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"Pomacea megastoma"  
Artigo publicado em 09/04/2012, última edição em 20/11/2022  

Pomacea (Pomella) megastoma (Sowerby, 1825)






Juntamente com a Pomacea americanista, esta espécie de ampularídeo era inicialmente classificada no gênero Pomella (Gray, 1847). Na ocasião, algumas autoridades as consideram como sendo um sub-gênero de Asolene (d'Orbigni, 1837), por ter sido observado um sifão respiratório médio a curto, e similaridades na sua anatomia interna. Porém, além de diferenças no tamanho e forma das conchas, desde o início era visto que os ovos destas espécies eram depositados fora d´água, de forma similar aos Pomacea, mas diferente dos Asolene. O gênero Pomella ainda tem uma terceira espécie, Pomella sinamarina, que mostra características bem peculiares, provavelmente um gênero específico.

Estudos genéticos e moleculares realizados em 2009 por Hayes et al. baseados na análise de cinco genes (três nucleares e dois mitocondriais) mostrou que esta espécie está inserido no gênero Pomacea, dentro do clado canaliculata.



A Pomacea megastoma é uma espécie relativamente grande (altura da concha de 65 mm, podendo atingir 115 mm), adaptada a rios de leito rochoso e rápida correnteza, o que explica muitas de suas peculiaridades anatômicas.


Existe uma curiosidade muito interessante, sobre a origem do nome do país "Uruguai". É uma palavra com origem Guarani, a tese mais aceita é que seja composta de Uruguá (= caracol, caramujo) e i (= água, rio), uma alusão aos numerosos Pomacea megastoma que eram encontrados no país, inclusive grande quantidade de conchas nos locais de sepultamento das populações indígenas nativas, que usavam estes moluscos como alimentos e em rituais. Em alguns locais são chamados de Caracol Ñato (algo como "nariz achatado").







Quatro conchas de Pomacea megastoma, mostrando variações na sua forma e cor. Fotos de José Liétor Gallego.


Concha: P. megastoma possui uma concha muito grande, tão largo quanto alto, com uma grande abertura, maior ainda do que o último giro. O ápice é achatado, quase inexistente. Em conchas maiores, o ápice costuma ser bastante erodido. Tem aspecto nitidamente neritóide (o último giro corresponde à maior parte do volume da concha ocupada pelo animal).

A concha é relativamente espessa e pesada, apesar de parecer frágil à primeira vista. Sua superfície é áspera e o umbilicus é bastante estreito, muitas vezes fechado.

Possui dimorfismo sexual na concha, nas fêmeas a borda anterior da concha cresce perpendicular à superfície do substrato, enquanto que nos machos o ângulo é agudo.


A cor varia do verde ao marrom claro, sem ou somente com um tênue padrão de faixas. A concha é branca por dentro, com um tênue tom violeta.








Pomacea megastoma, Sede Capela, Itapiranga, SC (01/2012). Concha com cerca de 7,3 cm. Imagens cedidas pelo "Projeto Avulsos Malacológicos", fotos de Paulo Lenhard.





Pomacea megastoma, coletada no Rio de la Plata, Isla Martin Garcia, Argentina, concha com cerca de 8,0 cm. Imagem cedida por Susana Escobar.



Opérculo: O opérculo tem uma espessura média e um aspecto córneo. Sua estrutura é concêntrica com o núcleo próximo do centro da concha. A cor varia de marrom escuro a negro. O opérculo pode ser retraído na abertura da concha, mas não recobre a ampla abertura. Possui dimorfismo sexual no formato do opérculo, em adultos. Nas fêmeas, todo o opérculo é côncavo, enquanto que nos machos, a sua borda externa tem uma curvatura convexa.


Corpo: Marrom até quase preto, com manchas amarelas no dorso do pé e em torno da cabeça.

