INÍCIO ARTIGOS ESPÉCIES GALERIA SOBRE EQUIPE PARCEIROS CONTATO
 
 
    Espécies
 
"Trich. crassus"  
Artigo publicado em 01/11/2020, última edição em 03/07/2022  





Caranguejo de Água Doce – Trichodactylus crassus
 

Nome em português: Caranguejo de água doce, Caranguejo de rio, Goiaúna, Guaiaúna.
Nome em inglês: -
Nome científico: Trichodactylus crassus A. Milne-Edwards, 1869

Origem: nordeste do Brasil
Tamanho: carapaça com largura de 3 cm
Temperatura: 25-29° C
pH: indiferente

Dureza: indiferente
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

 

Os Trichodactylus são os caranguejos dulcícolas mais comuns fora da bacia amazônica, são pequenos caranguejos totalmente aquáticos, de hábitos noturnos. Embora comuns, raramente são vistos no comércio aquarístico.

Devido à sua abundância, estes animais são importante componente da cadeia trófica de ambientes dulcícolas. Comestíveis, são também relevante fonte de alimentação para populações ribeirinhas.

O Trichodactylus crassus foi originalmente descrita em 1869 como uma espécie nova, a partir de exemplares baianos coletados por M. Williams, e descritos pelo carcinologista francês Alphonse Milne-Edwards. Sua validade foi questionada desde então, a maioria dos autores considerando-a como sendo uma subespécie ou sinônimo menor de T. fluviatilis. Análises morfológicas e moleculares (16S e COI) realizadas pela Dra. Edvanda Andrade Souza de Carvalho, na sua tese publicada em 2018 revalidaram a espécie.

     Etimologia: Trichodactylus vem do grego thríks (cabelo) e daktulos (dedo); crassus tem origem no latim cartsus, significando "denso, espesso".

 



Origem

        Nordeste do Brasil, distribuição na Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco, mais abundante nas regiões costeiras, predominando no bioma da quase extinta Mata Atlântica. Esta espécie está sendo revista, talvez parte dos indivíduos previamente identificados como sendo esta espécie corresponda a outra, muito semelhante. Pelas novas coletas, tem ocorrência confirmada somente no centro-norte da Bahia (até a região de Salvador), e Sergipe. Em especial, indivíduos do sul da Bahia podem ser outra espécie.   

Vivem em rios com corredeiras, riachos, sob pedras, na serrapilheira submersa ou em tocas marginais e raízes de vegetação marginal.


 


Distribuição geográfica de Trichodactylus crassus. Imagem original Google Maps; dados de Carvalho EAS, 2013.


Aparência

 

Cefalotórax de altura média, arredondado. Olhos pequenos, antenas curtas. Grandes quelípodos, assimétricos nos machos. Pernas dispostas lateralmente. Geralmente de cor marrom-avermelhada.

Existem duas famílias de caranguejos de água doce no Brasil: Trichodactylidae e Pseudothelphusidae. Os primeiros podem identificados por dois detalhes: dáctilos com pêlos (ao invés de espinhos, daí seu nome), e segundo maxilópode. Dentro da família, os Trichodactylus podem ser identificados baseados na forma do abdômen (segmentação de todos os somitos, sem fusão), e a escassez de dentes na margem da carapaça (até 5).

O T. crassus era inicialmente considerado uma subespécie ou sinônimo menor do T. fluviatilis, espécie que pensava-se ter uma ampla distribuição, caracteristicamente identificada pela borda ântero-lateral lisa da carapaça (às vezes com 1~3 entalhes, ou no máximo com 1 dente).

A distinção com o T. fluviatilis não é fácil, além do gonópodo típico, algumas características peculiares do T. crassus são a sua carapaça mais circular, suborbicular, com superfície dorsal plana. Margem anterolateral da carapaça lisa ou com um pequeno dente espiniforme, levemente carenada. Juvenis com muitas cerdas na carapaça, 1~2 pequenos dentes anterolaterais. Margem frontal superior levemente bilobada, lisa, sem carena. Outro achado típico é a quela, onde há ausência de projeção mesiodistal do ísquio, espinhos presentes apenas na porção mesiodistal do carpo. Trata-se de uma espécie pequena, a descrição original menciona uma largura de carapaça de cerca de 2,8 cm.




Aspecto da borda ântero-lateral da carapaça: Trichodactylus dentatus com três dentes, os dois primeiros próximos entre si e um pouco afastados do terceiro, este sempre menor e às vezes vestigial; Trichodactylus petropolitanus com três dentes equidistantes; Trichodactylus fluviatilis com borda lisa, às vezes com um a três entalhes, ou no máximo um dente. Fotos de Carlos Magno e Walther Ishikawa.






