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"Macrobrachium iheringi"  
Artigo publicado em 21/02/2015, última edição em 08/03/2023  


Nome em português: Camarão de água-doce.
Nome em inglês: -

Nome científico: Macrobrachium iheringi (Ortmann, 1897)

Origem: Brasil, continental
Tamanho: machos adultos chegam a 9 cm
Temperatura da água: 18-22° C
pH: indiferente
Dureza: indiferente

Reprodução: especializada, em água doce
Comportamento: agressividade intermediária
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

            O Macrobrachium iheringi é uma espécie de camarão continental encontrada somente no Brasil. Mostra uma aparência típica de um “Pitu”, ou seja, possui grandes e robustas quelas, de aspecto agressivo. Porém, sua distribuição é continental, e tem reprodução especializada, com todo ciclo reprodutivo em água doce. Desta forma, é um excelente exemplo de que nem sempre funciona aquela regra de que “Pitus” são todos animais de rios costeiros, com reprodução primitiva.

            Análises genéticas recentes mostram que esta espécie é muito próxima filogeneticamente ao Cryphiops brasiliensis, sugerindo, inclusive, que este camarão se trate também de um Macrobrachium.

            Etimologia: Macrobrachium vem do grego makros (longo, grande) e brakhion (braço); iheringi é uma homenagem ao conceituado zoólogo e médico de origem alemã naturalizado brasileiro Hermann von Ihering (1850~1930), que coletou e cedeu o espécime-tipo ao Dr. Arnold E. Ortmann em 1897.



Macrobrachium iheringi, fotografado na Serra do Japi, Jundiaí, SP. Fotos de Guendo Sumiyori.






Distribuição geográfica de Macrobrachium iheringi. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 2003 e demais referências.



Origem

            Esta espécie de camarão é endêmica do Brasil, encontrado em riachos continentais das regiões sudeste e centro-oeste do país. Ocorrem nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. Há relatos mal documentados de coletas também em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Encontrado principalmente em riachos e córregos, em meio à vegetação marginal.







 

   





Macrobrachium iheringi, fotografados na Serra do Japi, Jundiaí, SP. Fotos de Walther Ishikawa.



Aparência

 

São camarões de pequeno/médio porte, machos atingindo 9,2 cm, e fêmeas 7,0 cm. Possuem um aspecto bem semelhante a outros “pitus”, com corpo robusto e alongado, grandes garras. Porém, ao contrário destes, possuem uma carapaça rugosa, principalmente nas regiões anterolaterais.

Um aspecto bem típico deste camarão é o comprimento relativamente curto do abdômen em relação ao cefalotórax, conferindo um aspecto atarracado.

Camarões menores são translúcidos, mas com o crescimento desenvolvem uma cor mais escura, acastanhada.

Podem ser confundidos com o M. potiuna e o M. brasiliense, todos com distribuição continental, aspecto bem semelhante do rostro, e aspecto rugoso. A distinção pode ser feita principalmente pelo aspecto mais intumescido das quelas, e proporção dos segmentos dos quelípodos.

Rostro: Alto e quase reto, extremidade ligeiramente voltada para cima, não alcança o fim do escafocerito. Margem superior convexa com 6~9 dentes distribuídos uniformemente, 1 ou 2 atrás da órbita. Margem inferior com 1~3 dentes.

Quelípodos dos machos: Iguais na forma, mas assimétricos no tamanho. Dáctilo um pouco mais curtos do que a palma, com numerosos pequenos espínulos. Palma e carpo grossos e intumescidos. Carpo tão longo quanto o mero, e com forte constrição na base.

 


Macrobrachium iheringi fotografado no Sítio Barrocada, São Paulo, SP. Foto de Luciano Bernardes.



Parâmetros de Água

 

Baseado em alguns locais de coleta, parece preferir águas mais frescas, com temperatura entre 18 e 22°C, pH e dureza menos críticos.

 

Macrobrachium iheringi macho, fotografado na Serra do Japi, Jundiaí, SP. Fotos de Claudia Yoshida.


Dimorfismo Sexual

 

Bem demarcado, machos são maiores e mais robustos, com garras mais desenvolvidas. Também podem ser diferenciados pela análise dos órgãos sexuais, mas isto é bem difícil em animais vivos.



