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"Mikrotrich. parvus"  
Artigo publicado em 17/01/2024, última atualização em 03/02/2024  


Caranguejo de Água Doce – Mikrotrichodactylus parvus

Nome em português: Caranguejo de água doce
Nome em inglês: -
Nome científicoMikrotrichodactylus parvus Moreira, 1912

Origem: Brasil, MT e MS
Tamanho: carapaça com largura de até 1,5 cm
Temperatura: 20-28° C
pH: neutra para alcalina

Dureza: moderadamente dura
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: pacífico
Dificuldade: fácil

 

 

Apresentação

 

Mikrotrichodactylus parvus é um raro e pequeno caranguejo de água doce encontrado na região do Pantanal. 

Até muito recentemente, estes pequenos caranguejos eram classificados juntamente com os Trichodactylus. Há muito tempo alguns autores defendiam a classificação deste e de outros pequenos Trichodactylus como um grupo taxonômico distinto, baseado em uma série de detalhes anatômicos peculiares, no gênero Mikrotrichodactylus.

           Publicado em 2013 e 2018, a Dra. Edvanda Andrade Souza de Carvalho realizou um interessante trabalho nas suas teses de mestrado e doutorado, realizando análises morfológicas e genéticas (16S e COI) em um grande número de espécimes de Trichodactylus, com alguns resultados bastante interessantes. 146 espécimes foram analisados morfologicamente, e 43 geneticamente. Este trabalho demonstrou a validade dos Mikrotrichodactylus, que formavam um clado bem definido, e com distância significativa dos grandes Trichodactylus.

     Mikrotrichodactylus parvus é quase idêntico ao M. borellianus, com área de ocorrência que se sobrepõe, e gonópodo indistinguível. A única diferença é no padrão de dentes da carapaça. Muitos autores consideravam-no uma variação do M. borellianus, questionando sua validade. Porém, o mesmo trabalho acima citado confirmou  a validade da espécie, situando-o próximo do M. borellianus, mas agrupado junto a outra espécie, M. ehrhardti.


Etimologia: Mikrotrichodactylus vem do grego mikro (pequeno), thríks (cabelo) e daktulos (dedo); parvus tem origem no latim, significa pequeno, curto.  

 



Origem

            Espécie endêmica brasileira, encontrada na bacia do Rio Paraguai, nos estados do Mato Grosso (holótipo de Porto Espiridião, e Poconé) e Mato Grosso do Sul (Corumbá). Sua distribuição é englobada na área de ocorrência do M. borellianus, com os quais são facilmente confundidos.

São encontrados em rios, baías e corixos, em meio à folhas e raízes da vegetação aquática destes locais, também em meio às folhas mortas depositadas ao fundo, e em buracos e fendas de troncos, tanto submersos quanto emersos próximos às margens. 

 

Distribuição geográfica de Mikrotrichodactylus parvus. Imagem original Google Maps; dados de Magalhães C. In: Melo GAS. 2003, e demais referências.




Aparência

 

Cefalotórax de altura média a baixa, de forma arredondada, superfície irregular. Região frontal plana. Olhos pequenos, antenas curtas. Quelípodos de tamanho médio, maiores e assimétricos nos machos. Pernas dispostas lateralmente. Geralmente de cor acastanhada ou esverdeada clara. Costumam ter finas cerdas na carapaça e pernas.

Segmentos abdominais sem fusão, em ambos os sexos. Como mencionado, é praticamente idêntico ao M. borellianus, exceto pelos dentes posteriores da carapaça. Têm dois dentes pequenos ou vestigiais na margem anterior, seguido de um dente triangular grande mediano, e um a dois dentes vestigiais na margem posterior, usualmente reduzidos a saliências indistintas (dois grandes no M. borellianus).



Provável Mikrotrichodactylus parvus, fotografado em Novo Paraíso, Itaituba, PA (fora da área de ocorrência conhecida). Fotos cortesia de Franck Mendes.



Parâmetros de Água

 

Não há informações, baseados nos sítios de coleta, os parâmetros de água incluem um pH neutro a alcalino, água moderadamente dura.

 


Dimorfismo Sexual

 

Como todo caranguejo, pode ser feita facilmente através da análise do abdômen, o macho possui abdômen estreito, e a fêmea, abdômen largo, onde fixa seus ovos. Machos adultos também possuem garras maiores e mais robustas, uma delas mais desenvolvida (heteroquelia).




