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"Palaemon argentinus"  
Artigo publicado em 10/01/2012, última edição em 19/11/2023  

 

Nome em português: Camarão-fantasma argentino, Camarão-fantasma.

Nome em inglês: -
Nome científico: Palaemon argentinus (Nobili, 1901)

Origem: Sudeste da América do Sul
Tamanho: fêmeas adultas chegam a 6 cm
Temperatura da água: 16-25° C
pH: 7.0-8.8
Dureza: indiferente

Reprodução: primitiva, em água doce ou salobra
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

            Camarões do gênero Palaemon ocupam os mais variados habitats, de marinhos a dulcícolas. O P. argentinus é uma espécie de camarão-fantasma (camarões pequenos, transparentes e pacíficos) que ocorre na região Sul do continente sul-americano, na sua face atlântica. É a espécie mais comum de Fantasma disponível no comércio aquarístico da Argentina e Uruguai. Raramente é visto no hobby no Brasil, embora seja uma espécie que ocorre nos estados do Sul do país.


             Até recentemente esta era considerada uma espécie do gênero Palaemonetes. Porém, uma análise filogenética realizada em 2013, baseada tanto em evidências morfológicas quanto moleculares, invalidou o gênero Palaemonetes (assim como os gêneros marinhos Exopalaemon e Coutierella), tornando-os sinônimos júnior de Palaemon. Desta forma, o gênero Palaemon no Brasil passou a comportar cinco espécies, englobando as quatro previamente classificadas como Palaemonetes.


            As larvas desta espécie mostram detalhes anatômicos que lembram mais as demais espécies marinhas de Palaemon do que as de água doce. Estes achados sugerem que se trate de uma espécie que migrou mais recentemente para o continente, possivelmente com uma história evolutiva independente dos demais Palaemon, ou seja, uma origem polifilética.


            Etimologia: Palaemon é um personagem mítico grego (Palémon), um dos argonautas; argentinus significa originário da Argentina.

 




Palaemon argentinus, fotografado em Buenos Aires, Argentina. Foto cortesia de Lucas Rubio.






Distribuição geográfica de Palaemon argentinus, Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 2003 e demais referências.



Origem


            Esta espécie de camarão tem distribuição bastante restrita, sendo encontrada desde o sul do Brasil (estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul), Paraguai e Uruguai, até a província de Buenos Aires, Argentina. Porém, é bastante numeroso nestas regiões, tendo assim uma grande importância ecológica, sustentando a cadeia alimentar de uma série de outros animais, especialmente peixes e aves. Sua distribuição geográfica se sobrepõe ao do Macrobrachium borellii.

            Na Argentina é capturado para ser usado como isca de pesca em algumas localidades. Por ser um camarão bem comum na bacia do Rio Paraná, podendo chegar a 500 animais/m2, existem alguns trabalhos pesquisando o uso desta espécie como fonte de alimentação humana.

            Habita tanto corpos d´água costais quanto continentais, sem e com correnteza. Tipicamente é encontrado em água doce, mas pode ser coletado também em lagoas costeiras com água salobra, onde há variação ampla e brusca dos parâmetros fisico-químicos da água. Nos ambientes costais brasileiros, esta espécie tende a viver em água salobra, de forma a evitar a predação pelos grandes Macrobrachium com os quais divide o habitat.
















 


 







Palaemon argentinus, fêmea ovada, note os ovos pequenos. Foto de Valeria Castagnino.




Aparência

            São camarões pequenos, atingindo até 6 cm. Indivíduos argentinos tendem a ter menores dimensões, em geral não ultrapassando 4 cm.

            É bem parecido com as outras espécies de camarão-fantasma, possuem o corpo fino, alongado e transparente, alguns com suaves padronagens, como manchas e estrias de cores variáveis. Algumas populações têm o corpo esbranquiçado ou perolado.

            Como todo Palaemon, o padrão de espinhos da carapaça é uma característica que pode ajudar bastante na sua identificação, mas é de difícil visualização sem uma boa lupa. Distinto dos Macrobrachium e Pseudopalaemon, camarões deste gênero possuem o espinho branquiostegal, mas não o hepático.


Rostro: Reto e alto, comprimento médio, próximo ao do escafocerito, arcado sobre os olhos. Margem superior com 6~10 dentes (geralmente 8) regularmente distribuídos. Primeiro dente está situado um pouco atrás da margem posterior da órbita. Margem inferior com 2 ou 3 dentes.

Quelípodos: Longos e finos, lisos e simétricos. Dedos 2/3 a 3/4 do comprimento da palma, carpo mais longo do que o mero. Ísquo quase tão longo do quanto o mero.

Pleura do quinto somito abdominal terminando em ângulo distinto.


