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Caranguejo de Bromélia  
Artigo publicado em 16/07/2012, última edição em 14/07/2022  


Armases angustipes fotografado dentro de uma bromélia, no Itamambuca Eco Resort, Ubatuba, SP. Imagem gentilmente cedida pelo fotógrafo Rodolfo Marcondes.


Caranguejo-de-broméliaArmases angustipes

 

Nome em português: Caranguejo-de-bromélia, Aratu
Nome em inglês: -
Nome científico: Armases angustipes (Dana 1852)

Origem: América do Sul, costa atlântica
Tamanho: carapaça com largura de 2,4 cm
Temperatura: 20-28° C
Salinidade: tolerante a variações, prefere baixa a média
Reprodução
: parcialmente abreviada, mas necessita de água salobra para as larvas
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

            O Armases angustipes é um pequeno Aratu, bastante comum em meio à vegetação adjacente a estuários, é uma das espécies mais bem adaptadas à vida continental, suportando longos períodos emerso, e só dependendo de água salobra para a reprodução. Frequentemente é encontrado nos bolsões de água depositados no interior de bromélias, por este motivo, é conhecido também como “caranguejo-de-bromélia”. 

            O gênero Armases foi criado em 1992, a partir da sub-classificação do gênero Sesarma, na ocasião um grupo bastante heterogêneo contendo mais de 125 espécies. Existem três espécies de Armases brasileiros: A. angustipes, A. benedicti e A. rubripes (alguns autores consideram uma quarta espécie, A. ricordi, mas a maioria a aceita como sinônimo do A. angustipes). Destes, o Armases angustipes é o mais comum, e que mostra distribuição mais ampla.

            Etimologia: A palavra Armases é uma “brincadeira” com Sesarma, é um anagrama, praticamente a mesma palavra escrita de trás para frente; angustipes vem do latim angustus (estreito) e pes, pedis (pé).





Armases angustipes macho, fotografado em Peruíbe, São Paulo. Habitava um local seco, distante da água, em fendas e buracos em meio a uma pequena encosta areno-terrosa. Fotos de Walther Ishikawa.



Armases angustipes em uma bromélia, fotografado na Praia do Cachadaço, Parati, Rio de Janeiro. Foto de Gilberto M. Palma.




Distribuição geográfica de Armases angustipes. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 1996.



Origem e habitat

Habita áreas estuarinas das zonas tropicais e subtropicais da costa atlântica da América do Sul, tendo ampla distribuição no litoral. É encontrado desde Trinidad, Tobago e Guiana até o estado de Santa Catarina, Sul do Brasil. Há controvérsias em relação ao limite norte da distribuição, alguns trabalhos antigos mencionam o encontro na América do Norte (até Yucatán, México), mas talvez trate-se de um erro de identificação.

            É um caranguejo semi-terrestre, habitando áreas marginais adjacentes a rios e estuários, desde junto ao limite superior do mangue, até margens de rios mais continentais. Desta forma, ocupam diversos habitats de salinidades diversas, desde desembocaduras de rios com salinidade mais elevada, até terrenos mais interiores, com água doce. Na Jamaica já foi coletado junto a rios de água doce, mais de 100 metros costa adentro. Os adultos habitam um terreno quase seco e arenoso, abaixo de rochas, junto à base de arbustos e entre a vegetação marginal. Possuem muitos tufos de pelos nas coxas das pernas, os quais são usados para reter água. Não escavam tocas, habitando fendas de rochas e troncos, além de tocas cavadas por outros caranguejos.

            Com alguma freqüência é coletado na água doce retida no interior das rosetas foliares de bromélias, inclusive se alimentando de suas flores e espantando aves polinizadoras, e desta forma comprometendo sua reprodução. Em alguns habitats, chegam a ocupar quase um terço do total de bromélias, se alimentando dos seres próprios do ecossistema do reservatório de água destas plantas. Com pernas longas e finas, muitas vezes são confundidos com aranhas.




Closes na carapaça de um Armases angustipes, fotografado em São Luís, Maranhão. Note o aspecto bem quadrado da sua carapaça. Fotos de Walther Ishikawa.



Armases angustipes, fotografado em Peruíbe, São Paulo. Veja as pernas bastante finas e longas, característico desta espécie, daí seu nome. À primeira vista, lembram até aranhas, ainda mais se lembrarmos que frequentemente habitam o interior de bromélias. Foto de Walther Ishikawa.



