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"Anticorbula"  
Artigo publicado em 27/06/2020, última edição em 18/02/2021  




Anticorbula fluviatilis

 

O Anticorbula fluviatilis (H. Adams, 1860) é um misterioso bivalve séssil de água doce amazônico, sem clara relação com os principais grupos de bivalves continentais. É classificado provisoriamente dentro da família Lyonsiidae (Pandoroidea), mas vários autores sugerem um prosseguimento da investigação sobre sua posição sistemática. Outros defendem que faça parte da família Corbulidae (Myoida). É um assunto fascinante, já que representa provavelmente uma invasão independente de ambientes de água doce por um grupo incomum de moluscos bivalves.

Foi descrita inicialmente como Himella fluviatilis, a partir de exemplares coletados no Rio Marañon, Peru, em 1860. O nome do gênero passou para Anticorbula, monotípico, já que Himella já era ocupada. Em 1943 foi descrita Guianadesma sinuosum, de um estuário oligoalino nas Guianas, que hoje se acredita ser a mesma espécie. No Brasil, em 1997 e 1999 foram coletadas nos estados do AM e PA. Há registros também no Rio Cuyuni (Guiana), Rio Kourou (Guaina Francesa) e Rios Marowijne e Suriname (Suriname).

 

Etimologia: Anti tem origem grega, depois incorporada no latim, com um sentido de ser contrário ou oposto. Corbula é o nome do gênero bivalve marinho, inicialmente Anticorbula foi proposto como um subgênero deste gênero. Corbula tem origem no latim, significa “pequeno cesto”.

 

 

 


Anticorbula fluviatilis, fotografado no Rio Amazonas próximo a Santarém, PA. O bisso é bem visível nesta imagem. Foto de Laurie C. Anderson.



Conchas de Anticorbula fluviatilis (identificada como Guianadesma sinuosum), coletadas no Rio Cuyuni, Distrito de Essequibo, Guiana. Holotipo do Museu Nacional Smithsoniano de História Natural. Licença Creative Commons.



Morfologia

 

São moluscos bivalves de tamanho médio, sésseis, que vivem fixos a substratos submersos. Concha de tamanho médio (25 mm), elíptica algo retangular, inequivalve e irregular. A concha é dividida por uma angulação arredondada estendendo-se do umbo à margem póstero-ventral, numa porção posterior reta, e uma região anterior convexa. Periostraco fino e translúcido, marrom amarelado a verde-oliva. Cor da concha bege claro, com áreas marrons na inclinação posterior. O interior da concha é branco opaco, não nacarado.

Manto e demais partes moles de cor creme, alguns exemplares com manchas de cor marrom escuro na região umbonal. Lobos do manto com margens quase totalmente fundidas, somente com abertura pedal e palial. Ausência de sifão, a abertura de influxo é rodeada de duas fileiras de papilas curtas, abertura de efluxo estreita, com margens espessas e lisas. Possui um pé pequeno, e provável litodesma vestigial.

 

 



Anticorbula fluviatilis, fixo a um tronco submerso, fotografado no Rio Amazonas próximo a Santarém, PA. Fotos de Laurie C. Anderson.



Habitat e distribuição

 

Encontrada em água doce e salobra de baixa salinidade, sua distribuição estende-se dos estuários oligoalinos da região das Guianas (provavelmente também Amazônica), aos grandes rios continentais do norte da América do Sul, principalmente a bacia do médio Rio Amazonas. No Brasil, há registros de coletas nos rios Amazonas (AM), Trombetas, Xingú e Alenquer (PA).

Encontrado em rios com pouca correnteza, até cerca de 5 metros de profundidade, fixos a substratos através de um espesso bisso. Mais comumente fixos a sulcos de troncos e galhos submersos, mas também rochas e cascalho. Podem crescer afixados a conchas de moluscos maiores. Muitas vezes são associados a esponjas de água doce, com registros de bivalves vivendo dentro dos esqueletos reticulados dessas esponjas.

Há algumas informações físico-químicas sobre o Rio Trombetas, a temperatura média era de 31 °C, pH 6.3, condutividade específica de 30 µS/cm, e oxigênio dissolvido 5,6 mg/L.

 

 



Anticorbula fluviatilis, fixo a uma concha de Prisodon corrugatus, em meio a esponjas de água doce. Fotografado no Rio Amazonas próximo a Santarém, PA. Fotos de Laurie C. Anderson.



Ciclo de vida e reprodução

 

Há pouquíssimas informações disponíveis em literatura científica, embora seja uma espécie bastante comum em algumas localidades, como a várzea do Rio Trombetas onde representa a espécie molusca dominante.

Não há nenhum dado sobre seu ciclo de vida ou reprodução.

 

 


Anticorbula fluviatilis, foto de Vincent Prié (Association Caracol, França). Imagem disponibilizada pelo portal INPN (link ao final do artigo).




Bibliografia:

  • Simone LRL. 2006. Land and Freshwater Molluscs of Brazil. EGB, Fapesp. São Paulo, Brazil. 390 pp.
  • Simone LRL. 1999. Anatomy and systematics of Anticorbula fluviatilis (H. Adams, 1860) (Bivalvia: Lyonsiidae) from the Amazon Basin, Brazil and Peru. Nautilus 113: 48-55.
  • Leistikow A, Janssen R. 1997. A record of the bivalve Guianadesma sinuosum Morrison from the central Amazon basin (Bivalvia: Corbulidae). Basteria 61:17–22.
  • Macedo RPS, Alcantara TP, Beasley CR. 2016. Características biológicas e físico químicas de bancos de bivalves de água doce do rio Xingu, Pará. 5o Simpósio de Estudos e Pesquisas em Ciências Ambientais na Amazônia, Resumo.
  • Pereira D, Mansur MCD, Duarte LDS, Oliveira ASD, Pimpão DM, Calil CT, Ituarte C, Parada E, Peredo S, Darrigran G, Scarabino F, Clavijo C, Lara G, Miyahara IC, Rodriguez MTR, Lasso C. Bivalve distribution in hydrographic regions in South America: historical overview and conservation. Hydrobiologia, v.735(1), p. 15-44, 2014.
  • Volkmer-Ribeiro C, Mansur MC, Pereira D, Tiemann JS, Cummings KS, Sabaj MH. 2019. Sponge and mollusk associations in a benthic filter-feeding assemblage in the middle and lower Xingu River, Brazil. Proceedings of the Academy of Natural Sciences of Philadelphia, 166, 1-24.
  • Prié V. 2020. Bivalves d’eau douce de Guyane française : espèces présentes et attendues d’après la bibliographie et l’examen des collections muséologiques. Naturae 2020 (3): 55-69.
  • Beasley CR, Fernandes CM, Gomes CP, Brito BA, Santos SML, Tagliaro CH. 2005. Molluscan diversity and abundance among coastal habitats of northern Brazil. Ecotropica, 11: 9-20.



Somos muito gratos à Profa. Laurie C. Anderson, Professora de Geologia e Engenharia Geológica, e Diretora do Museu de Geologia, South Dakota School of Mines and Technology, Dakota do Sul, EUA, pela cessão das fotos, e valiosas informações. Gratos também a Vincent Prié (Assocition Caracol, França), pelo uso da sua foto.


As fotografias do Smithsonian National Museum of Natural History e a foto de Vincent Prié (disponibilizado pelo portal INPN - Inventaire National du Patrimoine Naturel (veja link  aqui ) estão licenciadas sob uma  Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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