Lagostim-de-água-doce
– Parastacus pilicarpus
Nome
em português: Lagostim-de-água-doce, Lagostim-vermelho
Nome em inglês: -
Nome científico: Parastacus pilicarpus Huber, Ribeiro & Araújo, 2018
Origem:
Brasil, sul de SC
Tamanho:
até 7 cm
Temperatura: 25° C
pH: neutro a discretamente ácido
Dureza: média
Reprodução: especializada,
todo ciclo de vida em água doce
Comportamento: pacífico
Importante!!
O Parastacus pilicarpus é uma espécie de descrição bastante recente, portanto, ainda sem avaliação formal quanto ao grau de ameaça. Logo, não é mencionado nas espécies listadas como em risco na Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção
publicada em Dezembro de 2014 pelo Ministério
do Meio Ambiente (MMA), antes da descrição desta espécie. O artigo que descreve a espécie, baseado na sua distribuição bastante restrita, classifica a espécie inicialmente como "ameaçada" (EN), baseada nos critérios da IUCN. Porém, devido à escassez de informações quanto aos subitens "a" e "b", decidiu-se classificar o grau de ameaça como "dados deficientes " (DD). Desta
forma, a rigor, sua coleta e manutenção em cativeiro são legalmente
permitidas em teoria, mas sugerimos fortemente que não sejam feitas, dado o provável estado elevado de risco de extinção que esta espécie apresenta.
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Apresentação
Os Lagostins dulcícolas brasileiros
são um grupo bastante peculiar de decápodes, com particularidades que os tornam
bastante distintos dos Lagostins mais comumente encontrados como animais de
aquário. Existem cerca de uma dúzia de espécies de Lagostins de água doce no Brasil, todos do
gênero Parastacus, muitas espécies recentemente descritas (veja a lista completa aqui ). Embora sejam chamados de “aquáticos”, na realidade são espécies
escavadoras, que passam boa parte da sua vida enterrada em tocas construídas em
terrenos úmidos e alagados.
Têm uma distribuição bastante restrita
no país, sendo encontrados somente nas planícies do extremo sul (estados de RS e
SC), habitando preferencialmente áreas pantanosas e margens de pequenos
córregos.
Nestas espécies brasileiras, existem dois padrões distintos de
comportamento e modo-de-vida: as espécies chamadas de “fossoriais”, que escavam
tocas profundas em locais pantanosos, vivendo em bolsões de água com baixa
oxigenação no fundo destas tocas; e as espécies que habitam locais marginais de
pequenos riachos de fraca correnteza, ocultos em meio aos detritos, raízes da
vegetação ciliar, ou escavando tocas mais superficiais. Aparentemente o Parastacus
pilicarpus pertence ao segundo grupo (“não-fossoriais”), e é uma espécie com
distribuição bastante restrita, conhecida somente numa pequena área dentro de uma APA no sul de SC.
Etimologia: O nome Parastacus vem do nome de outro gênero de lagostins dulcícolas da
Eurásia, Astacus (do grego αστακός, astacós, significa lagosta ou lagostim), com o prefixo
grego para (junto com, além de, alterado,
contrário). Os Parastacus eram
originalmente classificados como Astacus.
E pilicarpus tem origem no latim, e faz referência aos pêlos (pili, cabelo) no carpo das quelas.
Parastacus pilicarpus, imagens gentilmente cedidas por Jefferson Souza da Luz.
Origem
O Parastacus pilicarpus tem descrição bastante recente (2018), e é uma espécie endêmica só encontrada na região sul de SC, bem próximo à divisa com RS (desta forma, é possível que seja encontrada também neste estado). É conhecida somente na sua localidade tipo, em Morro Grande, nas nascentes do córrego Manoel Alves, e também em áreas montanhosas próximas, como na Área Particular de Preservação Ambiental São Francisco, em Nova Veneza. Estas regiões fazem parte da bacia do Rio Araranguá.
Distribuição geográfica de Parastacus pilicarpus. Imagem
original Google Maps; dados de Huber AF, et al. Nauplius 2018.
