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"Pomacea diffusa"  
Artigo publicado em 26/03/2012, última edição em 16/02/2023  
Pomacea (Pomacea) diffusa
Blume, 1957




Pomacea bridgesii (Reeve, 1856) e Pomacea diffusa Blume, 1957 têm sido considerados como sendo a mesma espécie por muito tempo. Hoje se sabe que são espécies distintas, baseado na análise de DNA. Pomacea bridgesii é uma espécie mais rara, que tem uma distribuição geográfica bastante restrita: o Rio Grande e Rio Reyes, no departamento de Beni (Bolívia). A Pomacea diffusa é uma espécie bem mais comum, e habita quase toda a Bacia Amazônica. E também é esta última que é comumente vendida em lojas de aquarismo.


A Pomacea bridgesii é uma espécie relativamente grande (altura da concha de 65 mm ou mais), enquanto a Pomacea diffusa é muito menor, tem uma espira muito mais pronunciada, e uma concha com coloração mais escura. Algumas fontes descrevem ovos amarelados, diferentes dos ovos rosados da P. diffusa.




Pomacea bridgesii, espécie irmã do Pomacea diffusa, exemplares bolivianos. O P. diffusa é muitas vezes identificado erroneamente como P. bridgesii. Fotos de Kenneth Hayes.



Assim como existe o "complexo canaliculata", alguns autores classificam esta espécie dentro do "complexo bridgesii", um grupo de ampularídeos que tem traços anatômicos em comum, muitas vezes sendo bastante difícil a distinção das espécies dentro deste grupo. Das espécies brasileiras, faz parte também deste grupo o P. scalaris. Este caramujo possui concha parecida, mas seu ombro é ainda mais angulado, com um aspecto quase carenado. Sua distribuição também é mais ao Sul do que o P. diffusa.


No Brasil, animais de aquário são popularmente conhecidos simplesmente como “Ampulárias”. Em outros países os ampularídeos arredondados são chamados de “Apple Snails”, e esta espécie de “Spiketop Apple Snails”. No meio de aquariofilia, é chamada cada vez mais de “Mystery Snails”, um nome popular originalmente empregado para outra espécie (Cipangopaludina chinensis), mas não é um nome empregado no Brasil. Frequentemente são chamados de forma errada de “Corbículas”, na realidade este é nome de alguns Bivalves de água doce (sua ficha pode ser vista  aqui ). Ocorre como espécie invasora nos EUA. 


A vasta maioria das Ampulárias vendidas no comércio é da espécie Pomacea diffusa, um animal que não se alimenta de plantas ornamentais. Ampulárias do complexo canaliculata são encontradas mais raramente, em geral são animais selvagens coletados na natureza. Mas a distinção com o P. diffusa é importante, devido ao apetite voraz dos animais do complexo canaliculata, destruindo plantas ornamentais. A forma mais simples de se fazer esta distinção é através de alguns detalhes das conchas, como na figura abaixo:


Pomacea diffusa                         Pomacea canaliculata

Pomacea diffusa: ombros achatados e suturas de 90°. Pomacea canaliculata: suturas chanfradas, ângulo menor de 90°. Esta concha também é mais globosa do que a concha de Pomacea diffusa. Ilustrações de Stijn Ghesquiere.




Concha: A concha desta Ampulária tem cerca de cinco a seis giros. A característica mais marcante das suas conchas é o seu ombro quadrado (reto na borda superior dos giros) e suturas com uma angulação quase reta (suturas em 90°). A abertura da concha é ampla e oval, e o umbilicus é amplo e profundo. O tamanho destes caramujos varia de 40 a 50 mm de largura, e 45 a 65 mm de altura. O ápice é alto e agudo, daí seu nome popular em inglês.


A cor varia de amarelo, verde a marrom, com ou sem faixas escuras espiraladas (muita variação existe). Devido à criação seletiva, mutações brancas e azuis foram obtidas nos últimos anos. A variedade amarela é bem conhecida no comércio americano como golden mystery snail. Esta variedade foi inicialmente desenvolvida na Flórida, EUA, e hoje é disponível em todo mundo. Veja um artigo sobre as variedades de cores desta espécie  aqui .



