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"Aegla plana"  
Artigo publicado em 16/04/2023  



Égla – Aegla plana

 

Nome em português: Égla, Caranguejo de Rio, Tatuí de água doce, Scrabei
Nome em inglês: -
Nome científico: Aegla plana Buckup & Rossi, 1977

Origem: Brasil, leste do RS

Tamanho: carapaça com comprimento de até 2,0 cm
Temperatura: 15-22° C
pH: 6.5-8.0

Dureza: média, condutividade de 20-30μS/cm, TDS 8-12mg/L
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: pacífico


 

 

Importante!!

 

            O Aegla plana é uma espécie listada como “em perigo” (EN) na relação das espécies em risco de extinção publicado pelo Ministério do Meio Ambiente e IBAMA (2014) - B1ab(iii, iv), assim como na re-avaliação feita pela Sociedade Brasileira de Carcinologia (2016) - B1ab(iii), e na revisão de 2017 (Santos et al.) - B1ab(iii, iv). Desta forma, sua coleta e manutenção em cativeiro são proibidas por lei.


 
 

Apresentação

 

Apesar de serem muitas vezes referidos como “caranguejos”, na realidade estes crustáceos pertencem a outra infra-ordem, Anomura, a mesma dos caranguejos-ermitões. A família Aeglidae possui somente um gênero atual, Aegla, exclusivo de ambientes dulcícolas da região sul da América do Sul, com próximo de 60 espécies brasileiras descritas (muitas foram descritas bastante recentemente, veja a lista completa e atualizada de espécies  neste link ). São os únicos anomuros encontrados em água doce, exceto por uma única espécie de ermitão dulcícola de uma ilha do pacífico.

Não são muito populares no Brasil como animais de aquário, mas em outros países (como na Argentina) são criados há algum tempo com sucesso.

            Etimologia: Aegla vem da deusa mítica grega Aegle, uma das três Hespérides, donas do jardim dos pomos de ouro, situado no extremo ocidental do mundo. E plana é uma referência ao aspecto plano da sua carapaça.


 

Origem

            Églas são crustáceos com distribuição restrita à porção sul da América do Sul, vivendo em ambientes dulcícolas das regiões temperadas do continente, o que explica sua baixa tolerância ao calor. Vivem em riachos límpidos de leito rochoso, geralmente montanhosos, alguns também em lagoas e represas.

            O Aegla plana é uma espécie encontrada somente no Brasil, e somente no estado do RS, na sua região leste, sistema Atlântico Sul (rios Caí e Taquari-Tainhas), na ecorregião da bacia da Lagoa dos Patos. A extensão de ocorrência é estimada em menor que 5.000 km² (3.333 km²), com população severamente fragmentada.

 

Distribuição geográfica de Aegla plana. Imagem original Google Maps; dados de Bond-Buckup G. 2003.


Aparência

 

Lembra bastante um caranguejo, com cefalotórax achatado, pernas dispostas lateralmente e primeiro par na forma de grandes garras (quelípodos). Entretanto, numa análise mais cuidadosa, destacam-se antenas finas e bastante longas, e abdômen relativamente desenvolvido, parecendo um lagostim com a cauda dobrada. O próprio cefalotórax é oval, novamente lembrando um lagostim achatado. Numa visão superior, só são visíveis três pares de pernas ambulatórias (ao invés dos quatro pares dos caranguejos), já que o último par é atrofiado, fica oculto sob o abdômen e não possui função locomotora. Coloração variada, geralmente de cor marrom-escura avermelhada, mas alguns animais possuindo tons azulados.


  • Rostro curto, carenado em todo seu comprimento
  • Espinho ântero-lateral da carapaça não alcançando a base da córnea
  • Lobos protogástricos ausentes
  • Ângulo látero-dorsal da segunda pleura inerme
  • Crista palmar sub-rctangular
  • Dedo móvel do quelípodo com lobo com tubérculo escamiforme
  • Dedos do quelípodo sem dente lobular
  • Margem interna da face ventral do ísquio apenas com três a quatro elevações com escamas
  • Margem dorsal do mero do segundo pereiópodo com um espinho, seguido de tubérculos escamiformes






Aegla plana em seu habitat natural. Imagem gentilmente cedida por Éden Timotheus Federolf.


 

Parâmetros de Água

 

Habitam ambientes bastante estáveis, são bem sensíveis a variações e condições inadequadas de água. Um aspecto bastante importante é sua sensibilidade a altas temperaturas, uma causa comum de insucesso na sua manutenção em cativeiro. Somente como exemplo, o Aegla laevis sobrevive por 30 minutos a 28º C, e por 20 minutos a 31º C.

