INÍCIO ARTIGOS ESPÉCIES GALERIA SOBRE EQUIPE PARCEIROS CONTATO
 
 
    Espécies
 
"Sesarma curacaoense"  
Artigo publicado em 28/05/2020  



Aratu – Sesarma curacaoense

 

Nome em português: Aratu, Caranguejo
Nome em inglês: Mangrove Marsh Crab
Nome científico: Sesarma curacaoense de Man, 1892

Origem: América do Norte, Central e Sul, costa atlântica
Tamanho: carapaça com largura de 1,8 cm
Temperatura: 22-35° C
Salinidade: tolerante a variações, prefere baixa a média
Reprodução
: parcialmente abreviada, mas necessita de água salobra para as larvas
Comportamento: agressividade intermediária
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

            Aratu é o nome popular de diversos caranguejos semi-terrestres do mangue, principalmente da família dos sesarmídeos. Geralmente se refere a duas espécies, Aratus pisonii e Goniopsis cruentata, mas outra espécie comum no litoral norte-nordeste é o Sesarma curacaoense

A taxonomia do gênero Sesarma é bastante complexa, originalmente era um grande grupo com mais de 125 espécies provenientes de zonas tropicais e temperadas do globo, adaptadas às mais diversas condições, com espécies habitando litorais marinhos, águas salobras, água doce e espécies terrestres. Era composta de mais de 20 gêneros e subgêneros, e foi revista em 1992.

Há alguma discussão sobre quantas espécies válidas do gênero Sesarma existem no Brasil, além do S. rectum, de longe, a espécie mais comum. Trata-se provavelmente de somente uma segunda espécie, Sesarma curacaoense, tema deste artigo. Alguns trabalhos descrevem mais uma espécie, Sesarma crassipes, que cada vez mais acredita-se que seja um erro de identificação, ou um sinônimo menor do S. curacaoense.

            Etimologia: Segundo o artigo original de Say, que descreveu este gênero, Sesarma vem do grego sairō (escovar, varrer); curacaoense significa nativo de Curaçao, onde foi coletado o espécime-tipo.




Sesarma curacaoense em um terrário úmido. Foto de Oliver Mengedoht (Panzerwelten).




Distribuição geográfica de Sesarma curacaoense. Imagem original Google Maps; dados de Melo GAS 1996.



Origem e habitat

Habita áreas estuarinas das zonas tropicais e subtropicais da costa atlântica da América do Norte, Central e Sul, tendo ampla distribuição no litoral. É encontrado desde a Flórida (EUA) até o sul do estado da Bahia, Nordeste do Brasil.

            É um caranguejo semi-terrestre, habitando áreas alagadas pantanosas em maguezais e estuários. São comuns também em bancos de ostras e rochas em um substrato lamoso, frequetemente sob serrapilheira. Vivem em buracos, e  escavam tocas sinuosas nestes habitats.

          Na natureza, são encontrados numa faixa bastante ampla de salinidade, entre 8 e 45%o. A faixa de temperatura também é bastante ampla, de 22 a 39° C.




Sesarma curacaoense, foto de Oliver Mengedoht (Panzerwelten).



Aparência

 

São caranguejos achatados de porte pequeno, carapaça quadrada, um pouco mais larga do que comprida, e pernas dispostas lateralmente. Olhos nas bordas ântero-laterais da carapaça, pedunculados mas curtos. Podem ser confundidos com outras espécies de Aratus (Goniopsis, Armases, Aratus), e com o Catanhão (Neohelice). As espécies de Sesarma brasileiros são identificadas com relativa facilidade, pelo aspecto largo e achatado do mero das pernas ambulatórias. Possuem garras lisas, com poucos tubérculos e uma crista dorsal, ao contrário do Armases.

A diferenciação do S. curacaoense do S. rectum pode ser feita pela borda lateral da carapaça, somente o S. rectum possui um aspecto reto, sem dentes ou entalhes, daí a origem de seu nome científico. O S. curacaoense possui um dente, posterior ao ângulo orbital externo. 

O S. curacaoense também é bem menor, possui carapaça áspera, rugosa e pubescente. Fronte bastante sinuosa. Coloração distinta, em tons castanho amarelados claros, com áreas escuras irregulares visando camuflagem.

