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"Pseudopalaem. amazonensis"  
Artigo publicado em 17/07/2019, última edição em 23/11/2020  



Nome em português: Camarão-fantasma.

Nome em inglês: -
Nome científico: Pseudopalaemon amazonensis Ramos-Porto, 1979

Origem: Norte da América do Sul, Bacia Amazônica
Tamanho: fêmeas com até 4,1 cm
Temperatura da água: cerca de 25° C
pH: 5.3-7.4
Dureza: moderada a mole

Reprodução: abreviada, todo o ciclo em água doce
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

        O gênero Pseudopalaemon é endêmico da América do Sul, está representado no Brasil por cinco pequenas espécies com aspecto de “camarão-fantasma”, quatro delas encontradas na bacia amazônica, e a quinta no sul do Brasil. Dentre as espécies amazônicas, a mais comum e com distribuição mais ampla é o Pseudopalaemon amazonensis. Raramente é visto no hobby, embora tenha grande potencial como espécie ornamental.

            Etimologia: Pseudo vem do grego pseudes, “falso”; Palaemon é outro gênero de pequenos camarões transparentes, de águas doces, salobras e salgadas. E amazonensis significa morador da Amazônia.





Pseudopalaemon amazonensis macho, coletado em Manaus, AM. Note o predomínio dos pigmentos claros neste indivíduo. Foto de James Bessa.




Distribuição geográfica de Pseudopalaemon amazonensis. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 2003 e demais referências.



Origem


            Esta espécie de camarão tem distribuição relativamente ampla, sendo encontrada na Bacia Amazônica, no Brasil (estados do Amazonas e Pará), Venezuela e Colômbia. Relatos de presença no Peru, sem registro oficial. São mais comuns no leque noroeste da bacia, principalmente na bacia do Rio Negro, mas são encontrados também na região mais oriental, distribuindo-se até a baía de Caxiuaná e nordeste do Pará.

            São mais comuns em corpos de água preta, mas ocorrem também em habitats de águas claras. É uma espécie de águas abertas, sendo frequentemente encontrados em águas correntes e rasas de fundo arenoso. Refugiam-se entre o folhiço depositado quando inativos, ou quando perturbados. Sua distribuição estende-se do igapó até pequenos córregos na terra firme.

É uma espécie comum e bem distribuída, categorizada como Menos Preocupante (LC) pela IUCN e Sociedade Brasileira de Carcinologia.

Os exemplares das fotos e vídeos foram capturados em ambiente de terra firme, num afluente da bacia dos igarapés da Reserva Florestal Adolpho Ducke em Manaus/AM. Os mesmos ficam em meio a vegetação e raízes submersas em locais com maior correnteza, de fundo arenoso.

 


 






Pseudopalaemon amazonensis, coletado em Manaus, AM. Com uma larva de tricóptero na terceira foto. Fotos de James Bessa.





Aparência

            Em ambiente natural, são completamente transparente e nem um pouco atrativos, a principal diferença para outras espécies de camarões é o rostro comprido. São camarões pequenos, machos atingindo até 3,8 cm, fêmeas até 4,1 cm. Possuem o corpo transparente, com o típico aspecto de “camarão-fantasma”, mas quando bem adaptados exibem uma coloração bastante interessante, com faixas e manchas de cor arroxeada escura e outras claras, cujo contraste sobre o corpo transparente lembra um letreiro fluorescente. Há uma faixa púrpura-enegrecida principal ao longo de toda a margem inferior do rostro, assim como a face inferior do segmento peduncular da antena, e margem interna do escafocerito. Estas se continuam na carapaça como uma linha oblíqua do espinho antenal até a base do terceiro pereiópode. Possui também outras listras verticais escuras mais finas, as maiores sobre a região branquiostegal e margem anterior do primeiro segmento abdominal, que se continua na margem da pleura. Manchas escuras na base dos urópodes, e na margem externa distal de ambos ramos uropodais. Também possui faixas de cor creme-esbranquiçada brilhante, as principais longitudinais em toda a margem dorsal do rostro continuando-se no interior visceral do cefalotórax até os primeiros segmentos abdominais, e outra ao longo de toda a face ventral abdominal e telso. Visto de cima, estas duas faixas se sobrepõem como uma única linha clara. Também possui faixas claras transversais na região dorsal média abdominal, e nos urópodos. Curiosamente, a literatura científica menciona somente as faixas escuras, provavelmente as claras são perdidas com o animal morto. Mesmo em animais vivos, esta padronagem completa só aparece com os camarões bem adaptados ao aquário. A depender do momento, podem estar presentes somente a pigmentação escura, ou a clara, talvez desempenhando um mecanismo de camuflagem.

         Como todo Pseudopalaemon, o padrão de espinhos da carapaça é idêntico ao dos Macrobrachium, possuindo o espinho antenal e hepático, mas não o espinho branquiostegal. A diferenciação com o Macrobrachium é feita pelo aspecto das mandíbulas, o Pseudopalaemon não possui palpo, enquanto que o Macrobrachium possui um palpo tri-articulado.