Pomacea diffusa, exemplar de aquário, foto de Bill George.


Pomacea diffusa, variedade amarela (dourada). Foto de Leonard.

 



Pomacea diffusa, variedade amarela (dourada) na primeira imagem, e amarelo-negro na segunda. Esta segunda variedade não tem o pugmento escuro na concha, somente a cor amarelada. Fotos de Stijn Ghesquiere.



Pomacea diffusa, variedade azul. Na realidade a concha é despigmentada, mas o corpo negro deixa a concha com um aspecto azulado. Fotos de Stijn Ghesquiere.

 



Pomacea diffusa, variedade branca na primeira foto (marfim), e selvagem na segunda. Na primeira  variedade, há uma ausência quase total de pigmentação. Fotos de Stijn Ghesquiere.




Opérculo: O opérculo tem uma espessura média e um aspecto córneo. Sua estrutura é concêntrica com o núcleo próximo do centro da concha. A cor varia de tons claros (em animais jovens) até marrom escuro. O opérculo pode ser retraído na abertura da concha.

Corpo: Assim como a concha, muitas variedades existem: de amarelo claro (criado) até quase preto com manchas amareladas na boca.




Pomacea diffusa, a boca e rádula são bem visíveis neta imagem. Foto de Cinthia Emerich.



Pomacea diffusa, exibindo seu longo sifão. Foto de Cinthia Emerich.


Reprodução:

Ovos: os ovos rosa pálidos ou avermelhados são depositados acima da linha d´água. Suas dimensões variam de 2,2 a 3,5 mm de diâmetro. Uma postura média contém 200 a 600 ovos, formando um cacho denso e compacto, ovos comprimidos em formas poligonais, com aspecto de "colméia". Um artigo sobre a sua reprodução pode ser vista  aqui .

Assim como outras Pomacea, seus ovos são ricos em carotenoproteínas estáveis relacionadas à defesa contra predadores e estressores ambientais. No caso das espécies do clado-diffusa, são proteínas não-digeríveis que reduzem o valor nutricional destes ovos, uma lectina muito semelhante àquela encontrada em plantas, um achado único no Reino Animal.  




Cópula de Pomacea diffusa, variedade selvagem encontrada como espécie invasora na Flórida, EUA. Foto de Bill Frank.


Cópula de Pomacea diffusa, foto de Cinthia Emerich.





Massa de ovos de Pomacea diffusa, encontrada como espécie invasora na Flórida, EUA. Foto de Bill Frank.



Pomacea diffusa no momento da desova, foto de Cinthia Emerich.


Desova de Pomacea diffusa, foto de Cinthia Emerich.


GIF animado mostrando a desova de Pomacea diffusa, foto de Cinthia Emerich.


Ovos eclodindo, foto de Cinthia Emerich.



Ovos de Pomacea diffusa em eclosão, foto de Cinthia Emerich.



Pequenina Ampulária Pomacea diffusa recém-nascida. Foto de Cinthia Emerich.



Filhote de Pomacea diffusa em aquário, foto de Rafael Senfft.



Alimentação: Prefere plantas mortas e em decomposição, se alimenta também de de rações para peixes ornamentais. Não destrói plantas ornamentais, a não ser que nenhum outro alimento esteja disponível. Isto torna o P. diffusa uma boa opção para aquários plantados.


Comportamento: animal moderadamente anfíbio, permanece relativamente inativo durante o dia. Muitas vezes é visto no fundo do aquário procurando por comida ou restos oculto em meio aos detritos. É mais ativo durante a noite.



Pomacea diffusa em aquário comunitário, foto de Rafael Senfft.



Pomacea diffusa em aquário, foto de Rafael Senfft.


Parâmetros ambientais: A atividade deste caramujo varia bastante com a temperatura da água. A temperatura ideal é estimada em 25°C, em temperaturas mais baixas eles permanecem imóveis, e abaixo de 15°C não há atividade reprodutiva. 


