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"Minuca victoriana"  
Artigo publicado em 10/09/2012, última edição em 24/01/2017  



Caranguejo Chama-MaréMinuca victoriana


Nome em português: Caranguejo Uca, Chama-maré, Caranguejo Violinista
Nome em inglês: -
Nome científico:
Minuca victoriana (von Hagen, 1987)
Origem: Costa brasileira
Tamanho: carapaça com largura de 1,9 cm
Temperatura: 23-30° C
Salinidade:
tolerante a variações
Reprodução: primitiva, larvas se desenvolvem no mar
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil




Os caranguejos chama-marés (também chamados caranguejos-violinistas) são pequenos caranguejos semi-terrestres que habitam zonas costeiras, bastante comuns em manguezais, marismas e estuários. Pouco mais de cem espécies já foram registradas, até há pouco tempo todas pertenciam ao gênero Uca, divididas em 12 subgêneros.

Porém, em 2016 foi realizada uma cuidadosa revisão da família Ocypodidae por Shih e colaboradores, baseada em dados moleculares, combinando informações nucleares (28S rDNA) e mitocondriais (16S rDNA e subunidade I de citocromo oxidase – COI). Este trabalho trouxe algumas importantes modificações na sistemática dos chama-marés.

O gênero Uca foi invalidado, todos os subgêneros passando a ganhar status de gênero. Desta forma, o único chama-maré brasileiro que mantém o gênero Uca é o U. maracoani, já que pertencia previamente ao gênero Uca, subgênero Uca. Todos os demais devem ser designados como Minuca rapax, Leptuca uruguayensis, e assim por diante. Porém, é provável que os chama-marés continuem sendo chamados popularmente de "Ucas" por algum tempo.

O antigo gênero Uca mostrou-se parafilético, pertencendo a dois clados amplamente divergentes. Desta forma, a família Ocypodidae passa a ser classificada da seguinte forma: O antigo subgênero Uca (e um gênero africano) agrupam-se com os caranguejos maria-farinha (Ocypode), constituindo a subfamília Ocypodinae. Todos os demais chama-marés conhecidos são monofiléticos (inclui as demais nove espécies brasileiras), e agrupam-se na subfamília Gelasiminae. Os Uçás (Ucides) voltam a pertencer a Ocypodidae, constituindo a terceira subfamília, Ucidinae.

Outras informações gerais dos chama-marés podem ser vistas nos dois textos introdutórios presentes na seção  "artigos" . Sugerimos a sua leitura previamente à desta ficha.



Apresentação


O Minuca victoriana foi a ultima espécie brasileira descoberta de chama-maré no mundo, sendo descrita somente em 1987, por von Hagen. É uma espécie exclusivamente brasileira, até há pouco tempo atrás se acreditava que fosse exclusiva da sua localidade-tipo (Vitória, ES), mas tem sido cada vez mais descrita em outros estados brasileiros.

Etimologia: Minuca vem do latim minus (pouco, pequeno) e Uca, o nome original do gênero dos chama-marés. Uca tem uma etimologia bem interessante, explicada no artigo principal. E victoriana significa habitante de Vitória, ES, onde foi coletado o primeiro exemplar.



Trio de Minuca victoriana, fotografado no mangue do Rio Cavalo, Itamambuca, em Ubatuba, SP. Foto de Walther Ishikawa. Note a pequena faixa de pubescência na fce externa da quela maior do macho. Dividia este habitat com inúmeros pequenos Leptuca uruguayensis, e um Leptuca thayeri.



Distribuição geográfica de Minuca victoriana. Imagem original Google Maps; dados de Castiglioni DS, et al. 2011 e demais referências.



Origem e habitat

            É uma espécie exclusivamente brasileira, até há pouco tempo atrás havia sido descrita somente na sua localidade-tipo (Vitória, ES), mas a cada ano surgem novos trabalhos ampliando sua distribuição geográfica. Provavelmente sua suposta raridade se deve mais a erros de identificação no passado do que uma raridade real.

            Atualmente sua distribuição se estende desde Fortaleza (CE) até Bertioga (SP).

            Esta espécie mostra preferência por manguezais, tanto com substrato lodoso quanto arenoso, macio ou mais compacto. Prefere ambientes de salinidade média a baixa. Constrói suas tocas em áreas abertas, expostas ao sol direto, na região parcialmente alagada das entre-marés.









Minuca victoriana, fotografado no mangue do Rio Cavalo, Itamambuca, em Ubatuba, SP. Note o ambiente parcialmente alagado (entre-marés) onde esta espécie constrói suas tocas. Na última foto, também é visível a faixa de pubescência na face externa inferior do manus da garra, junto ao pólex. Fotos de Walther Ishikawa.






Close de um
Minuca victoriana, fotografado em Ubatuba, SP. Note os tubérculos das crenulações suborbitárias bem definidos e separados. Veja também a relativa escassez de cerdas adjacentes. Foto de Walther Ishikawa.




Minuca victoriana, fotografado no mangue do Rio Cavalo, Itamambuca, em Ubatuba, SP. Face externa da quela maior do macho, onde é visível a pequena faixa de pubescência na face externa inferior do manus da garra, junto ao pólex, um elemento chave na identificação desta espécie. Foto de Walther Ishikawa.






