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"Uca maracoani"  
Artigo publicado em 26/06/2012, última edição em 02/12/2023  



Caranguejo Chama-MaréUca maracoani

Nome em português: Caranguejo Uca, Chama-maré, Caranguejo Violinista, Mão-no-olho

Nome em inglês: -
Nome científico: Uca (Acanthoplax) maracoani (Latreille, 1802-1803)
Origem: Antilhas e costa atlântica da América do Sul
Tamanho: carapaça com largura de 4,3 cm
Temperatura: 20-32° C
Salinidade: alta
Reprodução: primitiva, larvas se desenvolvem no mar
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil


Os caranguejos chama-marés (também chamados caranguejos-violinistas) são pequenos caranguejos semi-terrestres que habitam zonas costeiras, bastante comuns em manguezais, marismas e estuários. Pouco mais de cem espécies já foram registradas, até há pouco tempo todas pertenciam ao gênero Uca, divididas em 12 subgêneros.

Porém, em 2016 foi realizada uma cuidadosa revisão da família Ocypodidae por Shih e colaboradores, baseada em dados moleculares, combinando informações nucleares (28S rDNA) e mitocondriais (16S rDNA e subunidade I de citocromo oxidase – COI). Este trabalho trouxe algumas importantes modificações na sistemática dos chama-marés.

O gênero Uca foi invalidado, todos os subgêneros passando a ganhar status de gênero. Desta forma, o único chama-maré brasileiro que mantém o gênero Uca é o U. maracoani, já que pertencia previamente ao gênero Uca, subgênero Uca. Todos os demais devem ser designados como Minuca rapax, Leptuca uruguayensis, e assim por diante. Porém, é provável que os chama-marés continuem sendo chamados popularmente de "Ucas" por algum tempo.

O antigo gênero Uca mostrou-se parafilético, pertencendo a dois clados amplamente divergentes. Desta forma, a família Ocypodidae passa a ser classificada da seguinte forma: O antigo subgênero Uca (e um gênero africano) agrupam-se com os caranguejos maria-farinha (Ocypode), constituindo a subfamília Ocypodinae. Todos os demais chama-marés conhecidos são monofiléticos (inclui as demais nove espécies brasileiras), e agrupam-se na subfamília Gelasiminae. Os Uçás (Ucides) voltam a pertencer a Ocypodidae, constituindo a terceira subfamília, Ucidinae.

Rosemberg em 2019 classificou os Ucas em subgêneros, no caso, o U. maracoani pertence a Acanthoplax.  

Outras informações gerais dos chama-marés podem ser vistas nos dois textos introdutórios presentes na seção  "artigos" . Sugerimos a sua leitura previamente à desta ficha.



Apresentação

O Uca maracoani é o maior dos chama-marés brasileiros, e o maior do mundo em massa. É a única espécie brasileira do gênero Uca. É um caranguejo bem peculiar, tanto no seu aspecto quanto comportamento, bastante atraente como espécie para ser criada em paludários. Entretanto, possui algumas necessidades específicas que precisam ser conhecidas para o sucesso na sua criação. Sua longevidade é estimada entre 1,2 e 1,5 anos.

Há um último fato bastante curioso: desde 1972 é conhecido uma espécie fóssil do período Mioceno, Uca maracoani antiqua, da Formação Pirabas (Pará), o registro fóssil mais antigo conhecido da família Ocypodidae. Porém, uma recente análise morfológica (2020) usando micro-tomografia revelou que na realidade trata-se da mesma espécie extante. Ou seja, uma espécie que não se modificou de forma significativa pelos últimos 16 milhões de anos! Os fósseis também mostram casais habitando a mesma toca subterrânea, um padrão reprodutivo comumente encontrado em espécies atuais de violinistas.

Etimologia: Uca tem uma etimologia bem interessante, explicada no artigo principal. E maracoani é uma palavra indígena que designa esta espécie de chama-maré. Outros sinônimos são “maracani”, “maracuani” e “maracauim”.



Manguezal em Sertãozinho, distrito de Diogo Lopes, no Rio Grande do Norte. Grande colônia mista de caranguejos chama-marés, com os grandes Uca maracoani e pelo menos duas espécies menores de chama-marés. Foto cedida por Sônia Furtado.








Outras imagens de Uca maracoani deste mesmo local no Rio Grande do Norte. Note como o local é bastante alagado, próximo á linha da maré. Fotos cedidas por Sônia Furtado.



Distribuição geográfica de Uca maracoani. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 1996.



Origem e habitat

            É uma espécie com ampla distribuição geográfica, em climas tropicais, subtropicais e temperadas da América Central e do Sul, na sua costa atlântica. São encontradas desde as Antilhas, Venezuela, Guianas e Brasil (PA a PR). Há também um único relato de coleta em Florianópolis (SC).

            Não costuma ser visto em manguezais, mas em estuários adjacentes, nas margens de baias protegidas com ciclos suaves de maré. Habitam locais abertos, expostos ao sol direto, em terrenos lodosos e argilosos, pobre em matéria orgânica. É o chama-maré brasileiro que constrói suas tocas mais perto da água, em áreas alagadas junto à linha inferior da maré. É uma espécie polihalina (prefere salinidade mais alta), em torno de 20%o.

