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"Pomacea scalaris"  
Artigo publicado em 09/04/2012, última edição em 28/10/2018  

Pomacea (Pomacea) scalaris
(d'Orbigny, 1835)



 

A Pomacea scalaris é uma espécie de Ampulária encontrada na América do Sul, seu aspecto lembra bastante o da Ampulária comum (Pomacea diffusa), espécie muito próxima, mas que tem distribuição geográfica distinta (restrita à Bacia Amazônica).


De fato, ambos fazem parte do chamado “Complexo bridgesii”, espécies de Ampulárias com traços anatômicos em comum. Ambos fazem parte também do mesmo clado (diffusa-haustrum), sendo espécies bastante próximas filogeneticamente.



Concha de Pomacea scalaris. Foto de Stijn Ghesquiere.


Na primeira imagem, uma visão apical da concha de Pomacea scalaris. Note o aspecto esbranquiçado da região interna dos giros. Foto de Stijn Ghesquiere. Na segunda foto, um animal vivo, imagem cedida por Gustavo Adolfo Domínguez.



Concha de Pomacea scalaris, 32 mm, exemplar da Argentina. Fotos de Claude & Amandine Evanno.




Concha: Lembra bastante a concha da Pomacea diffusa, com ápice alto e agudo, suturas com uma angulação quase reta. Porém, uma característica marcante desta espécie é seu ombro quadrado, ainda mais angulado do que a P. diffusa, com um aspecto quase carenado. Confere um aspecto em “escada”, seu nome scalaris vem do latim scala, que significa “escada em espiral”. É a única espécie de Pomacea que pode ser identificada com segurança baseada somente em detalhes da sua concha. Estas Ampulárias podem atingir cerca de 50 mm de altura.


A sua cor é verde-oliva ou marrom, geralmente escura, muitas vezes quase enegrecida. Podem ter faixas escuras de intensidade variável, em geral tênues ou ausentes. Muitos animais apresentam uma cor esbranquiçada entre a carina e a sutura. Alguns aquaristas argentinos relatam também algumas linhagens de cor violácea.


Algumas populações mostram também um aspecto hirsuto, com pequenas cerdas (como se fossem pelinhos) na superfície externa do periostraco. Muitas vezes esta especie mostra estes pêlos próximo da abertura da concha, mas as perdem com o tempo, por desgaste. Mas algumas populações permanecem com estes pelinhos por toda a concha. Aspecto semelhante pode ser visto em algumas populações de P. canaliculata, mas de forma menos exuberante.  






Pomacea scalaris, fotografado no Rio Tietê, em Barra Bonita, SP. Note as suturas rasas e retas, como o P. diffusa, mas veja o aspecto quadrado dos ombros da P. scalaris, quase carenado. Fotos de Walther Ishikawa.





Pomacea scalaris, exemplar argentino mostrando uma variação com pêlos revestindo a concha (cerdas no periostraco), produzidas pelas projeções tentaulares na borda do manto. Fotos de Julia Mantinian.




Filhotes de Pomacea scalaris com 2 meses de idade, filhotes de espécimes coletados em Barra Bonita, SP. Note o periostraco com pequenos pêlos próximo da abertura da concha, o restante da concha é lisa. Foto de Walther Ishikawa.



Corpo: O corpo é bastante pigmentado, de cor negro-azulada, com pequenas manchas douradas, principalmente na cabeça. Olhos azuis. Esta espécie mostra algumas características anatômicas bem peculiares, bastante diferentes da P. diffusa ou das espécies do complexo canaliculata: uma membrana reveste parcialmente a cavidade do manto, entre a abertura da concha e o corpo do animal, dos dois lados, recobrindo inclusive a região do complexo peniano, e dificultando a sexagem do caramujo. Especialmente nos juvenis, a margem do manto exibe pequenas projeções tentaculares, a função destas projeções não é muito clara, mas uma delas é produzir as pequenas cerdas (pêlos) que alguns animais mostram nas suas conchas. Outras espécies (como a P. diffusa) também possuem estas projeções, mas de forma bem mais sutil, e somente em indivíduos bem pequenos.




Duas Pomacea scalaris em meio a algumas P. diffusa. A coloração do corpo é bem visível nesta imagem. Foto de Aline B. Stefani.



Close no corpo da Pomacea scalaris junto à abertura da concha, mostrando como é difícil a sexagem desta espéce, devido à membrana recobrndo parcialmente a abertura da concha, inclusive na região do complexo peniano. Fotos de Andressa Malgueiro.





Filhote de P. scalaris com 30 dias. Note as projeções tentaculares da borda do manto. Note também as finas cerdas produzidas por estas projeções, na superfície do periostraco. Um filhote de Planorbella duryii também é visto na imagem. Foto de Walther Ishikawa.





P. scalaris com 2 meses. Note as projeções tentaculares da borda do manto. Ovos de Planorbella duryii também são visíveis na imagem. Foto de Walther Ishikawa.


Opérculo: O opérculo tem uma espessura média e um aspecto córneo. Sua estrutura é concêntrica com o núcleo próximo do centro da concha.





Pomacea scalaris, fotografado no Rio Tietê, em Barra Bonita, SP. O segundo animal mostra faixas bem delimitadas. Fotos de Walther Ishikawa.








