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"Sesarma rectum"  
Artigo publicado em 01/02/2013, última edição em 06/06/2020  



Aratu – Sesarma rectum

 

Nome em português: Aratu, Caranguejo
Nome em inglês: -
Nome científico: Sesarma rectum Randall, 1840

Origem: América do Sul, costa atlântica
Tamanho: carapaça com largura de 3,2 cm
Temperatura: 20-28° C
Salinidade: tolerante a variações, prefere baixa a média
Reprodução
: parcialmente abreviada, mas necessita de água salobra para as larvas
Comportamento: agressividade intermediária
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

            Aratu é o nome popular de diversos caranguejos semi-terrestres do mangue, principalmente da família dos sesarmídeos. Geralmente se refere a duas espécies, Aratus pisonii e Goniopsis cruentata, mas outra espécie bastante comum é o Sesarma rectum.

A taxonomia do gênero Sesarma é bastante complexa, originalmente era um grande grupo com mais de 125 espécies provenientes de zonas tropicais e temperadas do globo, adaptadas às mais diversas condições, com espécies habitando litorais marinhos, águas salobras, água doce e espécies terrestres. Era composta de mais de 20 gêneros e subgêneros, e foi revista em 1992. No Brasil, a espécie mais comum é o S. rectum, mas existe uma segunda espécie com distribuição bem mais restrita (somente Norte e Nordeste do país), que acredita-se que seja o S. curacaoense.

            Etimologia: Segundo o artigo original de Say, que descreveu este gênero, Sesarma vem do grego sairō (escovar, varrer); rectum é a forma neutra do grego rectus (reto), diz respeito à falta de dentes na margem ântero-lateral da sua carapaça, sendo exceção neste gênero.



Sesarma rectum na porção aquática de um paludário salobro, fotografa de Walther Ishikawa.




Distribuição geográfica de Sesarma rectum. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 1996.



Origem e habitat

Habita áreas estuarinas das zonas tropicais e subtropicais da costa atlântica da América do Sul, tendo ampla distribuição no litoral. É encontrado desde a Venezuela até o estado de Santa Catarina, Sul do Brasil.

            É um caranguejo semi-terrestre, habitando áreas marginais alagadas adjacentes a estuários, junto ao limite superior do mangue. Os adultos habitam um terreno quase seco e arenoso, cavando tocas em áreas cobertas, geralmente junto à base de arbustos e entre a vegetação marginal. Constroem um intrincado sistema de túneis interconectados, com vários corredores horizontais e verticais. Por outro lado, esta espécie habita dois ambientes distintos, animais mais jovens tendem a ocupar áreas mais alagadas e próximas à água. Com o crescimento, migram para locais mais altos.

            Ocupam diversos habitats de salinidades diversas, desde desembocaduras de rios com salinidade mais elevada, até terrenos mais interiores, com água quase doce. Um valor médio de salinidade se situa em torno de 14%o.

 


 

Sesarma rectum saindo de sua toca, fotografado em um mangue de Aracruz, ES. Foto cedida por Rodrigo Borçato.

 



Sesarma rectum fotografado em um estuário na Guiana Francesa. Fotos gentilmente cedidas por Gregory Quartarollo (Guyane Wild Fish Association).



Aparência

 

São caranguejos achatados de porte médio, carapaça quadrada, um pouco mais larga do que comprida, e pernas dispostas lateralmente. Olhos nas bordas ântero-laterais da carapaça, pedunculados mas curtos. Podem ser confundidos com outras espécies de Aratus (Goniopsis, Armases, Aratus), e com o Catanhão (Neohelice). As espécies de Sesarma brasileiros são identificadas com relativa facilidade, pelo aspecto largo e achatado do mero das pernas ambulatórias. Possuem garras lisas, com poucos tubérculos e uma crista dorsal, ao contrário do Armases.

A diferenciação do S. rectum do S. curacaoense pode ser feita pela borda lateral da carapaça, somente o S. rectum possui um aspecto reto, sem dentes ou entalhes, daí a origem de seu nome científico. 

Carapaça áspera, com linhas transversais e tufos de pêlos curtos na porção anterior. A coloração global é escura, enegrecida ou violácea, mas possui garras e a região frontal com uma cor amarelo-alaranjada.

 


Imagem em close da carapaça de um Sesarma rectum. Foto de Walther Ishikawa.


Dimorfismo Sexual

 

Como quase todos os caranguejos, a distinção pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, que fica dobrado sobre a porção ventral da carapaça. Fêmeas possuem o abdômen largo, onde incubam seus ovos. Nos machos, o abdômen é estreito.

Machos adultos também possuem garras maiores e mais robustas, com pequenas nodulações.  





Imagem ventral da exúvia de uma fêmea de Sesarma rectum. Note o abdomen largo, onde os ovos são abrigados. Veja também o broto da quela esquerda, que foi regenerada nesta ecdise. Fotos de Walther Ishikawa.





Casal de Sesarma rectum, mostrando o dimorfismo sexual das quelas. macho na foto acima, e fêmea a baixo. Fotos de Walther Ishikawa.


Reprodução

Seu ciclo de vida é muito semelhante ao de outros crustáceos semi-terrestres estuarinos. Durante a estação reprodutiva, estes caranguejos lançam milhares de larvas na água durante a maré cheia. Estas são levadas pela correnteza até o mar, onde permanecem por semanas até retornarem para o estuário.

