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"Brasiliothelphusa tapajoense"  
Artigo publicado em 17/07/2022, última edição em 06/09/2023  

Caranguejo de Água Doce – Brasiliothelphusa tapajoense

 

 

 

Nome em português: Caranguejo de água doce, Caranguejo de rio 
Nome em inglês: -
Nome científicoBrasiliothelphusa tapajoense Magalhães & Türkay, 1986

Origem: Noroeste do Pará
Tamanho: carapaça com largura de até 2,6 cm
Temperatura: 25-34° C
pH: alto
Dureza: alta 

Reprodução: especializada, todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: agressivo
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

 

Existem duas famílias de caranguejos de água doce no Brasil: Trichodactylidae e Pseudothelphusidae. O número total de pseudotelfusídeos existentes é maior (em torno de 300, contra cerca de 50 tricodactilídeos), mas no Brasil são bem mais raros, representados por atualmente 27 espécies. São caranguejos tipicamente encontrados em regiões montanhosas, sendo descritos do norte do México ao Brasil, bastante numerosos ao longo da cadeia montanhosa dos Andes. Porém, no Brasil, ocorrem quase exclusivamente na região da Bacia Amazônica. O Brasiliothelphusa tapajoense pertence a esta família, trata-se de um gênero atualmente monotípico, outra espécie que inicialmente era classificada neste gênero foi transferida para outro, Melothelphusa dardanelosensis. Parece ser um grupo bastante primitivo dentro de Kingsleyini, baseado no aspecto do seu gonópodo.

Pseudotelfusídeos têm um alto grau de endemismo, ocorrendo em áreas geográficas pequenas com pouca sobreposição entre as espécies. É o caso do Brasiliothelphusa tapajoense, uma espécie encontrada na região noroeste do Pará.

Devido à sua abundância, estes animais são importante componente da cadeia trófica de ambientes dulcícolas. Comestíveis, são também relevante fonte de alimentação para populações ribeirinhas e indígenas. Embora sejam comuns na Bacia Amazônica, raramente são vistos no comércio aquarístico, por serem agressivos e sem muito apelo estético.


            Etimologia: Brasiliothelphusa é obviamente uma menção à sua origem no Brasil, Thelphusa é um gênero europeu de caranguejos de água doce da família Potamonautidae, um sufixo comum em caranguejos de água doce. O nome da espécie tapajoense faz menção à sua origem no Rio Tapajós.

  



Origem

Brasiliothelphusa tapajoense é conhecida do médio Rio Tapajós, com coletas entre as cidades de Fordlândia e Monte Cristo, distando cerca de 50 km, no Pará. Foram encontrados em terreno barrento e lodoso, nas margens do rio. 
No Rio Tapajós ocorre também outra espécie de Pseudothelphusidae, o Michaelthelphusa tuerkayi , mas ocupando outro nicho ecológico, de substrato rochoso, no curso mais alto do rio.

Assim como os demais membros da família, devem ter hábitos noturnos, semiterrestres, muitas vezes avistados caminhando em locais secos, mas sempre próximos aos rios. Escavam pequenas tocas no solo, sob pedras em solo úmido da floresta.


 

 

Distribuição geográfica dos Brasiliothelphusa tapajoense. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 2003




Aparência

 

Cefalotórax de altura média, elipsóide, com a margem anterior mais larga. Olhos pequenos, antenas curtas. Grandes quelípodos, discretamente assimétricos. Pernas dispostas lateralmente.

Pseudotelfusídeos podem ser diferenciados dos tricodactilídeos por dois detalhes: dáctilos com espinhos (ao invés de pelos), e segundo maxilópode. Dentro da família, a identificação dos diferentes gêneros e espécies é bastante difícil, baseada essencialmente na morfologia do gonópodo (apêndice sexual masculino). Exemplares fêmeas e juvenis não podem ser identificados com segurança além do gênero. Isto explica a grande confusão existente entre as diversas espécies, espécies descritas sendo consideradas sinonímias, e espécies previamente consideradas não-válidas sendo re-validadas. Obviamente isto também torna a identificação destas espécies extremamente difícil para o leigo.

