INÍCIO ARTIGOS ESPÉCIES GALERIA SOBRE EQUIPE PARCEIROS CONTATO
 
 
    Espécies
 
"Pomacea maculata" 2  
Artigo publicado em 16/04/2012, última edição em 06/06/2023  
Para retornar à primeira parte do artigo, clique   aqui



 

Pomacea maculata, casal em cópula. Foto de Jess Van Dyke.





Casal de Pomacea maculata em cópula, e cachos de ovos, ambos fotografados em Camden County, Georgia (EUA). Fotos de Bill Frank.





Ovos: Os ovos ficam fixos a objetos acima da linha d´água, geralmente a uma distância considerável da superfície. Sua cor varia do vermelho-rosado profundo a um rosa-alaranjado mais claro, se tornando mais claros com o passar do tempo, e eventualmente rosa esbranquiçado prestes a eclodirem. São menores e mais numerosos do que os do P. canaliculata, uma típica postura tem de algumas centenas a mais de 4500 ovos, com uma média de 1500 ovos. São pequenos, medindo em média 1,9 mm (1,2~2,6 mm). No cacho, os ovos mantêm ainda seu aspecto esférico, diferente do aspecto prismático do P. diffusa. Porém, comparados ao P. canaliculatasão mais compactados. Na média, a dimensão total do cacho de ovos também costuma ser maior do que no P. canaliculata

Assim como o Pomacea canaliculata e Pomacea scalaris, recentemente foi descrita uma carotenoproteína presente nos ovos da Pomacea maculata, que provavelmente atua como mecanismo de defesa impedindo a predação dos ovos. Batizada de PmPV1, com uma cor vermelha brilhante, semelhante à proteína tóxica do P. canaliculata (PcOvo) com o qual tem reações imunes cruzadas, mostrando sua semelhança estrutural. Outro trabalho demonstrou também a presença de polissacarídeos não-digestíveis, a primeira evidência de que açúcares de reserva calórica podem estar envolvidos em mecanismos de defesa.

Os ovos da espécie peruana Pomacea reevei são diferentes, maiores (cerca de 6 mm), e de cor branca, lembrando um pouco os ovos da Pomacea paludosa, espécie próxima geneticamente. 
   


 


Ovos de Pomacea maculata, fotografado no Pope Duval Park, Duval County, Flórida (EUA). A foto mostra seu aspecto bem típico, numerosos ovos de pequenas dimensões, se comparado ao P. canaliculata. Imagem cedida por Bill Frank.



Ovos de Pomacea maculata, fotografado na lagoa do Parque Martha Wellman, Tallahassee, Flórida (EUA). Nesta imagem, os ovos estão sendo atacados pela formiga invasora sul-americana Solenopsis invicta. Foto de Jess Van Dyke.



Cachos de ovos de Pomacea canaliculata (os dois acima) e Pomacea maculata (dois abaixo), fotografado no Lago Guaíba, Porto Alegre, RS. Foto de Walther Ishikawa.









Ovos da espécie peruana Pomacea reevei, até recentemente considerados P. maculata. A última foto mostra um cacho em eclosão, de animais criados em cativeiro para alimentação. Fotos gentilmente cedidas pela empresa de ecoturismo Inkaterra.




Alimentação: Se alimenta de quase todos os tipos de plantas, com apetite voraz, destruindo plantas ornamentais.



Pomacea maculata, caramujos invasores fotografados na lagoa do Parque Martha Wellman, Tallahassee, Flórida (EUA). Imagem cedida por Jess Van Dyke.




Distribuição geográfica de Pomacea maculata, os pontos mostram locais onde espécimes foram coletados e analisados. Imagem original Google Maps; dados de Hayes KA 2012.



Distribuição: Supostamente (veja texto), desde a bacia amazônica brasileira ao norte até o baixo Paraná, na bacia do La Plata, Argentina, ao sul. Uruguai e Paraguai, possivelmente Bolívia, Equador e Peru. 


Importante espécie invasora nos EUA, e também disseminado na Ásia. Recentemente reportado também na Espanha e Israel. 



Uma informação muito importante: nos Estados Unidos, muito provavelmente a introdução desta espécie na natureza ocorreu devido à liberação de animais de aquário. É a espécie invasora de Pomacea mais prevalente nos EUA.


A espécie nova peruana  Pomacea reevei só foi encontrada em lagoas próximas aos rios Napo e Huallaga, embora registros mais antigos mencionem diversas coletas mais próximas de Iquitos.





 

 





Parâmetros ambientais: Juntamente com a P. canaliculata, estas duas espécies representam as Ampulárias invasoras mais disseminadas, e com maior importância ecológica. Muitas vezes são simpátricas, e frequentemente há hibridização entre as duas. Parece haver alguma diferença em relação aos nichos ecológicos preferenciais ocupados por estas duas espécies, a P. maculata é mais comumente encontrada em grandes corpos d´água permanentes, como grandes rios. Por isso sua baixa resistência à dessecação. 


