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"Armases rubripes"  
Artigo publicado em 16/07/2012, última edição em 07/09/2016  


Aratu – Armases rubripes

 

Nome em português: Aratu, Caranguejo
Nome em inglês: -
Nome científico: Armases rubripes (Rathbun 1897)

Origem: América Central e do Sul, costa atlântica
Tamanho: carapaça com largura de 2,0 cm
Temperatura: 20-28° C
Salinidade: tolerante a variações, prefere baixa a média
Reprodução
: parcialmente abreviada, mas necessita de água salobra para as larvas
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

            Aratu é o nome popular de diversos caranguejos semi-terrestres do mangue, principalmente da família dos sesarmídeos. Dentre estes, uma espécie bastante comum é o Armases rubripes. É um Aratu pequeno, e é uma das espécies mais bem adaptadas à vida continental, suportando longos períodos emerso, e só dependendo de água salobra para a reprodução.

            O gênero Armases foi criado em 1992, a partir da sub-classificação do gênero Sesarma, na ocasião um grupo bastante heterogêneo contendo mais de 125 espécies. Existem três espécies de Armases brasileiros: A. angustipes, A. benedicti e A. rubripes.

Até há pouco tempo atrás (2001) o Armases rubripes era classificado como Metasesarma rubripes.

            Etimologia: A palavra Armases é uma “brincadeira” com Sesarma, é um anagrama, praticamente a mesma palavra escrita de trás para frente; rubripes vem do latim rubrum (vermelho) e pes, pedis (pé).


Armases rubripes, fotografado em João Pessoa, Paraíba. Foto de Houseman Araujo.



Distribuição geográfica de Armases rubripes. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 1996.



Origem e habitat
 

Habita vários ambientes próximos a áreas estuarinas das zonas tropicais e subtropicais das Américas Central e do Sul, na sua costa atlântica. É encontrado desde a Nicarágua até o Rio de la Plata, entre o Uruguai e a Argentina.

            É um caranguejo semi-terrestre, habitando áreas marginais adjacentes a estuários, junto ao limite superior do mangue. Habitam um terreno quase seco e arenoso, abaixo de rochas, junto à base de arbustos e entre a vegetação marginal. Escavam tocas, mas habitam também fendas de rochas e troncos, além de tocas cavadas por outros caranguejos. Com alguma freqüência é coletado no interior de bromélias. Arborícola, mas em menor grau do que o Aratus pisonii.

            Ocupam diversos habitats de diferentes salinidades, desde desembocaduras de rios com salinidade mais elevada, até terrenos mais interiores, com água quase doce.





Um grande Armases rubripes, fotografado no estuário do Rio de La Plata, em Montevideu, Uruguai. Fotos de Walther Ishikawa.






Macho de Armases rubripes, nas fotos são bem visíveis as areolações na carapaça, e seu formato, mais largo na frente. Fotos de Walther Ishikawa.
 

Aparência

 

São caranguejos achatados de pequeno porte, carapaça trapezoidal, estreitada posteriormente, e pernas dispostas lateralmente. Olhos nas bordas ântero-laterais da carapaça, pedunculados mas curtos. Podem ser confundidos com juvenis de outras espécies de Aratus (Goniopsis, Sesarma, Aratus), ou do Catanhão (Neohelice).

Podem ser diferenciadas dos Sesarmas pelo aspecto estreito dos meros das pernas ambulatórias, e pelo aspecto nodulado das garras, sem crista dorsal. A diferenciação com os outros Armases é mais difícil, mas o formato da carapaça, mais largo anterior do que posteriormente é um detalhe que auxilia bastante.

Carapaça áspera, possuindo areolações semelhante aos Sesarmas. A face interna do mero do quelípodo possui uma expansão triangular, denteada, na margem distal. Dáctilos das pernas ambulatórias sem espinhos. Própodo mais largo e mais piloso na primeira pata no que nas demais.

Coloração variável, em tons ocres e padronagens miméticas. Dedos das garras em tom vermelho-alaranjado, assim como os dedos das pernas (mais tênue), daí seu nome científico.

 



Armases rubripes na porção aquática de um paludário salobro. Fotos de Walther Ishikawa.


