INÍCIO ARTIGOS ESPÉCIES GALERIA SOBRE EQUIPE PARCEIROS CONTATO
 
 
    Espécies
 
"Macrobrachium acanthurus"  
Artigo publicado em 10/01/2012, última atualização em 18/06/2022  

 

Nome em português: Pitú, Pitú-de-Iguape, Camarão-canela, Calambau
Nome em inglês: Cinnamon River Shrimp
Nome científico: Macrobrachium acanthurus (Wiegmann, 1836)

Origem: Américas, costal atlântico
Tamanho: machos adultos chegam a 18 cm
Temperatura da água: 20-28° C
pH: 6.5-7.8

Dureza: média a dura
Reprodução
: primitiva, necessita de água salobra para as larvas
Comportamento: agressivo
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

            Embora a rigor o nome “Pitú” designe somente a espécie Macrobrachium carcinus, todo camarão agressivo de grandes garras é chamado no comércio aquarístico de “Pitú”. Dentre estas espécies, a mais comumente disponível é o Macrobrachium acanthurus, cujo nome popular oficial (sugerido pelo ITIS e FAO) é “Camarão-canela”.

É uma das espécies de camarão de água doce brasileiras mais estudadas devido à sua importância econômica como recurso pesqueiro, em várias regiões do país esse animal é bastante explorado artesanalmente pelas populações ribeirinhas, e também existem projetos para sua criação em cativeiro.

            Apesar de registros de reduções preocupantes na sua população em diversas regiões do Brasil, todos os animais comercializados são coletados na natureza, e vendidos por um baixo preço até para a alimentação de peixes carnívoros.

            Etimologia: Macrobrachium vem do grego makros (longo, grande) e brakhion (braço); acanthurus vem do grego akanthos (ponta, espinho) e oura (cauda).

 


Macrobrachium acanthurus, macho adulto. Foto de Walther Ishikawa.

 


Macrobrachium acanthurus, adulto. Imagem gentilmente cedida por Melo Salazar.



Origem

            Este camarão é encontrado em praticamente toda a porção atlântica do continente americano, desde a Carolina do Norte (EUA) até o Rio Grande do Sul, em todos os rios que se conectam com o Oceano Atlântico.

            É um típico representante costal dos palaemonídeos, devido ao padrão reprodutivo, não é encontrado em locais muito distantes do litoral, ou em ambientes sem conexão com o mar. São animais de água doce, mas podem ser coletados também em águas salobras. Nos rios, são coletados em localizações mais próximas do mar do que outras espécies.




 






Pequenos juvenis de Macrobrachium acanthurus, fotografados em um riacho da Praia do Felix, Ubatuba (SP). Fotos de Walther Ishikawa.






Grande macho de Macrobrachium acanthurus, fotografado em um antigo separador de água e óleo desativado, em um terminal da Petrobrás em São Franscisco do Sul, SC. Imagem gentilmente cedida por Roberto Tissott.




Juvenil de Macrobrachium acanthurus, facilmente confundido com um “fantasma”. Imagem cedida por Jovi Marcos.

 


Macrobrachium acanthurus, o mesmo animal da foto anterior, adulto. Imagem cedida por Jovi Marcos.



Aparência

 

São camarões de grandes dimensões, os machos atingem em média 14 cm, podendo chegar a 18 cm, as fêmeas, em média 11 cm, podendo atingir 15 cm. Fêmeas atingem a maturidade precocemente, produzindo ovos a partir de cerca de 3,5 cm.

Camarões menores são transparentes, podendo ter listras oblíquas mais escuras. Animais maiores adquirem uma coloração opaca. Cor geral cera pálida amarela com distintas pequenas manchas vermelhas; nervura central do rostro avermelhada; carapaça possui de cada lado três listras irregulares verticais vermelho-castanho; pleura abdominal provida de listras oblíquas vermelhas; margem interna do pedúnculo antenular e escafocerito azuis; quelípodos são esverdeado-ervilha pálido tornando-se distalmente azulados; a articulação dos dedos, a parte distal da palma e a base dos dedos são alaranjados. 

Possuem um aspecto bem semelhante a outros Macrobrachium de grande porte, com corpo liso, e grandes garras. Dentre os assim chamados “Pitús”, é uma espécie que pode ser identificada com relativa facilidade, pelo aspecto do rostro e quelas.

Adultos lembram um pouco o M. amazonicum, mas seu rostro é bem diferente. Exemplares juvenis transparentes são comumente confundidos com “Fantasmas”, especialmente nos indivíduos com o rostro mais longo. Análises filogenéticas mostraram que o M. acanthurus é a espécie brasileira de Macrobrachium mais próxima do M. amazonicum, por isto esta similaridade.

Rostro: Delgado e relativamente longo, do comprimento aproximado do escafocerito (raramente podem exceder discretamente), quase reto, somente com a sua extremidade curvada para cima. Margem superior com 9~11 dentes, os proximais mais aproximados do que os distais, os 2 primeiros antes da órbita, o primeiro separado do segundo em espaço maior do que os demais proximais. Margem inferior com 4~6 dentes.

