INÍCIO ARTIGOS ESPÉCIES GALERIA SOBRE EQUIPE PARCEIROS CONTATO
 
 
    Espécies
 
"Leptuca cumulanta"  
Artigo publicado em 10/09/2012, última edição em 02/12/2023  






Caranguejo Chama-MaréLeptuca cumulanta


Nome em português: Caranguejo Uca, Chama-maré, Caranguejo Violinista
Nome em inglês: -
Nome científico: Leptuca
cumulanta (Crane, 1943)
Origem:
Costa atlântica tropical da América Central e do Sul
Tamanho: carapaça com largura de 1,2 cm
Temperatura: 22-30° C
Salinidade:
tolerante a variações
Reprodução: primitiva, larvas se desenvolvem no mar
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil




Os caranguejos chama-marés (também chamados caranguejos-violinistas) são pequenos caranguejos semi-terrestres que habitam zonas costeiras, bastante comuns em manguezais, marismas e estuários. Pouco mais de cem espécies já foram registradas, até há pouco tempo todas pertenciam ao gênero Uca, divididas em 12 subgêneros.

Porém, em 2016 foi realizada uma cuidadosa revisão da família Ocypodidae por Shih e colaboradores, baseada em dados moleculares, combinando informações nucleares (28S rDNA) e mitocondriais (16S rDNA e subunidade I de citocromo oxidase – COI). Este trabalho trouxe algumas importantes modificações na sistemática dos chama-marés.

O gênero Uca foi invalidado, todos os subgêneros passando a ganhar status de gênero. Desta forma, o único chama-maré brasileiro que mantém o gênero Uca é o U. maracoani, já que pertencia previamente ao gênero Uca, subgênero Uca. Todos os demais devem ser designados como Minuca rapax, Leptuca uruguayensis, e assim por diante. Porém, é provável que os chama-marés continuem sendo chamados popularmente de "Ucas" por algum tempo.

O antigo gênero Uca mostrou-se parafilético, pertencendo a dois clados amplamente divergentes. Desta forma, a família Ocypodidae passa a ser classificada da seguinte forma: O antigo subgênero Uca (e um gênero africano) agrupam-se com os caranguejos maria-farinha (Ocypode), constituindo a subfamília Ocypodinae. Todos os demais chama-marés conhecidos são monofiléticos (inclui as demais nove espécies brasileiras), e agrupam-se na subfamília Gelasiminae. Os Uçás (Ucides) voltam a pertencer a Ocypodidae, constituindo a terceira subfamília, Ucidinae.

Outras informações gerais dos chama-marés podem ser vistas nos dois textos introdutórios presentes na seção  "artigos" . Sugerimos a sua leitura previamente à desta ficha.



Apresentação

O Leptuca cumulanta é uma das quatro espécies brasileiras de Leptuca, violinistas geralmente pequenos e coloridos. Dentre os chama-marés brasileiros, tem distribuição mais ao norte, não sendo encontrado em climas frios.

Parece ser uma espécie de vida curta, algumas estimativas indicam uma longevidade menor que um ano, de cerca de 8-9 meses.


Etimologia: Leptuca vem do grego leptos (pequeno, delicado) e Uca, o nome original do gênero dos chama-marés. Uca tem uma etimologia bem interessante, explicada no artigo principal. E cumulanta vem do latim cumulus, “pilha, massa, excedente”, segundo o artigo original da Dra. Crane, é uma referência ao hábito deste caranguejo de construir montes de lama junto às suas tocas.







Manguezal em Guaratiba, RJ, onde foram fotografados Leptuca cumulanta. Fotos de Walther Ishikawa.



Leptuca cumulanta, fotografado em um manguezal de Paraty, RJ. Foto de Stuart Brown.




Distribuição geográfica de Leptuca cumulanta. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 1996 e demais referências.



Origem e habitat

            É uma espécie atlântica essencialmente tropical, não sendo encontrada nos estados mais ao sul. Ocorre desde a América Central (Jamaica e Panamá) até o Brasil, onde mostra uma distribuição disjunta,  bastante comum nos estados mais ao norte (AP a PB), e foco isolado no centro-sul do Rio de Janeiro (Cabo Frio a Paraty).

            Seu habitat típico é nas praias lodosas entre manguezais. Ocorre em locais intermediários, entre a floresta e o litoral, em terrenos lodosos. É uma espécie eurihalina, adaptando-se a diferentes salinidades, mas mostra preferência por ambientes meso a oligosalinos.

            Costumam ser simpátricos com o Uca maracoani e o Leptuca thayeri, assim como estas espécies, habitando terrenos alagados entre as linhas da maré alta e baixa.







Leptuca cumulanta macho, fotografado em Guaratiba, RJ. Fotos de Walther Ishikawa.