Dimorfismo Sexual

 

Como quase todos os caranguejos, a distinção pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, que fica dobrado sobre a porção ventral da carapaça. Fêmeas possuem o abdômen largo, onde incubam seus ovos. Nos machos, o abdômen é estreito.



Pequena fêmea de Armases rubripes, na porção aquática de um paludário salobro. Note as pequenas garras, e o abdomen largo. Foto de Walther Ishikawa.




Fêmea ovada de Armases rubripes, fotografado em Iguape, SP. Foto de Fábio Rosa Sussel.



Reprodução

Seu ciclo de vida é muito semelhante ao de outros crustáceos semi-terrestres estuarinos. Durante a estação reprodutiva, estes caranguejos lançam suas larvas na água durante a maré cheia, que são levadas pela correnteza até o mar, onde permanecem por semanas até retornarem para o estuário.

Reproduz-se continuamente ao longo do ano, mas com um maior pico na primavera e verão. Produz pequenos ovos esféricos, medindo 0,3 mm, num número que pode chegar a 12 mil ovos. Podem ocorrer desovas sequenciais, pouco após a liberação das larvas.

O desenvolvimento dos ovos demora cerca de 22 dias. O Armases rubripes é uma espécie com um padrão reprodutivo parcialmente abreviado, composto de quatro estágios larvares planctônicos (zoea) além do megalopa. Algumas populações brasileiras (Paraná) mostraram cinco estágios de zoea em laboratório, sugerindo que existam variações dentro da mesma espécie. O tempo de desenvolvimento larvar também é de cerca de 22 dias, destes, cerca de 8 dias são da fase de megalopa.

            Em laboratório, as fêmeas liberam seus ovos em água doce ou salgada, indiscriminadamente. As fases larvares iniciais são relativamente tolerantes a baixas salinidades, sobrevivendo até cerca de dois dias em água doce, mas o desenvolvimento completo só é possível em água salobra (20%o). Este fato sugere que as larvas eclodam em águas de baixa salinidade (possivelmente até em água doce), e sejam levadas pela correnteza até os estuários, onde encontram condições favoráveis ao seu desenvolvimento final.

 



Armases rubripes em um paludário salobro. Na segunda foto, um macho logo após a ecdise, as garras estão translúcidas porque são membros recém-regenerados. Fotos de Walther Ishikawa.


Comportamento

 

São animais sociais, vivendo em colônias, mas menos numerosas do que os Ucas. São mais ativos à noite. Pacíficos, podem ser mantidos com outros caranguejos. Porém, pelas suas pequenas dimensões, podem ser predados por animais maiores e mais agressivos.

O Armases rubripes é considerada uma espécie de transição, se encontrando num estágio evolutivo intermediário entre o Aratus pisonii, que é uma espécie arborícola, e as demais espécies terrestres de sesarmídeos. Desta forma, mostra um comportamento parcialmente arborícola, escalando troncos e subindo em árvores, onde obtém parte de sua alimentação.

É uma das espécies de Armases que produzem sons, emitindo um assobio quando molestados.

 





Armases rubripes em um paludário salobro, animais coletados em Caraguatatuba, São Paulo. Na segunda foto, dois machos em exibição. Fotos de Walther Ishikawa.


Alimentação

 

São onívoros, mas sua base alimentar é constituída quase que exclusivamente por vegetais, sendo assim classificados como herbívoros funcionais. Consomem também esporadicamente insetos e outros pequenos animais. Assim como os Aratus pisonii, suas peças bucais são adaptadas para consumirem alimentos mais duros, como cascas de árvores, raízes e brotos das árvores do mangue, além de folhas e madeira em decomposição. Aqueles que habitam bromélias se alimentam das suas inflorescências.

Em cativeiro, necessitam de um balanço adequado entre Fósforo e Cálcio, com predomínio deste último. Muitos criadores fornecem suplementos de cálcio, como alimentos para répteis, ou pastilhas de uso humano. É conveniente também evitar um excesso de proteínas na dieta, mantendo uma dieta básica de vegetais. Outros alimentos não recomendados são o espinafre (rico em ácido oxálico) e salsinha (alto teor de ácido prússico, bastante tóxico para os caranguejos).


Armases rubripes escalando o fio elétrico do filtro, em um paludário salobro. Este animal escapou umas três  vezes do tanque (com 90 cm de altura), até que por fim todas as fendas na tampa foram fechadas com adesivos e papel alumínio. Foto de Walther Ishikawa.


