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Misídeos  
Artigo publicado em 30/06/2019, última edição em 10/07/2019  
Misídeos


Misídeo de água doce, Hemimysis anomala, encontrado como espécie invasora em rios alemães. Fotos de Werner Klotz. 




Visão global

Os misídeos são pequenos crustáceos muito parecidos com camarões, mas que na realidade possuem um parentesco bastante distante. Também pertencem à classe Malacostraca, mas a outra superordem, Peracarida (significa “próximo a camarões”), ordem Mysida. A principal característica que os distingue da superordem Eucarida é a ausência de larvas de vida livre. São chamados popularmente de Opossum Shrimp (“camarão-gambá”), uma alusão à presença de uma bolsa incubadora ou marsúpio embaixo do tórax onde os ovos se desenvolvem.

Cosmopolita, a ordem Mysida atualmente inclui cerca de 180 gêneros, com mais de 1000 espécies. Ocupam uma ampla variedade de habitats, como águas subterrâneas, água doce, salobra, marinhas costal, superficial e abissal. Somente cerca de 80 espécies são encontradas em água doce. No Brasil, há nove espécies de água doce (todas na Bacia Amazônica) e uma de água salobra, além de diversas espécies marinhas. As espécies de água doce e salobra pertencem a dois gêneros, Parvimysis e Surinamysis:

 

  • Surinamysis robertsonae – água doce, do Lago do Calado e rios amazônicos.
  • Surinamysis rionegrensis - água doce, Rio Negro
  • Surinamysis aestuaria – água salobra, Rio Cavalo (estuário do Rio Quatipuru, PA).
  • Parvimysis pisciscibus – água doce em rios amazônicos.
  • Parvimysis amazonica – água doce, tributários dos Rios Negro e Solimões
  • Parvimysis fittkaui – água doce, tributários do Rio Negro
  • Parvimysis fluviatilis – água doce, Rio Urucú, tributário do Rio Solimões
  • Parvimysis lacustris – água doce, tributários dos Rios Negro e Solimões
  • Parvimysis macrops – água doce, Rio Urucú, tributário do Rio Solimões
  • Parvimysis tridens – água doce, Igarapé da Cachoeirinha, tributário do Rio Negro

 

 

Muitas destas espécies amazônicas foram descobertas recentemente, quase todas em uma área de distribuição relativamente pequena. Provavelmente a diversidade e distribuição destes misídeos amazônicos deve ser bem maior. Inclusive, um fragmento de Parvimysis já foi coletado no limite Sul do Rio Culuene (MT), um tributário do Rio Xingú. Há também uma espécie venezuelana do Orinoco (S. merista) conectada com a bacia amazônica.



Misídeo de água doce, Limnomysis sp., fotografado no Lago de Constança, Suíça. Fotos de Tino Dietsche.  

 


Aspecto

 

São parecidos com diminutos camarões, corpo alongado e transparente, abdômen bem desenvolvido. Olhos proeminentes e pedunculados, dois pares de longas antenas. Espécies marinhas podem atingir 25 mm. As espécies brasileiras são diminutas, medindo entre 3,3 e 5,8 mm.

Algumas características que os distinguem dos camarões (Caridea), possuem um marsúpio na porção inferior do tórax, envolvido por grandes e flexíveis oostegitos, estruturas membranosas e ciliadas que se estendem dos segmentos basais dos pereiópodes. Formam o assoalho e paredes da cavidade, e seu teto é formado pelo esterno do animal.

Outras características são seus pereiópodes biramificados, usados para natação e para orientar o fluxo de água em direção aos maxilópodes para alimentação. Os pleópodes são reduzidos ou ausentes. Possuem um estatocisto na extremidade dos endópodos do urópodo, claramente vistos como vesículas circulares. São órgãos do equilíbrio, e auxiliam os animais a se orientar na água, permitindo manter a posição do corpo e evitar que sejam carregados passivamente quando expostos à ação de correntes de água. Estes órgãos possuem um cristal mineral, chamado de estatolito. Curiosamente, a maioria dos misídeos de água doce possuem um estatolito de vaterita, em contraste com as espécies marinhas, que produzem fluorita.

 




Grande agrupamento de Hemimysis anomala, fotografado no Lago de Léman, Suíça. Fotos de Patrick Steinmann.