Pomacea scalaris
, fotografado em uma represa em Avaré, SP. A penúltima foto mostra o caramujo no aquário, alimentando-se de nêuston usando seu pé.
Este caramujo foi criado no aquário por cerca de três anos, as últimas imagens mostram o animal já velho. Fotos de Natalia Albano de Aratanha.




Reprodução:
Ovos: Os ovos são idênticos ao da Pomacea diffusa, parentes próximos. São de cor rosa pálidos ou avermelhados, depositados acima da linha d´água, em objetos ou vegetação marginal. Mostram arranjo compacto, ovos comprimidos em formas poligonais, com aspecto em "colméia".

Assim como a Pomacea canaliculata, recentemente (2012) foi descrito uma proteína tóxica presente nos ovos da P. scalaris, que atua como mecanismo de defesa, impedindo a predação dos ovos e invasão por patógenos. Batizado de "Scalarina" (PsSC), é a principal perivitelina destes ovos, mostra grande estabilidade a extremos de pH e temperatura, talvez atuando como uma toxina que age sobre epitélio intestinal.    





Ovos de Pomacea scalaris, fotografados no Rio Tietê, em Barra Bonita, SP. Na segunda foto, junto a cachos de ovos de Pomacea canaliculata, espécie simpátrica. Fotos de Walther Ishikawa.





Ovos de Pomacea scalaris no momento da eclosão, e filhotes recém-nascidos. Note os olhos escuros, mostrando que se trata de um animal pigmentado, apesar do corpo claro. Fotos de Walther Ishikawa.


Filhotes com 8 dias, já mostrando pigmentação no manto. Foto de Walther Ishikawa.












Filhotes com 12 a 14 dias, de coloração mais escura. Note as projeções na borda do manto. Fotos de Walther Ishikawa.



Filhotes de Pomacea scalaris, exemplares argentinos. Foto de Gustavo Adolfo Domínguez.


Pomacea scalaris juvenil no aquário comunitário, com 6 meses de idade. Esta espécie não se alimenta de plantas ornamentais. Fotos de Walther Ishikawa.



Alimentação: Prefere plantas mortas e em decomposição, se alimenta também de rações para peixes ornamentais. Não destrói plantas ornamentais, a não ser que nenhum outro alimento esteja disponível. Semelhante ao P. diffusa, são uma boa opção para aquários plantados.





Pomacea scalaris no aquário, junto a algumas P. diffusa variedade azul. Animal coletado nos Lagos de Palermo (3 de Febrero), Buenos Aires, Argentina. Fotos de Gustavo Adolfo Domínguez.



Ampulárias Pomacea scalaris e Pomacea diffusa alimentando-se na superfície, em um aquário. Foto de Denise Caillean.





Distribuição geográfica de Pomacea scalaris no Brasil. Imagem original Google Maps; dados de Simone LRL 2004 e 2006.



Distribuição: Bacia Amazônica e do Paraná. No Brasil, é encontrado nos estados da BA, MS e AM. Recentemente (2014), coletei esta espécie no Rio Tietê, em Barra Bonita, SP, e uma colaboradora nossa identificou a espécie em Avaré, SP em 2015. É encontrada na Ásia (Taiwan) como espécie invasora.

 








 

 





Bibliografia adicional: 

  • Simone LRL. 2006. Land and Freshwater Molluscs of Brazil. EGB, Fapesp. São Paulo, Brazil. 390 pp.
  • Simone LRL. Comparative morphology and phylogeny of representatives of the superfamilies of architaenioglossans and the Annulariidae (Mollusca, Caenogastropoda). Arquivos do Museu Nacional, 2004,62(4):387-504.
  • Matsukura K, Okuda M, Cazzaniga NJ, Wada T. 2013. Genetic exchange between two freshwater apple snails, Pomacea canaliculata and Pomacea maculata invading East and Southeast Asia. Biol. Invasions15: 2039-2048
  • Ituarte S, Dreon MS, Ceolin M, Heras H. Agglutinating activity and structural characterization of scalarin the major egg protein of the snail Pomacea scalaris (d’Orbigny, 1832). 2012. Plos One 7(11): e50115
  • http://www.conchasbrasil.org.br/
  • Estebenet  AL, Martín PR, Burela S. Conchological variation in Pomacea canaliculata and other South American Ampullariidae (Caenogastropoda, Architaenioglossa). Biocell. 2006, 30(2): 329-335.


Esta ficha foi adaptada do portal  applesnail.net , possivelmente o melhor banco de dados de Ampulárias que existe na internet. Agradecimentos a Stijn Ghesquiere, responsável pelo portal, por permitir o uso do material e fotos. Agradecemos também aos colegas aquaristas Aline B. Stefani, Andressa Malgueiro, Natalia Albano de Aratanha, Denise Caillean, Julia Mantinian (Argentina) e Gustavo Adolfo Domínguez (Argentina), e os malacologistas franceses Claude e Amandine Evanno ( CEA - Malacollection ) pela cessão das fotos para o artigo, e valiosas informações.
 


As fotografias de Stijn Ghesquiere e Walther Ishikawa estão licenciadas sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.

 
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