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"Rotundovaldivia latidens"  
Artigo publicado em 05/01/2024  



Caranguejo de Água Doce – Rotundovaldivia latidens

 

 

Nome em português: Caranguejo de água doce, Caranguejo de rio, Araruta.
Nome em inglês: -
Nome científicoRotundovaldivia latidens (A. Milne-Edwards 1869)

Origem: Norte da América do Sul
Tamanho: carapaça com largura de até 5,8 cm
Temperatura: 25-34° C
pH: ácido

Dureza: mole
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: agressivo
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

 

Rotundovaldivia latidens é uma espécie de caranguejo dulcícola com distribuição na região amazônica, são caranguejos de porte médio, totalmente aquáticos, de hábitos noturnos.

Não têm importância em aquarismo, por serem agressivos e sem colorido exuberante. Mas é um importante componente da cadeia trófica de ambientes dulcícolas da bacia amazônica. Comestíveis, são também fonte de alimentação para populações ribeirinhas.

Por muito tempo esta espécie era considerada como fazendo parte do gênero Valdivia, ou um subgênero deste. As diferenças são sutis, principalmente do seu gonópodo.


Etimologia: Rotundovaldivia latidens tem etimologia não muito clara, é derivado de Valdivia (outro gênero bem próximo), talvez um nome próprio, ou talvez uma referência à cidade chilena de mesmo nome, por um erro de identificação da origem do espécime-tipo de Valdivia. Rotundo tem origem no latim rotundus, redondo, talvez uma menção ao lobo basal do gonópodo. E latidens também tem origem no latim, de latus (largo) e dens (dente).



Origem



            A distribuição do caranguejo Rotundovaldivia latidens é restrita à porção ocidental da bacia Amazônica, tem ocorrência registrada no Equador, Peru e Brasil. No nosso país, são encontrados somente no estado do AM.

Vivem em rios e lagos, em geral associada a galhadas e serrapilheira submersa ou em buracos de troncos submersos.


 

Distribuição geográfica de Rotundovaldivia latidens. Imagem original Google Maps; dados de Magalhães C. In: Melo GAS. 2003.



Aparência

 

Cefalotórax de altura média, arredondado. Olhos pequenos, antenas curtas. Grandes quelípodos, assimétricos nos machos. Pernas dispostas lateralmente. Porte médio, carapaça mede até 5,8 cm de largura.

Existem duas famílias de caranguejos de água doce no Brasil: Trichodactylidae e Pseudothelphusidae. Os primeiros podem identificados por dois detalhes: dáctilos com pêlos (ao invés de espinhos, daí seu nome), e segundo maxilópode. Dentro da família, os Valdivia e Rotundovaldivia podem ser identificados baseados no padrão de fusão dos somitos abdominais (fusão até o V), e região frontal plana e lisa.

Assim como os Valdivia, o Rotundovaldivia latidens tem carapaça sub-hexagonal, plana e pouco convexa, angulada. Superfície mais ou menos rugosa, com cristas e fendas bem demarcadas. Sua margem frontal é lisa e plana. A margem ântero-lateral tem 4 a 6 dentes, geralmente grandes, triangulares e acuminados, e dente acessório com uma saliência arredondada após o ângulo orbital externo.

Além de claras diferenças no gonópodo, machos podem ser diferenciados pelo aspecto dos segmentos abdominais. Nos Valdivia, o telso é subtriangular, com bordos laterais contínuos com os do somito abdominal VI. No Rotundovaldivia, o abdomen é bastante largo na base (nível IV), VI bem mais estreito do que os precedentes. Telso tem forma de sino, com bordos laterais claramente descontínuos com os do somito abdominal VI.

Desta forma, fêmeas não podem ser distinguidas com segurança, entre os Valdivia e Rotundovaldivia. 





Rotundovaldivia latidens, exemplar peruano coletado em Puerto Maldonado. Fotos gentilmente cedidas por Valentín Mogollón.




