Caramujo
Assassino
São caramujos neogastrópodes de água doce, carnívoros, da família Nassariidae (previamente eram classificados como Buccinidae). É encontrada desde a Malásia e Indonésia, Tailândia e Laos. Outras espécies desta família preferem água corrente, mas o Anentome helena é encontrada também em lagos, daí sua maior adaptabilidade a aquários. Têm hábitos noturnos e durante o dia se enterram na areia. Há uma discussão sobre sua taxonomia, o gênero
Clea foi inicialmente subdividido em três sub-gêneros, Clea (Clea) e Clea
(Anentome), de espécies asiáticas, e Clea (Afrocanidia) de espécies
africanas. Depois, Anentome ganhou status de gênero. Há também uma discussão sobre qual é a real espécie destes caramujos de aquário. Estudos morfológicos e moleculares sugerem que se trata de mais de uma espécie, pelo menos quatro do gênero Anentome, e provavelmente não é o A. helena.
Estes caramujos são seres
muito interessantes para se ter em aquários, primeiramente por sua beleza.
Segundo, pelo seu hábito alimentar predador que ajuda a controlar a
superpopulação de caramujos herbívoros que invadem os aquários plantados. E
para completar, tem a vantagem de serem longevos, vivem tranquilamente 5 anos.
Nome: Caramujo Assassino, Caramujo
Helena
Nome em
Inglês: Assassin
Snail, Snail Eating Snail, Killer Snail, Bumble Bee Snail
Nome
Científico: Provavelmente mais de uma espécie, Anentome spp. Ainda são mencionados como Clea
helena (Meder in Philippi, 1847) ou Anentome helena.
Tamanho: Até 3 cm
Tempo de
vida: Até 5
anos
Sexos: Separados
Dimorfismo: Não há
Cultivo: Fácil
Reprodução: Difícil
Origem: Sudeste asiático
pH: 7,0 a 8,0
Temperatura: 20 a 28 graus
GH: 3 a 15
Anentome helena, note o
longo sifão na última foto. Na última imagem, também é visível que o sifão é
uma membrana muscular que é enrolada formando um tubo, ao invés de um tubo
fechado. Note também um pequeno ovo junto á extremidade do pé, na última imagem.
Características:
A concha do Anentome helena atinge uma altura de 3 cm, tem uma forma
alongada e cônica, com estrias axiais elevadas, e de seis a oito voltas. A
abertura é ampla, com cerca de 2/3 da altura da concha, com um canal sifonal
basal. Possui uma concha espessa, mais
grossa do que outros caramujos de água doce. Sua cor varia de amarelo-dourado
ou amarelo-palha a marrom, com uma coloração uniforme, ou com uma a três faixas
espirais de cor marrom a negra. Corpo cinza-esverdeado claro com pequenas
manchas de cor marrom, possui um opérculo de cor castanha. Longo sifão, usado
para respirar enquanto fica enterrado, e também como órgão explorador
tátil. Duas delgadas antenas filamentosas, e olhos na extremidade de
pedúnculos de comprimento médio.
Close na
concha de Anentome helena, o opérculo é bem visível nestas imagens, fechando
a abertura da concha quando o animal se retrai.
Alimentação
e utilidade como exterminador biológico:
Os Helena são carnívoros predadores, principalmente de outros caramujos,
podendo também consumir carnes, insetos e pescados colocados no aquário à noite
ou rações para peixes carnívoros. A alimentação principal desta espécie na
natureza é composta de animais mortos, vermes e caramujos. Inclusive servem
para eliminar restos de peixes e outros animais que morrem nos aquários. São
bons auxiliares para o extermínio do excesso de caramujos nos aquários. Comem
Ramshorn, Melanoides, Phisas e Ampulárias. Contudo, preferem os caramujos com
tamanho abaixo de 1 cm para facilitar sua captura. Podem atacar camarões e
outros invertebrados também, convém não colocá-los em aquários com
invertebrados raros e de alto valor para não correr o risco de prejudicar-lhes
o desenvolvimento populacional. Alimentam-se também de ovos de peixes. A
predação é feita com o Helena se agarrando à concha da presa e inserindo
a boca em forma de apêndice dentro da concha e sugando seus tecidos. Contudo,
não espere que os Helena acabem com uma grande população de caramujos,
eles comem aos poucos e podem passar dias sem comer. O canibalismo não é uma
característica desses animais. Justamente por seus hábitos carnívoros, sempre houve preocupação sobre a possibilidade deste caramujo se tornar uma espécie invasora, introduzida através de aquaristas. Apesar de sua baixa fecundidade, os potenciais impactos sobre a malacofauna nativa justificam uma forte vigilância para que não haja liberação destes animais na natureza, inclusive no Brasil. Esta possibilidade se tornou mais concreta quando recentemente (2016) foi detectada uma pequena população invasora estabelecida em uma represa de Singapura.