 

Aparência

 

Ao contrário das outras duas espécies dos pequenos Leptuca brasileiros (L. leptodactyla e L. uruguayensis), esta espécie não apresenta mudança na coloração dos machos para exibição. Possui carapaça de cor brilhante ou iridescente, em tons de verde ou azul, ao menos na sua porção anterior. A cor varia entre as populações, desde verde-garrafa até turquesa claro. O restante da carapaça pode ser manchado ou marmóreo em tons mais claros e escuros.

Como os demais pequenos Leptucas, sua carapaça é convexa, mas sem o aspecto semi-cilíndrico das duas outras espécies. Suas margens diferem dos dois outros pequenos Leptucas, com margem antero-lateral mais longa e reta, com ângulo bem definido separando-a da margem póstero-dorsal.

A garra maior do macho com mero marrom externamente, e avermelhado ou marrom-avermelhado na face interna. A mão externa é o marrom amarelado, palma azulada ou amarelada, dedos são claros, brancos ou amarelados, mas eventualmente rosados na base e ponta. Pernas ambulatórias avermelhadas ou marrom-avermelhadas, podendo ter faixas em tons de cinza. Fêmeas de cores embotadas.

Das espécies brasileiras de chama-marés, o L. leptodactyla e o L. cumulanta são as duas únicas que constroem ornamentações em forma de “capuz” na entrada das tocas. Só são construídas esporadicamente por parte dos machos em exibição.



 

Leptuca cumulanta fotografada em Extremoz, RN. Fotos gentilmente cedidas por Diogo Silva.



Peculiaridades na manutenção em aquaterrários

O Leptuca cumulanta é eventualmente vista à venda no comércio de animais, por ser uma espécie com belo colorido, e relativamente adaptável a menores salinidades. Porém, não vive bem a longo prazo em água doce, morrendo em questão de semanas ou meses. Dadas condições adequadas, pode ser criada com sucesso em paludários salobros.

 

 

 

Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Brachyura (caranguejos e siris) do litoral brasileiro. São Paulo: Plêiade/FAPESP Ed., 1996, 604p.
  • Crane J. 1975. Fiddler crabs of the world. Ocypodidae: Genus Uca. New Jersey: Princepton University Press, 736p.
  • Thurman CL, Faria SC, McNamara JC. The distribution of fiddler crabs (Uca) along the coast of Brazil: implications for biogeography of the western Atlantic Ocean. Marine Biodiversity Records 01/2013; 6:1-21.
  • Bezerra LEA. The fiddler crabs (Crustacea: Brachyura: Ocypodidae: genus Uca) of the South Atlantic Ocean. Nauplius 2012; 20(2): 203-246.
  • Koch V, Wolff M, Diele K. Comparative population dynamics of four fiddler crabs (Ocypodidae, genus Uca) from a North Brazilian mangrove ecosystem. Marine ecology. 2005, vol. 291, pp. 177-188.
  • Masunari S. Distribuição e abundância dos caranguejos Uca Leach (Crustacea, Decapoda, Ocypodidae) na Baía de Guaratuba, Paraná, Brasil. Rev. Bras. Zool. 2006, vol.23, n.4, pp. 901-914.
  • Bede LM, Oshiro LMY, Mendes LMD, Silva AA.. Comparação da estrutura populacional das espécies de Uca (Crustacea: Decapoda: Ocypodidae) no Manguezal de Itacuruçá, Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Bras. Zool. 2008, vol.25, n.4 pp. 601-607.
  • Crane J. Crabs of the genus Uca from Venezuela. Zoologica. 1943; 28: 33-34.
  • http://www.fiddlercrab.info/
  • Shih HT, Ng PKL, Davie PJF, Schubart CD, Türkay M, Naderloo R, Jones D, Liu MY. 2016. Systematics of the family Ocypodidae Rafinesque, 1815 (Crustacea: Brachyura), based on phylogenetic relationships, with a reorganization of subfamily rankings and a review of the taxonomic status of Uca Leach, 1814, sensu lato and its subgenera. The Raffles Bulletin of Zoology, 64:139-175.
  • Vogt G. A compilation of longevity data in decapod crustaceans. Nauplius. 2019;27:e2019011.

 

 


 

Agradecimentos especiais aos biólogos Diogo Silva e Diana Liz Duque Sandoval (Venezuela), e ao fotógrafo Stuart Brown (Reino Unido) pela cessão das fotos para o artigo. Somos muito gratos também à ecóloga Ravena Sthefany Alves Nogueira por valiosas informações sobre a taxonomia destes animais.



As fotografias de Walther Ishikawa estão licenciados sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
« Voltar  
 

Planeta Invertebrados Brasil - © 2024 Todos os direitos reservados

Desenvolvimento de sites: GV8 SITES & SISTEMAS