A atividade deste caramujo varia bastante com a temperatura da água. A temperatura ideal é estimada em 25°C, em temperaturas mais baixas eles permanecem imóveis, e abaixo de 15°C não há atividade reprodutiva. Um trabalho relata sobrevivência destes caramujos a condições extremas por períodos limitados de tempo, 10 a 14 dias em ambientes com temperatura de -4°C e 40°C. Assim como a P. canaliculata, esta espécie possui maior resistência a baixas temperaturas após aclimatação, porém, em menor grau do que P. canaliculataEstes caramujos se adaptam no início da estação fria e seca, mudando seu metabolismo. Animais coletados no inverno são mais tolerantes a baixas temperaturas do que animais do verão.


Possuem alguma resistência à salinidade, juvenis suportam cerca de 28 dias em salinidades de até 8%o. Há relatos de populações invasoras nos EUA se reproduzindo em locais de água salobra, de até 6%o. Porém, caramujos recém-nascidos têm mortalidade acima de 50% em 4 dias, a uma salinidade de 8%o. Adultos têm baixíssima sobrevida em salinidades acima de 16%o.


Adultos e juvenis têm grande tolerância a variações de pH, em trials curtos de 28 dias, desenvolvem-se normalmente em valores entre 5.5 e 9.5. Abaixo deste pH, há erosão da concha mesmo neste período curto de tempo. E a sobrevida de bebês é baixa em valores abaixo de 5.5. Não são muito resistentes à dessecação, diferentes do P. canaliculata, possivelmente um reflexo dos nichos ecológicos ocupados por esta espécie. Porém, parece haver alguma variação entre populações, existe um trabalho com animais invasores de Louisiana (EUA) que menciona uma sobrevida maior, de 50% com 10 meses de estivação, com perda de somente 30% da sua massa corporal. Este mesmo artigo menciona uma grande capacidade de locomoção fora d´água, estimada em até 3,5 horas, a uma velocidade média de 2m/h. 





Bibliografia adicional:

