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"Palaemon pandaliformis"  
Artigo publicado em 10/01/2012, última edição em 05/01/2021  



Nome em português: Camarão-fantasma, Potitinga
Nome em inglês: American Grass Shrimp, Potitinga Prawn
Nome científico: Palaemon pandaliformis (Stimpson, 1871)

Origem: América Central e do Sul, principalmente em bacias litorâneas
Tamanho: até 5,0 cm
Temperatura da água: 20-28° C
pH: 7.2-7.8
Dureza: média a dura
Reprodução
: primitiva, em água doce ou salobra
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil

 

 

 

Apresentação


            Outra espécie de “camarão fantasma” que pode ser encontrada à venda é o Palaemon pandaliformis. Este gênero compreende espécies essencialmente marinhas, mas algumas delas têm adaptações para vida em água salobra ou doce.

            Até há pouco, o P. pandaliformis era considerada a única espécie brasileira que pode ser encontrada em água doce. Em 2013 o gênero Palaemonetes foi considerado um sinônimo júnior de Palaemon, e mais quatro espécies brasileiras dulcícolas foram incorporadas a este gênero. Mesmo dentre os Palaemon, o P. pandaliformis parece compor um clado à parte, junto com o P. gracilis (estuarino centro-americano), mais próximo filogeneticamente dos Macrobrachium do que dos outros Palaemon

            Este mesmo estudo (depois complementado em 2019) mostrou uma significativa divergência genética dentro desta espécie, sugerindo que os camarões sul-americanos possam ser uma espécie distinta dos norte-americanos. Se isto se confirmar, provavelmente seria revalidado o Palaemon potitinga, e os espécimes brasileiros ganhariam esta denominação.

            Etimologia: Palaemon é um personagem mítico grego (Palémon), um dos argonautas; pandaliformis diz respeito à sua semelhança com outro gênero de camarão marinho, Pandalus.





Palaemon pandaliformis, fotografados no estuário do Rio Cavalo, Itamambuca, Ubatuba, SP. Estavam em meio à vegetação marginal submersa no manguezal. Fotos de Walther Ishikawa.


 

Origem

Encontrado na América Central e América do Sul, ampla distribuição desde Cuba e Guatemala ao Sul do Brasil. No país, ocorre desde o Ceará até o Rio Grande do Sul.

É mais comum em manguezais, onde é numeroso em meio à vegetação aquática e marginal submersa. Pode ser coletado também em bacias não conectadas ao mar, mas é mais raro. Vivem num habitat bastante hostil, com bruscas e amplas variações de salinidade, desde ambientes de água doce até ambientes cuja salinidade ultrapassa a da água do mar no auge da estação seca. Nestas localidades, há variação também dos demais parâmetros químicos e físicos da água, por exemplo, com temperaturas variando entre 16 e 31° C.


 


Palaemon pandaliformis, close do rostro, foto de Chantal Wagner Kornin.

 


Palaemon pandaliformis, outra imagem do rostro e região cefálica. Note a presença do espinho branquiostegal (pequeno espinho visível na borda anterior da carapaça, abaixo da base da antena). Foto de Chantal Wagner Kornin.



Aparência

            Seu aspecto externo é bastante semelhante aos demais “camarões fantasma”, com corpo pequeno, alongado e transparente. Atingem no máximo 5,0 cm.

            Seu rostro é longo e delgado, curvado para cima, mas mais reto se comparado ao Macrobrachium jelskii. O padrão de espinhos na região anterolateral da carapaça é uma característica que ajuda bastante na sua identificação (veja fotos), mas é de difícil visibilização sem uma boa lupa. Ao contrário dos Macrobrachium e Pseudopalaemon, camarões deste gênero possuem o espinho branquiostegal, mas não o hepático.

Rostro: Delgado e longo, com a sua porção distal curvada para cima. Margem superior com 5~8 dentes, os proximais mais aproximados do que os distais, somente o primeiro antes da órbita. Margem inferior com 5~8 dentes.

