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Neritina zebra  
Artigo publicado em 30/01/2012, última edição em 27/03/2022  



Nome popular: Neritina zebra, Birosca

Nome científico: Neritina (Vitta) zebra (Bruguière, 1792)

Família: Neritidae

Origem: Restrito à costa atlântica da América do Sul, da Venezuela ao Brasil (RJ). 

Sociabilidade: Grupo

pH: 7.0 a 8.0

Temperatura: 24 a 28ºC

Dureza da água: Dura

Tamanho adulto: 2,5 cm

Alimentação: herbívoro - plantas em decomposição e algas

Dimorfismo sexual: o macho possui um complexo peniano como nas Ampulárias, e a fêmea possui dois gonoporos, um para a saída dos ovos e outro para a entrada do espermatóforo.

Comportamento: Pacífico


 

As Neritinas são pequenos caramujos bastante coloridos, originários de mangues / estuários, mas que se adaptam bem a aquários de água doce. Possuem uma concha globosa e semi-esférica, com espira baixa, de aspecto porcelanoso e não-nacarado, com superfície lisa e polida. São excepcionais algueiros, mas têm o inconveniente de depositarem cápsulas de ovos nos vidros, rochas, etc. A maioria dos autores considera duas espécies com ocorrência no Brasil, Neritina zebra e Neritina virginea.

            A “Neritina zebra” (Neritina zebra) tem uma concha com coloração variando de amarelo-oliva a marrom escuro, com listras axiais de cor preta, que podem ser retas, curvas ou em zigue-zague, e uma linha preta fina margeando a sutura. Seu opérculo é preto azulado a marrom-claro. O corpo é marrom escuro listrado acompanhando o padrão da concha. Possui tentáculos finos e longos, também com listras pretas longitudinais. Estes tentáculos podem passar o tamanho do corpo delas em comprimento e só ficam à mostra quando se sentem seguras, normalmente em aquários, com peixes que as importunem, elas mantém os tentáculos protegidos sob a concha, mas quando em aquário específico para elas (mantenho um grupo de cerca de 30 espécimes em um cubo próprio, sem peixes), deixam seus longos tentáculos expostos.

 



Variações na padronagem das conchas de Neritina zebra, animais coletados na Guiana, os da primeira linha medem 12 e 13 mm, e os da segunda 17 e 19 mm. Fotos gentilmente cedidas pela Associação Francesa de Conquiliologia.




Neritina zebra,
20 mm, exemplares brasileiros. Fotos de Thomas Eichhorst, portal Neritopsine Gastropods (Licença Creative Commons, veja link no final do artigo).



Um erro comum é chamar esta espécie de Neritina natalensis. Esta espécie africana possui coloração e padronagens bastante variáveis, raramente pode apresentar faixas que lembrem a Neritina zebra, mas o mais comum é que tenha manchas irregulares escuras. Soma-se o fato de que importações de invertebrados estuarinos africanos são bem incomuns, devendo se tratar de um erro de identificação. Não é claro de onde surgiu o erro, mas é mais um dos inúmeros exemplos de erros publicados em sites conceituados que se propagaram e se perpetuaram na internet.





Neritina natalensis,
17 mm, exemplares de Mauritius, Moçambique e Natal. Fotos de Thomas Eichhorst, portal Neritopsine Gastropods (Licença Creative Commons, veja link no final do artigo). Veja que não há nenhuma semelhança com a N. zebra.



Na realidade, algumas outras espécies de “Neritinas” com este padrão zebrado são encontradas no comércio de aquarismo em outros países. Uma espécie asiática que é importada com alguma frequência é a Neritina (Vittina) turrita. Esta espécie tem uma cor semelhante à Neritina zebra, e também um padrão zebrado. Porém, a forma da concha é distinta, com ápice mais elevado, e as faixas enegrecidas são mais largas. Uma das espécies da mesma região mais importadas para o mercado internacional é a Neritina (Vittina) waigiensis, com grande variedade de cores e padrões, algumas delas parecidas com a Neritina zebra.





