INÍCIO ARTIGOS ESPÉCIES GALERIA SOBRE EQUIPE PARCEIROS CONTATO
 
 
    Espécies
 
"Macrobrachium jelskii"  
Artigo publicado em 10/01/2012, última edição em 17/06/2022  


Nome em português: Camarão-fantasma, Camarão-sossego
Nome em inglês: Agar River Prawn
Nome científico: Macrobrachium jelskii (Miers, 1877)

Origem: América do Sul, continental
Tamanho: machos adultos chegam a 5,6 cm
Temperatura da água: 20-28° C
pH: 6.5-7.8
Dureza: indiferente
Reprodução
: especializada, em água doce
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

            Dentre os chamados “camarões-fantasma” (camarões transparentes, pequenos e pacíficos), uma das duas espécies mais comuns de serem coletadas na natureza, ou vistas no comércio brasileiro, é o Macrobrachium jelskii (a outra é M. amazonicum). São camarões transparentes e dóceis, possuindo pequenas pinças que utilizam para retirar alimento do ambiente. Por ser um camarão bastante robusto e prolífero, é indicado para aquaristas que estejam querendo iniciar sua criação de camarões ornamentais. Mas vale ressaltar que esses camarões são fonte de alimento natural para diversos animais em seus habitats, por isso qualquer peixe predador acabará por devorá-los.
Trabalhos moleculares usando os genes mitocondriais COI e 16S revelaram a presença de dois clados bem definidos, Amazônico e Costal. O clado Amazônico é encontrado tanto em áreas costais quanto continentais, enquanto o Costal só ocorre nas áreas costais de SE, BA e ES, podendo ser simpátricos. Não há diferença morfológica detectável entre camarões dos dois clados, mas discute-se se a forma Costal pode se tratar de uma segunda espécie críptica.

            Etimologia: Macrobrachium vem do grego makros (longo, grande) e brakhion (braço); jelskii é uma homenagem ao naturalista polonês Konstanty Jelski (1837-1896) que coletou o primeiro espécime.





Close da carapaça, mostrando os espinhos antenal e hepático. Foto de Rafael Senfft.

 

Macrobrachium jelskii, close da carapaça. Foto de Rafael Senfft.

 

Macrobrachium jelskii, fêmea logo após ter filhotes, foto de Rafael Senfft.

 



 

Origem

            Este camarão tem ampla distribuição pela região tropical e subtropical da América do Sul, sendo encontrado em Trinidad, Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Bolívia, Peru, Argentina e Brasil. No Brasil pode ser coletado em praticamente todos os seus estados, em todas as grandes bacias continentais, e diversas costais.

            Vive em variados ambientes, desde lagos e represas até várzeas e rios com correnteza, pode ser coletado em variadas altitudes (0 a 1200 m), temperaturas e substratos.




Macrobrachium jelskii, foto de Felipe Aoki.





Macrobrachium jelskii, fotografado em Itacaré, BA. Fotos de Gabriel Góes.



 



Aparência

            Geralmente são camarões pequenos, com cerca de 3,5 cm, embora alguns espécimes maiores tenham sido descritos, de até 5,6 cm. Possuem o corpo transparente, alguns com suaves padronagens, como estrias que variam entre o marrom avermelhado e preto, ou amarelo e laranja. Estas estrias ocorrem tanto em fêmeas quanto machos. Em algumas ocasiões o rostro do M. jelskii possui uma coloração dourada.

            Uma característica bem típica desta espécie que ajuda na sua identificação é o aspecto do rostro, longo e curvado para cima. Porém, vale lembrar que não é uma característica exclusiva, outras duas espécies que podem ser vistas no Brasil possuem o rostro semelhante, o M. amazonicum e o M. rosembergii (exótica, o “camarão da Malásia”). Mas a sua diferenciação é fácil, pois ao contrário destas outras espécies, possui reprodução especializada, gerando poucos ovos grandes. Geralmente, os jelskii também têm o rostro mais curto, e reto na base, sem uma crista evidente. Eventualmente, juvenis de M. acanthurus podem ter um rostro similar aos jelskii.   

            Uma última observação importante, apesar deste rostro típico ser a peça central usada em qualquer chave de identificação, existem algumas populações de jelskii que possuem um rostro mais curto, atingindo, mas não ultrapassando a extremidade do escafocerito. Inicialmente descritas na bacia amazônica, parecem ser relativamente comuns no mercado, gerando bastante confusão na identificação da espécie.

