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"Minuca vocator"  
Artigo publicado em 10/09/2012, última edição em 02/12/2023  




Caranguejo Chama-MaréMinuca vocator


Nome em português: Caranguejo Uca, Chama-maré, Caranguejo Violinista
Nome em inglês:
Atlantic Hairback Fiddler Crab
Nome científico:
Minuca vocator (Herbst, 1804)
Origem: Costa atlântica das Américas
Tamanho: carapaça com largura de 2,2 cm
Temperatura: 20-28° C
Salinidade: baixa
Reprodução: primitiva, larvas se desenvolvem no mar
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil



 

Os caranguejos chama-marés (também chamados caranguejos-violinistas) são pequenos caranguejos semi-terrestres que habitam zonas costeiras, bastante comuns em manguezais, marismas e estuários. Pouco mais de cem espécies já foram registradas, até há pouco tempo todas pertenciam ao gênero Uca, divididas em 12 subgêneros.

Porém, em 2016 foi realizada uma cuidadosa revisão da família Ocypodidae por Shih e colaboradores, baseada em dados moleculares, combinando informações nucleares (28S rDNA) e mitocondriais (16S rDNA e subunidade I de citocromo oxidase – COI). Este trabalho trouxe algumas importantes modificações na sistemática dos chama-marés.

O gênero Uca foi invalidado, todos os subgêneros passando a ganhar status de gênero. Desta forma, o único chama-maré brasileiro que mantém o gênero Uca é o U. maracoani, já que pertencia previamente ao gênero Uca, subgênero Uca. Todos os demais devem ser designados como Minuca rapax, Leptuca uruguayensis, e assim por diante. Porém, é provável que os chama-marés continuem sendo chamados popularmente de "Ucas" por algum tempo.

O antigo gênero Uca mostrou-se parafilético, pertencendo a dois clados amplamente divergentes. Desta forma, a família Ocypodidae passa a ser classificada da seguinte forma: O antigo subgênero Uca (e um gênero africano) agrupam-se com os caranguejos maria-farinha (Ocypode), constituindo a subfamília Ocypodinae. Todos os demais chama-marés conhecidos são monofiléticos (inclui as demais nove espécies brasileiras), e agrupam-se na subfamília Gelasiminae. Os Uçás (Ucides) voltam a pertencer a Ocypodidae, constituindo a terceira subfamília, Ucidinae.

Outras informações gerais dos chama-marés podem ser vistas nos dois textos introdutórios presentes na seção  "artigos" . Sugerimos a sua leitura previamente à desta ficha.



Apresentação


O Minuca vocator é uma das espécies oligohalinas (que vive em baixas salinidades) de Violinistas brasileiros. Embora habite locais de baixa salinidade, não suporta água doce por períodos prolongados. Sua longevidade é estimada em pouco mais de um ano.

Etimologia: Minuca vem do latim minus (pouco, pequeno) e Uca, o nome original do gênero dos chama-marés. Uca tem uma etimologia bem interessante, explicada no artigo principal. E vocator vem do latim vocare (chamar), vocatus podendo ser traduzido como “aquele que chama, invocador”, uma menção aos movimentos rítmicos da garra maior do macho.


Minuca vocator macho, fotografado na Lagoa Ana Jansen, Maceió, AL. Um ambiente bastante degradado e poluído, de baixa salinidade. Foto de Walther Ishikawa.



Distribuição geográfica de Minuca vocator. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 1996.



Origem e habitat

            É uma espécie com ampla distribuição geográfica, em climas tropicais, subtropicais e temperadas das Américas, na sua costa atlântica. São encontradas desde o EUA (Texas), México, América Central ao Brasil (SC). Porém, no Brasil são bem mais comuns nos estados mais ao norte (AP-PE).

    Um fato interessante é que esta espécie tem mostrado uma modificação na sua distribuição ao longo das últimas décadas, o Minuca vocator era mais comum ao sul (como em SP), mas parece estar desaparecendo – talvez deva ser considerada ameaçada nestas regiões.

