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"Cherax quadricarinatus"  
Artigo publicado em 14/08/2022, última atualização em 20/08/2022  


Lagostim de Garras Vermelhas Cherax quadricarinatus (Von Martens, 1868)

Nomes em inglês: Australian red claw crayfish, Queensland red claw, Redclaw, Tropical blue crayfish, Freshwater blue crayfish

 

Origem:

Sua distribuição nativa original é a região norte e nordeste da Austrália (Northern Territory e Queensland), e sudeste de Papua-Nova Guiné. É uma espécie introduzida em diversos países para aquicultura desde os anos 90, na América do Sul, presente no Equador, Peru, Uruguai, Paraguai e Argentina. Presente como invasor em diversos países, como África do Sul, Zâmbia, Israel, Espanha, EUA, México, Jamaica, Porto Rico, Equador, Paraguai, Indonésia, Malásia e Singapura. Exceto neste último (introduzido por aquariofilia), todas as demais introduções foram por aquicultura. É considerada a segunda espécie mais cosmopolita de lagostim, perdendo somente para o Lagostim-vermelho.

Etimologia: acredita-se que Cherax seja um erro de grafia com origem no grego "charax", uma estaca pontuda. O nome da espécie quadricarinatus refere-se às quatro carenas na porção anterior da carapaça, característica da espécie.

 

Características:

Espécie de grandes dimensões, podem atingir um comprimento máximo de 35 cm. Aspecto usual dos lagostins, corpo dividido em cefalotórax e um abdômen alongado, segmentado. Cinco pares de apêndices torácicos (pereiópodes), os três primeiros quelados, o primeiro par na forma de grandes garras simétricas, bastante desenvolvidas. Antenas longas e flexíveis.

Adultos costumam ter uma coloração-base de marrom escuro a verde-azulado, frequentemente entremeados por tons azulados. Áreas avermelhadas no corpo e articulações, e regiões laterais abdominais. Machos adultos possuem uma característica faixa vermelho-alaranjada viva na margem externa das quelas. Curiosamente, esta porção é uma membrana mole e não calcificada. As quatro carenas longitudinais na superfície dorsal da carapaça também são bastante características desta espécie.


Cherax quadricarinatus, fotografado em Tlaltizapán de Zapata, Morelos, México, onde também é encontrada como espécie invasora. Foto gentilmente cedida por Antonio Cabo. 



Dimorfismo sexual:

A melhor forma de distinção é através da análise da região ventral do abdômen. Nos machos, os dois primeiros pares de pleópodes são bem desenvolvidos, adaptados como órgãos copuladores. Nas fêmeas, o primeiro par é vestigial, e o segundo não tem qualquer modificação. Existem outras diferenças, como o gancho copulador nos machos durante a fase reprodutora, e as aberturas genitais, mas são de avaliação mais difícil. Como mencionado, há dimorfismo também na coloração e morfologia das quelas.

Esta espécie possui um número maior de indivíduos inter-sexo, estimada em 2-14%.


Cherax quadricarinatus, fotografado em sua distribuição nativa, em Lake Eacham, Queensland, Austrália. Foto gentilmente cedida por David Haintz. 


Habitat e Comportamento:

É um animal extremamente adaptável, tolerante e fecundo. Habita variados ambientes aquáticos, desde rios com correnteza rápida, lagos e lagoas, e lagoas marginais que sofrem alagamentos periódicos, chamados na Austrália de "billabongs". Preferem substrato rochoso com tocas onde podem se refugiar na muda.

Sua biologia nestes "billabongs" é interessante. São áreas que sofrem dessecação periódica, com águas estagnadas e eutrofizadas. Estes lagostins ficam confinados em pequenas piscinas rasas, onde co-existem em grande número até a próxima estação chuvosa. Desta forma, desenvolveram um comportamento gregário e pacífico, incomum em lagostins. Por este motivo, pode ser criada em cativeiro em maiores concentrações sem que haja canibalismo.

São onívoros, com dieta preferencial vegetal, destrói plantas ornamentais. Tornam-se vulneráveis após a ecdise, podendo ser atacados por peixes e outros animais. Não são escavadores.

Suporta moderada salinidade (12%o), ambientes bastante hipóxicos, temperaturas extremas (8 a 38° C) e algum grau de poluição. Habita também locais que sofrem alagamentos periódicos, entocado, sobrevive emerso por períodos prolongados. Pode migrar por locais secos quando a condição não é propícia. Longevidade de 4 a 5 anos. 

Assim como os demais crustáceos, realizam mudas (ecdises) para o crescimento, abandonando sua carapaça antiga. As ecdises são mais frequentes em animais juvenis. Antes da ecdise, o lagostim adquire uma coloração mais escura, e suspende sua alimentação. 


Cherax quadricarinatus, fêmea com filhotes, fotografada em Laguna de Santa María del Oro, Nayarit, México, onde também é encontrada como espécie invasora. Foto gentilmente cedida por Elias Arcadia Nay Exp. 


Reprodução:

A reprodução é sexuada, em qualquer época do ano, mas é mais comum ao final da primavera e início do verão. A reprodução em si se inicia com uma dança nupcial, onde o macho corteja a fêmea, e termina suavemente colocando-a com seu ventre para cima. Há a deposição do espermatóforo em uma estrutura localizada entre a base das pernas posteriores, chamada de annulus ventralis, que é o receptáculo seminal (não é o póro genital). Algumas semanas a meses depois, a fêmea se entoca e termina a maturação dos ovos, libera-os, e neste momento são fertilizados. 

Uma fêmea grande pode produzir até 300 a 800 ovos de cor verde-oliva. Estes permanecem fixos nos pleópodes abdominais, e o período de incubação dura de 6 a 8 semanas. Após nascerem, os filhotes permanecem fixos à região abdominal da fêmea, caracterizando cuidado parental. 


Cherax quadricarinatus, grande macho adulto fotografado em Islands, Hong Kong, onde também é encontrada como espécie invasora. Foto gentilmente cedida por Tse Chung Yi. 



Como espécie exótica no Brasil:

Em Agosto de 2022, nossa equipe recebeu informações sobre a presença desta espécie no Rio Paraná, em Panorama, SP na divisa com MS. Trata-se de uma coleta isolada, ainda não há informações sobre populações estabelecidas. Lembrando que já há registros de populações ferais no Paraguai, mas este é a primeira documentação da ocorrência no Brasil.


Cherax quadricarinatus, fotografado em Panorama, SP. Fotos gentilmente cedidas pelo autor, que nos permitiu sua publicação. 


 

 

Bibliografia:

  • https://www.cabi.org/isc/datasheet/89135#tosummaryOfInvasiveness

  • https://www.fao.org/fishery/en/culturedspecies/Cherax_quadricarinatus



Agradecimentos especiais ao aquarista Bruno Krinas de Oliveira, pela intermediação sobre a publicação das fotos do lagostim exótico de Panorama, e valiosas informações. Somos gratos também ao autor anônimo das fotos por permitir sua publicação. Agradecimentos também aos colegas fotógrafos do iNaturalist Antonio Cabo (México), Elias Arcadia Nay Exp (México), Tse Chung Yi (Hong Kong) e David Haintz (Austrália) que nos permitiram publicar suas fotos.



 As imagens de Antonio CaboElias Arcadia Nay ExpTse Chung Yi e David Haintz (iNaturalist) estão licenciadas sob uma  Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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