A cabeça é grande e relativamente larga (os olhos e tentáculos ficam afastados), os tentáculos têm um comprimento médio e são relativamente grossos. Os olhos são pequenos se comparados com outros Ampularídeos, na forma de dois pequenos pontos enegrecidos. Muitas fontes descrevem um sifão respiratório pequeno, ou mesmo rudimentar. Mas espécies criadas em cativeiro mostram um sifão plenamente desenvolvido, talvez estas observações iniciais reflitam um uso menor de respiração aérea do que outras Pomacea




Pomacea megastoma. Fotos de Stijn Ghesquiere.





Reprodução:
Ovos: Os ovos são depositados fora d´água na forma de uma massa calcária rósea-salmão, geralmente fixa em superfícies rochosas lisas e planas. São ovos grandes, com diâmetro médio de 3,8 mm, número bastante variado por cachos, de 163 a 1075. Os ovos são redondos e fracamente aderidos entre si. O tempo médio de desenvolvimento é de 16 dias, e os bebês nascem com 3,1 mm de concha. Realizam poucas cópulas ao longo da vida.







Desova de Pomacea megastoma, fotografada em Colonia del Sacramento, Colonia, Uruguai. Fotos de Rafael Tosi.



Comportamento: Assim como o P. americanista, esta espécie de Pomacea é encontrada tipicamente em rios de rápida correnteza e leito rochoso, são curiosas exceções aos típicos habitats ocupados pelas Pomacea, que preferem locais de água estagnada e sem correnteza. São ambientes de água fria e elevada taxa de oxigenação, o que explica o pouco uso do sifão respiratório, possivelmente estas ampulárias têm uma proporção de respiração branquial muito maior do que as demais Pomacea (que essencialmente usam respiração pulmonar). Longevos, sua expectativa de vida é estimada em cerca de 4 anos.






Detalhes da anatomia de
Pomacea megastoma. Na primeira foto, o pneumostoma (abertura pulmonar) em (1) e a cavidade pulmonar em (2). A segunda foto mostra um close da cavidade pulmonar, com riqueza de vasos sanguíneos. A terceira imagem mostra o ctenídeo (guelra ou brânquia), com finos filamentos que aumentam a área de troca gasosa. Fotos de Stijn Ghesquiere.


Pomacea megastoma
habita principalmente o fundo e locais sombreados no seu habitat. A concha é mantida próxima ao solo, e devido à sua concha com formato achatado e grande pé, é difícil remover o caramujo de uma superfície sólida. Compreensível para um caramujo que vive em rios com forte correnteza.

Caminha lentamente sobre estas superfícies rochosas, mantendo a porção anterior da concha praticamente encostada no substrato, para otimizar sua hidrodinâmica em meio à correnteza. A cabeça achatada, com olhos e tentáculos nas bordas externas, permite ao caramujo manter os olhos fora da concha, mesmo enquanto a borda da concha toca a superfície na região anterior.




Pomacea megastoma, coletado no norte do Rio Uruguai, departamento de Salto, Uruguai. Mede 78 mm. Fotos de Bill Frank.





Distribuição geográfica de Pomacea megastoma. Imagem original Google Maps; dados de Simone LRL 2006.



Distribuição: Assim como P. americanista, a espécies tem ocorrência registrada no Brasil, Argentina e Uruguai, no Brasil, são encontrados nos estados do RS, SC e PR.

Porém, levantamentos mais recentes mostram que P. megastoma habita somente a bacia do Rio Uruguai, demonstrando que ela é praticamente restrita à margem esquerda dos Rios Uruguai e La Plata devido às suas requisições ambientais. Desta forma, há autores que questionam sua presença em território argentino.


 








 









Pomacea megastoma, fotografada em Colonia del Sacramento, Colonia, Uruguai. Fotos de Rafael Tosi.



Manutenção em aquários: Não são espécies com interesse ornamental, desta forma, praticamente não são encontradas à venda em lojas de aquarismo.