Possuem alguma resistência à salinidade, suportam cerca de 14 dias em salinidades de até 8%o. 




Pomacea diffusa, coletada na natureza em Beach Boulevard, encontrada como espécie invasora na Flórida, EUA. Foi criado por cerca de 1 ano e meio em aquário. Foto de Bill Frank.




Outros exemplares coletados na Flórida, EUA. Foto de Bill Frank.




Distribuição geográfica de Pomacea diffusa no Brasil. Imagem original Google Maps; dados de Simone LRL 2006 e Agudo-Padrón AI 2008.



Habitat e distribuição: Pomacea diffusa é amplamente distribuída na América do Sul, principalmente na Bacia Amazônica (Bolívia, Brasil, Paraguai e Peru). No Brasil, esta espécie é encontrada no estado do AM.

Foi introduzido nos anos 60 no Havaí, e nos anos 80 no sudeste asiático. Populações deste caramujo também se estabeleceram no Sul dos Estados Unidos desde o início dos anos 80, e também na Sri Lanka e Austrália. São encontrados também em outros países sulamericanos onde não são nativos (Colômbia, Guiana Francesa e Venezuela), e estados brasileiros não-nativos (PA, PE, RN, RJ e SC).























Pomacea diffusa
, fotografada na natureza, no Rio Pacaya, em Pacaya Samiria, no Peru. Foto de Peter Petersen.



Bibliografia adicional:

  • Simone LRL. 2006. Land and Freshwater Molluscs of Brazil. EGB, Fapesp. São Paulo, Brazil. 390 pp.
  • Agudo-Padrón AI. 2008. Listagem sistemática dos moluscos continentais ocorrentes no Estado de Santa Catarina, Brasil. Comunicaciones de la Sociedad Malacológica del Uruguay, Montevideo, 9(91): 147-179.
  • Cazzaniga NJ. 2002. Old species and new concepts in the taxonomy of Pomacea (Gastropoda: Ampullariidae). Biocell, 26(1): 71-81.
  • Hayes K. A., Cowie R. H. & Thiengo S. C. (2009). A global phylogeny of apple snails: Gondwanan origin, generic relationships, and the influence of outgroup choice (Caenogastropoda: Ampullariidae). Biological Journal of the Linnean Society 98(1): 61-76.
  • http://www.conchasbrasil.org.br/
  • Hayes KA, Cowie RH, Jørgensen A, Schultheiß R, Albrecht C, Thiengo SC. Molluscan Models in Evolutionary Biology: Apple Snails (Gastropoda: Ampullariidae) as a System for Addressing Fundamental Questions. American Malacological Bulletin 27(1-2):47-58. 2009.
  • Bernatis JL, Mcgaw IJ, Cross CL. Abiotic tolerances in different life stages of apple snails Pomacea canaliculata and Pomacea maculata and the implications for distribution. (2016). Journal of Shellfish Research 35(4), 1013-1025.
  • Joshi RC, Cowie RH, Sebastian LS. (eds.) 2017. Biology and Management of Invasive Apple Snails. Philippine Rice Research Institute, Muñoz, Nueva Ecija. xvii + 405 p.
  • Brola TR, Dreon MS, Qiu JW, Heras H. A highly stable, non-digestible lectin from Pomacea diffusa unveils clade-related protection systems in apple snail eggs. J Exp Biol. 2020 Oct 8;223(Pt 19):jeb231878.



Esta ficha foi adaptada do portal  applesnail.net , possivelmente o melhor banco de dados de Ampulárias que existe na internet. Agradecimentos a Stijn Ghesquiere, responsável pelo portal, por permitir o uso do material e foto. Agradecemos também ao colega malacologista Aisur Ignacio Agudo-Padrón pela consultoria técnica, ao Dr. Kenneth Hayes, Dr. Peter Petersen (Dinamarca, veja sua página  Amazonas ) e Bill Frank ( Jacksonville Shell Club ), pela cessão das fotos.


As fotografias de Stijn Ghesquiere, Kenneth Hayes e Cinthia Emerich estão licenciados sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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