Rostro (típico): Longo e delgado, discretamente curvado para cima. Ultrapassa um pouco o escafocerito. Margem superior com 5~8 dentes, os últimos dentes largamente espaçados, o primeiro dente atrás da órbita. Boa parte do rostro possui dentes. Margem inferior com 5~6 dentes.

Quelípodos: Longos e finos, lisos e simétricos. Dedos 3/4 do comprimento da palma, carpo alongado, cerca de 1,2 a 1,5 vezes mais longo do que a palma. Mero do comprimento aproximado da quela. Carpo com alargamento distal abrupto.




Existem muitas variantes de cor do Macrobrachium jelskii. Foto cedida por Marne Campos.



 

Parâmetros de Água

 

É uma espécie bastante tolerante quanto às condições da água, por ter uma distribuição geográfica bem ampla. Muitos aquaristas mantêm indivíduos desta espécie em águas ligeiramente ácidas (pH em torno de 6,8), livres de impurezas e principalmente livre de substâncias nocivas aos camarões, como é o caso do cobre.





Macrobrachium jelskii, foto de Cleidson Silva.

  

 

Macrobrachium jelskii, variedade com o rostro curto, foto de Cleidson Silva. Note o rostro curto, e o aspecto dos ovos, grandes e pouco numerosos.


 

Dimorfismo Sexual

 

Diferenciação difícil, exceto pela presença de ovos. Machos e fêmeas têm dimensões semelhantes (machos são menores, ligeiramente), e o aspecto das garras também é igual. Fêmeas possuem pleuras abdominais arqueadas e alongadas, formando uma câmara de incubação, mas de forma mais sutil do que em outras espécies. Também podem ser diferenciados pela análise dos órgãos sexuais, mas isto é bem difícil em animais vivos.

Outra forma de se identificar uma fêmea é através de uma sela amarela que se forma próxima à região da cabeça. Porém, esta sela está ligada ao momento do ciclo de reprodução da fêmea, desta forma nem todas as fêmeas possuem esta característica.






Outra imagem da variedade com o rostro curto, foto de Cleidson Silva.

 

Macrobrachium jelskii, filhote nascido no aquário, zoea I mostrando o telso em leque, foto de Cleidson Silva.

 


 

Reprodução


            O Macrobrachium jelskii é uma das espécies de camarão de água doce de reprodução em cativeiro mais fácil. Em um aquário bem estabilizado, onde haja bastante alimento e esconderijos, em poucas semanas (em algumas ocasiões dias) será possível ver fêmeas com ovos. São animais de reprodução especializada (ou abreviada), gerando poucos ovos de grandes dimensões, medindo cerca de 1,5 a 2,0 mm de diâmetro. As fêmeas adultas carregam de 20 a 60 ovos em seu ventre. Esses ovos possuem uma cor que varia entre o amarelo claro e o âmbar. Após a formação de uma massa amarelada em sua "sela" (próxima à região da cabeça da fêmea), os ovos "descem" para o abdome após cerca de uma semana. Normalmente o período de gestação varia entre 20 a 35 dias aproximadamente, e ao final deste período os ovos eclodem, gerando camarões que se assemelham a miniaturas de seus pais, com comportamento bentônico, passando a maior parte do tempo no substrato (ao invés de formas larvares natantes). Têm todo seu ciclo de vida em água doce, não necessitando de água salobra.

            Desde o nascimento já aceitam alimentação inerte, o que leva a uma alta taxa de sobrevivência da prole, mesmo em aquários domésticos.

 

Comportamento

 

É uma espécie ativa, se movimentando por todo o aquário, desde que não haja potenciais predadores. Bastante dóceis, podem ser mantidos com outros peixes, desde que estes sejam pacíficos. Costumam ser mais ativos durante a noite, portanto é muito comum vê-los junto aos vidros do aquário, nadando e procurando por alimentos.

Há controvérsias em relação à manutenção no mesmo aquário com camarões-anões. Não se aconselha a manutenção com pequenos caramujos ornamentais.





Macrobrachium jelskii, foto de Rafael Senfft.


 

Alimentação

 

Não são nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas a restos de ração dos peixes. Alimentam-se de animais mortos, inclusive outros camarões. São bastante úteis como faxineiros, coletando restos de alimentos em locais inacessíveis a outros animais. Desta forma prestam um importante auxílio em aquapaisagismo, se alimentando de detritos e algas que se acumulam nos musgos.