Reprodução

Todo seu ciclo de vida se dá em água doce. Não há dados específicos, as informações seguintes são extrapolações de espécies próximas. Na cópula, o macho segura a fêmea com suas garras, a qual rebaixa seu pleon abdominal, os dois animais ficando ventre a ventre, com o macho em cima. Terminada a transferência de sêmen, o macho rapidamente libera a fêmea. 

Em espécies próximas, a fêmea permanecem fora d´água pela maior parte do tempo enquanto carrega seus ovos no abdômen. Produzem ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Estes ficam fixos ao abdômen da mãe através de um filamento. 

Na eclosão são liberados indivíduos juvenis, já com características semelhantes ao adulto. Por vários dias, os jovens são protegidos e carregados pelas fêmeas sob o abdome, caracterizando cuidado parental estendido. Nesta fase, os filhotes se alojam na mesma cavidade onde se localizavam os ovos.



Comportamento

 

São animais aquáticos, não necessitando vir à superfície para respirar. Porém habitam locais rasos, sendo vistos também em ambientes emersos próximo da água. Desta forma, fugas são bastante frequentes, o aquário deverá ser sempre mantido bem tampado.

Não há experiência na criação em aquários, mas baseado em espécies próximas, provavelmente são pacíficos, sendo possível a manutenção destes animais em aquários comunitários. Pelas suas pequenas dimensões, deve-se atentar somente ao risco de predação por outros animais. Podem se alimentar de plantas com folhas mais tenras.

Têm hábitos noturnos, especialmente os adultos, e costumam ficar entocados até anoitecer. Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.



Alimentação

 

Estes caranguejos são onívoros e pouco seletivos, nada exigentes quanto à alimentação, comendo desde algas, animais mortos a ração dos peixes. Pelas suas pequenas dimensões, geralmente não oferecem risco a outros animais, exceto filhotes de caramujos, que são vorazmente predados.

 
 


Bibliografia:

  • Magalhães C. Famílias Pseudothelphusidae e Trichodactylidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Magalhães C, Türkay M. Taxonomy of the Neotropical freshwater crab family Trichodactylidae. I. The generic system with description of some new genera (Crustacea: Decapoda: Brachyura). Senckenbergiana Biologica75 (1/2): 63–95.
  • Rodríguez G. The Freshwater Crabs of America: Family Trichodactylidae and Supplement to the Family Pseudothelphusidae. Paris, Editions ORSTOM, 189p. 1992 (Collection Faune Tropicale 31).
  • Magalhães C. 2016. Avaliação dos Caranguejos tricodactilídeos (Decapoda: Trichodactylidae), Cap. 32: p. 420- 440. In: Pinheiro, M.A.A. & Boos, H. (Org.). Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil: Avaliação 2010-2014. Porto Alegre, RS: Sociedade Brasileira de Carcinologia - SBC, 466 p.
  • Rogers DC, Magalhães C, Peralta M, Ribeiro FB, Bond-Buckup G, Price WW, Guerrero-Kommritz J, Mantelatto FL, Bueno A, Camacho AI, González ER, Jara CG, Pedraza M, Pedraza-Lara C, Latorre ER, Santos S. Chapter 23 - Phylum Arthropoda: Crustacea: Malacostraca. In: Thorp and Covich's Freshwater Invertebrates (Fourth Edition), Editors: D. Christopher Rogers, Cristina Damborenea, James Thorp. Academic Press, 2020. p. 809-986.
  • Carvalho EAS de. Sistemática e revisão taxonômica dos caranguejos de água doce do gênero Trichodactylus Latreille, 1828 (Decapoda: Trichodactylidae) [tese]. Ribeirão Preto: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto; 2018.
  • Moreira C. 1913. Annexo n. 5. Historia Natural. Zoologia. Crustaceos. Commissão de Linhas Telegraphicas Estrategicas de Matto-Grosso ao Amazonas, 1-21.

 

 


Somos gratos ao colaborador do iNaturalist Franck Mendes pelo uso das suas fotos no nosso artigo. 


 As fotografias de Franck Mendes estão licenciadas sob uma Licença Creative Commons. 
 
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