Rostro: desenvolvido, alongado (cerca de 1,75 vezes o comprimento da carapaça), com a metade distal curvada para cima e ultrapassando distintamente a extremidade do escafocerito. Margem superior com 6~9 dentes distribuídos uniformemente, com um dente pós-orbital, e outro acima da órbita. Metade dorsodistal sem dentes, ápex bífido. Margem inferior com 5 a 8 dentes regularmente distribuídos, inclusive onde a porção dorsal é desarmada.

    Quelípodos: delgados e lisos, iguais na forma e no tamanho. Dedos da quela fechados em todo seu comprimento, dedos distintamente maiores que a palma. Carpo discretamente mais longos do que a quela, mero com ¾ do comprimento do carpo.



 

 









Pseudopalaemon amazonensis, no aquário comunitário. Fotos e vídeos de James Bessa.



Aquário e Parâmetros de Água

 

Amazônicos, são encontrados tanto em ambientes de águas negras quanto claras, embora bem mais comuns na primeira. Nos locais de coleta em Manaus, os parâmetros foram pH médio de 5.2, baixa condutividade elétrica de 10,9 μS/cm e bem oxigenadas. A temperatura mostrou-se pouco variável com média de 25,1ºC.

Ficam tranquilamente em aquários ácidos e neutros, com bastante vegetação. Quando bem adaptados destacam as faixas fosforescentes do corpo, sendo que substratos escuros e vegetação densa contribuem bastante para destacar toda a beleza dessa espécie.

A filtragem deve ser bem eficiente e que crie alguma correnteza na qual eles permanecem quando não estão se alimentando. Tomar bastante cuidado ao acender e apagar a iluminação pois tendem a se assustar e a saltar.

 

 




Pseudopalaemon amazonensis, num aquário comunitário amazônico. Fotos de James Bessa.




Dimorfismo Sexual

 

Fêmeas são um pouco maiores que os machos, medindo até 4,1 cm. Fêmeas possuem pleuras abdominais arqueadas e alongadas, formando uma câmara de incubação. Também podem ser diferenciados pela análise dos órgãos sexuais, mas isto é bem difícil em animais vivos.

 




Fêmea ovada de 
Pseudopalaemon amazonensis nas duas primeiras fotos, e um macho na terceira. Note os ovos grandes e pouco numerosos. Fotos de James Bessa.



Reprodução

O P. amazonensis é uma espécie com reprodução especializada, gerando ovos grandes e pouco numerosos, elípticos, com maior diâmetro de cerca de 2,6 mm. Assim como os demais palaemonídeos, a fêmea passa por uma muda pré-acasalamento, e logo após o macho deposita seu espermatóforo. Após algumas horas a fêmea libera os ovos, que são fertilizados e se alojam nos pleópodes. As fêmeas carregam entre 7 a 19 ovos em cada prole.

Período larval com três fases bentônicas, já nascendo com pereiópodes funcionais, medindo 6 mm. O tempo de desenvolvimento é de 7 a 8 dias, em que não se alimentam.

Nas populações do igapó, o período reprodutivo é na época de cheias. As populações de terra firme se reproduzem ao longo do ano todo.

 

 



Macho de Pseudopalaemon amazonensis no aquário comunitário. Fotos de James Bessa.


 

Comportamento

 

É uma espécie ativa, se movimentando por todo o aquário, desde que não haja potenciais predadores. Bastante dóceis, podem ser mantidos com outros peixes e invertebrados, desde que estes sejam pacíficos. A maior parte do dia permanecem entre a vegetação e fundo procurando por alimentos e o aquário precisa ser bem tampado, pois costumam ficar próximos à superfície ou nas entradas e saídas dos filtros quando não estão se alimentando e saltam com muita facilidade. Adoram água bem movimentada e permanecem nos locais onde há maior movimentação de água.

 





Fêmea ovada de Pseudopalaemon amazonensis no aquário comunitário. Vídeos de James Bessa.




Alimentação

 

Na natureza, são onívoros com predileção por rotíferos, microcrustáceos e ácaros, baseado no seu conteúdo estomacal. Em aquários não são nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas a restos de ração dos peixes. Aceitam tanto ração em flocos como em pastilhas. Alimentam-se de animais mortos, inclusive outros camarões. São bastante úteis como faxineiros, coletando restos de alimentos em locais inacessíveis a outros animais.

 

 

 

 

Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
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  • Pimentel FR, Magalhães C. Palaemonidae, Euryrhynchidae, and Sergestidae (Crustacea: Decapoda): Records of native species from the states of Amapá and Pará, Brazil, with maps of geographic distribution. Check List 10(6): 1300–1315, 2014.
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  • Livro Vermelho dos Crustáceos do BrasilAvaliação 2010–2014. Organização: Marcelo Pinheiro & Harry Boos. - Porto Alegre, RS: Sociedade Brasileira de Carcinologia - SBC, 2016.
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  • Walker I, Ferreira MJN. (1985). On the Population Dynamics and Ecology of the Shrimp Species (Crustacea, Decapoda, Natantia) in the Central Amazonian River Tarumã-Mirim. Oecologia, 66(2), 264-270.

  

Artigo escrito por James Bessa Walther Ishikawa 


Agradecimentos especiais ao colega aquarista James Bessa, co-autor deste texto, e que nos cedeu gentilmente o uso das suas fotos e vídeos para o artigo.
 
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