INÍCIO ARTIGOS ESPÉCIES GALERIA SOBRE EQUIPE PARCEIROS CONTATO
 
 
    Espécies
 
Succineídeos  
Artigo publicado em 21/09/2012, última edição em 20/02/2022  

Omalonyx
sp., foto de Francisco Almeida.



Succineídeos


Succineidae é uma família de gastrópodes pulmonados anfíbios, chamados em inglês de "Amber Snails", devido à sua concha fina e frágil, de cor de âmbar. É uma família cosmopolita, com grande diversidade de espécies nas Ilhas do Pacífico, Índia e Américas.


Dois gêneros ocorrem no Brasil, Omalonyx d´Orbigny, 1837 e Succinea Mabille 1871. Os Omalonyx são chamadas de semi-lesmas, com uma concha bastante reduzida, mas mesmo os Succinea têm uma concha proporcionalmente pequena em comparação com outros caracóis. Como os demais caracóis terrestres, pertencem ao Clado Stylommatophora, com olhos localizados na extremidade dos tentáculos cefálicos. A maioria das espécies prefere ambientes bastante úmidos, muitas vezes alagados, como lagoas, pântanos e margens de outros corpos d´água, em objetos semi-submersos e macrófitas flutuantes, algumas com hábitos semi-aquáticos, especialmente os Omalonyx. Porém, existem espécies encontradas em ambientes distantes da água, mas sempre com elevada umidade. Alguns Succinea hibernam nos períodos de seca, retraindo-se no interior da concha e lacrando sua abertura com uma membrana seca de muco (epifragma).


São caramujos hermafroditas, ovíparos, em algumas espécies os ovos são depositados de forma semelhante aos caramujos, envoltas em massas gelatinosas, e em outros, lembram mais os caracóis, agrupados mas não protegidos por secreções.




Omalonyx


Os Omalonyx são pequenas semi-lesmas semi-aquáticas, de distribuição exclusivamente neotropical. Ocorrem nas ilhas do Caribe, na América Central e na América do Sul. São comuns no Brasil, especialmente nos estados do Sul.


Lembram lesmas comuns, mas têm o corpo um pouco mais alargado, e na região central do dorso possuem uma concha rudimentar, achatada. A concha é translúcida, de cor âmbar, frágil e em forma de unha. Como curiosidade, seu nome vem do grego omal (plano, achatado) e onyx (unha, garra). O corpo tem cor clara, variando de branco-leitoso a bege ou alaranjado, com um padrão de cores característico, duas faixas longitudinais negras e manchas enegrecidas sobre todo seu corpo, incluindo o manto. Medem até 2 a 4 cm.




Omalonyx convexus sobre Alface d´água (Pistia), fotografado em uma lagoa de piscicultura em Timbó, SC. A primeira foto do artigo também é do mesmo local. Fotos de Luís Adriano Funez.


Como boa parte dos moluscos límnicos e terrestres, há bastante controvérsia na taxonomia destes animais. Uma recente e cuidadosa revisão (Arruda, 2011) propões quatro novas espécies, e considera válida no total dez espécies, das quais somente uma não ocorre no Brasil:

 

  • Omalonyx (Omalonyx) unguis (d´Orbigny, 1837) – SP
  • Omalonyx (Omalonyx) matheronii (Potiez & Michaud, 1835) – PA, AM, PE, BA, MT, MG, RJ, SP, PR
  • Omalonyx (Omalonyx) brasiliensis (Simroth, 1896) – RS
  • Omalonyx (Omalonyx) geayi (Tillier, 1980) – AM, AL
  • Omalonyx (Omalonyx) pattersonae Tillier, 1981 – AM, SE, SP
  • Omalonyx (Omalonyx) elguru (Arruda, 2011) – não ocorre no Brasil
  • Omalonyx (Omalonyx) malabarbai (Arruda, 2011) – AM, PR
  • Omalonyx (Omalonyx) carioca (Arruda, 2011) – RJ
  • Omalonyx (Supertholus) convexus (Heynemann, 1868) – SP, SC, RS
  • Omalonyx (Supertholus) saoborjensis (Arruda, 2011) – RS