 






Sesarma curacaoense, fotos destacando detalhes da sua anatomia. Fotos de Oliver Mengedoht (Panzerwelten).



Dimorfismo Sexual

 

Como quase todos os caranguejos, a distinção pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, que fica dobrado sobre a porção ventral da carapaça. Fêmeas possuem o abdômen largo, onde incubam seus ovos. Nos machos, o abdômen é estreito.

Machos adultos também possuem garras maiores e mais robustas, com pequenas nodulações.  




Reprodução

Seu ciclo de vida semelhante ao de outros crustáceos semi-terrestres estuarinos. Porém, habitam pântanos alagados em manguezais, com relativa pouco conexão com o mar. Durante a estação reprodutiva, estes caranguejos lançam suas larvas nesta água, poças temporárias com água estagnada.

Possuem um padrão abreviado de reprodução, produz ovos relativamente grandes, de cor laranja brilhante, medindo 0,7 mm, variando entre 112 a 980 ovos. As larvas são planctônicas, nascem como zoea de vida livre medindo 1,2 mm, passando por somente dois estágios larvares, além da megalopa (pós-larva). A duração do estágio de zoea é bem curto, de 1,5 a 3 dias. A duração do estágio de megalopa é bastante variável, de 7 a 20 dias.

Por viverem e se reproduzirem nestes locais bastante inóspitos, sabe-se que as larvas são bastante robustas. Em laboratório, viu-se que estas são bastante adaptáveis a diferentes salinidades, desenvolvendo-se em qualquer salinidade entre 15 e 32%o (embora com mortalidade elevada e aumento da duração em 15%o). A salinidade ideal parece ser por volta de 25%o. São lecitotróficos facultativos, podendo sobreviver até a fase de megalopa sem alimento, devido ao seu ambiente, com pouca conexão com o mar, e pouca oferta planctônica. Nascem com elevada biomassa, com reservas que permitem tal comportamento.

As larvas e megalopa são carnívoras, podendo ser alimentadas com náuplios de Artemia em cativeiro. Alguns trabalhos demonstraram que a metamorfose de megalopa para juvenil no Sesarma curacaoense pode ser estimulada pelo odor ou presença de adultos.



 


Sesarma curacaoense em um terrário úmido. Foto de Oliver Mengedoht (Panzerwelten).



Comportamento

 

São animais sociais, vivendo em colônias, mas menos numerosas do que os Ucas. São animais com dieta essencialmente vegetariana, em princípio podem ser mantidos com outros caranguejos de tamanho compatível. Porém, por serem onívoros oportunistas, podem predar espécies menores de caranguejos. São mais ativos à noite.

Um aspecto bem interessante destes animais é o fato do macho produzir sons, usados na comunicação social. O som é produzido percutindo-se as garras. Antes de produzir som, o macho eleva o corpo, e posiciona uma das garras abaixo do corpo, com a ponta virada para trás e em contato com o solo, sendo mantida imóvel. A outra garra é posicionada medialmente, com a ponta virada para o solo, e movida agilmente para cima e para baixo, a crista dorsal do dátilo atingindo o própodo da garra estacionária.

Produz um som percussivo, audível a até 3 metros. Alguns autores chamam de “gesto de desafio ou triunfo”, pois é emitido quando defende sua toca, após a derrota do adversário. Animais caminhando também foram avistados emitindo sons na frente de tocas ocupadas por outros machos.

Podem produzir também um segundo som, uma percussão do solo com as pernas ambulatórias, geralmente segue-se à percussão das garras e é acompanhada de postura de ameaça.





Sesarma curacaoense em um terrário úmido, fotos de Oliver Mengedoht (Panzerwelten).

 


Alimentação

 

São onívoros, sua base alimentar é constituída por detritos e folhas em decomposição encontrados no solo de manguezais. Consomem também esporadicamente insetos e outros pequenos animais.

Em cativeiro, necessitam de um balanço adequado entre Fósforo e Cálcio, com predomínio deste último. Muitos criadores fornecem suplementos de cálcio, como alimentos para répteis e comprimidos mastigáveis de uso humano. É conveniente também evitar um excesso de proteínas na dieta, mantendo uma dieta básica de vegetais. Outros alimentos não recomendados são o espinafre (rico em ácido oxálico) e salsinha (alto teor de ácido prússico, bastante tóxico para os caranguejos).