Close na garra de um macho de Armases angustipes, fotografado em São Luís, Maranhão. Note a coloração, e o aspecto granulado. Note também que o dáctilo não é expandido, diferente do Armases benedicti. A espuma na boca é porque o animal foi molhado, para retirar a sujeira antes da foto. Foto de Walther Ishikawa.


Garras menos robustas de uma fêmea de Armases angustipes, fotografado em Peruíbe, São Paulo. Foto de Walther Ishikawa.


Aparência

 

São caranguejos achatados de porte médio, carapaça quadrada, um pouco mais larga do que comprida, e pernas dispostas lateralmente. Olhos nas bordas ântero-laterais da carapaça, pedunculados mas curtos. Coloração parda, em tons acastanhados ou amarronzados. Muitos têm as garras com uma cor vermelha. Podem ser confundidos com outras espécies de Aratus (Goniopsis, Sesarma, Aratus), e com o Catanhão (Neohelice).

Podem ser diferenciadas dos Sesarmas pelo aspecto estreito dos meros das pernas ambulatórias, e pelo aspecto nodulado das garras, sem crista dorsal.

A diferenciação com os outros Armases é mais difícil, mas o aspecto longo e fino das pernas ambulatórias é um detalhe que auxilia bastante.

 



Armases angustipes, fotografado em São Luís, Maranhão. Fotos de Walther Ishikawa.



Dimorfismo Sexual

 

Como quase todos os caranguejos, a distinção pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, que fica dobrado sobre a porção ventral da carapaça. Fêmeas possuem o abdômen largo, onde incubam seus ovos. Nos machos, o abdômen é estreito.

Machos adultos também possuem garras maiores e mais robustas, com pequenas nodulações.




Um casal de Armases angustipes e, visão ventral, mostrando a diferença no aspecto dos pleons abdominais. A primeira foto é de um macho, e a segunda de uma fêmea. Animais fotografados em São Luís, Maranhão. Fotos de Walther Ishikawa.







Reprodução


Existe uma espécie jamaicana de sesarmídeo, Metopaulias depressus, que é o verdadeiro “caranguejo-de-bromélia”, completando todo seu ciclo de vida no interior destas plantas, inclusive a reprodução. Numa forma bem interessante de cuidado parental, estes caranguejos removem cuidadosamente folhas mortas destes bolsões de água, acrescentando conchas de caramujos, para manter o pH adequado e fornecer cálcio. A mãe caça baratas e milípedes para alimentar seus filhotes. Eliminam também ninfas de libélulas nestas poças, que possam predar seus filhotes.

Ao contrário, o Armases angustipes ainda depende de água salgada para sua reprodução. Seu ciclo de vida é muito semelhante ao de outros crustáceos semi-terrestres estuarinos. Durante a estação reprodutiva, estes caranguejos lançam milhares de larvas na água, estas são levadas pela correnteza até o mar, onde permanecem por semanas até retornarem para o estuário.

O Armases angustipes é uma espécie com um padrão reprodutivo parcialmente abreviado, composto de quatro estágios larvares planctônicos (zoea) além do megalopa. O tempo de desenvolvimento larvar é de cerca de 20 dias até o estágio juvenil. As larvas são carnívoras, podendo ser alimentadas com náuplios de Artemia em cativeiro.

            Em laboratório, as fêmeas liberam seus ovos em água doce ou salgada, indiscriminadamente. As fases larvares iniciais são relativamente tolerantes a baixas salinidades, sobrevivendo até cerca de dois dias em água doce, mas o desenvolvimento completo só é possível em água salobra (20%o). As fases larvares mais avançadas (a partir de zoea II) têm seu desenvolvimento otimizado em água marinha (32%o), mas a metamorfose de megalopa para juvenil só ocorreu a 20%o. Este fato sugere que as larvas eclodam em águas de baixa salinidade (possivelmente até em água doce), e sejam levadas pela correnteza até o mar, onde encontram condições favoráveis ao seu desenvolvimento final. Porém, na fase de megalopa os filhotes migram de volta aos estuários, para completar sua metamorfose.





Armases angustipes juvenil, fotografado em São Luís, Maranhão. Fotos de Walther Ishikawa.



Comportamento

 

São animais sociais, vivendo em colônias, mas menos numerosas do que os Ucas. Relativamente pacíficos, podem ser mantidos com outros caranguejos, inclusive da mesma espécie (exceto outros caranguejos muito pequenos). Porém, por serem pequenos, correm risco de serem predados por animais maiores. São mais ativos à noite. São exímios escaladores, auxiliadas por suas longas pernas.