Parâmetros de Água

 

É uma espécie robusta, tolerante quanto às condições da água, mas é nativo da Bacia Amazônica. Ou seja, se desenvolve melhor em temperaturas mais altas, águas moles e ácidas.

 



Comparação da anatomia dos segmentos abdominais de machos de Valdivia e Rotundovaldivia. Fotos cortesia de Marco Aurélio de Sena e Valentín Mogollón.

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Dimorfismo Sexual

 

Como todo caranguejo, pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, o macho possui abdômen estreito, e a fêmea, abdômen largo, onde fixa seus ovos. Machos adultos também possuem garras maiores e mais robustas, uma delas mais desenvolvida (heteroquelia).




Reprodução

Todo seu ciclo de vida se dá em água doce. Produzem poucos ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto.

 



Comportamento

 

São animais totalmente aquáticos, não necessitando vir à superfície para respirar. Porém, suportam algum tempo fora d´água, principalmente se houver umidade. Fugas são bastante frequentes, o aquário deverá ser sempre mantido bem tampado.

Agressivos, especialmente os indivíduos maiores. Invertebrados bentônicos fazem parte da sua dieta, assim, deve-se atentar à presença de caramujos ornamentais, que serão rapidamente predados. Pelo mesmo motivo, caranguejos muito pequenos (da mesma, ou outra espécie) correm riscos de predação. Plantas tenras podem ser devoradas também.

Por serem escavadores, não são indicados para tanques com substrato fértil, ou com layout ornamental. Adultos têm hábitos noturnos, e costumam ficar entocados até anoitecer, jovens são mais ativos durante o dia.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.




Alimentação

 

Não são nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas, animais mortos a ração dos peixes. Como mencionado, caçam ativamente caramujos e outros pequenos invertebrados, e podem se alimentar também de plantas com folhas tenras.

 
 

 

 

Bibliografia:

  • Magalhães C. Famílias Pseudothelphusidae e Trichodactylidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Rodríguez G. The Freshwater Crabs of AmericaFamily Trichodactylidae and Supplement to the Family Pseudothelphusidae. Paris, Editions ORSTOM, 189p. 1992 (Collection Faune Tropicale 31).
  • Magalhães C, Türkay M. Taxonomy of the Neotropical freshwater crab family Trichodactylidae. I. The generic system with description of some new genera (Crustacea: Decapoda: Brachyura). Senckenbergiana Biologica, 75(1/2): 63-95, 1996.
  • Magalhães C, Türkay M. Taxonomy of the Neotropical freshwater crab family Trichodactylidae. V. The genera Bottiella and Rotundovaldivia (Crustacea: Decapoda: Brachyura). Senckenbergiana Biologica, 88(2): 217-230, 2008.
  • Magalhães C. 2016. Avaliação dos Caranguejos tricodactilídeos (Decapoda: Trichodactylidae), Cap. 32: p. 420- 440. In: Pinheiro, M.A.A. & Boos, H. (Org.). Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil: Avaliação 2010-2014. Porto Alegre, RS: Sociedade Brasileira de Carcinologia - SBC, 466 p.
  • Takeda M, Sugiyama H, Calvopiña M, Romero-Alvarez D. (2014) Some freshwater crabs from Ecuador, South America. Journal of Teikyo Heisei University, 25.
  • Rogers DC, Magalhães C, Peralta M, Ribeiro FB, Bond-Buckup G, Price WW, Guerrero-Kommritz J, Mantelatto FL, Bueno A, Camacho AI, González ER, Jara CG, Pedraza M, Pedraza-Lara C, Latorre ER, Santos S. Chapter 23 - Phylum Arthropoda: Crustacea: Malacostraca. In: Thorp and Covich's Freshwater Invertebrates (Fourth Edition), Editors: D. Christopher Rogers, Cristina Damborenea, James Thorp. Academic Press, 2020. p. 809-986.


Agradecimentos aos zoólogos Valentín Mogollón (Peru) e Marco Aurelio de Sena (iNaturalist) pela cessão das fotos para o artigo.
 
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