Quelípodos dos machos: Longos e finos, com poucos espinhos. Discreta assimetria. Dedos longos e retos, um pouco mais curtos do que a palma. Dedos se fecham sem deixar espaço (sem hiato), parecido com uma tesoura reta, com cobertura densamente pubescente.


 

Parâmetros de Água

 

É uma espécie robusta, bastante tolerante quanto às condições da água, mas se desenvolve melhor entre 22 e 28° C, num pH de 6,5 a 7,8.

 


Macrobrachium acanthurus, juvenil. Foto de Walther Ishikawa.



Dimorfismo Sexual

 

As fêmeas tendem a ser menores, com garras também menores. Fêmeas possuem pleuras abdominais arqueadas e alongadas, formando uma câmara de incubação. Também podem ser diferenciados pela análise dos órgãos sexuais, mas isto é bem difícil em animais vivos.



Reprodução

O camarão-canela é uma espécie com reprodução primitiva, gerando ovos pequenos e em grande número, dos quais nascem formas planctônicas de nado livre. As formas larvares dependem de água salobra para seu adequado desenvolvimento, o que limita bastante sua reprodução em cativeiro. O ajuste da salinidade é difícil, assim como a alimentação nas primeiras fases larvares.

Possui alta taxa de fertilidade e fecundidade, uma fêmea em boas condições produz cerca de 20 mil ovos, este valor podendo chegar a 200 mil. Sua reprodução ocorre durante o período chuvoso, em meses diferentes dependendo da região do Brasil.

A fêmea passa por uma muda pré-acasalamento, e logo após o macho deposita seu espermatóforo. Após a ecdise, a fêmea libera os ovos, que são fertilizados e se alojam nos pleópodes. Com os ovos fecundados, as fêmeas migram em direção ao litoral. Após uma incubação de cerca de duas semanas, as larvas são liberadas, levadas pela correnteza até os estuários, onde encontram um ambiente favorável para seu desenvolvimento.

As larvas nascem como zoea de vida livre, com cerca de 2,3 mm, passando por cerca de dez estágios larvares em água salobra. Um dado bem interessante, esta é a única espécie onde a primeira fase larvar não mostra um comportamento planctônico, logo após eclosão, as larvas nadam por algumas horas, mas depois se dirigem ao fundo ou permanecem agarrados à vegetação, até realizarem a primeira muda.

            Na primeira fase larvar não se alimentam, consumindo nutrientes de seu saco vitelínico. Passam então por uma fase carnívora, se alimentando de zooplancton, que é onde reside a dificuldade na criação em aquários. Em culturas comerciais, nesta fase são alimentadas com náuplios de Artemia. Mais adiante, podem receber alimentos inertes ricos em proteína.

            Após se transformarem em pós-larvas, começam a migrar rio acima, geralmente levando cerca de quatro meses para chegar ao seu destino. Lá chegam já adultas, e sexualmente maduras.






Casal de Macrobrachium acanthurus em um aquário comunitário, um grande macho protegendo a fêmea. Foto de Jonatas Rodrigues Encarnação.


 


Cópula de um casal de Macrobrachium acanthurus, o macho protege a fêmea durante a ecdise, e imediatamente após deposita seu espermatóforo na região ventral. Fotos de Walther Ishikawa.

 


Casal de Macrobrachium acanthurus, fêmea com ovos à frente. Note o aspecto dos ovos, pequenos e numerosos. Foto de Walther Ishikawa.

 


Larvas zoea 1 de Macrobrachium acanthurus, mostrando seus olhos sésseis. Nesta fase as larvas se fixam a algum substrato, não apresentando comportamento planctônico. Foto de Walther Ishikawa.

 


Larva de Macrobrachium acanthurus com 28 dias de vida. Foto de Walther Ishikawa.




Comportamento

 

Bastante agressivo, em especial os camarões maiores, não pode ser mantido com peixes ou outros animais. Predam os peixes, principalmente durante a noite, quando estes dormem. Por outro lado, tornam-se vulneráveis após a ecdise, enquanto seu exoesqueleto ainda não está totalmente solidificado. Existem alguns relatos de manutenção destes animais com peixes, em especial aqueles maiores e mais agressivos (como CAs), mas via de regra não há sucesso. Mas o acidente mais comum é serem vendidos como “Fantasmas”, introduzidos inadvertidamente em comunitários, e dizimarem a fauna.

Camarões juvenis são menos agressivos, têm até um comportamento gregário, vivendo em colônias. Porém, com seu crescimento, acentua-se sua agressividade e seu comportamento canibal. Populações adultas mantidas juntas por muito tempo se devoram progressivamente, ou indivíduos dominantes se alimentando dos menores, ou animais (mesmo grandes) sendo devorados após a muda.

Desta forma, idealmente recomenda-se a manutenção de um único animal adulto em um tanque dedicado.

Sua longevidade é estimada em cerca de 2 anos.

