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Parastacus pilicarpus  
Artigo publicado em 20/12/2020, última edição em 07/05/2023  



Lagostim-de-água-doce – Parastacus pilicarpus

 

Nome em português: Lagostim-de-água-doce, Lagostim-vermelho
Nome em inglês: -
Nome científico: Parastacus pilicarpus Huber, Ribeiro & Araújo, 2018

Origem: Brasil, sul de SC

Tamanho: até 7 cm
Temperatura: 25° C
pH: neutro a discretamente ácido

Dureza: média
Reprodução
: especializada, todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: pacífico


 

Importante!!

 

O Parastacus pilicarpus é uma espécie de descrição bastante recente, portanto, ainda sem avaliação formal quanto ao grau de ameaça. Logo, não é mencionado nas espécies listadas como em risco na Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção publicada em Dezembro de 2014 pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), antes da descrição desta espécie

O artigo que descreve a espécie, baseado na sua distribuição bastante restrita, classifica a espécie inicialmente como "ameaçada" (EN), baseada nos critérios da IUCN. Porém, devido à escassez de informações quanto aos subitens "a" e "b", decidiu-se classificar o grau de ameaça como "dados deficientes " (DD). 

Desta forma, a rigor, sua coleta e manutenção em cativeiro são legalmente permitidas em teoria, mas sugerimos fortemente que não sejam feitas, dado o provável estado elevado de risco de extinção que esta espécie apresenta.


 

Apresentação

Os Lagostins dulcícolas brasileiros são um grupo bastante peculiar de decápodes, com particularidades que os tornam bastante distintos dos Lagostins mais comumente encontrados como animais de aquário. Existem cerca de uma dúzia de espécies de Lagostins de água doce no Brasil, todos do gênero Parastacus, muitas espécies recentemente descritas (veja a lista completa   aqui ). Embora sejam chamados de “aquáticos”, na realidade são espécies escavadoras, que passam boa parte da sua vida enterrada em tocas construídas em terrenos úmidos e alagados.

Têm uma distribuição bastante restrita no país, sendo encontrados somente nas planícies do extremo sul (estados de RS e SC), habitando preferencialmente áreas pantanosas e margens de pequenos córregos.

Nestas espécies brasileiras, existem dois padrões distintos de comportamento e modo-de-vida: as espécies chamadas de “fossoriais”, que escavam tocas profundas em locais pantanosos, vivendo em bolsões de água com baixa oxigenação no fundo destas tocas; e as espécies que habitam locais marginais de pequenos riachos de fraca correnteza, ocultos em meio aos detritos, raízes da vegetação ciliar, ou escavando tocas mais superficiais. Aparentemente o Parastacus pilicarpus pertence ao segundo grupo (“não-fossoriais”), e é uma espécie com distribuição bastante restrita, conhecida somente numa pequena área dentro de uma APA no sul de SC.

 

            Etimologia: O nome Parastacus vem do nome de outro gênero de lagostins dulcícolas da Eurásia, Astacus (do grego αστακός, astacós, significa lagosta ou lagostim), com o prefixo grego para (junto com, além de, alterado, contrário). Os Parastacus eram originalmente classificados como Astacus. E pilicarpus tem origem no latim, e faz referência aos pêlos (pili, cabelo) no carpo das quelas.

 



Parastacus pilicarpus, imagens gentilmente cedidas por Jefferson Souza da Luz. 



Origem

O Parastacus pilicarpus tem descrição bastante recente (2018), e é uma espécie endêmica só encontrada na região sul de SC, bem próximo à divisa com RS (desta forma, é possível que seja encontrada também neste estado). É conhecida somente na sua localidade tipo, em Morro Grande, nas nascentes do córrego Manoel Alves, e também em áreas montanhosas próximas, como na Área Particular de Preservação Ambiental São Francisco, em Nova Veneza. Estas regiões fazem parte da bacia do Rio Araranguá.

 



Distribuição geográfica de Parastacus pilicarpus. Imagem original Google Maps; dados de Huber AF, et al. Nauplius 2018.