  • Agudo-Padrón AI. 2008. Listagem sistemática dos moluscos continentais ocorrentes no Estado de Santa Catarina, BrasilComunicaciones de la Sociedad Malacológica del UruguayMontevideo, 9(91): 147-179.
  • Rawlings TA, Hayes KA, Cowie RH, Collins TM. The identity, distribution, and impacts on non-native apple snails in the continental United StatesBMC Evolutionary Biology 2007, 7: 97.
  • Hayes KA, Cowie RH, Thiengo SC, Strong E. 2012. Comparing apples with apples: clarifying the identities of two highly invasive Neotropical Ampullariidae (Caenogastropoda). Zoological Journal of the Linnean Society, London, 166(4): 689-722.
  • Cooke GM, King AG, Miller L, Johnson RN. 2012. A rapid molecular method to detect the invasive golden apple snail Pomacea canaliculata (Lamarck, 1822). Conservation Genetics Resources. 4. (3): 591-593.
  • Petit RE. George Perry's molluscan taxa and notes on the editions of his Conchology of 1811. Zootaxa 377: 1-72 (2003).
  • Matsukura K, Okuda M, Cazzaniga NJ, Wada T. 2013. Genetic exchange between two freshwater apple snails, Pomacea canaliculata and Pomacea maculata invading East and Southeast Asia. Biol. Invasions15: 2039-2048.
  • Kyle CH, Plantz AL, Shelton T, Burks RL. Count your eggs before they invade: identifying and quantifying egg clutches of two invasive apple snail species (Pomacea). PLoS One. 2013 Oct 16;8(10):e77736.
  • Pasquevich MY, Dreon MS, Heras H. The major egg reserve protein from the invasive apple snailPomacea maculata is a complex carotenoprotein related to those of Pomacea canaliculata and Pomacea scalaris. Comp Biochem Physiol B Biochem Mol Biol. 2014 Mar; 169: 63-71.
  • Arias A, Torralba-Burrial A. First European record of the giant ramshorn snail Marisa cornuarietis (Linnaeus, 1758) (Gastropoda: Ampullariidae) from northern Spain. Limnetica, 2014; 33 (1): 65-72.
  • Bernatis JL. Morphology, ecophysiology, and impacts of nonindigenous Pomacea in Florida. Doctorate Dissertation, Interdisciplinary Ecology, University of Florida, 2014.
  • Arfan AG, Muhamad R, Omar D, Nor Azwady AA, Manjeri G. 2015. Comparative life cycle studies of Pomacea maculata and Pomacea canaliculata on rice (Oryza sativa). Pak. J. Agri. Sci., Vol. 52(4), 1079-1083. 
  • Giglio ML, Ituarte S, Pasquevich MY, Heras H. The eggs of the apple snail Pomacea maculata are defended by indigestible polysaccharides and toxic proteins. Can. J. Zool. 94, 777–785 (2016).
  • Bernatis JL, Mcgaw IJ, Cross CL. Abiotic tolerances in different life stages of apple snails Pomacea canaliculata and Pomacea maculata and the implications for distribution. (2016). Journal of Shellfish Research 35(4), 1013-1025.
  • Joshi RC, Cowie RH, Sebastian LS. (eds.) 2017. Biology and Management of Invasive Apple Snails. Philippine Rice Research Institute, Muñoz, Nueva Ecija. xvii + 405 p.
  • Yoshida K, Matsukura K, Cazzaniga NJ, Wada T. 2014. Tolerance to low temperature and desiccation in two invasive apple snails, Pomacea canaliculata and P. maculata (Caenogastropoda: Ampullariidae), collected in their original distribution area (northern and central Argentina). Journal of Molluscan Studies 80: 62-66. 
  • Mueck K, Deaton LE, Lee A, Guilbeaux T. Physiology of the Apple Snail Pomacea maculata: Aestivation and Overland Dispersal. Biol Bull. 2018 Aug;235(1):43-51.
  • Yang QQ, Liu SW, Song F, Liu GF, Yu XP. Comparative mitogenome analysis on species of four apple snails (Ampullariidae: Pomacea). Int J Biol Macromol. 2018 Oct 15;118(Pt A):525-533.
  • Yang QQ, Yu XP. 2019. A new species of apple snail in the genus Pomacea (Gastropoda: Caenogastropoda: Ampullariidae). Zool Stud 58:13.
  • Yang Q, Liu S, He C, Cowie RH, Yu X, Hayes KA. 2019. Invisible apple snail invasions: importance of continued vigilance and rigorous taxonomic assessments. Pest Manag Sci 75:1277–1286.
  • Glasheen PM, Burks RL, Campos SR, Hayes KA. First evidence of introgressive hybridization of apple snails (Pomacea spp.) in their native range, Journal of Molluscan Studies, Volume 86, Issue 2, May 2020, Pages 96–103.
  • Yang QQ, He C, Liu GF, Yin CL, Xu YP, Liu SW, Qiu JW, Yu XP. Introgressive hybridization between two non-native apple snails in China: widespread hybridization and homogenization in egg morphology. Pest Manag Sci. 2020 Dec;76(12):4231-4239.
  • Sun J, Mu H, Ip JCH, Li R, Xu T, Accorsi A, Sánchez Alvarado A, Ross E, Lan Y, Sun Y, Castro-Vazquez A, Vega IA, Heras H, Ituarte S, Van Bocxlaer B, Hayes KA, Cowie RH, Zhao Z, Zhang Y, Qian PY, Qiu JW. Signatures of Divergence, Invasiveness, and Terrestrialization Revealed by Four Apple Snail Genomes. Mol Biol Evol. 2019 Jul 1;36(7):1507-1520.
  • Ramírez R, Ramirez JL, Rivera F, Justino S, Solís M, Morín J, Ampuero A, Mendivil A, Congrains C. Do not judge a snail by its shell: molecular identification of Pomacea species (Gastropoda: Ampullariidae), with particular reference to the Peruvian Amazonian giant apple snail, erroneously synonymized with Pomacea maculata. Archiv für Molluskenkunde International Journal of Malacology. 2022. 151(1): 7-17.
  • Ampuero A, Ramírez R. Description of two new species of apple snail (Ampullariidae: Pomacea) from Peruvian Amazonia. Zootaxa. 2023 Mar 27;5258(1):76-98.




Esta ficha foi adaptada do portal  applesnail.net , possivelmente o melhor banco de dados de Ampulárias que existe na internet. Agradecimentos a Stijn Ghesquiere, responsável pelo portal, por permitir o uso do material. Agradecemos também ao colega malacologista Aisur Ignacio Agudo-Padrón pela consultoria técnica, ao colega aquarista argentino Christian Luca Alejandro BenitezBill Frank ( Jacksonville Shell Club ), e também à  Inkaterra (veja sua página sobre os "churos" Inkaterra - The Churos Project ) pela cessão das fotos. Todas as demais fotos foram cedidas pelo zoólogo americano Jess Van Dyke, que mantém um projeto de vigilância de ampularídeos invasores na Flórida. Sua página pode ser vista aqui:   Snail Busters .





 As fotografias de Walther Ishikawa estão licenciadas sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.

 
« Voltar  
 

Planeta Invertebrados Brasil - © 2024 Todos os direitos reservados

Desenvolvimento de sites: GV8 SITES & SISTEMAS