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"Valdivia camerani"  
Artigo publicado em 19/10/2020, última edição em 10/07/2022  



Caranguejo de Água Doce – Valdivia camerani

 
 

 

Nome em português: Caranguejo de água doce, Caranguejo de rio.
Nome em inglês: -
Nome científico: Valdivia camerani Nobili, 1896

Origem: Centro-sul da América do Sul
Tamanho: carapaça com largura de 4,4 cm
Temperatura: 21-28° C
pH: discretamente alcalino

Dureza: média
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: agressivo
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

 

Valdivia camerani é uma espécie de caranguejo dulcícola com distribuição na região central da América do Sul, no Brasil são especialmente abundantes no Pantanal Mato-grossense, são caranguejos de porte médio, totalmente aquáticos, de hábitos noturnos.

Não têm importância em aquarismo, por serem agressivos e sem colorido exuberante. Mas é um importante componente da cadeia trófica de ambientes dulcícolas nestas regiões, no Pantanal já foram identificados até em estômagos do Sapo Cururu. Comestíveis, são também fonte de alimentação para populações ribeirinhas.

Etimologia: Valdivia tem etimologia incerta, talvez um nome próprio, ou talvez seja uma referência à cidade chilena de mesmo nome, por um erro de identificação da origem do espécime-tipo. E camerani é uma homenagem ao herpetologista e entomologista italiano Lorenzo Camerano, pesquisador e colega de campo do também italiano Giuseppe Nobili, com grandes contribuições na pesquisa da fauna da Argentina e Paraguai.






Origem


O caranguejo Valdivia camerani tem distribuição nas bacias dos Rios Mamoré, Paraguai e baixo Paraná, e na bacia do Rio Amazonas no Paraguai. Tem ocorrência registrada na Argentina, Bolívia, Paraguai e Brasil. No nosso país, são encontrados nos estados do MT e MS, abundantes no Pantanal, alto Paraguai.

Vivem em rios, baías e corixos, em geral associada a galhadas e serrapilheira submersa ou em buracos de troncos submersos. Pode ser encontrada em covas situadas acima do nível d'água.

 



Distribuição geográfica de Valdivia camerani. Imagem original Google Maps; dados de Magalhães C. In: Melo GAS. 2003.

 


Aparência

 

Cefalotórax de altura média, hexagonal. Olhos pequenos, antenas curtas. Grandes quelípodos, assimétricos nos machos. Pernas dispostas lateralmente. Médio porte, carapaça mede até 4,4 cm de largura.

Existem duas famílias de caranguejos de água doce no Brasil: Trichodactylidae e Pseudothelphusidae. Os primeiros podem identificados por dois detalhes: dáctilos com pêlos (ao invés de espinhos, daí seu nome), e segundo maxilópode. Dentro da família, os Valdivia podem ser identificados baseados no padrão de fusão dos somitos abdominais (fusão até o V), e região frontal plana e lisa.

São 3 espécies conhecidas de Valdivia, e todos ocorrem no Brasil. Dentre as espécies de Valdivia, a identificação é mais difícil, baseada no gonópodo. Sinais auxiliares são o formato e padrão de dentes da carapaça. O Valdivia camerani tem carapaça hexagonal, suavemente convexa, superfície rugosa. Sua região frontal é plana; margem frontal lisa, reta ou suavemente côncava. A margem ântero-lateral tem 3 a 5 dentes largos e acuminados e um diminuto dente acessório arredondado após o ângulo orbital externo. Abdome e telso com suas margens laterais contínuas.

 

 

 

 

Valdivia camerani, síntipo fotografado no Muséum national d´histoire naturelle, em Paris, França. Fotografado por Christian Ferrer, Wikimedia Commons.




Parâmetros de Água

 

É uma espécie robusta, tolerante quanto às condições da água, mas é nativo principalmente do Pantanal. A temperatura nos locais de coleta no Pantanal foi de 21 a 28º C. Não há dados dos parâmetros físico-químicos, provavelmente se desenvolve melhor em água ligeiramente alcalina, de dureza média.