Externamente as espécies são muito parecidas, as diferenças sendo bastante sutis. Os Supertholus têm a concha um pouco mais alta, convexa e espiralada. O O. brasiliensis é o único que tem a concha totalmente coberta pelo manto, enquanto que nos demais, a cobertura é em graus variados, podendo chegar a 50%. Esta espécie gaúcha tem hábitos mais terrestre do que as demais, e alguns autores sugerem que ela deva ser classificada em outro gênero, Neohyalimax.







Omalonyx sp. fotografado em uma lagoa ornamental em Barra Bonita, SP. Fotos de Walther Ishikawa.





Provável Omalonyx convexus, juvenil, sobre folha de Alface d´água (Pistia), exemplar argentino. Fotos de Hernán Chinellato.


São anfíbios, vivem em pântanos, brejos, margens de lagos e áreas alagadas, especialmente em macrófitas e vegetação adjacente a estes corpos d´água, mas também em solo úmido. São relativamente sensíveis a poluentes, embora haja alguns relatos de coletas em locais degradados. Alguns poucos relatos descrevem também populações em terra firme.




Omalonyx sp. em paludário úmido. Fotos de Walther Ishikawa.


Omalonyx sp. coletados junto a plantas flutuantes na Represa Billings, São Bernardo do Campo, SP. Fotos de Felipe Araújo.

 

Essencialmente herbívoros, se alimentam tanto de folhas vivas ou mortas. Em algumas regiões são consideradas pragas agrícolas, em arrozais e plantações de agrião. São animais hermafroditas, e capazes de auto-fecundação. Podem ser facilmente criados em cativeiro, em ambientes úmidos, alimentados com ração, alface e outros vegetais. Produzem massas de ovos envoltas por um material gelatinoso, fixas a folhas e outros materiais sólidos, com até 24 ovos por postura. Os ovos medem cerca de 2 mm de diâmetro, e eclodem após 2 a 3 semanas de incubação. Atingem maturidade sexual após cerca de 3 meses.






Cópula, desenvolvimento dos ovos e filhote nascido em cativeiro. Na quarta imagem da segunda foto, também pode ser visto um pequeno filhote junto aos ovos. Fotos de Walther Ishikawa.




Provável Omalonyx convexus, filhotes nascidos em cativeiro, sobre o vidro do aquário. Fotos de Hernán Chinellato.


Estes moluscos são hospedeiros intermediários de diversos vermes parasitas, importante vetor de Angiostrongylus vasorum, uma verminose de cães. Potencialmente pode transmitir o Angiostrongylus costaricensis, que causa doença em humanos.








Succinea


O Succinea é o segundo gênero presente no Brasil, será somente brevemente mencionada, já que tem hábitos menos aquáticos do que os Omalonyx. Distribuição cosmopolita, com quatro espécies descritas para o Brasil: S. burmeisteri Döring (gaúcha, a maior espécie brasileira, com 35 mm); S. lopesi Lanzieri, 1966 (10 mm); S. manaosensis Pilsbry, 1926 (9 mm) e S. meridionalis Orbigny, 1837 (a espécie mais comum, com 10 mm). Possuem conchas ovais, com espira curta, abertura bastante ampla, com mais da metade do comprimento total da concha. Pé curto e fusiforme.

Como curiosidade, o caramujo Pseudosuccinea (veja artigo  aqui ) tem este nome porque sua concha lembra a deste caracol.

Vorazes, muitas espécies são consideradas pestes agrícolas, mesmo no Brasil. São facilmente criadas e reproduzidas em cativeiro. A cópula é em posição montada, com revezamento dos papéis. Ovos esféricos e translúcidos de 1,4 mm de diâmetro são depositados sob folhas caídas, agrupados e cimentados com uma substância mucilaginosa. São pouco numerosos, com uma média de 7 ovos por postura (S. costaricana), eclodindo em 11 dias a 24º C. Atinge maturidade sexual em 12 semanas, com 11 mm de concha. Expectativa de vida de 44 semanas.