Grupo
de Anentome helena junto a camarões ornamentais, se alimentando.
Anentome helena predando
camarões ornamentais.
Hábitos:
São ativos à noite e preferem esse horário para caçar e para se acasalar. Podem
dar passeios durante o dia, se estivem com muita fome não hesitarão em fazer
sua refeição à luz do dia mesmo. São rápidos na sua locomoção e percorrem
longas distâncias no aquário, desta forma conseguem capturar suas presas com
maior facilidade, já que essas costumam ser mais lentas e se cansarem com
facilidade. Em geral, durante o dia costumam ficar enterrados na areia com
parte da concha para fora. Na natureza são encontrados em habitats pantanosos,
de fundo argiloso ou arenoso fino. Por isso é necessário um substrato com areia
ou material de fácil penetração (areia de filtro de piscina, pedrisco fino,
substrato leve, etc) para dar-lhe maior conforto e facilitar sua reprodução.
Parecem preferir substratos mais escuros como a turmalina ou areias escuras.
Quanto maior a granulometria do cascalho, maior será a dificuldade para eles se
enterrarem e se reproduzirem. Devem ser mantidos em águas duras e alcalinas,
para prevenir a erosão da sua concha. Pelo mesmo motivo, não é recomendável a
manutenção em aquários plantados com injeção de CO2. Mesmo se
mantidos em ótimas condições, o ápice da concha costuma mostrar algum grau de
erosão, devido ao seu hábito escavador.
Outras
fotos de Anentome helena no aquário. Note o formato do pé muscular.
Anentome helena no
aquário. Veja que há sinais de erosão na região apical da concha, mesmo em
animais mantidos em condições adequadas.
Reprodução:
A reprodução do caramujo assassino não é complicada, porém rara e seus filhotes
são muito sensíveis. Diferente dos caramujos herbívoros que facilmente se
tornam pragas, os Helena fazem a postura de um único ovo branco
amarelado envolvido por uma cápsula translúcida quadrada, medindo 1.0~1.5 mm,
depositado sobre alguma superfície rígida. Seu número é variável, e vai de 1 a
12 por animal num mês, mas com baixa viabilidade, às vezes esse número pode
superar 12 ovos e nenhum sequer eclodir. Esses ficam por volta de um mês em
período de incubação. As larvas nascem brancas e se enterram no substrato por
um período de seis semanas, emergem com cerca de 0,5 cm quando já possuem uma
concha rija, colorida e com forma semelhante à do adulto. Na fase de larva a
sobrevivência é baixa, chegando a 50%, e na forma jovem com menos de 1 cm ainda
é de cerca de 50%. Após atingir 1,2 cm os animais ficam mais resistentes e
dificilmente irão morrer. O controle da dureza da água nas primeiras fases de
desenvolvimento é primordial para aumentar a sobrevivência, sendo a água mais
dura a melhor. Pouco se sabe sobre os hábitos alimentares das larvas, mas
acredita-se que se alimentem de organismos intersticiais do substrato (como
vermes) e restos de ração. Assim, sugere-se não sifonar o substrato, e evitar a
manutenção com outros animais que revolvam o fundo. Da mesma forma, algumas
fontes sugerem que se evite a manutenção com Melanoides, já que poderia
haver competição por alimento entre os filhotes das duas espécies sobre o
substrato.
Ovos
de Anentome helena em um limpador magnético de vidro. Foto de Valeria
Castagnino.
Ovo
de Anentome helena junto a um adulto. Note a cápsula translúcida envolvendo o ovo.
Anentome helena, animais
de diferentes tamanhos.
Artigo
escrito por Daniel Costa
Bibliografia:
- Bogan AE, Hanneman EH. A Carnivorous Aquatic
Gastropod in the Pet Trade in North America: the Next Threat to Freshwater
Gastropods? Ellipsaria Vol. 15 - No. 2 June 2013 18-19.
- Brandt RAM. Non-marine aquatic Mollusca of
Thailand. Arch. Molluskenkunde, 1974; 105: 1-423.
- Ng TH, Foon JK, Tan SK, Chan MKK, Yeo DCJ. (2016). First non-native
establishment of the carnivorous assassin snail, Anentome helena (von
dem Busch in Philippi, 1847). BioInvasions Records(2016) Volume 5. In
press.
- Strong EE, Galindo LA, Kantor YI. Quid est Clea helena? Evidence
for a previously unrecognized radiation of assassin snails (Gastropoda:
Buccinoidea: Nassariidae). PeerJ. 2017 Aug 11;5:e3638.
Agradecimentos à colega aquarista argentina Valeria Castagnino por
permitir o uso da sua foto no artigo.
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