Fotos em close de um Minuca victoriana macho. Face interna da quela maior na primeira foto, note a crista proximal de tubérculos junto à base do dedo móvel, paralela ao sulco articular adjacente. Último par de pernas ambulatórias na segunda foto, note o mero moderadamente alargado. Repare também a relativa escassez de cerdas nas pernas. Fotos de Walther Ishikawa..


Aparência

 

O Minuca victoriana é uma das cinco espécies brasileiras de Minuca, com fronte larga, e muitas vezes a diferenciação destas outras espécies pode ser bastante difícil, especialmente com o Minuca burgersi e Minuca rapax, com o agravante de serem simpátricos, ou seja, dividirem o mesmo ambiente (veja o artigo sobre identificação  aqui ). Três características típicas desta espécie são: pequena faixa de pubescência na face externa inferior do manus da garra maior do macho, junto ao pólex; margem antero-lateral dorsal da carapaça curto e reto, com transição aguda com a margem póstero-dorsal; relativa pobreza de cerdas nas pernas ambulatórias.

Outra informação útil é a diferença de tamanho entre as espécies: O Minuca rapax é o maior Minuca brasileiro, atingindo 3,2 cm de largura máxima da carapaça. O Minuca victoriana é um dos menores, com largura máxima de 1,9 cm, mas geralmente bem menor, com largura média dos machos de 1,3 cm.

Outro dado bastante interessante, mas pouco útil para nós, aquaristas, e o padrão de exibição dos machos com sua garra maior, lembrando bastante o do Leptuca thayeri, e bem distinto do Minuca rapax. Foi este fato que chamou primeiramente a atenção do Dr. von Hagen, sobre a possibilidade de ser outra espécie. Por este motivo, alguns autores consideram esta espécie como uma “ponte”, uma espécie filogeneticamente intermediária entre o L. thayeri e M. rapax.





Minuca victoriana macho, fotografado no mangue do Rio Cavalo, Itamambuca, em Ubatuba, SP. Esta foto mostra bem o aspecto típico da margem dorsal da sua carapaça, com margem antero-lateral curta e reta, transição aguda com a margem póstero-dorsal. Foto de Walther Ishikawa.



Peculiaridades na manutenção em aquaterrários

Pouca informação existe sobre esta espécie, parece ser uma espécie robusta, adaptável a diferentes salinidades. Não há experiência na manutenção destes caranguejos em cativeiro, mas provavelmente não sobrevivem a longo prazo em água doce.






Minuca victoriana fêmea, fotografado no mangue do Rio Indaiá, Ubatuba, SP. Foto de Walther Ishikawa.




Casal de Minuca victoriana, fotografados no mangue do Rio Cavalo, em Itamambuca, Ubatuba, SP. Foto de Walther Ishikawa.

 

Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Brachyura (caranguejos e siris) do litoral brasileiro. São Paulo: Plêiade/FAPESP Ed., 1996, 604p.
  • Crane J. 1975. Fiddler crabs of the world. Ocypodidae: Genus Uca. New Jersey: Princepton University Press, 736p.
  • Thurman CL, Faria SC, McNamara JC. The distribution of fiddler crabs (Uca) along the coast of Brazil: implications for biogeography of the western Atlantic Ocean. Marine Biodiversity Records 01/2013; 6:1-21.
  • Bezerra LEA. The fiddler crabs (Crustacea: Brachyura: Ocypodidae: genus Uca) of the South Atlantic Ocean. Nauplius 2012; 20(2): 203-246.
  • Hagen H-O. Morphologie und Winkbalz einer neuen Uca-Art (Crustacea, Brachyura) aus dem Staat Espirito Santo (Brasilien). Mitteilungen aus dem hamburgischen zoologischen Museum und Institut 1987 84:81-94.
  • Castiglioni DS, Almeida AO, Bezerra LEA. More common than reported: range extension, size–frequency and sex-ratio of Uca (Minuca) victoriana (Crustacea: Ocypodidae) in tropical mangroves, Brazil. Marine Biodiversity Records, 06 January 2011 3: e94 (8 pages).
  • Bede LM, Oshiro LMY, Mendes LMD, Silva AA. Comparação da estrutura populacional das espécies de Uca (Crustacea: Decapoda: Ocypodidae) no Manguezal de Itacuruçá, Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Bras. Zool. 2008, vol.25, n.4 pp. 601-607.
  • Bedê LM, Oshiro LMY, Melo GAS. Observation on the Occurrence of Uca victoriana von Hagen (Decapoda, Brachyura, Ocypodidae) on the Coast of Rio de Janeiro, Brazil. Braz. J. Biol. 2007 Nov; 67(4): 799-800.
  • Shih HT, Ng PKL, Davie PJF, Schubart CD, Türkay M, Naderloo R, Jones D, Liu MY. 2016. Systematics of the family Ocypodidae Rafinesque, 1815 (Crustacea: Brachyura), based on phylogenetic relationships, with a reorganization of subfamily rankings and a review of the taxonomic status of Uca Leach, 1814, sensu lato and its subgenera. The Raffles Bulletin of Zoology, 64:139-175.

 


Somos muito gratos à ecóloga Ravena Sthefany Alves Nogueira por valiosas informações sobre a taxonomia destes animais.



As fotografias de Walther Ishikawa estão licenciados sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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