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"Minuca mordax"  
Artigo publicado em 03/07/2012, última edição em 12/12/2022  



Caranguejo Chama-MaréMinuca mordax


Nome em português: Caranguejo Uca, Chama-maré, Caranguejo Violinista
Nome em inglês: -
Nome científico:
Minuca mordax (Smith, 1870)
Origem: Costa atlântica das Américas
Tamanho: carapaça com largura de 2,6 cm
Temperatura: 20-28° C
Salinidade:
baixa
Reprodução: primitiva, larvas se desenvolvem no mar
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil


Os caranguejos chama-marés (também chamados caranguejos-violinistas) são pequenos caranguejos semi-terrestres que habitam zonas costeiras, bastante comuns em manguezais, marismas e estuários. Pouco mais de cem espécies já foram registradas, até há pouco tempo todas pertenciam ao gênero Uca, divididas em 12 subgêneros.

Porém, em 2016 foi realizada uma cuidadosa revisão da família Ocypodidae por Shih e colaboradores, baseada em dados moleculares, combinando informações nucleares (28S rDNA) e mitocondriais (16S rDNA e subunidade I de citocromo oxidase – COI). Este trabalho trouxe algumas importantes modificações na sistemática dos chama-marés.

O gênero Uca foi invalidado, todos os subgêneros passando a ganhar status de gênero. Desta forma, o único chama-maré brasileiro que mantém o gênero Uca é o U. maracoani, já que pertencia previamente ao gênero Uca, subgênero Uca. Todos os demais devem ser designados como Minuca rapax, Leptuca uruguayensis, e assim por diante. Porém, é provável que os chama-marés continuem sendo chamados popularmente de "Ucas" por algum tempo.

O antigo gênero Uca mostrou-se parafilético, pertencendo a dois clados amplamente divergentes. Desta forma, a família Ocypodidae passa a ser classificada da seguinte forma: O antigo subgênero Uca (e um gênero africano) agrupam-se com os caranguejos maria-farinha (Ocypode), constituindo a subfamília Ocypodinae. Todos os demais chama-marés conhecidos são monofiléticos (inclui as demais nove espécies brasileiras), e agrupam-se na subfamília Gelasiminae. Os Uçás (Ucides) voltam a pertencer a Ocypodidae, constituindo a terceira subfamília, Ucidinae.

Outras informações gerais dos chama-marés podem ser vistas nos dois textos introdutórios presentes na seção  "artigos" . Sugerimos a sua leitura previamente à desta ficha.



Apresentação


O Minuca mordax é uma espécie bastante comum de Violinista, provavelmente é a espécie mais comumente vista nas lojas de aquários, vendida como um invertebrado para aquários de água doce. Habitante de ambientes de baixa salinidade, isto explica o relativo sucesso na manutenção destes animais em aquários de água doce.

Etimologia: Minuca vem do latim minus (pouco, pequeno) e Uca, o nome original do gênero dos chama-marés. Uca tem uma etimologia bem interessante, explicada no artigo principal. E mordax vem do latim mordere (morder).




Minuca mordax macho, comprado em uma loja de animais em São Paulo, SP. Fotos de Walther Ishikawa.



Visão ventral do mesmo macho, note o abdomen estreito. Foto de Walther Ishikawa.



Minuca mordax fêmea, comprada em uma loja de animais em São Paulo, SP. Foto de Walther Ishikawa.




Distribuição geográfica de Minuca mordax. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 1996.



Origem e habitat

            É uma espécie com ampla distribuição geográfica, em climas tropicais, subtropicais e temperadas das Américas, na sua costa atlântica. São encontradas desde Belize até o sul do Brasil (Rio Mampituba, Torres, RS).

            É a espécie mais oligohalina dentre os chama-marés brasileiros, encontrado em margens de manguezais e riachos, mas em regiões mais continentais, locais banhados por água praticamente doce, salinidade variando de 0 a 6%o. Habitam terrenos lodosos, constroem suas tocas acima do nível da maré.

           É a espécie de chama-maré dominante na região do Delta do Rio Amazonas, estados de AP e PA, correspondendo a quase 70% do total de caranguejos chama-marés desta região.    