            Seu habitat típico é nos manguezais e rios costais. Ocorre mais distante da praia, rio acima, em ambientes de baixa salinidade. Comumente é visto entre árvores da floresta, junto com o Ucides, em terrenos mais úmidos e sombreados, lodosos e ricos em matéria orgânica.




Manguezal do Rio Cavalo, Ubatuba (SP), habitat do Minuca vocator. Foto de Aline Staskowian Benetti, extraído de sua tese.



Minuca vocator, coletados no manguezal do Rio Cavalo, Itamambuca, Ubatuba (SP). Os animais foram devolvidos ao local após as fotos. Fotos de Walther Ishikawa.





Minuca
vocator macho, fotografado na Lagoa Ana Jansen, Maceió, AL. Dividia o ambiente com Minuca rapax e Minuca mordax. Foto de Walther Ishikawa.


Aparência

 

O Minuca vocator é uma das cinco espécies brasileiras de Minuca, com fronte bem larga, e pode ser confundido com outros Minuca, especialmente o Minuca mordax (veja o artigo sobre identificação  aqui ). Uma característica bem marcante desta espécie é a presença (especialmente nos machos) de uma pubescência aveludada na carapaça, formando manchas irregulares de aspecto marmóreo. Parece um fino “veludo”, muitas vezes se confundindo com acúmulos de sujeira. O problema é que esta pubescência é fracamente aderida na carapaça, sendo facilmente perdida por abrasão. Ela é bem evidente em animais logo após a ecdise, mas tende a se desgastar com o tempo. Geralmente manchas irregulares acabam permanecendo, especialmente nas regiões hepática e branquial, além da região central em forma de “H”.

Se estas manchas não estiverem presentes, uma informação auxiliar bastante útil é o aspecto da face interna da palma da maior quela do macho, segundo a chave da Dra. Crane. O M. vocator é a única espécie dentre os Minuca que possui a crista tubercular oblíqua vestigial ou ausente, todas as outras espécies mostram esta crista bem pronunciada).

Não há mudança na coloração dos machos para exibição. Geralmente têm cor embotada, marrom ou acinzentada, mas eventualmente com tons de amarelado ou avermelhado. Muitas vezes a garra maior é a única parte mais brilhante e colorida do animal, geralmente amarelado ou avermelhado, principalmente a mão, enquanto os dedos são brancos.

        Esta espécie constrói grandes ornamentações em forma de chaminé na entrada das tocas, um recurso de cortejo sexual.




Chaminé em torno da toca de Minuca vocator, fotografado no manguezal do Rio Cavalo, Itamambuca, em Ubatuba, SP. Foto de Walther Ishikawa.



Fêmea de Minuca vocator, também fotografado em Ubatuba, SP. Foto de Walther Ishikawa.



Minuca vocator, close da carapaça mostrando os focos de pubescência aveludada. Este exemplar já mostra grande desgaste na carapaça, tendo perdido boa parte da pubescência. Foto de Walther Ishikawa.


Minuca vocator macho, coletado em Ubatuba (SP), foto gentilmente cedida por Aline Staskowian Benetti, extraído de sua tese. Veja a exuberante pubescência na carapaça. Animal fixado, já com a carapaça limpa, mostrando a coloração real da pubescência.




Minuca vocator, dois animais recém-coletados, com diferentes graus de desgaste da pubescência. Note como a pubescência molhada e impregnada de lama adquire um aspecto de sujeira. Animais coletados no manguezal do Rio Cavalo, Itamambuca, Ubatuba (SP). Fotos de Walther Ishikawa.



Minuca vocator, note a fronte bastante larga, é a espécie de Minuca brasileiro com a fronte mais larga. Note também o aspecto relativamente liso da face externa da quela, com poucas e pequenas granulações. Foto de Walther Ishikawa.





Quela maior do macho, face externa e interna. Na segunda imagem, pode ser vista a crista tubercular oblíqua vestigial, quase imperceptível. Fotos de Walther Ishikawa.