Existem alguns poucos relatos de tentativas de manutenção em cativeiro, tanto por aquaristas quanto biólogos, descrevendo dificuldade de criação em cativeiro. Inicialmente se pensava que isto fosse decorrente dos requerimentos específicos que esta espécie tem, por viverem em habitats de água fria, corrente e elevada taxa de oxigenação, dificilmente reproduzíveis em cativeiro. Mas experiências mais recentes têm mostrado que um substrato sólido e livre de sedimentos parece ser a necessidade principal, com relatos de sucesso em aquários sem correnteza ou aeração.






Bibliografia adicional:

  • Simone LRL. Comparative morphology and phylogeny of representatives of the superfamilies of architaenioglossans and the Annulariidae (Mollusca, Caenogastropoda). Arquivos do Museu Nacional, 2004,62(4):387-504.
  • http://www.conchasbrasil.org.br/
  • Hayes K. A., Cowie R. H. & Thiengo S. C. (2009). A global phylogeny of apple snails: Gondwanan origin, generic relationships, and the influence of outgroup choice (Caenogastropoda: Ampullariidae). Biological Journal of the Linnean Society 98(1): 61-76.
  • Agudo-Padrón AI. 2013. Shelling in the Upper Uruguay River Basin Region, Northwestern Rio Grande do Sul State, Southern Brazil. Ellipsaria, 15(1):16-21.
  • Agudo-Padrón AI. 2013. New Geographical Record of the Neotropical Apple Snail Asolene (Pomella) megastoma (Sowerby, 1825) in the Upper Uruguay River Basin, Southern Brazil. Ellipsaria, 15(1):21-24.
  • Rumi A Gregoric DEG, Núñez V, Darrigran GA. Malacología Latinoamericana: Moluscos de agua dulce de Argentina. Rev. biol. trop, San José, v. 56, n. 1, Mar. 2008.
  • Agudo-Padrón AI. 2009. Recent Terrestrial and Freshwater Molluscs of Rio Grande do Sul State, RS, Southern Brazil Region: A Comprehensive Synthesis and Check List. Visaya April 2009, pages 1-13.
  • Cocchi I, Gutiérrez R. En el país de los caracoles Uruguay. Livro digital. http://enelpaisdeloscarcoles.webnode.es/
  • Kyle CH, Plantz AL, Shelton T, Burks RL. Count your eggs before they invade: identifying and quantifying egg clutches of two invasive apple snail species (Pomacea). PLoS One. 2013 Oct 16;8(10):e77736.
  • Martín PR, Burela S, Tiecher MJ. 2013. Insights into the natural history of ampullariids from the lower Rio de la Plata Basin, Argentina. IUCN/ SSC Newsletter Tentacle, (21): 11-13.
  • Gurovich FM, Burela S, Martín PR. First description of egg masses, oviposition and copulation of a neglected apple snail endemic to the Iguazú and Alto Paraná Rivers. Molluscan Research 2017, 37(4): 242-251.
  • Burela S. Historia natural, ciclo de vida y distribución de tres caracoles dulceacuícolas de fondos duros del género Pomacea de la mesopotamia argentina. Tesis doctoral, Departamento de Biología, Bioquímica y Farmacia, Universidad Nacional del Sur. Bahía Blanca, 2021.



Esta ficha foi adaptada do portal  applesnail.net , possivelmente o melhor banco de dados de Ampulárias que existe na internet. Agradecimentos a Stijn Ghesquiere, responsável pelo portal, por permitir o uso do material e fotos. Agradecemos também a Aisur Ignacio Agudo-Padrón, coordenador do portal  Notícias Malacológicas pela cessão de fotos, e ao fotógrafo Paulo Lenhard. Finalmente, agradecemos também a Bill Frank ( Jacksonville Shell Club ), Jose Liétor Gallego ( El Rincón del Malacólogo ), Susana Escobar (Argentina, responsável pelo blog Moluscos Dulceacuicolas de Argentina ) e o colaborador do iNaturalist Rafael Tosi (Uruguai) por permitir o uso das suas fotos.


As fotografias de Stijn Ghesquiere, Susana Escobar e Rafael Tosi (iNaturalist) estão licenciados sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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