Fotos de um riacho na Reserva São Francisco, em Nova Veneza, SC, onde foram encontrados Parastacus pilicarpus.
Curso d´água onde foram localizados tocas de Parastacus pilicarpus, setor Amola Faca, Timbé do Sul, SC. Vale do Rio Araranguá. Imagens gentilmente cedidas por Jefferson Souza da Luz.
Aparência
Seu aspecto
lembra bastante os demais lagostins límnicos, com o corpo cilíndrico, primeiro
par de patas adaptadas na forma de robustas quelas, um abdômen longo e
musculoso terminando em urópodos dispostos em um leque caudal. Pernas
ambulatórias dispostas lateralmente, além das garras maiores, os dois primeiros
pares ambulatórios também possuem pequenas quelas.
Porém, uma
análise mais minuciosa mostra algumas adaptações para seus hábitos escavadores,
tendo um abdômen relativamente curto, devido à perda da sua importância como
estrutura locomotora. Os quelípodos são curtos e globosos, e os dáctilos se
movem em um plano vertical, para maior eficácia durante o processo de escavação
e transporte de material.
Medem até cerca de 6,5 cm. Coloração global marrom avermelhada. O rostro é marrom escuro. Flagelo antenal marrom claro. Quelípodos com região dorsal mais escura, assim como a porção proximal dos dáctilos. Pernas ambulatórias mais claras. As chaves de identificação mais recentes sugerem excluir inicialmente P. varicosus e P. saffordi das demais, dado que ambas possuem três características peculiares. O P. pilicarpus e demais espécies brasileiras possuem estas características: extremidade anterior da carena pós-orbital não terminando em um espinho, aréola não delimitada por carenas, e lobo basal do exopodito dos urópodos sem espinho. Daí avalia-se a margem posterior do telso, arredondada na presente espécie. Segue-se a análise dos pêlos nos quelípodos, P. pilicarpus possui tufos de longos pêlos no carpo distal, o que dá origem ao seu nome. Os quelípodos são achatados lateralmente, com margens cortantes dos dedos densamente cobertos por pêlos.
Possui a fronte larga, com rostro curto e triangular, extremidade em U invertido e desarmado. Carena rostral curta. Carenas pós-orbitais fracamente proeminentes. Aréola ampla, 2,5x longo quanto largo. Outras características exclusivas da espécie são o lobo anteromedial do epístoma heptagonal, tão longo quanto largo, e a margem lateral da escama antenal curvada com um forte espinho terminal.
Parastacus pilicarpus, fotografado na Reserva Biológica Estadual do Aguaí, em Nova Veneza, SC. Fotos de Caio Roberto Magagnin Feltrin.
Parâmetros
de Água
Habitam
ambientes bastante estáveis, são sensíveis a variações e condições inadequadas
de água. Por este motivo, os Parastacus muitas vezes são usadas por pesquisadores como
bioindicadores.
Como todos
os Parastacus, são sensíveis a altas
temperaturas, uma causa comum de insucesso na sua manutenção em cativeiro. São
mais comuns em águas neutras, de dureza média. Não há dados específicos, sabe-se que a temperatura média da Reserva São Francisco é de cerca de 25º C. Não há informações sobre as características físico-químicas da água, baseado em áreas vizinhas, provavelmente trata-se de ambientes com água ligeiramente ácida, de dureza média.
Parastacus pilicarpus, fotos de Jefferson Souza da Luz.
Dimorfismo Sexual e Reprodução
Todos os Parastacus
brasileiros são intersexuados, apresentando orifícios genitais
masculinos e femininos no indivíduo adulto, poro genital masculino no
coxopodito do pereiópodo 5, e poro feminino no coxopodito do pereiópodo 3.
Este aspecto morfológico estava presente em todos os P. pilicarpus coletados, sem diferença no seu aspecto externo, todos os indivíduos apresentando orifícios masculinos e femininos. Todos os lagostins têm fertilização
externa. Durante a cópula, o macho deposita seu espermatóforo na superfície
ventral da fêmea. Quando os oócitos maduros são liberados através dos gonóporos
femininos, o espermatóforo se dissolve e os espermatozóides ficam livres. Os
oócitos são então fertilizados externamente, e são agrupados em uma massa que é
fixada aos pleópodos por uma substância adesiva.