 



Macrobrachium acanthurus, adulto. Este camarão foi criado num aquário comunitário por vários anos. Note o aspecto dos dedos da garra, retos, e sem hiato. Imagem gentilmente cedida por Fernando Bataglia.




Alimentação

 

Não são nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas, animais mortos a ração dos peixes. Caçam ativamente outros animais, inclusive outros camarões, e destroem também plantas ornamentais. A falta de proteína animal na dieta acentua seu comportamento agressivo.


 






Macrobrachium acanthurus, exemplares de carcinicultura da Venezuela. Imagens gentilmente cedidas por Richard Asten.


 

 

 

Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Carvalho HA. Ciclo sexual de Macrobrachium acanthurus (Wiegmann, 1836), Crustacea, Decapoda: Relações com Fatores Abióticos e Ciclo de Intermuda. São Paulo, 1978. 199p. Doutorado em Ciências, Área Fisiologia. Universidade de São Paulo. 1978.
  • Williams AB. Shrimps, Lobsters and Crabs of the Atlantic Coast of the Eastern United States, Maine to Florida. Washington: Smithsonian Institution Press. 1984. 550 p. il.
  • Quadros MLA, Maciel C, Bastos S, Sampaio I. Reprodução do Camarão Canela - Macrobrachium acanthurus em Condições Controladas de Laboratório e Montagem de um Atlas para Identificação de Estágios Larvares. Revista Científica da UFPA http://www.ufpa.br/revistaic Vol 4, abril 2004.
  • Valenti WC, Mello JTC, Lobão VL. Dinâmica da reprodução de Macrobrachium acanthurus (Wiegmann, 1836) e Macrobrachium carcinus (Linnaeus, 1758) do rio Ribeira do Iguape (Crustácea, Decapoda, Palaemonidae). Ciência e Cultura. 38:349-55.1986.
  • Fonseca KML. Camarões (Atyidae e Palaemonidae) da rede fluvial do Estado do Rio de Janeiro: sistemática e distribuição. Rio de Janeiro, RJ: UFRJ, 85 p. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. 1995.
  • Choudhury PC. Complete Larval Development of the Palaemonid Shrimp Macrobrachium acanthurus (Wiegmann, 1836), Reared in the Laboratory. Crustaceana. Vol. 18, No. 2 (Mar., 1970), pp. 113-132.
  • Choudhury PC. Laboratory Rearing of Larvae of the Palaemonid Shrimp Macrobrachium acanthurus (Wiegmann, 1836). Crustaceana. Vol. 21, No. 2 (Sep., 1971), pp. 113-126.
  • Dobkin S. A Contribution to Knowledge of the Larval Development of Macrobrachium acanthurus (Wiegmann, 1836) (Decapoda, Palaemonidae). Crustaceana. Vol. 21, No. 3 (Nov., 1971), pp. 294-297.
  • Fukuda B, Bertini G. Variação do Tamanho e Volume dos Ovos Durante o Desenvolvimento Embrionário do Camarão de Água Doce Macrobrachium acanthurus.
  • http://prope.unesp.br/xxi_cic/trabalhos.htm
  • Mossolin EC, Pileggi LG, Mantelatto FL. Crustacea, Decapoda, Palaemonidae, Macrobrachium Bate, 1868, São Sebastião Island, state of São Paulo, southeastern Brazil. 2010. Check List 6(4):605-613.
  • de Almeida AO, Coelho PA, Luz JR, dos Santos JT, Ferraz NR. Decapod crustaceans in fresh waters of southeastern Bahia, Brazil. Rev Biol Trop. 2008 Sep;56(3):1225-54.
  • Vergamini FG, Pileggi LG, Mantelatto FL. (2011) Genetic variability of the Amazon River prawn Macrobrachium amazonicum (Decapoda, Caridea, Palaemonidae). Contributions to Zoology, 80 (1) 67-83.
  • Pileggi LG (2009) Sistemática filogenética dos camarões do gênera Macrobrachium Bate, 1868 do Brasil: análises filogenéticas e moleculares. Tese, Doutor em Ciências, área: Biologia Comparada. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil.
  • Vera-Silva AL, Carvalho FL, Mantelatto FL. Redescription of the freshwater shrimp Macrobrachium jelskii (Miers, 1877) (Caridea, Palaemonidae). Zootaxa. 2017 May 19;4269(1):44-60.
  • Brown JH, New MB, Ismael D (2010) Biology. In: New MB, Valenti WC, Tidwell JH, D’Abramo LR, Kutty MN (eds) Freshwater prawns: biology and farming. Wiley-Blackwell, Oxford, pp 18–39.

 


 

Agradecimentos especiais aos amigos Jovi Marcos, Fernando Bataglia, Jonatas Rodrigues Encarnação, Roberto Tissott, Melo Salazar (México) e Richard Asten (Acuicola Miranda, Venezuela) pela cessão das fotos para o artigo.




As fotografias de Walther Ishikawa estão licenciados sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.

 
« Voltar  
 

Planeta Invertebrados Brasil - © 2024 Todos os direitos reservados

Desenvolvimento de sites: GV8 SITES & SISTEMAS