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"Aegla parva"  
Artigo publicado em 10/01/2012, última edição em 05/12/2023  


Égla – Aegla parva

 

Nome em português: Égla, Caranguejo de Rio, Tatuí de água doce, Scrabei
Nome em inglês: -
Nome científico: Aegla parva Bond-Buckup & Buckup, 1994

Origem: Brasil, sul e sudoeste do PR, nordeste e leste de SC

Tamanho: carapaça com comprimento de até 2,5 cm
Temperatura: 17-24° C
pH: neutro/alcalino

Dureza: média
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: pacífico

 

Apresentação

 

Apesar de serem muitas vezes referidos como “caranguejos”, na realidade estes crustáceos pertencem a outra infra-ordem, Anomura, a mesma dos caranguejos-ermitões. A família Aeglidae possui somente um gênero atual, Aegla, exclusivo de ambientes dulcícolas da região sul da América do Sul, com próximo de 60 espécies brasileiras descritas (muitas foram descritas bastante recentemente, veja a lista completa e atualizada de espécies  neste link ). São os únicos anomuros encontrados em água doce, exceto por uma única espécie de ermitão dulcícola de uma ilha do pacífico.

Não são muito populares no Brasil como animais de aquário, mas em outros países (como na Argentina) são criados há algum tempo com sucesso.

            Etimologia: Aegla vem da deusa mítica grega Aegle, uma das três Hespérides, donas do jardim dos pomos de ouro, situado no extremo ocidental do mundo. E parva vem do latim parvus, pequeno (por ser menor do que a Aegla parana, uma espécie próxima e simpátrica).

 

Origem

            Églas são crustáceos com distribuição restrita à porção sul da América do Sul, vivendo em ambientes dulcícolas das regiões temperadas do continente, o que explica sua baixa tolerância ao calor. Vivem em riachos límpidos de leito rochoso, geralmente montanhosos, alguns também em lagoas e represas.

            O Aegla parva é uma espécie encontrada somente no Brasil, nas regiões sul e sudoeste do PR, nordeste e leste de SC, nas bacias do Rio Paraná (alto, médio e baixo Rio Iguaçu) e sistema Atlântico Sul (Rios Itajaí-Açu, Cubatão do Sul, Cedro).




Distribuição geográfica de Aegla parva. Imagem original Google Maps; dados de Bond-Buckup G. In: Melo GAS. 2003.

 

Aparência

 

Lembra bastante um caranguejo, com cefalotórax achatado, pernas dispostas lateralmente e primeiro par na forma de grandes garras (quelípodos). Entretanto, numa análise mais cuidadosa, destacam-se antenas finas e bastante longas, e abdômen relativamente desenvolvido, parecendo um lagostim com a cauda dobrada. O próprio cefalotórax é oval, novamente lembrando um lagostim achatado. Numa visão superior, só são visíveis três pares de pernas ambulatórias (ao invés dos quatro pares dos caranguejos), já que o último par é atrofiado, fica oculto sob o abdômen e não possui função locomotora. Coloração variada, geralmente de cor marrom-escura avermelhada, mas alguns animais possuindo tons azulados.


  • Rostro tem comprimento médio, triangular, reto, carenado em todo seu comprimento
  • Espinho ântero-lateral da carapaça alcançando a metade da córnea
  • Lobos protogástricos e proeminências epigástricas pouco elevados
  • Ângulo látero-dorsal da segunda pleura com espinho de dimensões reduzidas
  • Crista palmar sub-retangular, modesta, com quatro a cinco tubérculos
  • Dedo móvel do quelípodo sem lobo 
  • Margem interna da face ventral do ísquio com dois espinhos robustos, distal e proximal, e entre eles, tubérculos
  • Margem ventral do mero com dois espinhos, um distal, outro ântero-medial, seguido de escamas


 

Aegla parva, fotografada em Planalto, PR. Imagens cedidas por Rony Ristow.