 

Comportamento e Alimentação

 

Quanto à distribuição espacial algumas espécies podem ocupar toda a coluna d'água, viver próximo ao fundo ou caminhar sobre o mesmo, abrindo caminho pelo sedimento ou se enterrando, sendo definidos como hipoplanctônicos ou epibênticos por alguns autores. A maioria das espécies marinhas são bentônicas durante o dia, mas realizam migrações verticais à noite tornando-se planctônicas, com o intuito de se alimentar, acasalar ou liberar a prole evitando assim possíveis predadores visuais.

A principal forma de locomoção é a natação. Muitos são gregários, formando grandes aglomerações. Existem espécies marinhas comensais, associadas a anêmonas e ermitões. São filtradores onívoros, alimentam-se de algas, detritos em suspensão na água e zooplâncton.

 




Misídeo de água doce, Hemimysis anomala, fotografado no Lago de Constança, Suíça. Foto de Tino Dietsche.

 



Reprodução

 

A reprodução nos misídeos é sexuada, são dióicos, com fertilização externa. A cópula é noturna, e dura poucos minutos. O macho insere seu pênis no marsúpio e libera o esperma. Isto estimula a fêmea, que libera os óvulos nesta cavidade na próxima hora, e são fertilizados. Os ovos medem entre 0.20-0.25 mm. Os embriões se desenvolvem na cavidade marsupial, o desenvolvimento sendo direto na maioria dos casos, os juvenis nascendo dos ovos como miniatura dos pais. Estes são liberados pouco após o nascimento. O número de filhotes é pequeno, mas é compensado pelo curto ciclo reprodutivo, uma nova ninhada pode ser produzida a cada quatro a sete dias.

 

Têm grande importância ecológica, muitas vezes representando a forma de vida dominante em alguns habitats, como na zona de arrebentação, onde podem corresponder a 90% da biomassa total desses ambientes.

Algumas espécies são criadas em larga escala em laboratório, como alimentos para outros animais marinhos, em aquários ou criações comerciais. São bastante sensíveis à poluição, sendo usados também como bioindicadores de qualidade d´água, e bioensaios de teste de pesticidas e outras substâncias tóxicas.

 


 


Observação: Não existem fotos de exemplares vivos das espécies brasileiras de Misídeos, mesmo em literatura científica (Wittmann KJ com. pers.). Foram usadas imagens de outras espécies continentais destes crustáceos, como ilustração para o artigo, pois têm morfologia bastante semelhante. 


 


 

Bibliografia adicional:

  • Felipe FP. Variação nictemeral de misídeos (Crustacea, Peracarida) na zona de arrebentação da Praia de Pontal do Sul – PR. 2010. 52f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Oceanografia) – Instituto de Ciência e Tecnologia, Universidade Federal do Paraná, Paraná. 2010.
  • Wittmann KJ. 2018. Six new freshwater species of Parvimysis, with notes on breeding biology, statolith composition, and a key to the Mysidae (Mysida) of Amazonia. Crustaceana 91(5): 537-576.
  • Wittmann KJ. 2017. The genus Surinamysis (Mysida, Mysidae, Diamysini) from Amazonia and the coast of Brazil, with descriptions of two new species, Crustaceana, 90 (3): 359-380.
  • Bamber RN, Henderson PA. A new freshwater mysid from the Amazon, with a reassessment of Surinamysis Bowman (Crustacea: Mysidacea). Zoological Journal of the Linnean Society, 1990; 100: 393-401.
  • Meland K, Mees J, Porter M, Wittmann KJ. Taxonomic Review of the Orders Mysida and Stygiomysida (Crustacea, Peracarida). PLoS One. 2015; 10(4): e0124656.
  • Porter ML, Meland K, Price W. Global diversity of mysids (Crustacea-Mysida) in freshwater. Developments in Hydrobiology. 2008; 198: 213–218.


Agradecimentos a Werner Klotz (Alemanha), Tino Dietsche (Suíça) e Patrick Steinmann (Suíça) pelo uso das suas fotos no artigo. Agradecimentos também ao Dr. Karl J. Wittmann (Universidade de Viena, Áustria) por nos ceder gentilmente seus artigos, e valiosas informações. 

 
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