies mais infrequentes como o Macrobrachium  heterochirus.

É uma espécie que frequentemente é confundida com o Macrobrachium carcinus, o Pitú verdadeiro.

            Etimologia: Macrobrachium vem do grego makros (longo, grande) e brakhion (braço); heterochirus vem do grego heteros (outro, diferente) e chiro (forma latinizada do grego kheiros, mão), uma alusão às suas quelas assimétricas.




Distribuição geográfica de Macrobrachium heterochirus. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 2003 e demais referências.



Origem

            Este camarão é encontrado na porção atlântica do continente americano, desde a Flórida (EUA) até o Rio Grande do Sul (Brasil), em rios que se conectam com o Oceano Atlântico. Entretanto, sua distribuição é algo descontínua, no Brasil é encontrado nos estados do RN, PE, BA, ES, RJ, SP, SC e RS.

            É um típico representante costal dos palaemonídeos, devido ao padrão reprodutivo, não é coletado em locais muito distantes do litoral, ou em ambientes sem conexão com o mar. Entretanto, são mais comuns em cursos mais altos dos rios, relativamente mais distantes do litoral do que outros camarões anfídromos. Já foram coletados a mais de 1000 metros de altitude no México.

            Mostra também maior adaptabilidade a habitats de diferentes perfis, sendo mais comum em rios límpidos, mas é encontrado também em águas com pouca correnteza. Parece preferir temperaturas mais amenas a outras espécies com que coexiste.

 






Macrobrachium heterochirus, foto mostrando a belíssima coloração que esta espécie pode ter, foto de Chris Lukhaup.


Aparência

 

É um camarão de porte médio a grande, machos atingindo até 16 cm. Possuem um aspecto bem semelhante a outros Macrobrachium de porte similar, com corpo liso, e grandes garras.

Camarões menores são transparentes, mas com o crescimento desenvolvem uma cor mais escura. Parece haver duas formas distintas de coloração nos adultos, uma delas é marrom escura com faixas longitudinais amareladas no corpo, e as pernas e quelas são avermelhadas, lembrando um pouco o padrão do Macrobrachium carcinus. A outra é verde claro com marcas negras e azul-esverdeadas, bandas escuras transversais no abdômen.

Pode ser confundido com o M. carcinus, mas sua distinção é simples baseando-se no comprimento e aspecto da dentição do rostro, e proporção dos segmentos do quelípodo, com o carpo (segmento médio, “cotovelo”) mais longo do que o mero. As garras dos machos dominantes são assimétricas, daí seu nome científico.

Rostro: Estreito e reto, extremidade dirigida para cima, margem superior com 10~12, 4~5 deles atrás da órbita, os primeiros 3 ou 4 mais eretos e mais distanciados do que os demais. Margem inferior com 2~4 dentes.

Quelípodos dos machos: Grandes, iguais na forma mas desiguais no tamanho, com finos espinhos. Dedos longos, 2/3 do comprimento da palma, que é alongada. Carpo do comprimento da palma, e tão longo quanto o mero.

 


Macrobrachium heterochirus, close da região cefálica mostrando o rostro típico desta espécie, com os dentes pós-orbitais mais espaçados e eretos. Foto de Omar Perez-Reyes, a primeira imagem é também de sua autoria.





Macrobrachium heterochirus, exemplar fotografado no Vale do Ribeira, SP. Note as típicas faixas escuras transversais no abdomen. Fotos de Fábio Rosa Sussel (Instituto de Pesca).



Parâmetros de Água

 

É uma espécie robusta, bastante tolerante quanto às condições da água, mas se desenvolve melhor entre 21 e 26° C, uma temperaturas mais amenas a outras espécies anfídromas. Prefere um pH tendendo a neutro.




Macrobrachium heterochirus, fotografado em Rivière Grosse Corde, em Capesterre Belle-Eau, Guadalupe, foto de Claudine e Pierre Guezennec.


Dimorfismo Sexual

 

Bem demarcado, machos são bem maiores e mais robustos, com garras mais desenvolvidas. As fêmeas possuem pleuras abdominais arqueadas e alongadas, formando uma câmara de incubação. Também podem ser diferenciados pela análise dos órgãos sexuais, mas isto é bem difícil em animais vivos.


Reprodução

É uma espécie com reprodução primitiva, gerando ovos pequenos e em grande número, dos quais nascem formas planctônicas de nado livre. As formas larvares dependem de água salobra para seu adequado desenvolvimento, o que limita bastante sua reprodução em cativeiro. O ajuste da salinidade é difícil, assim como a alimentação nas primeiras fases larvares.