Parâmetros de Água

 

Habitam ambientes bastante estáveis, são bem sensíveis a variações e condições inadequadas de água. Um aspecto bastante importante é sua sensibilidade a altas temperaturas, uma causa comum de insucesso na sua manutenção em cativeiro. A temperatura ideal é em torno de 17~24º C.

Por viverem em água corrente e fria, demandam também alta taxa de oxigenação, sugerindo-se superdimensionar a filtragem e circulação de água no tanque. São mais comuns em águas neutras para alcalinas, dureza média. Como os demais crustáceos, são bem sensíveis a compostos nitrogenados, assim como a metais.


Dimorfismo Sexual

 

Bem demarcado, machos são maiores e possuem garras mais robustas e assimétricas (heteroquelia). Fêmeas possuem abdômen mais largo, e pleópodes mais desenvolvidos.


Provável Aegla parva, fotografados em Gral Manuel Belgrano, Misiones, Argentina, a 7 km da fronteira com o PR. Imagens cortesia de Fernando Bernasconi (ONG Cu.Am.Bi).



Reprodução

Poucos dados existem sobre sua reprodução. Possivelmente possuem ciclos anuais de reprodução, acasalando no verão e produzindo ovos no outono/inverno.

Produzem poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto. Églas apresentam o que se chama de Eclosão Assincrônica, ou seja, ovos de uma mesma ninhada eclodem de forma não-sincronizada. Por este motivo, as fêmeas carregam ovos em diferentes estágios de desenvolvimento, juntamente com juvenis.

É provável que esta espécie tenha também cuidado parental, mas não existem ainda informações.

 


Comportamento

 

São animais totalmente aquáticos, devem ser criados em aquários, não necessitando de uma porção emersa.

Apesar das grandes garras, não são animais agressivos, podendo ser mantidos com peixes ou com outros Aeglas, independente do sexo. Comportamento gregário, em especial animais juvenis. Hábitos noturnos, passando o dia entocado, saindo à noite para se alimentar.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.

 


Alimentação

 

Não é exigente quanto à alimentação, na natureza são onívoros, se alimentando de detritos e material orgânico em decomposição, vegetal e animal.

 





Aegla parva, fotografada no Rio dos Cedros, SC. Imagens cedidas por Josino Pereira Júnior.






Bibliografia:

 

  • Bond-Buckup G. Família Aeglidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Martin, J.W. & Abele, L.G. 1988. External morphology of the genus Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae). Smithsonian Contributions to Zoology 453: 1-46.
  • Bond-Buckup G, Buckup L.1994. A família Aeglidae (Crustacea, Decapoda, Anomura). Arch. Zool., São Paulo, 2 (4): 159-346.
  • Tudge CC. Endemic and enigmatic: the reproductive biology of Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae) with observations on sperm structure. Memoirs of Museum Victoria 60(1): 63–70 (2003).
  • Trevisan A. Influência da Formação Serra do Mar na Biogeografia Ecológica das Espécies da Família Aeglidae Dana 1852 (Crustacea: Decapoda) no Estado do Paraná/Brasil. Relatório apresentado ao Instituto Ambiental Paranaense, como pré-requisito para renovação de licença de coleta - Setor de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2010.
  • Teodósio EAFMO. Biologia de Aegla schmitti Hobbs III, 1979 (Crustácea, Anomura, Aeglidae) em reservatórios dos Mananciais da Serra, Piraquara, Estado do Paraná. Dissertação (Mestre em Ciências Biológicas, área de concentração Zoologia. Curso de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, Zoologia) - Setor de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2007.
  • Santos S, Bond-Buckup G, Gonçalves AS, Bartholomei-Santos ML, Buckup L, Jara CG. Diversity and conservation status of Aegla spp. (Anomura, Aeglidae): an update. Nauplius. 2017; 25: e2017011.


Agradecimentos a Josino Pereira JúniorRony Ristow (iNaturalist) e Fernando Bernasconi (Argentina, ONG Cu.Am.Bi - iNaturalist) pela cessão das fotos para o artigo, e valiosas informações.
 
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