Reprodução

            O Macrobrachium iheringi tem reprodução especializada, geram poucos ovos de grandes dimensões, de 55 a 139 ovos de cor vermelho brilhante e aspecto oval, medindo cerca de 2,2x1,7 mm de diâmetros. Têm todo seu ciclo de vida em água doce, não necessitando de água salobra. Período reprodutivo no verão.

            A eclosão dos ovos é gradual, demorando cerca de 4~5 dias. Nascem como larvas de 4,7 mm, passam por duas fases de zoea até se tornarem megalopa, e então juvenis (duração de 2,8 dias, 4,5 dias e 7,5 dias).  

            Embora sejam zoea, mostram um comportamento bentônico desde que nascem, se agarrando em estruturas do substrato. Zoea I tem olhos sésseis, e zoea II, olhos pedunculados. Durante a fase de zoea e megalopa não se alimentam, consumindo nutrientes de seu saco vitelínico. Juvenis aceitam alimentação inerte.

 




Macrobrachium iheringi, juvenis fotografados na Serra do Japi, Jundiaí, SP. Fotos de Walther Ishikawa.



Comportamento

 

É uma espécie ativa, possuem uma agressividade intermediária, não são totalmente inofensivos como os “Fantasmas”, mas também não são agressivos como os grandes “Pitús”. Não há experiência na manutenção em aquários, imagina-se que seja semelhante ao M. potiuna, podem ser mantidos em pequenos grupos, desde que se forneçam tocas e esconderijos, e em tanques maiores.

 




Macrobrachium iheringi, fotografados na Serra do Japi, Jundiaí, SP. Fotos de Walther Ishikawa.



Alimentação

 

Onívoros, não são nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas, animais mortos a ração dos peixes. Filhotes tendem a se alimentar mais de algas e restos vegetais.

 

 

 

Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Ortmann AE. 1894. Os Camarões de Água Doce da América do Sul. Rev. Mus. Paul., 2: 173-216.
  • Sampaio SR, Nagata JK, Lopes OL, Masunari S. Camarões de águas continentais (Crustacea, Caridea) da Bacia do Atlântico oriental paranaense, com chave de identificação tabular. Acta Biol. Par., Curitiba, 38 (1-2): 11-34. 2009.
  • Pileggi LG, Mantelatto FL. Molecular phylogeny of the freshwater prawn genus Macrobrachium (Decapoda, Palaemonidae), with emphasis on the relationships among selected American species. Invertebrate Systematics 24(2) 194–208. 2010.
  • Pileggi LG, Magalhaes C, Bond-Buckup G, Mantelatto FL. New records and extension of the known distribution of some freshwater shrimps in Brazil. Revista Mexicana de Biodiversidad; v. 84, n. 2, p. 563-574, JUN 2013.
  • Lobão VL, Musto MRZN, Rojas NET, Lace M, Magalhães MFS. Estudo populacional de Macrobrachium iheringi (Ortmann, 1897) (Decapoda, Palaemonidae) do rio Buava - SP. Boletim do Instituto de Pesca, 13: 37-43. 1986.
  • Bueno SLS, Rodrigues SA. Abbreviated larval development of the freshwater prawn, Macrobrachium iheringi (Ortmann, 1897) (Decapoda, Palaemonidae), reared in the laboratory. Crustaceana, 68: 665-686. 1995.
  • Fransozo A, Rodrigues FD, Freire FAM, Costa RC. Reproductive biology of the freshwater prawn Macrobrachium iheringi (Ortmann, 1987) (Decapoda: Caridea: Palaemonidae) in the Botucatu region, São Paulo, Brazil. Nauplius, 12(2): 119-126. 2004.
  • Nogueira CS, Perroca JF, Piantkoski EL, Costa RC, Taddei FG, Fransozo A. Relative growth and population dynamics of Macrobrachium iheringi (Decapoda, Palaemonidae). Pap. Avulsos Zool. 2019; 59: e20195908.

 


 

Agradecimentos especiais à Dra. Claudia Yoshida, a Luciano Bernardes e Guendo Sumiyori pela cessão das fotos para o artigo.


 As fotografias de Walther Ishikawa, Luciano Bernardes (iNaturalist) e Guendo Sumiyori (iNaturalist) estão licenciadas sob uma  Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.

 
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