Minuca mordax macho, fotografado no Rio Uaçá, Oiapoque, AP. Foto gentilmente cedida por Fábio Maffei.



Minuca mordax macho, fotografado na Lagoa Ana Jansen, São Luís, Maranhão. Fazia parte de uma grande população mista de chama-marés, dividindo o ambiente com Minuca vocator e Minuca rapax. Foto de Walther Ishikawa.




Close na garra maior do macho, note o aspecto relativamente liso, com poucos tubérculos e granulações.  Foto de Walther Ishikawa.


Visão posterior do macho, mostrando o aspecto reto da margem dorsal do mero das últimas pernas. Foto de Walther Ishikawa.



Aparência

 

O Minuca mordax é uma das cinco espécies brasileiras de Minuca, com fronte bem larga, sua anatomia é muito semelhante ao Minuca burgersi, sendo muito difícil sua diferenciação em animais de coleções zoológicas. Geralmente são maiores, com as garras maiores e dedos mais longos. Sua garra tende a ser mais lisa, com poucos tubérculos.

Em animais vivos, geralmente sua diferenciação é simples, baseada na coloração, mais clara e desbotada do que o Minuca burgersi. Sua carapaça é descrita pela Dra. Crane como "semelhante a ardósia", em tons de cinza claro, amarelado ou esbranquiçado, sem manchas bem definidas. A garra maior do macho é amarelada, exceto pelos dedos brancos. Pernas acastanhadas, ou eventualmente, de cor azulada pálida. O Minuca mordax mostra uma mudança muito discreta na sua coloração para exibição.


 


Minuca mordax, macho em paludário salobro. Foto de Marne Campos.


Casal de Minuca mordax em um paludário salobro. Fotos de Walther Ishikawa.


Peculiaridades na manutenção em aquaterrários

O Minuca mordax é a espécie mais comumente vista à venda nas lojas, em geral é vendido como sendo um animal aquático, e de água doce. Outras espécies também podem ser vistas à venda, inclusive misturadas, como o Minuca burgersi, Minuca rapax e Leptuca uruguayensis.

Por ser a espécie mais oligohalina (habitante de águas de baixa salinidade) dentre os chama-marés brasileiros, sobrevive por um período relativamente longo em aquários de água doce, existem registros de manutenção desta espécie em água doce por no máximo um ano. Caranguejos chama-marés têm uma vida curta, inclusive na natureza, das espécies brasileiras, sabe-se que o Minuca rapax vive somente 1,4 anos. Não se sabe se esta longevidade de um ano é natural do Minuca mordax, ou se a sua sobrevida é comprometida pela manutenção em água doce, ao invés de água salobra de baixa salinidade.

 

 


Casal de Minuca mordax em um paludário salobro. Fotos de Walther Ishikawa.


Reprodução em cativeiro

            Como as demais espécies de chama-marés, a reprodução em cativeiro do M. mordax é bastante difícil, por apresentar larvas planctônicas que se desenvolvem em águas salobras, com necessidades alimentares bastante específicas. Estes carangujeos procriam com relativa facilidade em aquários e aquaterrários, mesmo em água doce, mas a criação da sua prole é problemática.
             Há mudança na cor dos ovos durante seu desenvolvimento. Inicialmente são escuras, e tornam-se amarelo-alaranjado forte ao final do desenvolvimento. A eclosão se dá em águas de baixa salinidade. Nesta espécie, há 5~6 fases de zoea, além da megalopa.
            Uma tese recente (2014) descreve detalhes da sua reprodução: a salinidade ideal para o desenvolvimento das larvas zoea é de 20%o. Em água doce (0%o) e de baixa salinidade (5%o) as larvas não se desenvolveram, sem mudas, e com morte em poucos dias. Em 15%o e 30%o há desenvolvimento parcial. Em coletas na natureza (Baía de Guaratuba, PR), também houve um gradiente de fases larvais de acordo com a salinidade, com fases inciais encontradas em menor salinidade, e fases mais avançadas de zoea em águas mais salinas, mostrando migração em direção ao mar. As larvas megalopa mostram uma clara preferência por altas salinidades (30%o, quase a salinidade do mar), porém, para o desenvolvimento de megalopa para juvenis, a salinidade ideal em laboratório é mais baixa, de cerca de 5%o, sugerindo uma migração de volta para os estuários nesta fase.
            Não foi vista diferença significativa entre temperaturas entre 21 e 25°C, porém, em temperaturas mais altas, o tempo de desenvolvimento foi menor (20 dias até megalopa em 25°C, e 30 dias em 21°C). Em 5%o, a metamorfose de megalopa para juvenil se deu em 5~11 dias.
          Nesta tese, as larvas foram alientadas com microalga vágil Nannochloropsis oculata e rotíferos Brachionus plicatilis de zoea I a III, suplementada com náuplios de Artemia salina a partir de zoea III.    



