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"Aegla inconspicua"  
Artigo publicado em 11/04/2020  


Égla – Aegla inconspicua

 

Nome em português: Égla, Caranguejo de Rio, Tatuí de água doce, Scrabei
Nome em inglês: -
Nome científico: Aegla inconspicua Bond-Buckup & Buckup, 1994

Origem: Brasil, nordeste do RS

Tamanho: carapaça com comprimento de até 2,0 cm
Temperatura: 3-12° C
pH: 6.2~6.5

Dureza: alta
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce

Comportamento: pacífico


 

 

Importante!!

 

            O Aegla inconspicua é uma espécie listada como “vulnerável” (VU) na relação das espécies em risco de extinção publicado pelo Ministério do Meio Ambiente e IBAMA (2014) - B1ab(iii, iv), e também na recente re-avaliação feita pela Sociedade Brasileira de Carcinologia (2016) como B1ab(iii). Desta forma, sua coleta e manutenção em cativeiro são proibidas por lei.


 
 


Apresentação

 

Apesar de serem muitas vezes referidos como “caranguejos”, na realidade estes crustáceos pertencem a outra infra-ordem, Anomura, a mesma dos caranguejos-ermitões. A família Aeglidae possui somente um gênero atual, Aegla, exclusivo de ambientes dulcícolas da região sul da América do Sul, com próximo de 60 espécies brasileiras descritas (muitas foram descritas bastante recentemente, veja a lista completa e atualizada de espécies  neste link ). São os únicos anomuros encontrados em água doce, exceto por uma única espécie de ermitão dulcícola de uma ilha do pacífico.

Não são muito populares no Brasil como animais de aquário, mas em outros países (como na Argentina) são criados há algum tempo com sucesso.

      Etimologia: Aegla vem da deusa mítica grega Aegle, uma das três Hespérides, donas do jardim dos pomos de ouro, situado no extremo ocidental do mundo. E inconspicua tem origem na latim in, que indica negação e conspicuus = que está à vista ou que atrai a atenção, relativo aos caracteres desta espécie que não são muito destacados.





Aegla inconspicua, fotografada no Rio Turvo, em André da Rocha, RS. Foto gentilmente cedida por João Vitor Andriola.


 

Origem

            Églas são crustáceos com distribuição restrita à porção sul da América do Sul, vivendo em ambientes dulcícolas das regiões temperadas do continente, o que explica sua baixa tolerância ao calor. Vivem em riachos límpidos de leito rochoso, geralmente montanhosos, alguns também em lagoas e represas.

            O Aegla inconspicua é uma espécie encontrada somente no Brasil, na região nordeste do Rio Grande do Sul. Englobam as bacias do sistema Atlântico-Sul (rios Guaíba, Caí, Taquari-Antas, Sinos, Gravataí, Tramandaí).




Distribuição geográfica de Aegla inconspicua. Imagem original Google Maps; dados de Bond-Buckup G, et al. 1994.

 

Aparência

 

Lembra bastante um caranguejo, com cefalotórax achatado, pernas dispostas lateralmente e primeiro par na forma de grandes garras (quelípodos). Entretanto, numa análise mais cuidadosa, destacam-se antenas finas e bastante longas, e abdômen relativamente desenvolvido, parecendo um lagostim com a cauda dobrada. O próprio cefalotórax é oval, novamente lembrando um lagostim achatado. Numa visão superior, só são visíveis três pares de pernas ambulatórias (ao invés dos quatro pares dos caranguejos), já que o último par é atrofiado, fica oculto sob o abdômen e não possui função locomotora.

A morfologia dos quelípodos é bastante importante para o diagnóstico da espécie nos Aeglas. As quelas do macho do A. inconspicua possuem crista palmar obsoleta; margem externa proximal do dedo móvel com lobo pouco destacado; margem interna da face ventral do ísquio possui um espinho distal e três a quatro elevações menores.

Seu rostro é triangular, largo na base, moderadamente deflexo, reto, fortemente escavado, carenado em todo seu comprimento. Outro detalhe anatômico útil é o espinho ântero-lateral da carapaça alcançando a metade da córnea. Ângulo látero-dorsal da segunda pleura inerme.


 


Aegla inconspicua, fotografada no Rio Turvo, em André da Rocha, RS. Fotos gentilmente cedidas por João Vitor Andriola.


