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Parastacus fluviatilis  
Artigo publicado em 06/05/2023  



Lagostim-de-água-doce – Parastacus fluviatilis

 

Nome em português: Lagostim-de-água-doce
Nome em inglês: -
Nome científico: Parastacus fluviatilis Ribeiro & Buckup, 2016

Origem: Brasil (RS e provavelmente SC)

Tamanho: até 9 cm
Temperatura: 12-21° C
pH: indiferente

Dureza: indiferente
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: pacífico


 

Importante!!

 

            O Parastacus fluviatilis não é mencionado nas espécies listadas como em risco na Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção publicada em Dezembro de 2014 pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), ou na lista de espécies do estado do Rio Grande do Sul, publicado pelo MMA em 2014. Porém, um consenso de especialistas publicou um artigo avaliando o estado de conservação dos lagostins sul-americanos (Almerão MP, et al. 2014), onde a espécie é mencionada na categoria IUCN "dados deficientes" (DD). A página oficial do IUCN também lista esta espécie como DD.

            Desta forma, a rigor, sua coleta e manutenção em cativeiro são legalmente permitidas, mas sugerimos fortemente que não sejam feitas, dada a escassez de informações sobre o real estado de conservação desta espécie.


 

Apresentação

Os Lagostins dulcícolas brasileiros são um grupo bastante peculiar de decápodes, com particularidades que os tornam bastante distintos dos Lagostins mais comumente encontrados como animais de aquário. Existem cerca de dez espécies de Lagostins de água doce no Brasil, todos do gênero Parastacus. Embora sejam chamados de “aquáticos”, na realidade são espécies escavadoras, que passam boa parte da sua vida enterrada em tocas construídas em terrenos úmidos e alagados.

Têm uma distribuição bastante restrita no país, sendo encontrados somente nas planícies do extremo sul (estados de RS e SC, bem mais comum no primeiro), habitando preferencialmente áreas pantanosas e margens de pequenos córregos.

Nestas seis espécies, existem dois padrões distintos de comportamento e modo-de-vida: as espécies chamadas de “fossoriais”, que escavam tocas profundas em locais pantanosos, vivendo em bolsões de água com baixa oxigenação no fundo destas tocas; e as espécies que habitam locais marginais de pequenos riachos de fraca correnteza, ocultos em meio aos detritos, raízes da vegetação ciliar, ou escavando tocas mais superficiais.

O Parastacus fluviatilis pertence ao primeiro grupo (“fossoriais”), e é a espécie com distribuição mais ampla encontrada no Brasil. Possui grande importância ecológica, fazendo parte da alimentação de diversos mamíferos e aves ribeirinhas, como lontras e cuícas.

 

                Etimologia: O nome Parastacus vem do nome de outro gênero de lagostins dulcícolas da Eurásia, Astacus (do grego αστακός, astacós, significa lagosta ou lagostim), com o prefixo grego para (junto com, além de, alterado, contrário). Os Parastacus eram originalmente classificados como Astacus. E fluviatilis vem do latim fluvius (rio).

 


Origem

O Parastacus fluviatilis é uma espécie de descrição recente (2016), encontrada no Brasil (estado de SC, e mais raramente no RS) e Uruguai. Há um duvidoso relato de coleta no Norte da Argentina. São encontrados principalmente em ambientes lóticos das bacias dos rios da vertente atlântica.



Distribuição geográfica de Parastacus fluviatilis. Imagem original Google Maps; dados de Ribeiro et al. 2016.



Aparência

 

Seu aspecto lembra bastante os demais lagostins límnicos, com o corpo cilíndrico, primeiro par de patas adaptadas na forma de robustas quelas, um abdômen longo e musculoso terminando em urópodos dispostos em um leque caudal. Pernas ambulatórias dispostas lateralmente, além das garras maiores, os dois primeiros pares ambulatórios também possuem pequenas quelas.

Porém, uma análise mais minuciosa mostra algumas adaptações para seus hábitos escavadores, tendo um abdômen relativamente curto, devido à perda da sua importância como estrutura locomotora. Os quelípodos são curtos e globosos, e os dáctilos se movem em um plano vertical, para maior eficácia durante o processo de escavação e transporte de material.

As chaves de identificação mais recentes sugerem excluir inicialmente P. varicosus e P. saffordi das demais, dado que ambas possuem três características peculiares. O P. fluviatilis e demais espécies brasileiras possuem estas características: extremidade anterior da carena pós-orbital não terminando em um espinho, aréola não delimitada por carenas, e lobo basal do exopodito dos urópodos sem espinho.

Daí avalia-se a margem posterior do telso, arredondada na presente espécie. Segue-se a análise dos pêlos nos quelípodos, P. fluviatilis não possui pêlos no carpo distal 


Cheliped dactyl and pollex cutting edges clearly visible



Daí a diferenciação do P. fluviatilis pode ser feita pelo aspecto dos quelípodos, P. saffordi possui pêlos longos, reunidos em tufos, cobrindo apenas a face interna dos dedos. A face ventral do ísquio do terceiro maxilópode com uma fileira longitudinal de tubérculos. 

Pelos pêlos nas quelas, pode ser confundido com as duas outras espécies brasileiras com pêlos nas mãos, o P. laevigatus e P. pilimanus, mas com distribuição distinta nas quelas.

        Seu rostro é alongado e lanceolado, dorsalmente plano. Limites da aréola assinaladas por elevações modestas e apenas na área anterior. Margem dorsal e ventral da palma convexas.

 




Parastacus fluviatilis, imagens gentilmente cedidas por Jefferson Souza da Luz. A primeira imagem do artigo também é de sua autoria.