Alguns indivíduos desta espécie podem também comer algumas plantas vivas, como é o caso do musgo de java, Hemianthus micranthemoides, e outras plantas de folhas mais sensíveis. Mas isso não é uma regra.

Lembre-se que a diversidade de alimentos ajuda a manter os camarões mais saudáveis e ativos.

 

 


  


 

 

Bibliografia:

 

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.

  • Collins PA. New Distribution Record for Macrobrachium jelskii (Miers, 1877) in Argentina (Decapoda, Palaemonidae). Crustaceana. Vol. 73, No. 9 (Nov., 2000), pp. 1167-1169.
  • Silva IS. & Viana GFS. Bioecologia do camarão Macrobrachium jelskii (Miers, 1877) (Crustacea, Decapoda, Palaemonidae) na barragem do Jazigo, Município de Serra Talhada, Pernambuco. Trabalho apresentado na IX JEPEX (Jornada de Pesquisa, Ensino e Extensão), Recife, 2009.
  • Soares MRS. Biologia populacional de Macrobrachium jelskii (Crustacea, Decapoda, Palaemonidae) na Represa de Três Marias e no Rio São Francisco, MG, Brasil. Dissertação (Pós-Graduação em biologia animal). 74p. 2008.
  • de Almeida AO, Coelho PA, Luz JR, dos Santos JT, Ferraz NR. Decapod crustaceans in fresh waters of southeastern Bahia, Brazil. Rev Biol Trop. 2008 Sep;56(3):1225-54.
  • Pimentel FR. Taxonomia dos Camarões de Água Doce (Crustacea: Decapoda: Palaemonidae, Euryrhynchidae, Sergestidae) da Amazônia Oriental: Estados do Amapá e Pará. Dissertação (Pós-Graduação em biologia animal). 2003.
  • Garcia-Dávila CR, Magalhães C. Revisão taxonômica dos camarões de água doce (Crustacea: Decapoda: Palaemonidae, Sergestidae) da Amazônia Peruana. Acta Amazonica 33(4): 663-686. 2002.
  • Sampaio SR, Nagata JK, Lopes OL, Masunari S. Camarões de águas continentais (Crustacea, Caridea) da Bacia do Atlântico oriental paranaense, com chave de identificação tabular. Acta Biol. Par., Curitiba, 38 (1-2): 11-34. 2009.
  • Guerra AL, Lima AVB, Lucato Júnior RV, Chiachio MC, Taddei FG, Castiglioni L. Genetic variability and phylogenetic aspects in species of the genus Macrobrachium. (2014) Genet. Mol. Res. 13 (2): 3646-3655.
  • Mossolin EC, Peiró DF, Rossingnoli MO, Rajab LP, Mantelatto FL. Population and reproductive features of the freshwater shrimp Macrobrachium jelskii (Miers, 1877) from São Paulo State, Brazil. Acta Scientiarum. Biological Sciences, Maringá, v. 35, n. 3, p. 429-436. 2013.
  • Vera-Silva AL, Carvalho FL, Mantelatto FL. 2016. Distribution and genetic differentiation of the shrimp Macrobrachium jelskii (Miers, 1877) reveal evidence of non-natural introduction and cryptic allopatric speciation. Journal of Crustacean Biology, 36(3): 373-383.
  • Vera-Silva AL, Carvalho FL, Mantelatto FL. Redescription of the freshwater shrimp Macrobrachium jelskii (Miers, 1877) (Caridea, Palaemonidae). Zootaxa. 2017 May 19;4269(1):44-60.
  • da Silva TE, Alves DFR, Barros-Alves SP, Almeida AC, Taddei FG, Fransozo A. Morphometric differences between two exotic invasive freshwater caridean species (genus Macrobrachium). 2018, Invertebrate Reproduction & Development.




 

Ficha escrita por Rafael Senfft e Walther Ishikawa

 

Agradecimentos ao amigo aquarista Marne Campos e ao colega fotógrafo do iNaturalist Gabriel Góes pela cessão das suas fotos para o artigo.

 
« Voltar  
 

Planeta Invertebrados Brasil - © 2024 Todos os direitos reservados

Desenvolvimento de sites: GV8 SITES & SISTEMAS