Parâmetros de Água

 

Habitam ambientes bastante estáveis, são bem sensíveis a variações e condições inadequadas de água. Um aspecto bastante importante é sua sensibilidade a altas temperaturas, uma causa comum de insucesso na sua manutenção em cativeiro. Somente como exemplo, o Aegla laevis sobrevive por 30 minutos a 28º C, e por 20 minutos a 31º C.

Por viverem em água corrente e fria, demandam também alta taxa de oxigenação, sugerindo-se superdimensionar a filtragem e circulação de água no tanque. Alguns trabalhos sugerem que o habitat desta espécie tenda a ter valores de pH mais baixos. Como os demais crustáceos, são bem sensíveis a compostos nitrogenados, assim como a metais.

 

Dimorfismo Sexual

 

Bem demarcado, machos são maiores e possuem garras mais robustas e assimétricas (heteroquelia). Fêmeas possuem abdômen mais largo, e pleópodes mais desenvolvidos.

 




Aegla
inconspicua, fotografada no Rio Turvo, em André da Rocha, RS. Foto gentilmente cedida por João Vitor Andriola.




Reprodução


            Não há informações específicas, mas provavelmente possuem ciclos anuais de reprodução, acasalando no verão e com um pico reprodutivo durante os meses de temperatura mais fria (outono-inverno).

            Em Aeglas, existe um claro padrão latitudinal para fecundidade e tamanho dos ovos, em que os animais em latitudes mais altas produzem mais ovos de menores dimensões, enquanto que menos ovos de maiores dimensões são produzidos em latitudes mais baixas. Também exite uma variação no período reprodutivo, espécies de clima frio reproduzem-se ao longo de todo o ano, enquanto espécies de clima subtropical mostram reprodução na estação fria. É um padrão oposto ao encontrado em espécies decápodes marinhos.

         Produzem poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Não há informações sobre número ou dimensões dos ovos. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto. É quase certo que esta espécie tenha também cuidado parental, mas não existem ainda informações.


Comportamento

 

São animais totalmente aquáticos, devem ser criados em aquários, não necessitando de uma porção emersa.

Apesar das grandes garras, não são animais agressivos, podendo ser mantidos com peixes ou com outros Aeglas, independente do sexo. Comportamento gregário, em especial animais juvenis. Hábitos noturnos, passando o dia entocado, saindo à noite para se alimentar.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.

 


Alimentação

 

Não há dados específicos, mas, assim como as demais espécies do gênero, devem ser onívoros, se alimentando de detritos e material orgânico em decomposição, vegetal e animal.

 

 

Bibliografia:
  • Bond-Buckup G. Família Aeglidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Bond-Buckup G, Buckup L.1994. A família Aeglidae (Crustacea, Decapoda, Anomura). Arch. Zool., São Paulo, 2 (4): 159-346.
  • Martin, J.W. & Abele, L.G. 1988. External morphology of the genus Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae). Smithsonian Contributions to Zoology 453: 1-46.
  • Buckup L, Rossi A. O gênero Aegla no Rio Grande do Sul, Brasil (Crustácea, Decapoda, Anomura, Aeglidae). Rev. bras. Biol., 37:879-92, 1977.  
  • Pérez-Losada M, Bond-Buckup G, Jara CG, Crandall KA. Molecular systematics and biogeography of the southern South american freshwater "crabs" Aegla (decapoda: Anomura: Aeglidae) using multiple heuristic tree search approaches. Syst Biol. 2004 Oct; 53(5):767-80.
  • Santos S, Bond-Buckup G, Gonçalves AS, Bartholomei-Santos ML, Buckup L, Jara CG. Diversity and conservation status of Aegla spp. (Anomura, Aeglidae): an update. Nauplius. 2017; 25: e2017011.
  • Bueno SLS, Santos S, Rocha SS, Gomes KM, Mossolin EC, Mantelatto FL. 2016. Avaliação dos Eglídeos (Decapoda: Aeglidae). Cap. 2: p. 35-63. In: Pinheiro, M. & Boos, H. (Org.). Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil: Avaliação 2010-2014. Porto Alegre, RS, Sociedade Brasileira de Carcinologia - SBC, 466 p.




Agradecemos o biólogo João Vitor Andriola pela cessão de fotos para o artigo.  
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