Minuca mordax, fêmea com ovos em um paludário salobro. Foto de Marne Campos.



Larvas zoea I de Minuca mordax, nascidas em cativeiro. Foto de Valdemar Gomes.


Cópula, incubação de ovos e liberação das larvas de Minuca mordax, em um paludário salobro. Vídeos cortesia de Rogério Monteiro.



 

 

Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Brachyura (caranguejos e siris) do litoral brasileiro. São Paulo: Plêiade/FAPESP Ed., 1996, 604p.
  • Crane J. 1975. Fiddler crabs of the world. Ocypodidae: Genus Uca. New Jersey: Princepton University Press, 736p.
  • Thurman CL, Faria SC, McNamara JC. The distribution of fiddler crabs (Uca) along the coast of Brazil: implications for biogeography of the western Atlantic Ocean. Marine Biodiversity Records 01/2013; 6:1-21.
  • Bezerra LEA. The fiddler crabs (Crustacea: Brachyura: Ocypodidae: genus Uca) of the South Atlantic Ocean. Nauplius 2012; 20(2): 203-246.
  • Martins SB. 2014. Distribuição espacial de Uca (Minuca) mordax (Smith, 1870) (Crustacea, Decapoda, Ocypodidae) durante o ciclo de vida na Baía de Guaratuba, Paraná. Tese de Mestrado, Setor de Ciências Bilógicas da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR.
  • Koch V, Wolff M, Diele K. Comparative population dynamics of four fiddler crabs (Ocypodidae, genus Uca) from a North Brazilian mangrove ecosystem. Marine ecology. 2005, vol. 291, pp. 177-188.
  • Masunari S. Distribuição e abundância dos caranguejos Uca Leach (Crustacea, Decapoda, Ocypodidae) na Baía de Guaratuba, Paraná, Brasil. Rev. Bras. Zool. 2006, vol.23, n.4, pp. 901-914.
  • Bede LM, Oshiro LMY, Mendes LMD, Silva AA. Comparação da estrutura populacional das espécies de Uca (Crustacea: Decapoda: Ocypodidae) no Manguezal de Itacuruçá, Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Bras. Zool. 2008, vol.25, n.4 pp. 601-607.
  • Crane J. Crabs of the genus Uca from Venezuela. Zoologica. 1943; 28: 33-34.
  • Rieger PJ. Desenvolvimento larval de Uca (Minuca) mordax (Smith, 1870) (Crustacea, Decapoda, Ocypodidae), em laboratório. Trab. Oceanog. Univ. Fed. PE, Recife, 25:227-267, 1997.
  • Shih HT, Ng PKL, Davie PJF, Schubart CD, Türkay M, Naderloo R, Jones D, Liu MY. 2016. Systematics of the family Ocypodidae Rafinesque, 1815 (Crustacea: Brachyura), based on phylogenetic relationships, with a reorganization of subfamily rankings and a review of the taxonomic status of Uca Leach, 1814, sensu lato and its subgenera. The Raffles Bulletin of Zoology, 64:139-175.



Agradecimentos aos colegas Fábio Maffei, Marne Campos (administrador do Portal  Aquarismo OnLine ), Valdemar Gomes e Rogério Monteiro pela cessão das fotos e vídeos para o artigo. Somos muito gratos também à ecóloga Ravena Sthefany Alves Nogueira por valiosas informações sobre a taxonomia destes animais.




As fotografias de Walther Ishikawa estão licenciados sob uma  Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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