Frequentemente são confundidos com Pseudopalaemon bouvieri, que tem praticamente a mesma distribuição. Há muitas diferenças, como os espinhos da carapaça e o rostro, mas que nem sempre são fáceis de se enxergar em fotos ou em animais de aquário. Uma forma simples de diferenciá-los é pela quela: Palemon argentinus tem a palma mais longa do que os dedos, enquanto Pseudopalaemon bouvieri tem a palma mais curta (machos) ou do mesmo comprimento (fêmeas) do que os dedos.


 




Palaemon argentinus, fotografado em Buenos Aires, Argentina. Foto cortesia de Gerónimo Martín Alonso.




Parâmetros de Água

 

Por estar adaptado a ambientes com amplas e rápidas variações nos parâmetros, é bastante tolerante quanto às condições da água. Se desenvolve melhor num pH alcalino, de 7,0 a 8,8, água dura. Prefere também temperaturas mais baixas, na natureza sendo coletado em locais que chegam a 4ºC no inverno.

 



Dimorfismo Sexual


Diferenciação difícil, exceto pela presença de ovos. Fêmeas são maiores que os machos. Fêmeas possuem pleuras abdominais arqueadas e alongadas, formando uma câmara de incubação, mas de forma mais sutil do que em outras espécies. Também podem ser diferenciados pela análise dos órgãos sexuais, mas isto é bem difícil em animais vivos.




Palaemon argentinus, fotografado em Buenos Aires, Argentina. Foto cortesia de Gonzalo Roget.



Reprodução

 

O P. argentinus é uma espécie com reprodução primitiva, gerando ovos pequenos em grande número, dos quais nascem formas planctônicas de nado livre. Apesar disto, sua forma continental tem todo seu ciclo de vida em água doce, não necessitando de água salobra. Reproduz-se facilmente em aquários, mas a alimentação nas primeiras fases larvares pode ser bastante problemática.

Mostra um ciclo reprodutivo anual, com pico na primavera e verão. Sua reprodução é limitada pela temperatura, só possível se maior que 17ºC. A fêmea passa por uma muda pré-acasalamento, e logo após o macho deposita seu espermatóforo. Após algumas horas a fêmea libera os ovos, que são fertilizados e se alojam nos pleópodes.

Assim como outras espécies encontradas em salinidades variáveis, o P. argentinus mostra algum grau de variação intraespecífica, com populações continentais tendendo a apresentar menos ovos, de maiores dimensões. Este fato sugere que esta espécie se encontra em pleno processo de adaptação na invasão continental e especiação.

Os ovos são pequenos e de aspecto ovóide, maior diâmetro mede cerca de 0,6 mm no início do desenvolvimento, e 1,0 mm no final. O número médio de ovos é de 100, mas pode chegar a 230. O tempo de desenvolvimento embrionário é de 10 a 15 dias.

As larvas nascem como zoea de vida livre, com cerca de 3,3 mm, passando por nove estágios larvares. Na primeira fase larvar não se alimentam, consumindo nutrientes de seu saco vitelínico. Passam por uma fase carnívora, caçando zooplâncton, que é onde reside a dificuldade na criação em aquários. Nesta fase podem ser alimentadas com náuplios de Artemia, mais adiante recebendo alimentos inertes ricos em proteína. A pós-larva mede cerca de 6,2 mm. O desenvolvimento larvar é possível em salinidades variáveis, desde água doce até 30%o.

 



Palaemon argentinus, close em pequeno camarão coletado. Foto de Romina Arakaki.

  

Palaemon argentinus, larva nascida em aquário (zoea I). Foto de Romina Arakaki.




Comportamento

 

É uma espécie ativa, se movimentando por todo o aquário, desde que não haja potenciais predadores. Bastante dóceis, podem ser mantidos com outros peixes e invertebrados, desde que estes sejam pacíficos.

Possuem hábitos diurnos, ao contrário de outras espécies. Alguns trabalhos sugerem que isto se deva ao fato destes camarões co-existirem com outra espécie maior e mais agressiva de camarão (Macrobrachium borellii), que tem hábitos noturnos.

Com alguma freqüência esta espécie é parasitada pelo isópode Probopyrus oviformis. Em algumas localidades, como a Lagoa dos Patos (RS), a taxa de infestação pode chegar a 70%.




Alimentação

 

Não são nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas a restos de ração dos peixes. Alimentam-se de animais mortos, inclusive outros camarões. São bastante úteis como faxineiros, coletando restos de alimentos em locais inacessíveis a outros animais.

 

 

 


 

 

 

Bibliografia:

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Agradecimentos especiais aos colegas aquaristas argentinos Valeria CastagninoRomina Arakaki, Gerónimo Martín Alonso, Lucas Rubio e Gonzalo Roget pela cessão das fotos para o artigo, e valiosas informações.



 As fotografias de Gerónimo Martín Alonso, Lucas Rubio e Gonzalo Roget (iNaturalist) estão licenciadas sob uma  Licença Creative Commons . As demais imagens têm os seus direitos de publicação pertencendo aos respectivos autores.

 
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