Neritina turrita,
25 mm, exemplares de Indonésia e Tailândia. Fotos de Thomas Eichhorst, portal Neritopsine Gastropods (Licença Creative Commons, veja link no final do artigo).



Outras espécies são ainda mais semelhantes, indistinguíveis da Neritina zebra. Nos EUA, uma espécie comum no mercado (chamada de “Olive Nerite” e “Black Marble Snail”) é a Neritina usnea, uma espécie bem próxima do Neritina zebra, encontrada desde a Flórida até o Caribe e Golfo do México. No comércio de conchas ornamentais, esta espécie é chamada de “Nerita columbella”, um nome científico que sequer existe. Do Pacífico, outra espécie bastante parecida é a Neritina (Vitta) sobrina, e uma espécie local relativamente comum no mercado europeu é o Theodoxus danubialis.



Neritina usnea, 18 mm, exemplares da Flórida, Texas e Jamaica. Fotos de Thomas Eichhorst, portal Neritopsine Gastropods (Licença Creative Commons, veja link no final do artigo).



Neritina sobrina, 20 mm, exemplares do México (costa do Pacífico). Fotos de Thomas Eichhorst, portal Neritopsine Gastropods (Licença Creative Commons, veja link no final do artigo).



Theodoxus danubialis, 11 mm, exemplares da Áustria e Iugoslávia. Fotos de Thomas Eichhorst, portal Neritopsine Gastropods (Licença Creative Commons, veja link no final do artigo).





“Zebra nerite snail”, Neritina (Vittina) turrita, foto de Chris Lukhaup.

 

Reprodução: A reprodução da Neritina zebra ainda não foi profundamente estudada, o que se sabe é que esta espécie se reproduz em águas salobras, e possui o que se chama de desenvolvimento misto, parte do crescimento da larva se dá no interior da cápsula de ovos, e parte na forma de uma larva planctônica de vida livre. Provavelmente é uma espécie anfídroma, com migração das larvas para locais de maior salinidade, e posterior retorno dos juvenis para ambientes menos salinos. Desta forma, a criação em cativeiro é bastante difícil, o desenvolvimento completo ainda não foi documentado, mesmo em trabalhos científicos.

            Assim como outros Neritídeos, a Neritina zebra é uma espécie dióica, que não elimina seus gametas na água, a fecundação sendo interna. O macho possui um complexo peniano como nas Ampulárias. Durante a cópula, o macho fica sobre a fêmea e posiciona-se do lado direito desta, inserindo seu pênis em baixo da borda do manto da fêmea, transferindo o espermatóforo. Após a fecundação, a fêmea deposita os minúsculos ovos agrupados no interior de uma cápsula rígida, aderida a qualquer substrato disponível tal como madeira, conchas de moluscos, rochas e folhas caídas. Elas são amareladas assim que depositadas e vão se escurecendo conforme o desenvolvimento ocorre, são ovais e medem cerca de 1~1,5 mm de comprimento. As fêmeas depositam várias cápsulas por vez, cada uma delas contendo cerca de 70 ovos. Quando em aquários, utilizam troncos, rochas, plantas de folhas mais resistentes e até mesmo o vidro para depositar suas cápsulas de ovos, muitos brincam que o aquário "está com ictio" quando essas desovas ocorrem.

            O desenvolvimento inicial das larvas ocorre no interior das cápsulas rígidas, onde os embriões e depois as larvas ficam imersos em um fluido (líquido albuminoso ou albúmen), isolados do meio externo. É uma adaptação à água doce, um processo semelhante à “Reprodução especializada” dos crustáceos. Após cerca de 6 dias os ovos eclodem, liberando as larvas para a cavidade capsular. Mas somente depois de 21 dias as cápsulas se abrem, liberando as véligeres natantes. Pouco se sabe sobre o desenvolvimento destas larvas planctônicas, mas possivelmente há migração para regiões mais salinas e mais ricas em plâncton, e retorno dos juvenis para os estuários.

