Bloodworms - Mosquitos Quironomídeos
Provavelmente, o primeiro contato que aquaristas têm com estes insetos é
como alimentos vivos para seus peixes, ou, mais raramente, como invasores de
lagos externos. Porém, estes Dípteros têm muitos aspectos interessantes na sua
biologia e ciclo de vida, que vale a pena ser mais conhecidos.
Larvas de quironomídeos da subfamília Chironominae, chamados popularmente de "Bloodworm". Cerca de 11mm,
coletados em Vinhedo, SP. Fotos de Walther Ishikawa.
São pequenos mosquitos inofensivos muito
comuns, não-hematófagos, por este motivo chamadas em inglês de non-biting midges. Suas larvas formam um
dos mais importantes grupos de insetos aquáticos, ocorrendo em elevadas
densidades (há registros de até 70.000 insetos por metro quadrado), colonizando
o sedimento e vegetação aquática, com elevada capacidade adaptativa, com
modificações permitindo explorar e colonizar ambientes que nenhum outro inseto
foi capaz. Vivem em lagos, pântanos, rios, córregos, nascentes, e até águas oceânicas.
Muitas espécies são comuns também em ambiente terrestre, ou habitam locais com
condições ambientais extremas, como fontes termais, fitotelmata, etc. É também
o grupo de insetos predominante na região Ártica, e o único inseto endêmico da
Antártida.
A cor vermelha só se desenvolve com o crescimento da larva. À
esquerda, uma larva em estágio inicial, ainda pálida. À direita a pupa, também
com a cor vermelha. Pequenos protozoários sésseis podem ser vistos na região cefálica da larva. Fotos de Walther Ishikawa.
Larvas de quironomídeo da subfamília Tanypodinae. A antena fina e retrátil pode ser vista na última imagem da primeira série de fotos. Possuem olhos únicos, outra característica típica desta subfamília, muitas vezes (como neste caso) com cabeças alongadas. Cerca de 8mm, coletado em Itatiba, SP. Fotos de Walther Ishikawa.
Suas larvas são alongadas e cilíndricas, semelhantes a vermes, medindo
até 3 cm (geralmente bem menores). Têm cabeças esclerotizadas e bem delimitadas,
e não possuem patas verdadeiras, somente dois pares de pró-patas nas duas
extremidades, no primeiro segmento torácico, junto da cabeça, e também no
último abdominal. Muitas constroem tocas tubulares usando seda e debris,
vivendo no seu interior, raramente ou nunca saindo delas. Através de constante
ondulação do corpo no interior do tubo, a larva mantém uma constante renovação
da água para trocas gasosas e para alimentação. Nadam mal, geralmente se
rastejam no substrato levando suas tocas, ou vivendo no interior das tocas
fixas. Algumas são minadoras, obrigatórias ou facultativas. Constroem tocas em
plantas (Cricotopus), ou madeira
submersa (Stenochironomus). Outras
vivem no interior de esponjas de água doce, ou colônias de briozoários. Quando
precisam nadar, movem-se de forma serpenteante, em “figura de 8”.
Vivem em tocas tubulares feitas de debris. Fotos de Walther Ishikawa.
Outra espécie, as tocas tubulares numa folha, à esquerda. Fotos de Walther Ishikawa.
Tocas no fundo lodoso de um lago, em Vinhedo, SP. Foto de Walther Ishikawa.
Massa de ovos de quironomídeo, surgiu num paludário em Vinhedo, SP. Na primeira foto, junto a um caramujo Drepanotrema. As demais mostram a eclosão dos ovos. Fotos de Walther Ishikawa.
Larvas de quironomídeo, surgiram num aquário, possivelmente introduzidos nas plantas. Foto de Walther Ishikawa.
