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Aratu-marinheiro  
Artigo publicado em 24/09/2012, última edição em 02/12/2023  



Aratu-marinheiro – Aratus pisonii

 

Nome em português: Aratu-marinheiro, Aratu-da-pedra, Aratupeba, Aratupinima.

Nome em inglês: Mangrove-tree crab
Nome científico: Aratus pisonii (H. Milne Edwards, 1837)

Origem: Américas, costa atlântica e pacífica
Tamanho: carapaça com largura de 2,6 cm
Temperatura: 23-31° C
Salinidade: tolerante a variações
Reprodução
: parcialmente abreviada, mas necessita de água salobra para as larvas
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

            Aratu é o nome popular de diversos caranguejos semi-terrestres do mangue, principalmente da família dos sesarmídeos. Geralmente se refere a duas espécies, Aratus pisonii e Goniopsis cruentata.

O Aratus pisonii é a única espécie do gênero, um grapsídeo da sub-família Sesarminae, filogeneticamente muito próximo dos Armases. É um pequeno caranguejo muito comum e numeroso no manguezal, de hábitos arborícolas, passando quase a totalidade do seu tempo emerso, escalando e correndo rapidamente nos troncos das árvores do manguezal.

Etimologia: Aratus vem do termo tupi ara’tu, uma denominação genérica dos pequenos caranguejos semi-terrestres achatados do mangue; pisonii é uma homenagem a Guilherme Piso (1611-1678), médico e naturalista holandês (também conhecido como Willem Piso, Pison ou Pies, ou como assinava sua obra em latim - Guilielmi Pisoni). Escreveu com Georg Marggraf a importante obra naturalista Historia Naturalis Brasiliae.



Aratus pisonii, fotografado em um mangue de São Francisco do Sul, SC. Foto cedida por Germano Woehl Jr. (Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade).




Distribuição geográfica de Aratus pisonii. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 1996.



Origem e habitat

Habita manguezais e áreas adjacentes das zonas tropicais e subtropicais das Américas, tanto na sua face atlântica quanto pacífica. As espécies das duas costas mostram discretas diferenças, especialmente na morfologia das larvas, alguns autores sugerem que se trate de duas espécies diferentes. Na costa atlântica é encontrado desde o sul da Flórida (EUA) até o estado de Santa Catarina, sul do Brasil. Na costa pacífica, ocorre desde o México até o Peru. Alguns relatos questionáveis de coletas na costa do Chile.

            É um caranguejo praticamente terrestre, habitando áreas marginais adjacentes a estuários. São encontrados desde o supralitoral à copa das árvores manglares. Arbóreo, são numerosos em troncos e raízes das arvores do mangue, além de fendas nas rochas e solo. Eurihalinos, podem ser encontrados também mais longe do litoral, junto a rios costeiros.








Aratus pisonii
em um tronco de árvore, fotografado em Guaratuba, PR. Estas fotos demonstram bem o caáter arborícola desta espécie.
Fotos cedida por Carlos A. P. Parchen.


Aparência

 

São caranguejos achatados de pequeno porte, carapaça trapezoidal, menos quadrada do que outras espécies próximas, com a margem anterior bem mais alargada. Grandes olhos protrusos nas bordas laterais da margem anterior, permitindo um amplo campo de visão. Carapaça lisa e brilhante, com margens laterais lisas, sem dentes ou espinhos, além do orbital externo. Porção externa da região branquial com estrias oblíquas.

Garras simétricas. Pernas dispostas lateralmente, achatadas, um sinal bastante útil na identificação do Aratus pisonii é o fato de terem os dedos das pernas ambulatórias bastante curtos, uma adaptação ao seu modo de vida arborícola.

A coloração global é parda acinzentada, podendo ter ricas padronagens visando camuflagem.

 




Juvenis de Aratus pisonii, fotografados em um estuário de São Luís, MA. Estes animais estavam em fendas de rochas e no solo, e não nas árvores, o que costuma ocorrer com os juvenis desta espécie. Dividiam o habitat com Armases angustipes, que pode ser visto na primeira foto. Fotos de Walther Ishikawa.