            Todo este desenvolvimento foi estudado em baixas salinidades, o valor ideal parece ser por volta de 5%o. Redução da salinidade (como épocas chuvosas) parece atuar como um gatilho reprodutivo, tanto nas desovas, quanto na abertura das cápsulas de ovos.





Cápsulas de ovos de Neritina zebra no aquário, fotos de Rochetô Correa.




Neritina zebra no aquário, primeira foto de Aline B. Stefani, segunda foto de Cinthia Emerich.





Neritina zebra no aquário, mostrando variações nas cores e padronagens. A última imagem mostra o animal emerso, junto à saída de água do filtro. Fotos de Tibério Graco.




Neritina zebra no aquário, fotos de Juliana Jara.









Neritina zebra
no aquário, fotos de Rochetô Correa.



Tamanho mínimo do aquário: 20 litros




Neritina zebra em seu ambiente natural, animais fotografados em Kourou (Guiana). Fotos gentilmente cedidas pela Associação Francesa de Conquiliologia.



Biótopo do Neritina zebra, um estuário de um pequeno riacho em Barra de Punaú, Rio do Fogo, RN. Foto gentilmente cedida por Tibério Graco.





Biótopo do Neritina zebra, no estuário do Rio Amazonas, AP. Fotos gentilmente cedidas por Daniel Pereira da Costa.

 


Outras Informações: É originária de mangues e estuários, ambientes de água salobra, mas se adapta bem à água doce quando adulta devido às cheias que ocorrem em seu habitat natural. Alimenta-se de material vegetal em decomposição com um importante papel na reciclagem de nutrientes. Possui hábitos noturnos. Por viver em locais com ampla variação nos parâmetros físicos, é uma espécie resistente, sendo encontrado até em ambientes com algum grau de poluição. Da mesma forma, adapta-se a condições físicas variáveis nos aquários, mas sugere-se a manutenção em águas duras e alcalinas, para prevenir erosões na sua concha.

            Esta espécie tem importância econômica no Norte e Nordeste do Brasil, com famílias que se dedicam profissionalmente à coleta deste animal para alimentação, sendo chamadas localmente de “Biroscas”. Suas conchas também são usadas como matéria-prima para argamassa de taipa para construção.





Neritina zebra em seu ambiente natural, animais fotografados na Guiana, as duas primeiras fotos em Kourou, e a última em Saint Laurent. Fotos gentilmente cedidas pela Associação Francesa de Conquiliologia.






Cinthia Emerich e Walther Ishikawa

Bibliografia:

  • Matthews-Cascon H, Pinheiro PRC, Matthews HR. A família Neritidae no Norte e Nordeste do Brasil (Mollusca: Gastropoda). Caatinga, 1990, 7: 44-56.  
  • Barroso CX. Anatomia e desenvolvimento intracapsular de Neritina zebra (Bruguiere, 1792) (MOLLUSCA, GASTROPODA, NERITIDAE). 2009. 77 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Marinhas Tropicais) - Instituto de Ciências do Mar, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2009.
  • Barroso CX, Matthews-Cascon H, Simone LRL. 2012. Anatomy of Neritina zebra from Guyana and Brazil (Mollusca: Gastropoda: Neritidae). Journal of Conchology, 41(1): 49-64.
  • Haynes A. 2005. An evaluation of members of the genera Clithon Montfort, 1810 and Neritina Lamarck 1816 (Gastropoda: Neritidae). Molluscan Research, 25(2): 75-84.
  • http://neritopsine.lifedesks.org/pages/788

Agradecemos aos aquaristas Tiberio Graco, Rochetô Correa e Daniel Pereira da Costa e aos colegas da  Associação Francesa de Conquiliologia (AFC)  pela cessão das fotos para o artigo. Sugerimos aos leitores também uma visita ao portal Neritopsine Gastropods, com muitas imagens e informações interessantes destes moluscos. O site pode ser visto  aqui .




As fotografias de Cinthia Emerich e do portal Neritopsine Gastropods (veja link acima) estão licenciadas sob uma  Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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