    Por viverem em água corrente e fria, demandam também alta taxa de oxigenação, sugerindo-se superdimensionar a filtragem e circulação de água no tanque. São mais comuns em águas neutras para alcalinas, dureza média. Como os demais crustáceos, são bem sensíveis a compostos nitrogenados, assim como a metais. 
Há alguns dados do local de coleta, com temperatura de 15-22° C, pH de 6.5-8.0, condutividade de 20-30μS/cm e TDS 8-12mg/L.




Dimorfismo Sexual

 

Bem demarcado, machos são maiores e possuem garras mais robustas e assimétricas (heteroquelia). Fêmeas possuem abdômen mais largo, e pleópodes mais desenvolvidos.





Aegla plana macho. Note o aspecto plano e achatado da carapaça. Imagem gentilmente cedida por Éden Timotheus Federolf.



Reprodução

Provavelmente possuem ciclos anuais de reprodução, acasalando no verão e com um pico reprodutivo durante os meses de temperatura mais fria (outono-inverno). 

            Em Aeglas, existe um claro padrão latitudinal para fecundidade e tamanho dos ovos, em que os animais em latitudes mais altas produzem mais ovos de menores dimensões, enquanto que menos ovos de maiores dimensões são produzidos em latitudes mais baixas. Também existe uma variação no período reprodutivo, espécies de clima frio reproduzem-se ao longo de todo o ano, enquanto espécies de clima subtropical mostram reprodução na estação fria. É um padrão oposto ao encontrado em espécies decápodes marinhos.

         Produzem poucos ovos de grandes dimensões, o número de ovos oscilou entre 25 e 349. Apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto. É quase certo que esta espécie tenha também cuidado parental, mas não existem ainda informações.

 



Aegla plana fêmea. Imagem gentilmente cedida por Éden Timotheus Federolf.



Comportamento

 

São animais totalmente aquáticos, apesar das grandes garras, não são animais agressivos, podendo ser mantidos com peixes ou com outros Aeglas, independente do sexo. Comportamento gregário, em especial animais juvenis. Hábitos noturnos, passando o dia entocado, saindo à noite para se alimentar.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.


 

Alimentação

 

Não há dados específicos, assim como as demais espécies do gênero, são onívoros, se alimentando de detritos e material orgânico em decomposição, vegetal e animal. 

 

 


 

Bibliografia:


  • Bond-Buckup G. Família Aeglidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Martin, J.W. & Abele, L.G. 1988. External morphology of the genus Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae). Smithsonian Contributions to Zoology 453: 1-46.
  • Bond-Buckup G, Buckup L.1994. A família Aeglidae (Crustacea, Decapoda, Anomura). Arch. Zool., São Paulo, 2 (4): 159-346.
  • Buckup L, Rossi A. O gênero Aegla no Rio Grande do Sul, Brasil (Crustácea, Decapoda, Anomura, Aeglidae). Rev. bras. Biol., 37:879-92, 1977.  
  • Tudge CC. Endemic and enigmatic: the reproductive biology of Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae) with observations on sperm structure. Memoirs of Museum Victoria 60(1): 63–70 (2003).
  • Santos S, Bond-Buckup G, Gonçalves AS, Bartholomei-Santos ML, Buckup L, Jara CG. Diversity and conservation status of Aegla spp. (Anomura, Aeglidae): an update. Nauplius. 2017; 25: e2017011.
  • Bueno SLS, Santos S, Rocha SS, Gomes KM, Mossolin EC, Mantelatto FL. 2016. Avaliação dos Eglídeos (Decapoda: Aeglidae). Cap. 2: p. 35-63. In: Pinheiro, M. & Boos, H. (Org.). Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil: Avaliação 2010-2014. Porto Alegre, RS, Sociedade Brasileira de Carcinologia - SBC, 466 p.
  • Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume VII - Invertebrados. In: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. (Org.). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio. 727p.
  • Hepp LU, Fornel R, Restello RM, Trevisan A, Santos S. 2012. Intraspecific Morphological Variation in a Freshwater Crustacean Aegla plana in Southern Brazil: Effects of Geographical Isolation on Carapace Shape. Journal of Crustacean Biology 32(4), 511-518.



Agradecimentos especiais a Eden Timotheus Federolf, e à equipe do  Organização Palavra da Vida - Sul  pela cessão das fotos para o artigo.
 
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