Dimorfismo Sexual

 

Como quase todos os caranguejos, a distinção pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, que fica dobrado sobre a porção ventral da carapaça. Fêmeas possuem o abdômen largo, onde incubam seus ovos. Nos machos, o abdômen é estreito.





Aratus pisonii, exemplar norte-americano fotografado na Ilha Chokoloskee, Collier County (Florida). Foto gentilmente cedida pelo fotógrafo Alan Cressler, a primeira imagem do artigo também é de sua autoria.




Aratu-marinheiro, fotografado
em um mangue de Natal, RN. Foto cedida por Hector Barrabin.


Reprodução

São caranguejos de vida curta, não ultrapassando um a dois anos de longevidade na natureza. Prolíficos, têm estratégia reprodutiva do tipo “r”, crescem rapidamente, e atingem maturidade sexual precocemente, em menos de um ano. Otimiza o esforço reprodutivo durante a época reprodutiva, com múltiplas posturas, sem cópulas adicionais.

Seu ciclo de vida é muito semelhante ao de outros crustáceos semi-terrestres estuarinos. Durante a estação reprodutiva, estes caranguejos lançam milhares de larvas na água durante a maré cheia. Estas são levadas pela correnteza até o mar, onde permanecem por semanas até retornarem para o estuário.

Reproduz-se continuamente ao longo do ano, exceto em meses frios em climas temperados. Pico reprodutivo em Fevereiro e Março. Possuem um padrão intermediário de reprodução, parcialmente abreviado. Produz ovos pequenos, medindo 0,3 mm, média de 9.000 ovos por postura, num número que pode chegar a 20 mil ovos. Zoea I mede 0,7 mm de comprimento.

As larvas são planctônicas, nascem como zoea de vida livre, passando por até quatro estágios larvares, além da megalopa (pós-larva), por um período de cerca de 19 dias até o estágio de megalopa. Alguns trabalhos descrevem um número variável de estágios de zoea, de dois a quatro estágios, independente de condições ambientais.

Em laboratório, viu-se que as larvas se desenvolvem numa salinidade alta, semelhante ao mar, de cerca de 34%o. As larvas são carnívoras, podendo ser alimentadas com náuplios de Artemia em cativeiro.

Um fato interessante é que, sendo arborícolas, todo o cortejo e cópula também ocorre sobre as árvores.

 



Aratus pisonii, dois exemplares fotografados em Ponta do Sul, PR, mostrando variações na sua coloração. Fotos de Dorival de Arruda Moura Neto.




Aratus pisonii, fêmea ovada, fotografado em Guaratiba, RJ. Fotos de Walther Ishikawa.



Comportamento

 

Animais arborícolas, passam boa parte do seu tempo no tronco e copa de árvores do mangue. Muitos o consideram o único caranguejo marinho verdadeiramente arborícola, habitando até a copa das árvores e se alimentando de folhas frescas. Compartilham algumas características em comum com outras espécies arborícolas não-aparentadas (evolução convergente): carapaça achatada, própodos longos e dedos curtos nas pernas, além de carapaça triangular e esterno invaginado.

Há uma estratificação por idade, animais juvenis tendem a ficar em locais mais baixos do tronco, ou entre folhas caídas no solo. Os juvenis constroem tocas no solo onde se refugiam, ou aproveitam tocas de Uca e Ucides.

São mais sensíveis a temperaturas baixas do que outras espécies, em temperaturas mais baixas, se tornam menos ativos, se entocando e ficando imóveis em fendas de árvores.

Sua longevidade é estimada em cerca de dois anos.

 



Aratus pisonii, exemplar em tronco de árvore. Fotos de Mário Celso Micaeli.


Alimentação

 

São onívoros, mas sua base alimentar é constituída quase que exclusivamente por folhas de árvores do mangue, polpa de árvores, além de algas e restos de animais presos às raízes, sendo considerado um onívoro oportunista. Consomem também esporadicamente insetos e outros pequenos animais.