Possui alta taxa de fertilidade e fecundidade, uma fêmea em boas condições produz cerca de 29 mil ovos. A fêmea passa por uma muda pré-acasalamento, e logo após o macho deposita seu espermatóforo. A fêmea libera os ovos, que são fertilizados e se alojam nos pleópodes. Com os ovos fecundados, as fêmeas migram em direção ao litoral.

Os ovos são pequenos, medindo 0,6 mm. Sua coloração se modifica ao longo do desenvolvimento, inicialmente têm uma cor verde clara, desenvolvendo uma coloração acinzentada pouco antes da eclosão. Após uma incubação de duas a três semanas, as larvas são liberadas, levadas pela correnteza até os estuários, onde encontram um ambiente favorável para seu desenvolvimento.

Poucas informações existem sobre seu desenvolvimento larvar. Sabe-se que dependem de água salobra, na primeira fase larvar não se alimentam, consumindo nutrientes de seu saco vitelínico. Passam então por uma fase carnívora, se alimentando de zooplancton, que é onde reside a dificuldade na criação em aquários. Possivelmente possa ser alimentadas com náuplios de Artemia nesta etapa. Após se transformarem em pós-larvas, começam a migrar rio acima, lá chegam já adultas, e sexualmente maduras.

 



Macrobrachium heterochirus, duas fotos de animais juvenis, o primeiro fotografados em Rivière Petite Plaine, em Pointe-Noire, e o segundo em Rivière Grosse Corde, em Capesterre Belle-Eau, ambas localidades de Guadalupe. Fotos de Claudine e Pierre Guezennec.


Comportamento

 

Bastante agressivo, não pode ser mantido com peixes ou outros animais. Predam os peixes, principalmente durante a noite, quando estes dormem. Por outro lado, tornam-se vulneráveis após a ecdise, enquanto seu exoesqueleto ainda não está totalmente solidificado.

Tem também um comportamento canibal, populações adultas mantidas juntas por muito tempo se devoram progressivamente, ou indivíduos dominantes se alimentando dos menores, ou animais (mesmo grandes) sendo devorados após a muda. Desta forma, idealmente recomenda-se a manutenção de um único animal adulto em um tanque dedicado.

Hábitos noturnos, ficando entocados durante o dia.

 




Macrobrachium heterochirus, fotografados na alta bacia do rio Nurucual, Parque Nacional Mochima, estado Sucre, Venezuela. Fotos de Francisco Marval.



Alimentação

 

Não são nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas, animais mortos a ração dos peixes. Caçam ativamente outros animais, inclusive outros camarões, e destroem também plantas ornamentais. A falta de proteína animal na dieta acentua seu comportamento agressivo.

 

Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Ching CA, Velez MJ. Mating, Incubation and Embryo Number in the Freshwater Prawn Macrobrachium heterochirus (Wiegmann, 1836) (Decapoda, Palaemonidae) Under Laboratory Conditions. Crustaceana, Volume 49, Numbers 1-3, 1985 , pp. 42-48(7).
  • Mejia-Ortiz LM, Alvarez F, Roman R, Viccon-Pale JA. Fecundity and distribution of freshwater prawns of the genus Macrobrachium in the Huitzilapan river, Veracruz, Mexico, Crustaceana, 74, 2001, pp. 69-77.
  • Mejia-Ortiz LM, Alvarez F. Seasonal Patterns in the Distribution of Three Species of Freshwater Shrimp, Macrobrachium spp., along an Altitudinal River Gradient. Crustaceana, Volume 83, Number 4, 2010, pp. 385-397(13).
  • Lemmon J. Quick-Reference Pictorial Key to the Prawns of the Check Hall River. 2004.
  • de Almeida AO, Coelho PA, Luz JR, dos Santos JT, Ferraz NR. Decapod crustaceans in fresh waters of southeastern Bahia, Brazil. Rev Biol Trop. 2008 Sep;56(3):1225-54.
  • Bowles DE, Aziz K, Knight CL. Macrobrachium (Decapoda: Caridea: Palaemonidae) in the Contiguous United States: A Review of the Species and an Assessment of Threats to Their Survival. Journal of Crustacean Biology. Vol. 20, No. 1 (Feb., 2000), pp. 158-171.
  • Mossolin EC, Pileggi LG, Mantelatto FL. Crustacea, Decapoda, Palaemonidae, Macrobrachium Bate, 1868, São Sebastião Island, state of São Paulo, southeastern Brazil. 2010. Check List 6(4):605-613.

 

 

Agradecimentos ao colega zoólogo Omar Perez-Reyes (Universidade de Utah), ao ecólogo Francisco José Marval (Venezela), a Claudine e Pierre Guezennec (que coordenam um site de fotografia de Guadalupe,  Zoom Guadeloupe ), e também ao Dr. Fábio Rosa Sussel e Antonio Carlos Simões ( Instituto de Pesca  ) pela cessão das fotos para o artigo.

 
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