Trichodactylus crassus, fotografados no Córrego da Velha Eugênia, Santa Teresinha, BA. Fotos de Tiago Rosário da Silva, Licença Creative Commons (extraído de Silva TR et al. 2014).



Outros exemplares de Trichodactylus crassus coletados em Santa Teresinha, BA. Foto de Tiago Rosário da Silva, Licença Creative Commons (extraído de Silva TR et al. 2014).



Parâmetros de Água

 

É uma espécie robusta, bastante tolerante quanto às condições da água, mas trata-se de uma espécie tropical, se desenvolvendo melhor em temperaturas mais elevadas. Não há dados objetivos dos parâmetros físico-químicos, mas provavelmente prefere locais de pH discretamente ácido e dureza média.

 


Dimorfismo Sexual

 

Como todo caranguejo, pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, o macho possui abdômen estreito, e a fêmea, abdômen largo, onde fixa seus ovos. Machos adultos também possuem garras maiores e mais robustas, uma delas mais desenvolvida (heteroquelia).





Trichodactylus crassus, fêmea com o pleon aberto. Fotografado na Serra de Itabaiana, SE. Foto de Tiago Rosário da Silva.





Trichodactylus crassus, fotografado em Cafarnaum, BA. Foto de Cassio Brotas.



Reprodução

Todo seu ciclo de vida se dá em água doce. A reprodução ocorre nos meses mais quentes e chuvosos do ano.

Produzem poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto. Por vários dias, os jovens são protegidos e carregados pelas fêmeas sob o abdome, caracterizando cuidado parental.

 





Trichodactylus crassus, fotografado em Murici, AL. Fotos de Ben Phalan (iNaturalist, Licença Creative Commons).




Comportamento

 

São animais totalmente aquáticos, não necessitando vir à superfície para respirar. Porém, suportam algum tempo fora d´água, principalmente se houver umidade. Fugas são bastante frequentes, o aquário deverá ser sempre mantido bem tampado.

Não são agressivos, porém possuem garras potentes, e acidentes podem ocorrer. Existem diversos relatos de sucesso na manutenção destes animais em aquários comunitários, sem agressividade com peixes e camarões. Invertebrados bentônicos fazem parte da sua dieta, assim, deve-se atentar somente à presença de caramujos ornamentais, que serão rapidamente predados. Pelo mesmo motivo, caranguejos muito pequenos (da mesma, ou outra espécie) correm riscos de predação. Plantas tenras podem ser devoradas também.

Não são animais muito ativos, têm movimentação lenta, sempre que possível preferindo ficar imóveis. Por serem escavadores, não são indicados para tanques com substrato fértil, ou com layout ornamental. Adultos têm hábitos noturnos, e costumam ficar entocados até anoitecer, jovens são mais ativos durante o dia.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.





Outros exemplares de Trichodactylus crassus, coletados na Serra de Itabaiana, SE. Fotos de Tiago Rosário da Silva.


 

Alimentação

 

Não são nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas, animais mortos a ração dos peixes. Como mencionado, caçam ativamente caramujos e outros pequenos invertebrados, e podem se alimentar também de plantas com folhas tenras.

 


Bibliografia:

  • Magalhães C. Famílias Pseudothelphusidae e Trichodactylidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Carvalho EAS de. Variabilidade genética e morfológica em populações de Trichodactylus fluviatilis Latreille, 1828 (Brachyura, Trichodactylidae). Dissertação (Mestrado em Ciências, Área de Biologia Comparada), Faculdade de Folosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP. 2013.
  • Carvalho EAS de. Sistemática e revisão taxonômica dos caranguejos de água doce do gênero Trichodactylus Latreille, 1828 (Decapoda: Trichodactylidae) [tese]. Ribeirão Preto: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto; 2018.
  • Silva TR, Costa Neto EM, Rocha SS. Etnobiologia do caranguejo de água doce Trichodactylus fluviatilis Latreille, 1828 no povoado de Pedra Branca, Santa Teresinha, Bahia. Gaia Scientia (2014) Volume 8 (1): 51-64.
  • Milne-Edwards A. 1869. Révision des genres Trichodactylus, Sylviocarcinus et Dilocarcinus et description de qualques espèces nouvelles qui s.y rattachent. Ann. Soc. entomol. France, 9(4): 170-178.

 

 

 

Agradecimentos ao zoólogo Tiago Rosário da Silva, aos fotógrafos Cássio Brotas e Ben Phalan, e ao colega aquarista Carlos Magno pela cessão das fotos para o artigo.



As fotografias de Ben Phalan (iNaturalist) e aquelas extraídas de Silva TR, et al. (2014) estão licenciadas sob uma  Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
« Voltar  
 

Planeta Invertebrados Brasil - © 2024 Todos os direitos reservados

Desenvolvimento de sites: GV8 SITES & SISTEMAS