Em cativeiro, necessitam de um balanço adequado entre Fósforo e Cálcio, com predomínio deste último. Muitos criadores fornecem suplementos de cálcio, como alimentos para répteis e comprimidos mastigáveis de uso humano. É conveniente também evitar um excesso de proteínas na dieta, mantendo uma dieta básica de vegetais. Outros alimentos não recomendados são o espinafre (rico em ácido oxálico) e salsinha (alto teor de ácido prússico, bastante tóxico para os caranguejos).





Aratus pisonii, fotografado em um manguezal de uma ilha de Paraty-Mirim, Paraty, RJ. Fotos cedidas por Myriam Vandenberghe.

 


Pequeno Aratus pisonii, foto de Rodrigo Valença Cruz.


Manutenção em Aquaterrários

 

É uma espécie quase totalmente terrestre, necessitando uma área seca predominante, e uma área aquática. Embora tolerem uma ampla faixa de salinidade, necessitam de água salobra para uma manutenção saudável a longo prazo.

O substrato é indiferente, mas é preferível algum material que permita aos animais cavarem suas tocas.

Pelo seu hábito de escalar objetos, é aconselhável que haja pedras, troncos e outros objetos no terrário. São exímios escaladores, o tanque deve ser sempre mantido bem tampado, para evitar fugas. Pelo mesmo motivo, deve-se atentar a troncos e outros objetos que possam ser usados como apoio pelos animais para fugas. Consegue escalar até os cabos elétricos de filtros, uma sugestão é ocluir bem qualquer pequena fresta na tampa do paludário por onde estes fios adentram o tanque, por exemplo, com massas ou papel alumínio.

 

 

 

Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Brachyura (caranguejos e siris) do litoral brasileiro. São Paulo: Plêiade/FAPESP Ed., 1996, 604p.
  • Leme MHA. A Comparative Analysis of the Population Biology of the Mangrove Crabs Aratus pisonii and Sesarma rectum (Brachyura, Grapsidae) from the North Coast of São Paulo State, Brazil. Journal of Crustacean Biology. Vol. 22, No. 3 (Aug., 2002), pp. 553-557.
  • Cuesta JA, García-Guerrero MU, Rodríguez A, Hendrickx ME. Larval Morphology of the Sesarmid Crab, Aratus pisonii (H. Milne Edwards, 1837) (Decapoda, Brachyura, Grapsoidea) from Laboratory-Reared Material. Crustaceana Vol. 79, No. 2 (Feb., 2006), pp. 175-196.
  • Fransozo A, Cuesta JA, Negreiros-Fransozo ML. The First Zoeal Stage of Two Species of Grapsidae (Decapoda, Brachyura) and a Key to Such Larvae from the Brazilian Coast. Crustaceana Vol. 71, No. 3 (Apr., 1998), pp. 331-343.
  • Nicolau CF, Oshiro LMY. Aspectos reprodutivos do caranguejo Aratus pisonii (H. Milne Edwards) (Crustácea, Decapoda, Grapsidae) do manguezal de Itacuruçá, Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Bras. Zool19 (Suppl. 2), 2002, 167-173.
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  • Spivak ED. Cangrejos estuariales del Atlántico sudoccidental (25º-41ºS) (Crustacea: Decapoda: Brachyura). Invest. Mar. Valparaíso, 25: 105-120, 1997.
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  • Leme MHA. Relação entre desovas múltiplas e atividade alimentar no caranguejo arborícola Aratus pisonii (Decapoda, Grapsidae). IX Congreso Latinoamericano sobre Ciencias del Mar. San Andrés Isla, Colombia. Septiembre 16 – 20, 2001.
  • Fratini S, Vannini M, Cannicci S. (2005) Tree-climbing mangrove crabs: a case of convergent evolution. Evolutionary Ecology, 7, 219–233.

  • Vogt G. A compilation of longevity data in decapod crustaceans. Nauplius. 2019;27:e2019011.

 

 


Agradecimentos aos colegas Alan Cressler (EUA), Germano Woehl Jr. ( Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade ), Carlos A. P. Parchen, Hector Barrabin, Dorival de Arruda Moura Neto, Mário Celso Micaeli, Rodrigo Valença Cruz e Myriam Vandenberghe (Bélgica) pela cessão das fotos para o artigo.


As fotografias de Walther Ishikawa estão licenciados sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.

 
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