Peculiaridades na manutenção em aquaterrários

O Minuca vocator é visto com alguma frequência no comércio de animais. Por ser uma espécie oligohalina, muitas vezes é coletado juntamente com o Minuca mordax, a espécie mais comum de ser vista em lojas. Porém, não vive bem a longo prazo em água doce. Mas dadas condições adequadas, pode ser criada com sucesso em paludários salobros, de baixa salinidade.


 

 

Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Brachyura (caranguejos e siris) do litoral brasileiro. São Paulo: Plêiade/FAPESP Ed., 1996, 604p.
  • Crane J. 1975. Fiddler crabs of the world. Ocypodidae: Genus Uca. New Jersey: Princepton University Press, 736p.
  • Thurman CL, Faria SC, McNamara JC. The distribution of fiddler crabs (Uca) along the coast of Brazil: implications for biogeography of the western Atlantic Ocean. Marine Biodiversity Records 01/2013; 6:1-21.
  • Bezerra LEA. The fiddler crabs (Crustacea: Brachyura: Ocypodidae: genus Uca) of the South Atlantic Ocean. Nauplius 2012; 20(2): 203-246.
  • Castiglioni DS, Almeida AO, Bezerra LEA. More common than reported: range extension, size–frequency and sex-ratio of Uca (Minuca) victoriana (Crustacea: Ocypodidae) in tropical mangroves, Brazil. Marine Biodiversity Records, 06 January 2011 3: e94 (8 pages).
  • Benetti AS. 2007. Biologia reprodutiva em espécies do gênero Uca (Crustacea, Brachyura,Ocypodidae) em manguezais tropicais. Tese de Doutorado, Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP.
  • Koch V, Wolff M, Diele K. Comparative population dynamics of four fiddler crabs (Ocypodidae, genus Uca) from a North Brazilian mangrove ecosystem. Marine ecology. 2005, vol. 291, pp. 177-188.
  • Masunari S. Distribuição e abundância dos caranguejos Uca Leach (Crustacea, Decapoda, Ocypodidae) na Baía de Guaratuba, Paraná, Brasil. Rev. Bras. Zool. 2006, vol.23, n.4, pp. 901-914.
  • Bede LM, Oshiro LMY, Mendes LMD, Silva AA.. Comparação da estrutura populacional das espécies de Uca (Crustacea: Decapoda: Ocypodidae) no Manguezal de Itacuruçá, Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Bras. Zool. 2008, vol.25, n.4 pp. 601-607.
  • Oliveira LPH. Alguns fatores que limitam o habitat de varias especies de caranguejos do genero Uca Leach: (Decapoda: Ocypodidae). Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 1939, vol.34, n.4, pp. 519-526.
  • Colpo KD, Negreiros-Fransozo ML. Reproductive output of Uca vocator (Herbst, 1804) (Brachyura, Ocypodidae) from three subtropical mangroves in Brazil. Crustaceana (Leiden. Print). v.76, p.01 - 11, 2003.
  • http://www.fiddlercrab.info/
  • http://www.sms.si.edu/
  • Shih HT, Ng PKL, Davie PJF, Schubart CD, Türkay M, Naderloo R, Jones D, Liu MY. 2016. Systematics of the family Ocypodidae Rafinesque, 1815 (Crustacea: Brachyura), based on phylogenetic relationships, with a reorganization of subfamily rankings and a review of the taxonomic status of Uca Leach, 1814, sensu lato and its subgenera. The Raffles Bulletin of Zoology, 64:139-175.
  • Vogt G. A compilation of longevity data in decapod crustaceans. Nauplius. 2019;27:e2019011.



Agradecimentos especiais à bióloga Dra. Aline Staskowian Benetti pela cessão de algumas das fotos da sua tese para o artigo, além de valiosas informações para a fotografia dos animais no seu habitat. Somos muito gratos também à ecóloga Ravena Sthefany Alves Nogueira por valiosas informações sobre a taxonomia destes animais.




As fotografias de Walther Ishikawa estão licenciados sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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