Dentre os Pseudotelfusídeos brasileiros, a identificação do Brasiliothelphusa tapajoense é praticamente impossível para o leigo, sem a análise do gonópodo. Possuem a fronte deflexa, margem superior distinta, lisa ou com pequenos grânulos. Margens da carapaça com diminutos dentes próximos formando uma crista. Fraca pubescência na região pterigostomial, somente margeando a região lateral ao terceiro maxilópode.


 



Brasiliothelphusa tapajoense, exemplar fotografado em Itaituba, PA. Foto de Leandro Moraes.



Parâmetros de Água

 

Brasiliothelphusa tapajoense foi coletada no Rio Tapajós, um rio de águas claras, pH e dureza mais elevadas. É uma espécie tropical, preferindo temperaturas mais altas.

 



Dimorfismo Sexual

 

Como todo caranguejo, pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, o macho possui abdômen estreito, e a fêmea, abdômen largo, onde fixa seus ovos. Quelas costumam ser mais desenvolvidas e assimétricas nos machos.



Reprodução

Todo seu ciclo de vida se dá em água doce. Seu padrão reprodutivo é semelhante aos tricodactilídeos, com poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto.

Não há dados sobre período reprodutivo, número ou dimensão dos ovos. Provavelmente apresentam cuidado parental, como os demais membros da família.



Comportamento

 

Os pseudotelfusídeos são caranguejos semi-terrestres. Não necessitam vir à superfície para respirar, mas preferem habitats onde possam encontrar terra firme para procurar alimentos e construir suas tocas. Relatos de criação em cativeiro destes caranguejos são quase inexistentes, toleram a manutenção submersa em aquários, mas possivelmente seriam mais bem acomodados em aquaterrários. Fugas são bastante frequentes, o tanque deverá ser sempre mantido bem tampado.

Agressivos e territoriais, frequentemente mostram quelas amputadas na natureza. Porém, há relatos de criação bem sucedida com peixes pequenos, inclusive de fundo. Pequenos invertebrados bentônicos fazem parte da sua dieta, como caramujos, e serão rapidamente predados. Plantas tenras também são devoradas avidamente. Por serem escavadores, não são indicados para tanques com substrato fértil, ou com layout ornamental. Hábitos noturnos, costumam ficar entocados até anoitecer.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.


 

Alimentação

 

Poucos dados existem quanto aos hábitos alimentares dos pseudotelfusídeos. Sabe-se que são onívoros, pouco seletivos, se alimentando de plantas mortas, carcaças de animais e caçando pequenos invertebrados.

 

 
 

 

Bibliografia:

  • Magalhães C. Famílias Pseudothelphusidae e Trichodactylidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Magalhães C. 1986. Revisão taxonômica dos caranguejos de água doce brasileiros da família Pseudothelphusidae (Crustacea, Decapoda). Amazoniana, 9(4): 609-636.
  • Magalhães C, Türkay M. 1986. Brasiliothelphusa, a new Brazilian freshwater‑crab genus (Crustacea: Decapoda: Pseudothelphusidae). Senckenbergiana 66(4/6):371‑376.
  • Magalhães C. 2017. A new genus and species of freshwater crab (Decapoda, Pseudothelphusidae) from the Tapajós River, a southern tributary of the Amazon River in Brazil. Crustaceana 90(7-10): 1015-1025.
  • Magalhães C, Türkay M. 2010. A new freshwater crab of the genus Brasiliothelphusa Magalhães and Türkay, 1986 from Rio Aripuanã, southern Amazon Region, Brazil (Decapoda: Pseudothelphusidae). Nauplius18(2): 103-108.
  • Pedraza-Mendoza ME. Morfologia, taxonomia e análise cladística da tribo Kingsleyini Bott, 1970 (Crustacea: Decapoda: Pseudothelphusidae). Tese (Doutorado em Sistemática, Taxonomia Animal e Biodiversidade) - Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2015.
  • Magalhães C. 2016. Avaliação dos Caranguejos pseudotelfusídeos (Decapoda: Pseudothelphusidae), Cap. 25: p. 325- 336. In: Pinheiro, M.A.A. & Boos, H. (Org.). Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil: Avaliação 2010-2014. Porto Alegre, RS: Sociedade Brasileira de Carcinologia - SBC, 466 p.


Agradecimentos especiais a Leandro Moraes (iNaturalist) que gentilmente nos permitiu o uso da sua foto no artigo. Agradecemos também a Jairo Maldonado (Colômbia) por valiosas informações sobre a manutenção em aquários.
 
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