Um aspecto bem interessante destes animais é o fato deles produzirem sons, emitem um assobio quando molestados.

Estes caranguejos possuem vida relativamente longa, de mais de três anos. Têm crescimento mais lento do que outras espécies, atingindo a maturidade sexual tardiamente.

Tornam-se vulneráveis após a ecdise, quando permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.


 


Um Armases angustipes, juntamente com um pequeno Aratus pisonii (acima). Animais fotografados em São Luís, Maranhão. Foto de Walther Ishikawa.



Alimentação

 

São onívoros, mas sua base alimentar é constituída quase que exclusivamente por folhas de árvores do mangue, sendo assim classificados como herbívoros funcionais. Consomem também insetos e outros pequenos animais.

Em cativeiro, necessitam de um balanço adequado entre Fósforo e Cálcio, com predomínio deste último. Muitos criadores fornecem suplementos de cálcio, como alimentos para répteis, ou pastilhas para uso humano. É conveniente também evitar um excesso de proteínas na dieta, mantendo uma dieta básica de vegetais. Outros alimentos não recomendados são o espinafre (rico em ácido oxálico) e salsinha (alto teor de ácido prússico, bastante tóxico para os caranguejos).

 




Armases angustipes em um paludário salobro, animais coletados em São Vicente, São Paulo. Foto de Walther Ishikawa.



Armases angustipes em um paludário salobro, junto a um Catanhão (Neohelice granulata). Foto de Walther Ishikawa.




Armases angustipes em um paludário salobro, fotos cortesia de Allyson Luciano Vieira.



Manutenção em Aquaterrários

 

É uma das espécies de sesarmídeos mais bem adaptada à vida terrestre, ficando praticamente todo o tempo emerso. Desta forma, pode ser mantido em terrários somente com um pequeno recipiente com água. Ao contrário de outras espécies, esta água pode ser doce, sem prejuízo na qualidade de vida destes animais. Porém, pode ser mantido também em aquaterrários salobros, sem problema algum.

É relativamente tolerante quanto a baixas temperaturas, embora seja mais ativo entre 22 e 28° C.

O substrato é indiferente, por não escavarem tocas. Pelo seu hábito de escalar objetos, é aconselhável que haja pedras, troncos e outros objetos no terrário. São exímios escaladores, o tanque deve ser sempre mantido bem tampado, para evitar fugas. Pelo mesmo motivo, deve-se atentar a troncos e outros objetos que possam ser usados como apoio pelos animais para fugas. Consegue escalar até os cabos elétricos de filtros, uma sugestão é ocluir bem qualquer pequena fresta na tampa do paludário por onde estes fios adentram o tanque, por exemplo, com massas ou papel alumínio.

 

 


Armases angustipes em um paludário salobro, tentando fugir do tanque. Este caranguejo escalou o fio elétrico do filtro, e está pendurado sobre a tampa do paludário. Foto de Walther Ishikawa.




Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Brachyura (caranguejos e siris) do litoral brasileiro. São Paulo: Plêiade/FAPESP Ed., 1996, 604p.
  • Abele LG. 1992. A review of the grapsid crab genus Sesarma (Crustacea: Decapoda: Grapsidae) in America, with the description of a new genus. Smithson. Contr. Zool. 527:1-60.
  • Anger K, Harms J, Montu M, Bakker C. 1990. Effects of salinity on the larval development of a semiterrestrial tropical crab, Sesarma angustipes (Decapoda: Grapsidae), Marine Ecology-Progress Series, 62, 89-94.
  • Canela MBF, Sazima M. Florivory by the Crab Armases angustipes (Grapsidae) Influences Hummingbird Visits to Aechmea pectinata (Bromeliaceae). Biotropica. Vol. 35, No. 2 (Jun., 2003), pp. 289-294.
  • Hagen HO Von. The Systematic Position of Sesarma (Sesarma) rectum Randall and a New Definition of the Subgenus Sesarma (Brachyura, Grapsidae). Crustaceana. Vol. 34, No. 1 (Jan., 1978), pp. 45-54.
  • Marochi MZ, Masunari S, Schubart CD. (2018). Morphological and genetic distinction of Armases angustipes and A. miersii (Decapoda, Brachyura, Sesarmidae), Crustaceana, 91(9), 1097-1106.



Agradecimentos aos fotógrafos Rodolfo Marcondes e Gilberto M. Palma, e ao aquarista Allyson Luciano Vieira pela cessão das fotos para o  artigo.


As fotografias de Walther Ishikawa estão licenciados sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.

 
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