            Embora sua distribuição inclua regiões de temperaturas mais amenas, é uma espécie com grandes adaptações a elevadas temperaturas, suportando exposição ao Sol tropical, em áreas abertas sem cobertura vegetal, onde a temperatura pode exceder 40°C. Em laboratório, mantem taxa respiratória inalterada mesmo em temperaturas ambientes de cerca de 37°C.

            Habitualmente são simpátricos com Leptuca thayeri e Leptuca cumulanta, mas estas duas espécies costumam construir suas tocas um pouco mais longe da água, mas ainda na zona entre-maré.








Uca maracoani fotografado em um estuário de um grande rio em Aquiraz, Ceará, ao entardecer. Note o terreno barrento e lodoso, inclusive recobrindo os caranguejos. Fotos de Walther Ishikawa.



Aparência

            É a espécie mais facilmente identificável dentre os Ucas, com diversas características únicas e marcantes. Sua fronte e muito fina, espatuliforme, e seus pedúnculos oculares são bem longos e finos. A quela maior do macho tem dedos largos e achatados, parecendo lâminas de uma tesoura.

          A coloração dos machos não se modifica na reprodução (sem “alvejamento”). Sua carapaça tem uma coloração púrpura-acinzentado, margens anteriores das sobrancelhas eventualmente de cor laranja. Quelípodo maior marrom para cinza, mas com a face externa da mão e dedo fixo tingido de laranja ou ferrugem, dátilo tingido com púrpura ou laranja. Quelípodo menor e pernas ambulatórias alaranjados. Pelo tipo de ambiente que vivem, passam a maior parte do tempo parcialmente cobertos de lama, mesmo durante a exibição.


Dois machos de Uca maracoani em combate, próximo à entrada da toca de um deles. Foto tirada em São Luis, Maranhão, gentilmente cedida por Hector Barrabin.



Uca maracoani, coletado em Baixio Mirim, Baía de Guaratuba, Paraná. Imagem cedida por Mariângela Di Benedetto.



Peculiaridades na manutenção em aquaterrários

            Como já mencionado, esta espécie tem algumas necessidades especiais, como alta salinidade, e ambientes mais alagados. Na natureza vivem em substrato lodoso, mas na prática é muito difícil reproduzir estas condições em paludários. Podem ser mantidos em substratos de maior granulometria, sem aparente prejuízo.

             Atingem maiores dimensões, e como tal, necessitam de terrários maiores. Uma espécie interessante de ser criada junta é o Leptuca leptodactyla, também polihalina.


 

Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Brachyura (caranguejos e siris) do litoral brasileiro. São Paulo: Plêiade/FAPESP Ed., 1996, 604p.
  • Crane J. 1975. Fiddler crabs of the world. Ocypodidae: Genus Uca. New Jersey: Princepton University Press, 736p.
  • Thurman CL, Faria SC, McNamara JC. The distribution of fiddler crabs (Uca) along the coast of Brazil: implications for biogeography of the western Atlantic Ocean. Marine Biodiversity Records 01/2013; 6:1-21.
  • Bezerra LEA. The fiddler crabs (Crustacea: Brachyura: Ocypodidae: genus Uca) of the South Atlantic Ocean. Nauplius 2012; 20(2): 203-246.
  • Benetti AS. 2007. Biologia reprodutiva em espécies do gênero Uca (Crustacea, Brachyura,Ocypodidae) em manguezais tropicais. Tese de Doutorado, Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP.
  • Benedetto MD. 2007. Biologia de Uca maracoani Latreille, 1802-1803 (Decapoda, Brachyura, Ocypodidae) no Baixio Mirim, Baía de Guaratuba, Paraná, Brasil. Tese de Mestrado, Setor de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR.
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  • Bede LM, Oshiro LMY, Mendes LMD, Silva AA.. Comparação da estrutura populacional das espécies de Uca (Crustacea: Decapoda: Ocypodidae) no Manguezal de Itacuruçá, Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Bras. Zool. 2008, vol.25, n.4 pp. 601-607.
  • Diele K, Koch V, Abrunhosa FA, Lima JF, Simith DJB. The Brachyuran Crab Community of the Caeté Estuary, North Brazil: Species Richness, Zonation and Abundance. Mangrove Dynamics and Management in North Brazil. Ecological StudiesVolume 211, 2010, pp 251-263.
  • Shih HT, Ng PKL, Davie PJF, Schubart CD, Türkay M, Naderloo R, Jones D, Liu MY. 2016. Systematics of the family Ocypodidae Rafinesque, 1815 (Crustacea: Brachyura), based on phylogenetic relationships, with a reorganization of subfamily rankings and a review of the taxonomic status of Uca Leach, 1814, sensu lato and its subgenera. The Raffles Bulletin of Zoology, 64:139-175.
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  • Lima D, Tavares M, Lopes RT, de Araújo OMO, Aguilera O. 2020. Uca maracoani (Crustacea, Decapoda, Ocypodidae) from a Miocene paleomangrove in Brazil: A case of evolutionary stasis among tropical American fiddler crabs. Journal of South American Earth Sciences 99: 102517.
  • Vogt G. A compilation of longevity data in decapod crustaceans. Nauplius. 2019;27:e2019011.
 
 

 

 

Agradecimentos especiais a Sônia Furtado, Hector Barrabin e Mariângela Di Benedetto pela cessão das fotos para o artigo. Somos muito gratos também à ecóloga Ravena Sthefany Alves Nogueira por valiosas informações sobre a taxonomia destes animais.





As fotografias de Walther Ishikawa estão licenciados sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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