Reproduz-se continuamente ao longo do ano, mas com dois picos, no inverno e verão. Possuem um padrão intermediário de reprodução, parcialmente abreviado. Produz ovos relativamente grandes, medindo 0,6 mm, num número que pode chegar a 20 mil ovos. Podem ocorrer desovas seqüenciais, até 3 dias após a liberação das larvas.

O desenvolvimento dos ovos demora cerca de 52 dias. As larvas são planctônicas, nascem como zoea de vida livre, passando por somente três estágios larvares, além da megalopa (pós-larva), por um período de cerca de 18 dias até o estágio juvenil. Mais da metade deste tempo é composto pela passagem da última fase de zoea para megalopa, quando há uma grande mortalidade. Curiosamente, apesar de mais fases, o tempo de desenvolvimento larvar é mais curto do que algumas outras espécies de Sesarma com desenvolvimento mais abreviado.

Em laboratório, viu-se que as larvas se desenvolvem melhor numa salinidade de cerca de 25%o. As larvas são carnívoras, podendo ser alimentadas com náuplios de Artemia em cativeiro. São lecitotróficos facultativos, podendo sobreviver até a fase de zoea III sem alimento. Talvez as fases larvares iniciais se desenvolvam em águas salobras de estuários, mas nas fases finais precisem migrar para mais próximo do mar, onde há alimentos planctônicos mais disponíveis.

Alguns trabalhos recentes demonstraram que a metamorfose de megalopa para juvenil no Sesarma curacaoense pode ser estimulada pelo odor ou presença de adultos. Este gatilho pode ser também de uma espécie próxima, como o S. rectum.

Veja uma descrição detalhada da reprodução desta espécie  neste artigo .



Fêmea ovada de Sesarma rectum em um paludário salobro, limpando seus ovos. Foto de Walther Ishikawa.

 

Comportamento

 

São animais sociais, vivendo em colônias, mas menos numerosas do que os Ucas. São animais com dieta essencialmente vegetariana, em princípio podem ser mantidos com outros caranguejos de tamanho compatível. Porém, por serem onívoros oportunistas, podem predar espécies menores de caranguejos. São mais ativos à noite.

Um aspecto bem interessante destes animais é o fato do macho produzir sons, usados na comunicação social. O som é produzido percutindo-se as garras. Antes de produzir som, o macho eleva o corpo, e posiciona uma das garras abaixo do corpo, com a ponta virada para trás e em contato com o solo, sendo mantida imóvel. A outra garra é posicionada medialmente, com a ponta virada para o solo, e movida agilmente para cima e para baixo, a crista dorsal do dátilo atingindo o própodo da garra estacionária.

Produz um som percussivo, audível a até 3 metros. Alguns autores chamam de “gesto de desafio ou triunfo”, pois é emitido quando defende sua toca, após a derrota do adversário. Animais caminhando também foram avistados emitindo sons na frente de tocas ocupadas por outros machos.

Podem produzir também um segundo som, uma percussão do solo com as pernas ambulatórias, geralmente segue-se à percussão das garras e é acompanhada de postura de ameaça.

Estes caranguejos possuem vida relativamente longa, de cerca de três a cinco anos. Crescimento mais lento do que outras espécies, atingindo a maturidade sexual tardiamente.

 



Sesarma rectum em um paludário salobro. Fotos de Walther Ishikawa.

 

Alimentação

 

São onívoros, mas sua base alimentar é constituída quase que exclusivamente por folhas de árvores do mangue, sendo assim classificados como herbívoros funcionais. Consomem também esporadicamente insetos e outros pequenos animais.

Em cativeiro, necessitam de um balanço adequado entre Fósforo e Cálcio, com predomínio deste último. Muitos criadores fornecem suplementos de cálcio, como alimentos para répteis e comprimidos mastigáveis de uso humano. É conveniente também evitar um excesso de proteínas na dieta, mantendo uma dieta básica de vegetais. Outros alimentos não recomendados são o espinafre (rico em ácido oxálico) e salsinha (alto teor de ácido prússico, bastante tóxico para os caranguejos).

 



Trio de Sesarma rectum em um paludário salobro. Fotos de Walther Ishikawa.


Manutenção em Aquaterrários

 

É uma espécie semi-terrestre, necessitando uma área seca predominante, e uma área aquática. Embora tolerem uma ampla faixa de salinidade, necessitam de água salobra para uma manutenção saudável a longo prazo.

O substrato é indiferente, mas é preferível algum material que permita aos animais cavarem suas tocas.







Sesarma rectum, outro morfotipo com diferenças no padrão de cores da carapaça. Animal fotografado no aquário público de Ubatuba, SP. Fotos de Walther Ishikawa.

 

 

Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Brachyura (caranguejos e siris) do litoral brasileiro. São Paulo: Plêiade/FAPESP Ed., 1996, 604p.
  • Abele LG. 1992. A review of the grapsid crab genus Sesarma (Crustacea: Decapoda: Grapsidae) in America, with the description of a new genus. Smithson. Contr. Zool. 527:1-60.
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  • Gebauer P, Paschke K, Anger K.(2003). Delayed metamorphosis in decapod crustaceans: evidence and consequences, Revista Chilena de Historia Natural,76,169-175.


Agradecimentos ao colega aquarista Rodrigo Borçato e a Gregory Quartarollo ( Guyane Wild Fish Association ) pela cessão das fotos para o artigo.


As fotografias de Walther Ishikawa estão licenciados sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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