Outro caranguejo que também escalou o fio elétrico do filtro, pendurado de ponta-cabeça sobre a tampa do paludário. Foto de Walther Ishikawa.



Manutenção em Aquaterrários

 

É uma das espécies de sesarmídeos mais bem adaptada à vida terrestre, ficando praticamente todo o tempo emerso. Desta forma, pode ser mantido em terrários somente com um pequeno recipiente com água. Ao contrário de outras espécies, esta água pode ser doce, sem prejuízo na qualidade de vida destes animais. Porém, pode ser criado também em aquaterrários salobros.

É relativamente tolerante quanto a baixas temperaturas, embora seja mais ativo entre 22 e 28° C.

Pelo seu hábito de escalar objetos, é aconselhável que haja pedras, troncos e outros objetos no terrário. São exímios escaladores, o tanque deve ser sempre mantido bem tampado, para evitar fugas. Pelo mesmo motivo, deve-se atentar a troncos e outros objetos que possam ser usados como apoio pelos animais para fugas. Consegue escalar até os cabos elétricos de filtros, uma sugestão é ocluir bem qualquer pequena fresta na tampa do paludário por onde estes fios adentram o tanque, por exemplo, com massas ou papel alumínio.





Armases rubripes na porção aquática de um paludário salobro. Foto de Walther Ishikawa.



 

 

Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Brachyura (caranguejos e siris) do litoral brasileiro. São Paulo: Plêiade/FAPESP Ed., 1996, 604p.
  • Abele LG. 1992. A review of the grapsid crab genus Sesarma (Crustacea: Decapoda: Grapsidae) in America, with the description of a new genus. Smithson. Contr. Zool. 527:1-60.
  • Fischer EA, Duarte LFL, Araújo AC. Consumption of Bromeliad Flowers by the Crab Metasesarma rubripes in a Brazilian Coastal Forest. Crustaceana. Vol. 70, No. 1 (Jan., 1997), pp. 118-123.
  • Niem VH. Phylogenetic Relationships among American Species of Sesarma (Subgenus Armases) (Brachyura, Grapsidae). Crustaceana. Vol. 69, No. 3 (Apr., 1996), pp. 330-348.
  • Santos CM. et al. Histological and histochemical analysis of the gonadal development of males and females of Armases rubripes (Rathbun 1897) (Crustacea, Brachyura, Sesarmidae). Braz. J. Biol. 2009, vol.69, n.1, pp. 161-169.
  • Luppi TA, Spivak ED, Bas CC. The effects of temperature and salinity on larval development of Armases rubripes Rathbun, 1897 (Brachyura, Grapsoidea, Sesarmidae), and the southern limit of its geographical distribution. Estuarine, Coastal and Shelf Science. Volume 58, Issue 3, November 2003, Pages 575-585
  • Diaz H, Ewald JJ. A Comparison of the Larval Development of Metasesarma rubripes (Rathbun) and Sesarma ricordi H. Milne Edwards (Brachyura, Grapsidae) Reared under Similar Laboratory Conditions. Crustaceana. Supplement. No. 2, Studies on Decapod Larval Development (1968), pp. 225-248.
  • Lima GV, Soares MRS, Oshiro LMY. Reproductive biology of the sesarmid crab Armases rubripes (Decapoda, Brachyura) from an estuarine area of the Sahy River, Sepetiba Bay, Rio de Janeiro, Brazil. Iheringia, Sér. Zool. 2006, vol.96, n.1, pp. 47-52.
  • Niem VH. Phylogenetic and systematic position of Sesarma rubripes Rathbun, 1897 (Brachyura: Grapsidae). Zool. Med. Leiden 67 (12), 30.vii.1993:185-195.
  • Oliveira CCF, Leme MHA. Desenvolvimento embrionário e fecundidade do caranguejo Armases rubripes (Crustacea, Brachyura, Grapsidae) de uma região estuarina de Ubatuba - SP. Rev. biociên., Taubaté, v.10, n. 3, p. 129-137, jul./set. 2004.

 


Agradecimentos ao fotógrafo Houseman Araujo e ao zootecnista Fábio Rosa Sussel pela cessão da foto para o artigo.


As fotografias de Walther Ishikawa estão licenciados sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.

 
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