INÍCIO ARTIGOS ESPÉCIES GALERIA SOBRE EQUIPE PARCEIROS CONTATO
 
 
    Espécies
 
"Aegla spinipalma"  
Artigo publicado em 04/06/2016, última edição em 19/04/2023  


Égla – Aegla spinipalma

 

Nome em português: Égla, Caranguejo de Rio, Tatuí de água doce, Scrabei
Nome em inglês: -
Nome científico: Aegla spinipalma Bond-Buckup & Buckup, 1994

Origem: Brasil, centro e nordeste do RS

Tamanho: carapaça com comprimento de até 3,5 cm
Temperatura: 17-24° C
pH: não há dados

Dureza: não há dados
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce

Comportamento: pacífico


 

 

Importante!!

 

            O Aegla spinipalma é uma espécie ameaçada, listada como “vulnerável” (VU) na relação das espécies em risco de extinção, revisada e publicado pelo Ministério do Meio Ambiente e IBAMA (2014) - B1ab(iii,iv), assim como na re-avaliação feita pela Sociedade Brasileira de Carcinologia (2016) - B1ab(iii), e na revisão de 2017 (Santos et al.) - B1ab(iii,iv). Desta forma, sua coleta e manutenção em cativeiro são proibidas por lei.


 
 

Apresentação

 

Apesar de serem muitas vezes referidos como “caranguejos”, na realidade estes crustáceos pertencem a outra infra-ordem, Anomura, a mesma dos caranguejos-ermitões. A família Aeglidae possui somente um gênero atual, Aegla, exclusivo de ambientes dulcícolas da região sul da América do Sul, com próximo de 60 espécies brasileiras descritas (muitas foram descritas bastante recentemente, veja a lista completa e atualizada de espécies  neste link ). São os únicos anomuros encontrados em água doce, exceto por uma única espécie de ermitão dulcícola de uma ilha do pacífico.

Não são muito populares no Brasil como animais de aquário, mas em outros países (como na Argentina) são criados há algum tempo com sucesso.

            Etimologia: Aegla vem da deusa mítica grega Aegle, uma das três Hespérides, donas do jardim dos pomos de ouro, situado no extremo ocidental do mundo. E spinipalma tem origem no latim spīnu = espinho, e palma = mão, relativo a presença de um espinho pronunciado na crista palmar.

 

 

Origem

            Églas são crustáceos com distribuição restrita à porção sul da América do Sul, vivendo em ambientes dulcícolas das regiões temperadas do continente, o que explica sua baixa tolerância ao calor. Vivem em riachos límpidos de leito rochoso, geralmente montanhosos, alguns também em lagoas e represas.

            O Aegla spinipalma é uma espécie encontrada somente no Brasil, e somente no estado do RS, na sua região centro e nordeste, ecorregião da bacia da Lagoa dos Patos. Vive simpatricamente com o Aegla longirostri em muitas das localidades coletadas.

            Habita os sistemas Atlântico Sul (Rios Jacuí, Taquari-Tainhas, Sinos, alto e baixo Jacuí) e bacia do Rio Uruguay (Rio Ijuí). Sua extensão de ocorrência é estimada em 16.100 km².



Distribuição geográfica de Aegla spinipalma. Imagem original Google Maps; dados de ICMBio. 2018.



Aparência

 

Lembra bastante um caranguejo, com cefalotórax achatado, pernas dispostas lateralmente e primeiro par na forma de grandes garras (quelípodos). Entretanto, numa análise mais cuidadosa, destacam-se antenas finas e bastante longas, e abdômen relativamente desenvolvido, parecendo um lagostim com a cauda dobrada. O próprio cefalotórax é oval, novamente lembrando um lagostim achatado. Numa visão superior, só são visíveis três pares de pernas ambulatórias (ao invés dos quatro pares dos caranguejos), já que o último par é atrofiado, fica oculto sob o abdômen e não possui função locomotora. Coloração variada, geralmente de cor marrom-escura avermelhada, mas alguns animais possuindo tons azulados.


  • Rostro de comprimento médio, acuminado. recurvado distalmente, sem carena na porção distal 
  • Espinho ântero-lateral da carapaça ultrapassando a metade da córnea
  • Ângulo anterior da margem ventral do epímero dois com espinho robusto
  • Ângulo látero-dorsal da segunda pleura com espinho robusto
  • Crista palmar sub-retangular, escavada e com espinho distal, e com tubérculos escamiformes ao longo da margem
  • Dedo móvel do quelípodo sem lobo 
  • Margem interna da face ventral do ísquio com dois espinhos robustos subiguais, um distal, outro proximal
  • Margem ventral do mero do segundo pereiópodo com um tubérculo distal e escamas. Margem dorsal do mero do segundo pereiópodo com um espinho pequeno distal, seguido de escamas










Aegla spinipalma, imagens gentilmente cedidas por Jober Vanderlei de Vargas Machado.