Fotos de um riacho na Reserva São Francisco, em Nova Veneza, SC, onde foram encontrados Parastacus pilicarpus.

 



Curso d´água onde foram localizados tocas de Parastacus pilicarpussetor Amola Faca, Timbé do Sul, SC. Vale do Rio Araranguá. Imagens gentilmente cedidas por Jefferson Souza da Luz.



Aparência

 

Seu aspecto lembra bastante os demais lagostins límnicos, com o corpo cilíndrico, primeiro par de patas adaptadas na forma de robustas quelas, um abdômen longo e musculoso terminando em urópodos dispostos em um leque caudal. Pernas ambulatórias dispostas lateralmente, além das garras maiores, os dois primeiros pares ambulatórios também possuem pequenas quelas.

Porém, uma análise mais minuciosa mostra algumas adaptações para seus hábitos escavadores, tendo um abdômen relativamente curto, devido à perda da sua importância como estrutura locomotora. Os quelípodos são curtos e globosos, e os dáctilos se movem em um plano vertical, para maior eficácia durante o processo de escavação e transporte de material.

Medem até cerca de 6,5 cm. Coloração global marrom avermelhada. O rostro é marrom escuro. Flagelo antenal marrom claro. Quelípodos com região dorsal mais escura, assim como a porção proximal dos dáctilos. Pernas ambulatórias mais claras.

As chaves de identificação mais recentes sugerem excluir inicialmente P. varicosus e P. saffordi das demais, dado que ambas possuem três características peculiares. O P. pilicarpus e demais espécies brasileiras possuem estas características: extremidade anterior da carena pós-orbital não terminando em um espinho, aréola não delimitada por carenas, e lobo basal do exopodito dos urópodos sem espinho.

Daí avalia-se a margem posterior do telso, arredondada na presente espécie. Segue-se a análise dos pêlos nos quelípodos, P. pilicarpus possui tufos de longos pêlos no carpo distal, o que dá origem ao seu nome. Os quelípodos são achatados lateralmente, com margens cortantes dos dedos densamente cobertos por pêlos.

        Possui a fronte larga, com rostro curto e triangular, extremidade em U invertido e desarmado. Carena rostral curta. Carenas pós-orbitais fracamente proeminentes. Aréola ampla, 2,5x longo quanto largo. Outras características exclusivas da espécie são o lobo anteromedial do epístoma heptagonal, tão longo quanto largo, e a margem lateral da escama antenal curvada com um forte espinho terminal. 





Parastacus pilicarpus, fotografado na Reserva Biológica Estadual do Aguaí, em Nova Veneza, SC. Fotos de Caio Roberto Magagnin Feltrin.

 

 

Parâmetros de Água

 

Habitam ambientes bastante estáveis, são sensíveis a variações e condições inadequadas de água. Por este motivo, os Parastacus muitas vezes são usadas por pesquisadores como bioindicadores.

Como todos os Parastacus, são sensíveis a altas temperaturas, uma causa comum de insucesso na sua manutenção em cativeiro. São mais comuns em águas neutras, de dureza média. Não há dados específicos, sabe-se que a temperatura média da Reserva São Francisco é de cerca de 25º C. Não há informações sobre as características físico-químicas da água, baseado em áreas vizinhas, provavelmente trata-se de ambientes com água ligeiramente ácida, de dureza média.

 

  












Parastacus pilicarpus, fotos de Jefferson Souza da Luz.



Dimorfismo Sexual e Reprodução

Todos os Parastacus brasileiros são intersexuados, apresentando orifícios genitais masculinos e femininos no indivíduo adulto, poro genital masculino no coxopodito do pereiópodo 5, e poro feminino no coxopodito do pereiópodo 3.