Os Parastacus produzem ovos de grandes dimensões,
apresentam desenvolvimento pós-embrionário direto, onde as fases larvais
completam-se ainda dentro do ovo. Na eclosão são liberados indivíduos já com
características semelhantes ao adulto, sem fase larval. Muito provavelmente
esta espécie mostra cuidado parental, os filhotes permanecem fixos aos
pleópodos da mãe, até ficarem independentes, mas ainda não há maiores dados sobre sua reprodução.
Parastacus pilicarpus, fotografado em Morro Grande, SC. Foto de Caio Roberto Magagnin Feltrin, extraída de Huber AF, et al. Nauplius 2018 (Licença Creative Commons).
Comportamento
Não há dados, baseado nos locais de coleta, supõe-se que se trate de uma espécie com hábitos fossoriais menos exacerbados, encontrado
em águas lênticas e lóticas de pequeno volume e correnteza fraca, ocultando-se
sob detritos nos remansos dos arroios ou entre as raízes da mata ciliar,
construindo suas galerias nas margens ou no fundo do leito dos cursos d´água.
Assim como os demais Parastacus, devem ter hábitos noturnos, deixando as suas habitações
subterrâneas para partir em busca de alimento no interior da água ou nos
ambientes emersos paludosos mais próximos. Como os demais crustáceos, tornam-se vulneráveis após a ecdise, e podem
ser predados por outros animais. Por este motivo, nesta época devem permanecer
entocados, até a solidificação completa da carapaça.
Parastacus pilicarpus, mostrando comportamento agonista. Fotos de Jefferson Souza da Luz.
Alimentação
Não há dados específicos, provavelmente são onívoros oportunistas, alimentando-se principalmente de detritos de origem vegetal.
Manutenção em cativeiro
Como já mencionado, os lagostins nativos são animais ameaçados, embora o Parastacus
pilicarpus não conste em relações oficiais como o Livro
Vermelho do Ministério do Meio Ambiente e IBAMA, pela sua descrição recente e carência de dados (DD
pelos critérios do IUCN). Desta forma, sugere-se fortemente que esta espécie não seja coletada
na natureza, ou criada em aquários.
Bibliografia:
- Buckup L. Família Parastacidae. In: Melo GAS. Manual de
Identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do Brasil. São Paulo:
Editora Loyola, 2003.
- Rudolph E, Almeida A. On
the sexuality of South American Parastacidae (Crustacea, Decapoda). Invertebrate
Reproduction and Development. 01/2000; 37:249-257.
- Rogers DC, Magalhães C, Peralta M, Ribeiro FB, Bond-Buckup G, Price WW, Guerrero-Kommritz
J, Mantelatto FL, Bueno A, Camacho AI, González ER, Jara CG, Pedraza M, Pedraza-Lara
C, Latorre ER, Santos S. Chapter 23 - Phylum Arthropoda: Crustacea:
Malacostraca. In: Thorp and Covich's Freshwater Invertebrates (Fourth Edition),
Editors: D. Christopher Rogers, Cristina Damborenea, James Thorp. Academic
Press, 2020. p. 809-986.
- Huber AF, Ribeiro FB, Araujo PB. New endemic species of freshwater
crayfish Parastacus Huxley, 1879 (Crustacea: Decapoda: Parastacidae) from the
Atlantic forest in southern Brazil. Nauplius. 2018; 26: e2018015.
Agradecemos ao amigo Jefferson Souza da Luz, e também aos colegas do Área Particular de Preservação Ambiental Reserva São Francisco (vejo o site aqui ), na pessoa do Sr. Sidney José Damiani, por nos permitir usar suas fotos no artigo. Em especial somos gratos a Caio Roberto Magagnin Feltrin, autor das fotos, também autor da foto na publicação de Huber AF e colaboradores.
A fotografia extraída de Huber AF, et al. Nauplius 2018 está licenciada sob uma Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
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