Égla
– Aegla plana
Nome
em português: Égla, Caranguejo de Rio, Tatuí de água
doce, Scrabei
Nome em inglês: -
Nome científico: Aegla plana Buckup & Rossi,
1977
Origem:
Brasil, leste do RS
Tamanho:
carapaça com comprimento de até 2,0 cm
Temperatura: 15-22° C
pH: 6.5-8.0
Dureza: média, condutividade de 20-30μS/cm, TDS 8-12mg/L
Reprodução: especializada,
todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: pacífico
Importante!!
O Aegla plana é uma espécie listada como “em perigo” (EN) na relação das espécies em risco de extinção publicado pelo Ministério do Meio Ambiente e IBAMA (2014) - B1ab(iii, iv), assim como na re-avaliação feita pela Sociedade Brasileira de Carcinologia (2016) - B1ab(iii), e na revisão de 2017 (Santos et al.) - B1ab(iii, iv). Desta forma, sua coleta e manutenção em cativeiro são proibidas por lei.
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Apresentação
Apesar de serem muitas vezes
referidos como “caranguejos”, na realidade estes crustáceos pertencem a outra
infra-ordem, Anomura, a mesma dos caranguejos-ermitões. A família Aeglidae possui somente um gênero
atual, Aegla, exclusivo de ambientes dulcícolas da região sul da
América do Sul, com próximo de 60 espécies
brasileiras descritas (muitas foram descritas bastante recentemente, veja a lista completa e atualizada de espécies neste link ). São os únicos anomuros encontrados em água doce, exceto por uma
única espécie de ermitão dulcícola de uma ilha do pacífico.
Não são muito populares no
Brasil como animais de aquário, mas em outros países (como na Argentina) são
criados há algum tempo com sucesso.
Etimologia: Aegla vem da deusa mítica grega Aegle,
uma das três Hespérides, donas do jardim dos pomos de ouro, situado no extremo
ocidental do mundo. E plana é uma referência ao aspecto plano da sua carapaça.
Origem
Églas são crustáceos com
distribuição restrita à porção sul da América do Sul, vivendo em ambientes
dulcícolas das regiões temperadas do continente, o que
explica sua baixa tolerância ao calor. Vivem em riachos límpidos de leito
rochoso, geralmente montanhosos, alguns também em lagoas e represas.
O Aegla plana é uma espécie encontrada somente no Brasil, e somente no estado do RS, na sua região leste,
sistema Atlântico Sul (rios Caí e Taquari-Tainhas), na ecorregião da bacia da Lagoa dos Patos. A extensão de ocorrência é estimada em menor que 5.000 km² (3.333 km²), com população severamente fragmentada.
Distribuição geográfica de Aegla plana. Imagem
original Google Maps; dados de Bond-Buckup G. 2003.
Aparência
Lembra
bastante um caranguejo, com cefalotórax achatado, pernas dispostas lateralmente
e primeiro par na forma de grandes garras (quelípodos). Entretanto, numa
análise mais cuidadosa, destacam-se antenas finas e bastante longas, e abdômen
relativamente desenvolvido, parecendo um lagostim com a cauda dobrada. O
próprio cefalotórax é oval, novamente lembrando um lagostim achatado. Numa
visão superior, só são visíveis três pares de pernas ambulatórias (ao invés dos
quatro pares dos caranguejos), já que o último par é atrofiado, fica oculto sob
o abdômen e não possui função locomotora. Coloração variada, geralmente de cor
marrom-escura avermelhada, mas alguns animais possuindo tons azulados.
- Rostro curto, carenado em todo seu comprimento
- Espinho ântero-lateral da carapaça não alcançando a base da córnea
- Lobos protogástricos ausentes
- Ângulo látero-dorsal da segunda pleura inerme
- Crista palmar sub-rctangular
- Dedo móvel do quelípodo com lobo com tubérculo escamiforme
- Dedos do quelípodo sem dente lobular
- Margem interna da face ventral do ísquio apenas com três a quatro elevações com escamas
- Margem dorsal do mero do segundo pereiópodo com um espinho, seguido de tubérculos escamiformes
Aegla plana em seu habitat natural. Imagem
gentilmente cedida por Éden Timotheus Federolf.