Este aspecto morfológico estava presente em todos os P. pilicarpus coletados, sem diferença no seu aspecto externo, todos os indivíduos apresentando orifícios masculinos e femininos. Todos os lagostins têm fertilização externa. Durante a cópula, o macho deposita seu espermatóforo na superfície ventral da fêmea. Quando os oócitos maduros são liberados através dos gonóporos femininos, o espermatóforo se dissolve e os espermatozóides ficam livres. Os oócitos são então fertilizados externamente, e são agrupados em uma massa que é fixada aos pleópodos por uma substância adesiva.

Os Parastacus produzem ovos de grandes dimensões, apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são liberados indivíduos já com características semelhantes ao adulto, sem fase larval. Muito provavelmente esta espécie mostra cuidado parental, os filhotes permanecem fixos aos pleópodos da mãe, até ficarem independentes, mas ainda não há maiores dados sobre sua reprodução.





Parastacus pilicarpus, fotografado em Morro Grande, SC. Foto de Caio Roberto Magagnin Feltrin, extraída de Huber AF, et al. Nauplius 2018 (Licença Creative Commons). 

 


Comportamento

 

Não há dados, baseado nos locais de coleta, supõe-se que se trate de uma espécie com hábitos fossoriais menos exacerbados, encontrado em águas lênticas e lóticas de pequeno volume e correnteza fraca, ocultando-se sob detritos nos remansos dos arroios ou entre as raízes da mata ciliar, construindo suas galerias nas margens ou no fundo do leito dos cursos d´água.

Assim como os demais Parastacus, devem ter hábitos noturnos, deixando as suas habitações subterrâneas para partir em busca de alimento no interior da água ou nos ambientes emersos paludosos mais próximos. Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época devem permanecer entocados, até a solidificação completa da carapaça.

  





Parastacus pilicarpus, mostrando comportamento agonista. Fotos de Jefferson Souza da Luz.



Alimentação

 

Não há dados específicos, provavelmente são onívoros oportunistas, alimentando-se principalmente de detritos de origem vegetal. 

   


Manutenção em cativeiro

 

Como já mencionado, os lagostins nativos são animais ameaçados, embora o Parastacus pilicarpus não conste em relações oficiais como o Livro Vermelho do Ministério do Meio Ambiente e IBAMA, pela sua descrição recente e carência de dados (DD pelos critérios do IUCN). Desta forma, sugere-se fortemente que esta espécie não seja coletada na natureza, ou criada em aquários.

 
 

 

Bibliografia: 

  • Buckup L. Família Parastacidae. In: Melo GAS. Manual de Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo: Editora Loyola, 2003.
  • Rudolph E, Almeida A. On the sexuality of South American Parastacidae (Crustacea, Decapoda). Invertebrate Reproduction and Development. 01/2000; 37:249-257.
  • Rogers DC, Magalhães C, Peralta M, Ribeiro FB, Bond-Buckup G, Price WW, Guerrero-Kommritz J, Mantelatto FL, Bueno A, Camacho AI, González ER, Jara CG, Pedraza M, Pedraza-Lara C, Latorre ER, Santos S. Chapter 23 - Phylum Arthropoda: Crustacea: Malacostraca. In: Thorp and Covich's Freshwater Invertebrates (Fourth Edition), Editors: D. Christopher Rogers, Cristina Damborenea, James Thorp. Academic Press, 2020. p. 809-986.
  • Huber AF, Ribeiro FB, Araujo PB. New endemic species of freshwater crayfish Parastacus Huxley, 1879 (Crustacea: Decapoda: Parastacidae) from the Atlantic forest in southern Brazil. Nauplius. 2018; 26: e2018015.



Agradecemos ao amigo Jefferson Souza da Luz, e também aos colegas do Área Particular de Preservação Ambiental Reserva São Francisco (vejo o site  aqui ), na pessoa do Sr. Sidney José Damiani, por nos permitir usar suas fotos no artigo. Em especial somos gratos a Caio Roberto Magagnin Feltrin, autor das fotos, também autor da foto na publicação de Huber AF e colaboradores. 


 A fotografia extraída de Huber AF, et al. Nauplius 2018 está licenciada sob uma  Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.

 
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