São insetos “verdadeiros aquáticos”, não necessitando fazer visitas à
superfície para respirar oxigênio atmosférico. São apnêusticas e capazes de
respirar o oxigênio dissolvido na água através de difusão pela superfície do
corpo. Expansões na extremidade posterior das larvas também contribuem para a
obtenção do oxigênio dissolvido. Muitos têm hemoglobina no seu fluido corpóreo,
o que dá uma bela coloração vermelha, daí seu nome Bloodworm (verme-sangue). Mas existem espécies de variadas cores,
como branco, verde e castanho. Geralmente, espécies que vivem em ambientes pobres
em oxigênio têm cor vermelha mais intensa, e é o que permite a estas larvas
viverem em algumas condições bastante desfavoráveis. Quando o oxigênio ligado à hemoglobina é depletado, as larvas passam a um metabolismo anaeróbio, com fermentação alcoólica a partir de glicogênio. O ATP é gerado a partir do etanol.
Larvas são raspadoras ou coletoras de detritos, embora poucas espécies
sejam predadoras. Algumas espécies que vivem em água corrente constroem teias
para capturar debris, como o Rheotanytarsus,
cujos casulos são dotados de hastes, onde a larva tece a rede. De tempos em
tempos a rede é comida, e outra é construída. Mesmo algumas espécies que
constroem tocas tubulares simples podem tecer pequenas redes no interior
destas, que retém as partículas. Periodicamente a larva muda de posição e cria
uma contracorrente para desobstruir o casulo e, então ingere a teia junto com
os detritos aderidos.
Outra pupa, bem vermelha, e o saco de ovos em espiral. Fotos de Walther Ishikawa.
Outro tipo de massa de ovos, flutuante, de outra espécie (Goeldichironomus?). Fotos de Walther Ishikawa.
Massas de ovos nas margens de uma lagoa em Vinhedo, SP. Note que há dois tipos de massas de ovos, em arranjo espiral (Chironomus?) e em zigue-zague (Goeldichironomus?). Fotos de Walther Ishikawa.
As mesmas massas de ovos das fotos acima, após 24h (duas primeiras imagens) e 48h (última). A massa em zigue-zague mostra um aumento do seu volume, agora com aspecto alongado e serpentiforme. Fotos de Walther Ishikawa.
Pupa, note os cornos torácicos com aspecto de tufos, típico de Chironominae. Fotos de Walther Ishikawa.
Ciclo de Vida
Ovos enfileirados são depositados na água pelos adultos voadores,
envoltos em uma massa gelatinosa. A massa ovígera tem formas variadas (cilíndrica,
esférica, fita, espiral, zigue-zague, etc). O desenvolvimento embrionário dura
aproximadamente 40 horas, nascendo a larva aquática. Após uma fase larval com
quatro estágios de duração variável (semanas em áreas tropicais, a 7 anos em
regiões polares), transforma-se em pupas que lembram vagamente pupas de
culicídeos, mas com abdômen mais longo, bastante ativas. Seus cornos torácicos
lembram tufos de pelos brancos, usados em trocas gasosas. Assim como as larvas,
as pupas também não necessitam ir à superfície para obter ar, permanecendo no fundo. Só se dirigem à superfície no momento da eclosão do adulto. Pupas de espécies
que vivem em água corrente podem construir casulos aderidos a substratos com seda.
Os adultos voadores emergem diretamente da superfície da água. Adultos vivem
poucos dias, têm boca atrofiada, a maioria não se alimenta. Algumas sugam água
e néctar. Podem ser identificadas com relativa facilidade, pela posição típica
do primeiro par de pernas quando pousam (veja fotos).
GIF animado mostrando um Quironomídeo adulto emergindo da pupa. Fotos de Walther
Ishikawa.
Chironominae adulto, macho fotografado em Vinhedo, SP. Foto de Walther Ishikawa.
Quironomídeos da subfamília Tanypodinae, provável Coelotanypus, fotografados em Vinhedo, SP. Note o exacerbado dimorfismo sexual. Fotos de Walther Ishikawa.
Veja a segunda parte do artigo aqui .
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