Parâmetros
de Água
Habitam ambientes
bastante estáveis, são bem sensíveis a variações e condições inadequadas de
água. Um aspecto bastante importante é sua sensibilidade a altas temperaturas,
uma causa comum de insucesso na sua manutenção em cativeiro. Somente como exemplo, o Aegla laevis sobrevive por
30 minutos a 28º C, e por 20 minutos a 31º C.
Por viverem
em água corrente e fria, demandam também alta taxa de oxigenação, sugerindo-se
superdimensionar a filtragem e circulação de água no tanque. São mais comuns em
águas neutras para alcalinas, dureza média. Como os demais crustáceos, são bem
sensíveis a compostos nitrogenados, assim como a metais. Há alguns dados do local de coleta, com temperatura de 15-22° C, pH de 6.5-8.0, condutividade de 20-30μS/cm e TDS 8-12mg/L.
Dimorfismo Sexual
Bem demarcado, machos são maiores
e possuem garras mais robustas e assimétricas (heteroquelia). Fêmeas possuem abdômen mais largo, e pleópodes mais
desenvolvidos. Aegla plana macho. Note o aspecto plano e achatado da carapaça. Imagem
gentilmente cedida por Éden Timotheus Federolf.
Reprodução
Provavelmente possuem ciclos anuais de reprodução, acasalando no verão e com um pico reprodutivo durante os meses de temperatura mais fria (outono-inverno). Em Aeglas, existe um claro padrão latitudinal para fecundidade e tamanho dos ovos, em que os animais em latitudes mais altas produzem mais ovos de menores dimensões, enquanto que menos ovos de maiores dimensões são produzidos em latitudes mais baixas. Também existe uma variação no período reprodutivo, espécies de clima frio reproduzem-se ao longo de todo o ano, enquanto espécies de clima subtropical mostram reprodução na estação fria. É um padrão oposto ao encontrado em espécies decápodes marinhos. Produzem poucos ovos de grandes dimensões, o número de ovos oscilou entre 25 e 349. Apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto. É quase certo que esta espécie tenha também cuidado parental, mas não existem ainda informações.
Aegla plana fêmea. Imagem
gentilmente cedida por Éden Timotheus Federolf.
Comportamento
São animais totalmente aquáticos, apesar das grandes garras, não são animais agressivos, podendo ser mantidos com peixes ou com outros Aeglas, independente do sexo. Comportamento gregário, em especial animais juvenis. Hábitos
noturnos, passando o dia entocado, saindo à noite para se alimentar.
Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros
animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação
completa da carapaça.
Alimentação Não há dados específicos, assim como as demais espécies do gênero, são onívoros, se alimentando de detritos e material orgânico em decomposição, vegetal e animal.
Bibliografia:
- Bond-Buckup G. Família Aeglidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea
Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
- Martin, J.W. & Abele, L.G.
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(Crustacea: Anomura: Aeglidae). Smithsonian
Contributions to Zoology 453: 1-46.
- Bond-Buckup G, Buckup L.1994. A
família Aeglidae (Crustacea, Decapoda, Anomura). Arch. Zool., São Paulo, 2 (4): 159-346.
- Buckup L, Rossi A. O gênero Aegla no Rio Grande do Sul, Brasil (Crustácea, Decapoda, Anomura, Aeglidae). Rev. bras. Biol., 37:879-92, 1977.
- Tudge CC. Endemic and enigmatic: the reproductive biology of Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae)
with observations on sperm structure. Memoirs of Museum Victoria 60(1): 63–70 (2003).
- Santos S, Bond-Buckup G, Gonçalves AS,
Bartholomei-Santos ML, Buckup L, Jara CG. Diversity and conservation status of
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- Bueno SLS, Santos S, Rocha SS, Gomes KM, Mossolin EC, Mantelatto FL. 2016. Avaliação dos Eglídeos (Decapoda: Aeglidae). Cap. 2: p. 35-63. In: Pinheiro, M. & Boos, H. (Org.). Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil: Avaliação 2010-2014. Porto Alegre, RS, Sociedade Brasileira de Carcinologia - SBC, 466 p.
- Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade. 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção:
Volume VII - Invertebrados. In: Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade. (Org.). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de
Extinção. Brasília: ICMBio. 727p.
- Hepp LU, Fornel R, Restello
RM, Trevisan A, Santos S. 2012. Intraspecific Morphological Variation in a
Freshwater Crustacean Aegla plana in Southern Brazil:
Effects of Geographical Isolation on Carapace Shape. Journal of
Crustacean Biology 32(4), 511-518.
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