Succinea sp., encontrado em uma folha de catalônia. Fotos de Marcelo Marques Costa.




Bibliografia:

  • Arruda JO. 2011: Revisao taxonômica e análise cladística de Omalonyx d’Orbigny, 1837 (Mollusca, Gastropoda, Succineidae). Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Faculdade de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Zoologia. Porto Alegre – RS – Brasil. 114p.
  • Garcia MVB, Arruda JO, Pimpão DM, Garcia TB. 2012. Ocorrência e controle de lesmas do gênero Omalonyx (Gastropoda, Succineidae), pragas de capim-elefante Pennisetum purpureum (Poaceae) em Rio Preto da Eva, Amazonas. Acta Amazônica, Manaus, 42(2): 227-230.
  • Agudo-Padrón AI. 2012. New geographical record of amphibian slugs Omalonyx (Gastropoda: Pulmonata: Succineidae) in the North of Santa Catarina's State, Southern Brazil. FMCS Newsletter Ellipsaria, Illinois, 14(2): 22-23.
  • Arruda JO, Gomes SR, Ramírez R, Thomé JW. 2006. Morfoanatomia de duas espécies do gênero Omalonyx (Mollusca, Pulmonata, Succineidae) com novo registro para Minas Gerais, Brasil. Biociências, Porto Alegre, 14(1): 61-70.
  • Arruda JO, Thomé JW. 2008. Revalidation of Omalonyx convexus (Heynemann 1868) and emendation of the type locality of Omalonyx unguis (Orbigny 1837). Arch. Molluskenkunde, 137(2): 159-166.
  • Arruda JO, Thomé JW. 2011. Biological aspects of Omalonyx convexus (Mollusca, Gastropoda, Succineidae) from the Rio Grande do Sul State, Brazil. Biotemas, 24 (4): 95-101, dezembro de 2011.
  • Montresor L, Teixeira A, Paglia A, Vidigal T. Reproduction of Omalonyx matheroni (Gastropoda: Succineidae) under laboratory conditions. Rev. Biol. Trop. 60 (2): 553-566.
  • Cuezzo MG. Capítulo 19: Mollusca Gastropoda. In: Macroinvertebrados bentónicos sudamericanos. Sistemática y biología. Domínguez E, Fernández HR (Eds). 2009, 595-629. Fundación Miguel Lillo, Tucumán, Argentina.
  • Villalobos MC, Monge-Nájera J, Barrientos Z, Franco J. (1995). Life cycle and field abundance of the snail Succinea costaricana (Stylommatophora: Succineidae), a tropical pest. Revista de Biología Tropical 43: 181-188.


Agradecimentos especiais ao biólogo catarinense Luís Adriano Funez, que permitiu o uso do seu material fotográfico. Luís mantém um site de divulgação científica,  Biodiversidade Catarinense . Agradecemos também ao malacologista A. Ignacio Agudo-Padrón pelas valiosas informações. o Dr. Aisur Ignacio é nosso principal consultor malacológico, parceiro de longa data, e responsável pelo portal informativo Avulsos Malacológicos (veja link na seção "parceiros"). Com as informações de Luís, foi publicado um artigo de autoria do Dr. Ignacio expandindo a distribuição geográfica desta espécie de Omalonyx (terceiro artigo das referências bibliográficas). Finalmente, agradecimentos também a Francisco Almeida, Marcelo Marques Costa, Felipe Araújo e a Hernán Chinellato, moderador do Fórum Argentino  Club Rosarino de Acuaristas , que também forneceram belíssimas imagens.



As fotografias de Walther Ishikawa estão licenciadas sob uma  Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.

 
« Voltar  
 

Planeta Invertebrados Brasil - © 2024 Todos os direitos reservados

Desenvolvimento de sites: GV8 SITES & SISTEMAS