 

 

Parâmetros de Água

 

Habitam ambientes bastante estáveis, são bem sensíveis a variações e condições inadequadas de água. Um aspecto bastante importante é sua sensibilidade a altas temperaturas, uma causa comum de insucesso na sua manutenção em cativeiro. Somente como exemplo, o Aegla laevis sobrevive por 30 minutos a 28º C, e por 20 minutos a 31º C.

Por viverem em água corrente e fria, demandam também alta taxa de oxigenação, sugerindo-se superdimensionar a filtragem e circulação de água no tanque. São mais comuns em águas neutras para alcalinas, dureza média. Como os demais crustáceos, são bem sensíveis a compostos nitrogenados, assim como a metais.

 

Dimorfismo Sexual

 

Bem demarcado, machos são maiores e possuem garras mais robustas e assimétricas (heteroquelia). Fêmeas possuem abdômen mais largo, e pleópodes mais desenvolvidos.








Aegla spinipalma, fotografada em Riozinho, RS. Fotos cortesia de Bruno Grassi.



Reprodução

Por ser uma espécie descrita recentemente, poucos dados existem sobre sua reprodução. Possivelmente possuem ciclos anuais de reprodução, acasalando no verão e produzindo ovos no outono/inverno.

Produzem poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto.

É quase certo que esta espécie tenha também cuidado parental, mas não existem ainda informações.

 



Riacho em São João do Barro Preto, Júlio de Castilhos, RS, local da coleta dos Aegla spinipalma. Imagem gentilmente cedida por Jober Vanderlei de Vargas Machado.



Comportamento

 

São animais totalmente aquáticos, devem ser criados em aquários, não necessitando de uma porção emersa.

Apesar das grandes garras, não são animais agressivos, podendo ser mantidos com peixes ou com outros Aeglas, independente do sexo. Comportamento gregário, em especial animais juvenis. Hábitos noturnos, passando o dia entocado, saindo à noite para se alimentar.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.

 

 

Alimentação

 

Não é exigente quanto à alimentação, na natureza são onívoros, se alimentando de detritos e material orgânico em decomposição, vegetal e animal.

 

 

Bibliografia:

  • Bond-Buckup G. Família Aeglidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Bond-Buckup G, Buckup L.1994. A família Aeglidae (Crustacea, Decapoda, Anomura). Arch. Zool., São Paulo, 2 (4): 159-346.
  • Martin, J.W. & Abele, L.G. 1988. External morphology of the genus Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae). Smithsonian Contributions to Zoology 453: 1-46.
  • Tudge CC. Endemic and enigmatic: the reproductive biology of Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae) with observations on sperm structure. Memoirs of Museum Victoria 60(1): 63–70 (2003).
  • Zimmer A, Silveira EF, Périco E. 2002. Análise da estrutura populacional de Aegla spinipalma Bond-Buckup e Buckup, 1994 (Crustacea, Decapoda, Aeglidae) no rio Forquilha, município de David Canabarro, Rio Grande do Sul. Revista de Iniciação Científica da ULBRA, 1 (1): 47-55.
  • http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/fauna-brasileira/
  • Santos S, Bond-Buckup G, Gonçalves AS, Bartholomei-Santos ML, Buckup L, Jara CG. Diversity and conservation status of Aegla spp. (Anomura, Aeglidae): an update. Nauplius. 2017; 25: e2017011.
  • Bueno SLS, Santos S, Rocha SS, Gomes KM, Mossolin EC, Mantelatto FL. 2016. Avaliação dos Eglídeos (Decapoda: Aeglidae). Cap. 2: p. 35-63. In: Pinheiro, M. & Boos, H. (Org.). Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil: Avaliação 2010-2014. Porto Alegre, RS, Sociedade Brasileira de Carcinologia - SBC, 466 p.
  • Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume VII - Invertebrados. In: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. (Org.). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio. 727p.



Agradecimentos especiais ao biólogo Prof. Jober Vanderlei de Vargas Machado, e seus alunos (Instituto Federal Farroupilhas, campus Júlio de Castilhos) Laura de Aguiar e Josiane Aude por permitir o uso das fotos da sua coleta no nosso artigo. Agradecemos também ao colaborador do iNaturalist Bruno Grassi pela cessão das fotos para o artigo.


 As fotografias de Bruno Grassi (iNaturalist) estão licenciadas sob uma  Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.

 
« Voltar  
 

Planeta Invertebrados Brasil - © 2024 Todos os direitos reservados

Desenvolvimento de sites: GV8 SITES & SISTEMAS