Quelípodos: São simétricos, longos e finos, de aspecto liso. Dedos 2/3 a 3/5 do comprimento da palma.


 


Palaemon pandaliformis, foto de Chantal Wagner Kornin.


Parâmetros de Água

 

Por se originar de ambientes bem inóspitos, é uma espécie bastante tolerante quanto às condições da água. Desenvolve-se melhor entre 22 e 28°C, em água dura e alcalina. Vive bem também em água salobra de baixa salinidade, sendo, portanto uma opção interessante em aquários com este perfil.

Preferem ambientes de baixa salinidade. Possui grande capacidade osmorregulatória, mas é muito raro a coleta em ambientes marinhos. Adultos suportam até 3 dias em salinidade da água do mar.

 




Palaemon pandaliformis, fotografado em Assunção, no Paraguai (onde não há registro formal desta espécie). Fotos de Ulf Drechsel (PyBio - Paraguay Biodiversidad).



Dimorfismo Sexual

 

Diferenciação difícil, exceto pela presença de ovos. Machos e fêmeas têm dimensões semelhantes (fêmeas discretamente maiores), e o aspecto das garras também é igual. Fêmeas possuem pleuras abdominais arqueadas e alongadas, formando uma câmara de incubação, mas de forma mais sutil do que em outras espécies. Também podem ser diferenciados pela análise dos órgãos sexuais, mas isto é bem difícil em animais vivos.





Palaemon pandaliformis, dimorfismo sexual, macho acima. Note os pleons abdominais expandidos na fêmea, formando uma câmara incubadora. Fotos de Walther Ishikawa.



Reprodução

O Palaemon pandaliformis é uma espécie com reprodução primitiva, gerando ovos pequenos e em grande número, dos quais nascem formas planctônicas de nado livre. Porém, estas larvas se desenvolvem bem tanto em água salobra quanto doce.

Assim, é uma espécie que pode ser reproduzida em aquários, não tendo a limitação da necessidade obrigatória de água salobra para as larvas. Entretanto, por ter reprodução primitiva, a alimentação nas primeiras fases larvares costuma ser problemática.

É uma espécie que se reproduz ao longo de todo o ano, mas mostra um pico em algumas épocas. Nas regiões mais frias, este pico se dá no verão. Nas demais localidades, o pico reprodutivo é na primavera.

A fêmea produz entre 300 a 700 pequenos ovos elipsóides, que medem entre 0,6 e 0,9 mm. Após uma incubação de cerca de uma a duas semanas, as larvas são liberadas. As larvas nascem como zoea de vida livre, com cerca de 3 mm de comprimento, e passam a maior parte do tempo nadando. Nesta primeira fase larvar não se alimentam, consumindo nutrientes de seu saco vitelínico. Passam então por uma fase carnívora, se alimentando de zooplancton, que é onde reside a dificuldade na criação em aquários. Nesta fase podem receber náuplios de Artemia. Mais adiante, aceitam alimentos inertes ricos em proteína.

Passam por diversas mudas ao longo de sete estágios larvares, tornando-se pós-larvas (camarões miniatura) em 19 dias. Atingem a maturidade sexual com 23-27 mm.

 



Palaemon pandaliformis, fêmea ovada, note o aspecto dos ovos, pequenos e numerosos. Fotos de Chantal Wagner Kornin.





Palaemon pandaliformis, fêmea ovada, coletada em Itamambuca, Ubatuba SP. Foto e vídeo de Mirian Nunes dos Santos.



Comportamento

 

É uma espécie ativa, se movimentando por todo o aquário, desde que não haja potenciais predadores. Bastante dóceis, podem ser mantidos com outros peixes e invertebrados, desde que estes sejam pacíficos.




Palaemon pandaliformis, foto cedida por Solange Nalenvajko.

 


Fêmea com ovos, foto de Solange Nalenvajko.

 


Palaemon pandaliformis, foto cedida por Solange Nalenvajko.




