Égla
– Aegla spinipalma
Nome
em português: Égla, Caranguejo de Rio, Tatuí de água
doce, Scrabei
Nome em inglês: -
Nome científico: Aegla spinipalma Bond-Buckup & Buckup, 1994
Origem:
Brasil, centro e nordeste do RS
Tamanho:
carapaça com comprimento de até 3,5 cm
Temperatura: 17-24° C
pH: não há dados
Dureza: não há dados
Reprodução: especializada,
todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: pacífico
Importante!!
O Aegla spinipalma é uma espécie ameaçada, listada como “vulnerável” (VU) na relação das
espécies em risco de extinção, revisada e publicado pelo Ministério
do Meio Ambiente e IBAMA (2014) - B1ab(iii,iv), assim como na re-avaliação feita pela Sociedade Brasileira de Carcinologia (2016) - B1ab(iii), e na revisão de 2017 (Santos et al.) - B1ab(iii,iv). Desta forma, sua coleta e manutenção em cativeiro são
proibidas por lei.
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Apresentação
Apesar de serem muitas vezes
referidos como “caranguejos”, na realidade estes crustáceos pertencem a outra
infra-ordem, Anomura, a mesma dos caranguejos-ermitões. A família Aeglidae possui somente um gênero
atual, Aegla, exclusivo de ambientes dulcícolas da região sul da
América do Sul, com próximo de 60 espécies
brasileiras descritas (muitas foram descritas bastante recentemente, veja a lista completa e atualizada de espécies neste link ). São os únicos anomuros encontrados em água doce, exceto por uma
única espécie de ermitão dulcícola de uma ilha do pacífico.
Não são muito populares no
Brasil como animais de aquário, mas em outros países (como na Argentina) são
criados há algum tempo com sucesso.
Etimologia: Aegla vem da deusa mítica grega Aegle,
uma das três Hespérides, donas do jardim dos pomos de ouro, situado no extremo
ocidental do mundo. E spinipalma tem origem no latim spīnu
= espinho, e palma = mão, relativo a
presença de um espinho pronunciado na crista palmar.
Origem
Églas são crustáceos com
distribuição restrita à porção sul da América do Sul, vivendo em ambientes
dulcícolas das regiões temperadas do continente, o que
explica sua baixa tolerância ao calor. Vivem em riachos límpidos de leito
rochoso, geralmente montanhosos, alguns também em lagoas e represas.
O Aegla spinipalma é uma espécie encontrada
somente no Brasil, e somente no estado do RS, na sua região centro e nordeste, ecorregião da bacia da Lagoa dos Patos. Vive
simpatricamente com o Aegla longirostri
em muitas das localidades coletadas. Habita os sistemas Atlântico Sul (Rios Jacuí, Taquari-Tainhas, Sinos, alto e baixo Jacuí) e bacia do Rio Uruguay (Rio Ijuí). Sua extensão de ocorrência é estimada em 16.100 km².
Distribuição geográfica de Aegla spinipalma. Imagem
original Google Maps; dados de ICMBio. 2018.
Aparência
Lembra
bastante um caranguejo, com cefalotórax achatado, pernas dispostas lateralmente
e primeiro par na forma de grandes garras (quelípodos). Entretanto, numa
análise mais cuidadosa, destacam-se antenas finas e bastante longas, e abdômen
relativamente desenvolvido, parecendo um lagostim com a cauda dobrada. O
próprio cefalotórax é oval, novamente lembrando um lagostim achatado. Numa
visão superior, só são visíveis três pares de pernas ambulatórias (ao invés dos
quatro pares dos caranguejos), já que o último par é atrofiado, fica oculto sob
o abdômen e não possui função locomotora. Coloração variada, geralmente de cor
marrom-escura avermelhada, mas alguns animais possuindo tons azulados.
- Rostro de comprimento médio, acuminado. recurvado distalmente, sem carena na porção distal
- Espinho ântero-lateral da carapaça ultrapassando a metade da córnea
- Ângulo anterior da margem ventral do epímero dois com espinho robusto
- Ângulo látero-dorsal da segunda pleura com espinho robusto
- Crista palmar sub-retangular, escavada e com espinho distal, e com tubérculos escamiformes ao longo da margem
- Dedo móvel do quelípodo sem lobo
- Margem interna da face ventral do ísquio com dois espinhos robustos subiguais, um distal, outro proximal
- Margem ventral do mero do segundo pereiópodo com um tubérculo distal e escamas. Margem dorsal do mero do segundo pereiópodo com um espinho pequeno distal, seguido de escamas
Aegla spinipalma, imagens
gentilmente cedidas por Jober Vanderlei de Vargas Machado.