Sesarma curacaoense alimentando-se em um terrário úmido, fotos de Oliver Mengedoht (Panzerwelten).



Manutenção em Aquaterrários

 

É uma espécie semi-terrestre, necessitando uma área seca predominante, e uma área aquática. Preferem habitats mais úmidos e alagados do que o S. rectum. Embora tolerem uma ampla faixa de salinidade, necessitam de água salobra para uma manutenção saudável a longo prazo. Extremamente robustos, toleram uma ampla faixa de salinidade, com capacidade osmorregulatória excepcional. Em laboratório, suportam salinidades de 1%o a 44%o.

O substrato é indiferente, mas é preferível algum material que permita aos animais cavarem suas tocas.




 

Bibliografia:

  • Melo GAS. Manual de Identificação dos Brachyura (caranguejos e siris) do litoral brasileiro. São Paulo: Plêiade/FAPESP Ed., 1996, 604p.
  • Abele LG. 1992. A review of the grapsid crab genus Sesarma (Crustacea: Decapoda: Grapsidae) in America, with the description of a new genus. Smithson. Contr. Zool. 527:1-60.
  • Say T. 1817. An account of the Crustacea of the United States. J. Acad. nat. Sci. Philad. 1 (1):65-80.
  • Schubart CD, Cuesta JA. (1998) First zoeal stages of four Sesarma species from Panama, with identification keys and remarks on the American Sesarminae (Crustacea: Brachyura: Grapsidae). Journal of Plankton Research, 20, 61-84.
  • Anger K, Moreira GS. Biomass and elemental composition of eggs and larvae of a mangrove crab, Sesarma rectum Randall (Decapoda: Sesarmidae) and comparison to a related species with abbreviated larval development. Sci. Mar., 68(1),117-126., 2004.
  • Zanotto FP, Pinheiro F, Sá MG. The importance of dietary calcium consumption in two species of semi-terrestrial grapsoid crabs. Iheringia, Sér. Zool. 2009  Sep; 99(3): 295-300.
  • Mulstay RE. Acoustic Behavior in the Purple Marsh Crab, Sesarma reticulatum Say (Decapoda, Grapsidae). Crustaceana. Vol. 39, No. 3 (Nov., 1980), pp. 301-305.
  • Abele LG. Taxonomy, distribution and ecology of the genus Sesarma (Crustacea, Decapoda, Grapsidae) in eastern North America, with special reference to Florida. Am. Midl. Nat. 90, 375–385 (1973)
  • Anger K, Schreiber D, Montú M. 1995. Abbreviated larval development of Sesarma curacaoense (Rathbun, 1897) (Decapoda: Grapsidae) reared in the laboratory. Nauplius, Botucatú, 3: 127-154.
  • Melo MA, Abrunhosa F, Sampaio I. The morphology of the foregut of larvae and postlarva of Sesarma curacaoense De Man, 1892: a species with facultative lecithotrophy during larval development. Acta Amaz. 2006; 36(3): 375-380.
  • Anger K, Charmantier G. Ontogeny of Osmoregulation and Salinity Tolerance in a Mangrove Crab, Sesarma Curacaoense (Decapoda: Grapsidae). J Exp Mar Bio Ecol. 2000 Aug 30; 251(2): 265-274.
  • Schuh M, Diesel R. Effects of Salinity and Starvation on the Larval Development of Sesarma curacaoense de Man, 1892, a Mangrove Crab with Abbreviated Development (Decapoda: Grapsidae). Journal of Crustacean Biology, Vol. 15, No. 4 (Nov., 1995), pp. 645-654.
  • Almeida AO, Coelho PA. 2008. Estuarine and marine brachyuran crabs (Crustacea: Decapoda) from Bahia, Brazil: checklist and zoogeographical considerations. Lat. Am. J. Aquat Res. 36(2):183-222.





Agradecimentos ao colega Oliver Mengedoht (Alemanha, administrador do portal  Panzerwelten , sobre caranguejos) por nos permitir usar suas fotos no artigo.
 
« Voltar  
 

Planeta Invertebrados Brasil - © 2024 Todos os direitos reservados

Desenvolvimento de sites: GV8 SITES & SISTEMAS