Fêmea com ovos, note os ovos pequenos e numerosos, indicando reprodução primitiva. Foto de Solange Nalenvajko.

 


Palaemon pandaliformis, foto de Solange Nalenvajko.

 


Palaemon pandaliformis, foto de Solange Nalenvajko.



Alimentação

 

Não são nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas a restos de ração dos peixes. Alimentam-se de animais mortos, inclusive outros camarões. São bastante úteis como faxineiros, coletando restos de alimentos em locais inacessíveis a outros animais.



 


Palaemon pandaliformis, parasitado pelo isópode Probopyrus cf. palaemoni. Coletado em Paraty, SP. Foto de Walther Ishikawa.


Animais coletados na natureza podem carrear parasitas e germes,sugere-se cuidado em coletas para introduções em aquários. Em 2013 foi detectado como sendo um reservatório natural de WSSV na região litorânea do Paraíba.



 

Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Gamba AL. The Larval Development of a Fresh-Water Prawn, Palaemon pandaliformis (Stimpson, 1871), under Laboratory Conditions (Decapoda, Palaemonidae). Crustaceana. Vol. 71, No. 1 (Jan., 1998), pp. 9-35.
  • Müller YMR, Nazari EM, Bressan CM, Ammar D. Aspectos da Reprodução de Palaemon pandaliformis (Stimpson) (Decapoda, Palaemonidae) no Manguezal de Ratones, Florianópolis, Santa Catarina. Revta bras. Zool. 13(3): 633-642, 1996.
  • Lima GV, Oshiro LMY. Aspectos Reprodutivos de Palaemon pandaliformis (Stimpson) (Crustacea, Decapoda, Palaemonidae) no Rio Sahy, Mangaratiba, Rio de Janeiro, Brasil. Revta bras. Zool. 19(3): 855-860, 2002.
  • Augusto AS. A invasão da água doce pelos crustáceos: o papel dos processos osmorregulatórios. Dissertação (Pós-Graduação em biologia animal). Ribeirão Preto; 143p. 2005.
  • http://www.fao.org/docrep/009/ac477e/ac477e00.htm
  • Grave S, Ashelby C. A re-appraisal of the systematic status of selected genera in Palaemoninae (Crustacea: Decapoda: Palaemonidae). (2013). Zootaxa, 3734(3), 331–344.
  • Ferreira RS, Vieira RRR, D´Incao F. The marine and estuarine shrimps of the Palaemoninae (Crustacea: Decapoda: Caridea) from Brazil. Zootaxa 2606: 1–24 (2010).
  • Rosa LC, Passos AC, Corrêa MFM. 2015. Aspectos populacionais e reprodutivos de Palaemon pandaliformis (Stimpson, 1871) (Crustacea: Palaemonidae), em uma marisma subtropical no sul do Brasil. Bol. Inst. Pesca, São Paulo, 41(4): 849 – 857.
  • Paschoal LRP, Guimarães FJ, Couto ECG. Growth and reproductive biology of the amphidromous shrimp Palaemon pandaliformis (Decapoda: Caridea) in a Neotropical river from northeastern Brazil. Zoologia (Curitiba). 2016; 33(6): e20160060.
  • Carvalho FL, Magalhaes C, Mantelatto FL. A molecular and morphological approach on the taxonomic status of the Brazilian species of Palaemon (Decapoda, Palaemonidae). Zool Scr. 2019; 00: 1–16.
  • Bandeira JT. Vírus da síndrome da mancha branca (WSSV) em crustáceos e moluscos nativos no Rio Paraíba - PB. 2016. 53 f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária) - Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife. 

 

 

Agradecimentos especiais à amiga aquarista Solange Nalenvajko, e ao zoólogo Ulf Drechsel (Paraguai) por permitir usar suas fotos no artigo. Dr. Drechsel mantêm um site educativo sobre a biodiversidade do seu país,  Paraguay Biodiversidad .



As fotografias de Chantal Wagner Kornin e Walther Ishikawa estão licenciadas sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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