Parâmetros
de Água
Habitam ambientes
bastante estáveis, são bem sensíveis a variações e condições inadequadas de
água. Um aspecto bastante importante é sua sensibilidade a altas temperaturas,
uma causa comum de insucesso na sua manutenção em cativeiro. Somente como exemplo, o Aegla laevis sobrevive por
30 minutos a 28º C, e por 20 minutos a 31º C.
Por viverem
em água corrente e fria, demandam também alta taxa de oxigenação, sugerindo-se
superdimensionar a filtragem e circulação de água no tanque. São mais comuns em
águas neutras para alcalinas, dureza média. Como os demais crustáceos, são bem
sensíveis a compostos nitrogenados, assim como a metais.
Dimorfismo Sexual
Bem demarcado, machos são maiores
e possuem garras mais robustas e assimétricas (heteroquelia). Fêmeas possuem abdômen mais largo, e pleópodes mais
desenvolvidos.
Aegla spinipalma, fotografada em Riozinho, RS. Fotos cortesia de Bruno Grassi.
Reprodução
Por ser uma espécie descrita
recentemente, poucos dados existem sobre sua reprodução. Possivelmente possuem
ciclos anuais de reprodução, acasalando no verão e produzindo ovos no
outono/inverno.
Produzem
poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário
direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são
liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto.
É quase certo que esta espécie tenha
também cuidado parental, mas não existem ainda informações.
Riacho em São João do Barro Preto, Júlio de Castilhos, RS, local da coleta dos Aegla spinipalma. Imagem
gentilmente cedida por Jober Vanderlei de Vargas Machado.
Comportamento
São animais totalmente aquáticos, devem
ser criados em aquários, não necessitando de uma porção emersa.
Apesar das grandes garras, não são
animais agressivos, podendo ser mantidos com peixes ou com outros Aeglas,
independente do sexo. Comportamento gregário, em especial animais juvenis. Hábitos
noturnos, passando o dia entocado, saindo à noite para se alimentar.
Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros
animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação
completa da carapaça.
Alimentação
Não é exigente quanto à alimentação,
na natureza são onívoros, se alimentando de detritos e material orgânico em
decomposição, vegetal e animal.
Bibliografia:
- Bond-Buckup G. Família Aeglidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea
Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
- Bond-Buckup G, Buckup L.1994. A
família Aeglidae (Crustacea, Decapoda, Anomura). Arch. Zool., São Paulo, 2 (4): 159-346.
- Martin, J.W. & Abele, L.G.
1988. External morphology of the genus Aegla
(Crustacea: Anomura: Aeglidae). Smithsonian
Contributions to Zoology 453: 1-46.
- Tudge CC. Endemic and enigmatic: the reproductive biology of Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae)
with observations on sperm structure. Memoirs of Museum Victoria 60(1): 63–70 (2003).
- Zimmer A, Silveira EF, Périco E. 2002. Análise da estrutura
populacional de Aegla spinipalma
Bond-Buckup e Buckup, 1994 (Crustacea, Decapoda, Aeglidae) no rio Forquilha,
município de David Canabarro, Rio Grande do Sul. Revista de Iniciação Científica da ULBRA, 1 (1): 47-55.
- http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/fauna-brasileira/
- Santos S, Bond-Buckup G, Gonçalves AS,
Bartholomei-Santos ML, Buckup L, Jara CG. Diversity and conservation status of
Aegla spp. (Anomura, Aeglidae): an update. Nauplius. 2017; 25: e2017011.
- Bueno SLS, Santos S, Rocha SS, Gomes KM, Mossolin EC, Mantelatto FL. 2016. Avaliação dos Eglídeos (Decapoda: Aeglidae). Cap. 2: p. 35-63. In: Pinheiro, M. & Boos, H. (Org.). Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil: Avaliação 2010-2014. Porto Alegre, RS, Sociedade Brasileira de Carcinologia - SBC, 466 p.
- Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume VII - Invertebrados. In: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. (Org.). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio. 727p.
Agradecimentos especiais ao biólogo Prof. Jober Vanderlei de Vargas Machado, e seus alunos (Instituto Federal Farroupilhas, campus Júlio de Castilhos) Laura de Aguiar e Josiane Aude por permitir o uso das
fotos da sua coleta no nosso artigo. Agradecemos também ao colaborador do iNaturalist Bruno Grassi pela cessão das fotos para o artigo.
As fotografias de Bruno Grassi (iNaturalist) estão licenciadas sob uma Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
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