Assiminea
Assimineidae é uma família pouco estudada de pequeninos
gastrópodes anfíbios, pertencendo à superfamília Truncatelloidea (previamente Rissooidea),
chamadas eventualmente de “Caracol-sentinela”.
São animais anfíbios, comuns na região supralitorânea, em
manguezais e estuários, encontrados em locais sombreados e úmidos sobre
troncos, folhas, mais comuns junto à linha superior da maré. Eventualmente
podem ser vistos submersos, mas são mais terrestres do que aquáticos. Outras
espécies ocorrem em fontes de água doce, rios e riachos, ou em ambientes
terrestres como florestas e áreas calcárias.
Cosmopolitas, mostram ampla distribuição nas regiões
tropicais e temperadas do globo. Grande parte das espécies é encontrada na Ásia
e Ilhas do Pacífico (o maior número de espécies descritas vem do Japão). No
Brasil, há registros de somente uma espécie, Assiminea succinea (Pfeiffer, 1840), um gastrópode estuarino,
encontrada na costa atlântica americana desde os EUA, com diversos registros no
litoral brasileiro (BA, RJ, SP, SC). Em inglês, são chamados de “Atlantic Assiminea” ou “Salt
Marsh Snail”.
Assiminea succinea, coletados
em um estuário em Jacksonville, Duval County, Florida, EUA. Medindo cerca de 2 mm, as primeiras fotos mostram animais na natureza, pouco acima do nível d´água. Na imagem maior, pode ser vista também um Melampus bidentatus, com o qual dividia o habitat. Fotos de Bill Frank.
Assiminea cf. succinea, fotografado em Ubatuba, SP. Estavam em um canal de água doce marginal a uma estrada, a cerca de 400 metros da praia. Na última foto, junto a um Pomacea lineata. Fotos de Walther Ishikawa.
Porém, nos últimos anos surgiram alguns relatos de uma espécie
desconhecidas, continental, coletada em locais distantes do litoral, em
ambientes terrestres úmidos e de água doce. Existem registros em SC (veja
bibliografia), e em SP (dados não publicados, algumas coletas realizadas pela
equipe do site Planeta Invertebrados).
São muito pequenos, medindo alguns milímetros (Assiminea até 6 mm). Possuem concha
globosa, oval-cônica, com giros arredondados, suturas indentadas e rasas,
geralmente de cor acastanhada. Espiralização destra. Abertura oval, lábios
espessos, fino opérculo córneo.
Corpo com áreas pigmentadas brancas e enegrecidas. A tromba
larga geralmente tem uma distinta fenda anterior. Tentáculos cefálicos
rudimentares, curtos e grossos, com olhos situados na sua extremidade. Pé curto
com um sulco anterior.
Assiminea sp.,
fotografados em Flora Mariva, município de Indaial, norte de SC. Coletados
em água doce, bacia do Rio Itajaí, em locais rasos, em troncos e rochas submersas, assim como entre vegetação marginal. Fotos de Luís Adriano Funez e Ana
Elisa Zermiani.
Assiminea sp., fotografados no município de Indaial, norte de SC. Foram coletados longe da água, mas em locais bastante úmidos, em canteiros e pilha de descarte de jardinagem. Note a tromba larga e fendida. Curiosamente, o animal caminhava com movimentos de contração e extensão do pé, como uma lagarta. Foto de Luís Adriano Funez e Ana Elisa Zermiani.
São animais de hábitos noturnos, fototrópicos negativos. Detritívoros,
alimentando-se de matéria orgânica no substrato onde vivem. Respiram ar
diretamente através da cavidade do manto adaptada como estrutura pulmonar.
Assiminea sp., filhotes nascidos em cativeiro. Nas fotos podem ser vistas Chilinas e um bebê Physa, para referência de tamanho. Fotos
de Walther Ishikawa.
Geralmente são dióicos, mas sem dimorfismo evidente. O
padrão reprodutivo é bem conhecido na A.
succinea. Suas cápsulas de ovos medindo 0,4 mm de diâmetro são depositadas
individualmente em folhas mortas com uma fita adesiva. Apresentam
desenvolvimento direto, sem fase de larva planctônica. A 20~23º, os filhotes
nascem em 4~5 semanas, medindo cerca de 0,35 mm, pequenas miniaturas dos pais. Porém,
outras espécies (como a européia A.
grayana) nascem como véligers planctônicos.
Assiminea sp.,
fotografado nas margens do Rio Tietê, em Barra Bonita, SP. Estavam em locais parcialmente emersos, agrupados bem junto à linha d´água. Fotos de Walther Ishikawa.
Close dos animais, a primeira foto dá uma boa idéia das pequenas dimensões deste animal. Note os curtos tentáculos com olhos. Nas últimas fotos, também é visível o opérculo. Fotos de Walther Ishikawa.
Assiminea sp. em paludário. Embora bastante confortáveis dentro e fora da água, passam a maior parte do tempo emersos. Filhotes de Melanoides também são visíveis em algumas imagens. Fotos
de Walther Ishikawa.
Assiminea sp., filhotes nascidos em cativeiro. Fotos
de Walther Ishikawa.
Bibliografia
adicional:
- http://delta-intkey.com/britmo/www/assimine.htm
- http://seashellsofnsw.org.au/Assimineidae/Pages/Assimineidae_Intro.htm
- Tunnell
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SC, Southern Brazil region: A comprehensive synthesis and check list. VISAYA
Net, 24: 1-17.
- Rios EC. 2009. Compendium
of Brazilian Sea Shells. Rio Grande, RS: Evangraf, 668 p.
Agradecimentos especiais aos biólogos catarinenses Luís Adriano Funez
e Ana Elisa Zermiani, e também a Bill Frank ( Jacksonville Shell Club ), que permitiram o uso do seu material fotográfico. Agradecemos também ao malacologista A. Ignacio Agudo-Padrón pelo auxílio na identificação e valiosas informações.
As fotografias de Walther Ishikawa estão licencidas sob uma Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores. |