Parâmetros de Água

 

Habitam locais variados, podem ser encontrados tanto em locais pantanosos e relativamente distante de grandes corpos d´água (como o P. defossus) quanto em margens de riachos (como o P. brasiliensis). Desta forma, são mais tolerantes a diferentes parâmetros ambientais. Entretanto, como todos os demais Parastacus, são sensíveis a altas temperaturas.

 


Parastacus fluviatilis, foto de Jefferson Souza da Luz.




Dimorfismo Sexual e Reprodução

Todos os Parastacus brasileiros são intersexuados, apresentando orifícios genitais masculinos e femininos no indivíduo adulto, poro genital masculino no coxopodito do pereiópodo 5, e poro feminino no coxopodito do pereiópodo 3.

O P. fluviatilis parece ter intersexualidade permanente, mas existem poucos estudos. Pode haver hermafroditismo sequencial, mas não há informações. Não há diferença no seu aspecto externo, todos os indivíduos apresentando orifícios masculinos e femininos no indivíduo adulto. Porém, com a dissecção e análise da anatomia interna é possível a identificação de gônadas masculinas ou femininas (nunca as duas).

Todos os lagostins têm fertilização externa. Durante a cópula, o macho deposita seu espermatóforo na superfície ventral da fêmea. Quando os oócitos maduros são liberados através dos gonóporos femininos, o espermatóforo se dissolve e os espermatozóides ficam livres. Os oócitos são então fertilizados externamente, e são agrupados em uma massa que é fixada aos pleópodos por uma substância adesiva.

Produzem ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto, sem fase larval. Muito provavelmente esta espécie mostra cuidado parental, os filhotes permanecem fixos aos pleópodos da mãe, até ficarem independentes.












Parastacus fluviatilis, fotos de Jefferson Souza da Luz.



Comportamento

 

Não é uma espécie francamente fossorial como o P. defossus, mas possui um hábito escavatório bastante exacerbado dentre os Parastacus brasileiros. Constroem tocas complexas em áreas paludosas e alagadas, e eventualmente em barrancos marginais de riachos.

São galerias profundas, podendo atingir até 2 metros de profundidade, descem até atingir o lençol freático, terminando numa galeria com um bolsão de água maior. A periferia das aberturas é freqüentemente elevada pela construção de torres cônicas ou chaminés argilosas protetoras, que circundam suas aberturas, formadas por um acúmulo de sedimento removido pelo lagostim durante a escavação. Entretanto, estas chaminés parecem ter um papel também funcional, visando impedir o alagamento excessivo das tocas com água das enchentes ou da chuva.

Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época permanecem entocados, até a solidificação completa da carapaça.

Sendo uma espécie fossorial, é bem provável que seja uma espécie pouco agressiva, possivelmente uma adaptação evolutiva para seu modo de vida escavatório, muitas vezes com colônias de vários indivíduos habitando uma mesma toca, em contraste com as demais espécies de “águas abertas”.


 



Curso d´água onde foram localizados tocas de Parastacus fluviatilis, setor Amola Faca, Timbé do Sul, SC. Vale do Rio Araranguá. Imagens gentilmente cedidas por Jefferson Souza da Luz.


Alimentação

 

Estes animais são onívoros oportunistas, sendo que a dieta consiste principalmente de detritos de origem vegetal, em especial nestas espécies fossoriais, que pouco abandonam suas habitações para procurar alimentos.

 






Parastacus fluviatilis, mostrando comportamento agonista. Fotos de Jefferson Souza da Luz.


Manutenção em cativeiro

 

Como já mencionado, o Parastacus fluviatilis não é uma espécie listada na relação da fauna nativa ameaçada de extinção, nacional ou estadual. Porém, uma avaliação feita por um consenso de especialistas em 2014 considerou a espécie como sendo "DD" (dados deficientes). No Livro Vermelho do Uruguai, a espécie é classificada como Vulnerável (VU). Desta forma, sugere-se que esta espécie não seja coletada na natureza, ou criada em aquários.

 

 

Bibliografia:

  • Ribeiro FB, Buckup L, Gomes KM, Araujo PB. Two new species of South American freshwater crayfish genus Parastacus Huxley, 1879 (Crustacea: Decapoda: Parastacidae). Zootaxa. 2016 Aug 30;4158(3):301-24.
  • Noro CK. A História natural de Parastacus defossus Faxon, 1898 um lagostim fossorial do Brasil meridional (Crustacea, Decapoda, Parastacidae). 2007. Tese (Doutorado em Biologia Animal) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
  • Rudolph E, Almeida A. On the sexuality of South American Parastacidae (Crustacea, Decapoda). Invertebrate Reproduction and Development. 01/2000; 37:249-257.
  • Almerão MP, Rudolph E, Souty-Grosset C, Crandall K, Buckup L, Amouret J, Verdi A, Santos S, Araujo PB. (2015) The native South American crayfishes (Crustacea, Parastacidae): state of knowledge and conservation status. Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems 25:10.1002/aqc.v25.2, 288-301.
  • Rogers DC, Magalhães C, Peralta M, Ribeiro FB, Bond-Buckup G, Price WW, Guerrero-Kommritz J, Mantelatto FL, Bueno A, Camacho AI, González ER, Jara CG, Pedraza M, Pedraza-Lara C, Latorre ER, Santos S. Chapter 23 - Phylum Arthropoda: Crustacea: Malacostraca. In: Thorp and Covich's Freshwater Invertebrates (Fourth Edition), Editors: D. Christopher Rogers, Cristina Damborenea, James Thorp. Academic Press, 2020. p. 809-986.


Agradecemos ao colega Jefferson Souza da Luz pela cessão de fotos para o artigo.

 
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