 



Valdivia camerani, fotografado em Entre Ríos, Cochabamba, Bolívia. Foto gentilmente cedida por Eliamne Karenina Gutierrez Ojeda.




Dimorfismo Sexual

 

Como todo caranguejo, pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, o macho possui abdômen estreito, e a fêmea, abdômen largo, onde fixa seus ovos. Machos adultos também possuem garras maiores e mais robustas, uma delas mais desenvolvida (heteroquelia).











Valdivia camerani, exemplar identificado em conteúdo estomacal de Sapo Cururu (Rhinella diptycha), coletado na região do Pantanal, Cáceres, MT. Imagem gentilmente cedidas por Vancleber Divino Silva-Alves.





Reprodução


Todo seu ciclo de vida se dá em água doce. Acredita-se que tenham um padrão semelhante a outros tricodactilídeos próximos, produzindo poucos ovos de grandes dimensões, e apresentando desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Assim, na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto.






Comportamento

 

São animais totalmente aquáticos, não necessitando vir à superfície para respirar. Porém, suportam algum tempo fora d´água, principalmente se houver umidade. Fugas são bastante frequentes, o aquário deverá ser sempre mantido bem tampado.

Agressivos, especialmente os indivíduos maiores. Invertebrados bentônicos fazem parte da sua dieta, assim, deve-se atentar à presença de caramujos ornamentais, que serão rapidamente predados. Pelo mesmo motivo, caranguejos muito pequenos (da mesma, ou outra espécie) correm riscos de predação. Plantas tenras podem ser devoradas também.

Por serem escavadores, não são indicados para tanques com substrato fértil, ou com layout ornamental. Adultos têm hábitos noturnos, e costumam ficar entocados até anoitecer, jovens são mais ativos durante o dia.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.


 

Alimentação

 

Não são nada exigentes quanto à alimentação, são onívoros generalistas, ocasionalmente herbívoras, detritívoras, iliófagas, filtradoras, carnívoras e saprófagas. Em cativeiro, consomem desde algas, animais mortos a ração dos peixes. Como mencionado, caçam ativamente caramujos e outros pequenos invertebrados, e podem se alimentar também de plantas com folhas tenras.

 

 




Bibliografia:
  • Magalhães C. Famílias Pseudothelphusidae e Trichodactylidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Rodríguez G. The Freshwater Crabs of America: Family Trichodactylidae and Supplement to the Family Pseudothelphusidae. Paris, Editions ORSTOM, 189p. 1992 (Collection Faune Tropicale 31).
  • Cumberlidge, N. 2008. Valdivia camerani. The IUCN Red List of Threatened Species 2008: e.T134063A3905071. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2008.RLTS.T134063A3905071.en. Downloaded on 09 October 2020.
  • Nobili G (1896). Viaggio del Dott. A. Boreili nella Repubblica Argentina e nel Paraguay, XIX. Crostacei decapodi. Boll Mus Zool Anat Comp Torino 11(222):1–4.
  • Rosa FR da, Lopes IR, Sanches VQA, Rezende EK. Distribuição de caranguejos Trichodactylidae (Crustacea, Brachyura) em alagados do Pantanal Mato-Grossense (Brasil) e sua correlação com a proximidade do rio Cuiabá e cobertura vegetal. Pap. Avulsos Zool. (São Paulo). 2009; 49(24): 311-317.
  • Silva-Alves VD, Canale GR, da Costa TM, Muniz CC, dos Santos Filho M, Silva DJ. Record of the crabs Poppiana argentiniana (Rathbun, 1905) and Valdivia camerani (Nobili, 1896) in the diet of Rhinella diptycha (Cope, 1862) (Anura: Bufonidae), in the Pantanal Mato-Grossense, Brazil. 2020. Herpetology Notes 13, 309-312.

 


Agradecimentos aos zoólogos Vancleber Divino Silva-Alves e Eliamne Karenina Gutierrez Ojeda (Bolívia, iNaturalist) por permitir usar suas fotos no artigo.



A fotografia de Christian Ferrer (Wikimedia Commons) está licenciada sob uma  Licença Creative Commons . O arquivo original pode ser visto  aqui . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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