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Lagostim mármore  
Artigo publicado em 10/01/2012, última edição em 07/03/2015  



Procambarus fallax (Hagen, 1870) f. virginalis

 

 

 


Importante!!

 

A importação de todas as espécies de Lagostins estão proibidas pelo IBAMA, inclusive o Marmorkrebs, com penas variáveis previstas por lei. Porém, há registros de importações ilegais recentes de algumas espécies, incluindo esta, disponibilizando-as em redes sociais, ou até mesmo em lojas. É importante lembrar que, além do aspecto legal, o Marmorkrebs tem um potencial invasor extremamente alto, maior ainda do que o Procambarus clarkii. Desta forma, sugerimos fortemente que se evite a compra e criação desta espécie.

 





O Lagostim-Mármore é um animal misterioso de origem norte-americana, cuja primeira aparição no comércio de animais de aquário foi na Alemanha, em meados dos anos 90. Foram batizados de Marmorkrebs (alemão, “lagostim marmóreo”), devido à sua característica padronagem de cor, com pequenas manchas irregulares sobre um fundo de cor clara. Atinge cerca de 8 cm.


A primeira menção em literatura científica data de 2002, mas somente em 2010 a espécie foi identificada. Usando ferramentas morfológicas e genéticas, Dr. Martin e colegas o identificaram como uma forma partenogênica do Procambarus fallax (Hagen, 1870), propondo o nome científico de Procambarus fallax f. virginalis. Desta forma, sua distribuição nativa presumida é a região sudeste subtropical da América do Norte, Flórida e sul da Geórgia. Porém, é de nota que nestas localidades, o P. fallax selvagem é gonocórico e com reprodução sexuada. De onde surgiu esta variante partenogênica ainda é um grande mistério.


São lagostins bastante atípicos em dois aspectos: é o único crustáceo decápode que se conhece que tem um padrão reprodutivo obrigatório por partenogênese apomítica: só existem fêmeas, que geram ovos não-fertilizados, que se desenvolvem em filhotes geneticamente idênticos à mãe (clones). Nenhum macho foi identificado em laboratório, ou em populações introduzidas. E não se conhecem populações selvagens desta variedade. Todas as populações conhecidas em ecossistemas naturais são resultado de introdução humana.


Em 2003 foram identificados animais introduzidos na natureza na Europa, em 2009 em Madagascar, e em 2010 no Japão. A via quase exclusiva de introdução na natureza é a liberação intencional de animais de aquário. Sua bela aparência, robustez, baixa manutenção, e facilidade de reprodução tornaram esta espécie bastante atrativa para aquaristas. Porém, devido ao seu peculiar padrão reprodutivo, frequentemente havia superpopulação em aquários, levando os criadores a desprezarem o excesso de animais na natureza. Como agravante, são bastante agressivos e destroem plantas, aumentando o risco de aquaristas desavisados adquirirem esta espécie e se fartarem deles pouco após. Mesmo na natureza, o potencial invasor desta espécie é elevadíssimo, um único animal liberado pode gerar uma nova colônia. Cientistas de Madagascar (onde grandes populações estabelecidas são encontradas) costumam chamar esta espécie de "O Invasor perfeito".


Por outro lado, poucas populações estabelecidas são encontradas na Europa (quase todas na Alemanha, identificadas desde 2010, e raros focos nos Países Baixos, Eslováquia e Suécia), apesar de múltiplos registros de indivíduos isolados (além dos países citados, também na Itália). A explicação mais provável é o clima, lembrando que é uma espécie subtropical, com uma tolerância baixa para temperaturas mais frias. Neste aspecto, o clima do Brasil seria bastante favorável para o estabelecimento de populações invasoras.


Antes da proibição pelo IBAMA/MMA, ocorreram importações de diversas espécies de lagostins exóticos para o Brasil, incluindo-se esta espécie. Há, pelo menos uma importação bem documentada para o estado de Minas Gerais. Após a proibição, não há registro de criação desta variedade, seja de filhotes de animais importados naquela ocasião, seja por novas importações ilegais. Solicitamos a todos que se atentem a esta espécie de lagostim, além do aspecto ilegal, pelo seu elevadíssimo potencial invasor. 

 

Nos últimos anos, outra modalidade que tem crescido é a criação de Marmorkrebs como alimento vivo, para grandes peixes carnívoros e tartarugas. Isto inclui a criação em lagos e tanques ao ar livre, com maior risco de liberação. Assim como o P. clarkii, existem registros de migrações do Marmorkrebs em terra firme, o que contribui ainda mais para o potencial de dispersão desta espécie.


Além da questão direta envolvendo invasão, existe um importante agravante no Marmorkrebs, que é o seu papel como vetor de doenças. Não há nenhuma evidência direta de que o Marmorkrebs possa carrear o fungo Aphanomyces astaci, agente da “praga do lagostim”. Mas é plausível considera-lo como um provável vetor, dado que todas as espécies testadas de lagostins norte-americanos mostraram-se capazes de agir como carreadores crônicos assintomáticos deste germe. Pode carrear também o agente causador da Quitridiomicose (uma doença grave de anfíbios), e também o WSSV (vírus da Doença da Mancha Branca, que acomete camarões).











Bibliografia:

  • Chucholl C, Morawetz K, Groß H (2012) The clones are coming – strong increase in Marmorkrebs [Procambarus fallax (Hagen, 1870) f. virginalis] records from Europe. Aquatic invasions 7(4): 511–519.
  • Bohman P, Edsman L, Martin P, Scholtz G. The first Marmorkrebs (Decapoda: Astacida: Cambaridae) in Scandinavia. BioInvasions Records (2013) 2(3): 227–232.
  • Faulkes Z, Feria TP, Muñoz J. Do Marmorkrebs, Procambarus fallax f. virginalis, threaten freshwater Japanese ecosystems? Aquatic Biosystems 2012, 8:13.
  • Chucholl C. Predicting the risk of introduction and establishment of an exotic aquarium animal in Europe: insights from one decade of Marmorkrebs (Crustacea, Astacida, Cambaridae) releases. Management of Biological Invasions (2014) 5(4): 309–318.



Fábio Silva, Walther Ishikawa e Fernando Tsukumo

 
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