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Hemípteros aquáticos  
Artigo publicado em 02/09/2012, última edição em 07/12/2023  


Hemípteros aquáticos


Os hemípteros constituem o maior e mais bem-sucedido grupo de insetos Paurometábolos (com metamorfose incompleta, antigo Hemimetábolo), ou seja, cujos filhotes são miniaturas sem asas dos adultos, sua metamorfose não envolve o estágio de pupa. Existem pelo menos 80.000 espécies catalogadas, e o traço em comum destes animais é o fato de possuírem peças bucais adaptadas para sucção, como uma agulha hipodérmica.


Gerre Rheumatobates crassifemur crassifemur macho, junto a um Barqueiro notonectídeo MartaregaNote o dorso de cor clara do barqueiro, uma adaptação visando camuflagem, já que estes animais nadam com o dorso para baixo. Foto de Walther Ishikawa.



Os hemípteros incluem também as cigarras, cigarrinhas e pulgões, mas as espécies aquáticas pertencem somente à sub-ordem dos heterópteros (seu nome vem do fato das asas anteriores terem uma porção mais espessa e dura, e uma porção mais delgada, denominadas de “hemi-elitra”), chamados popularmente de “percevejos”, um grupo que inclui também o barbeiro e várias espécies herbívoras, como a “maria-fedida”. Por este motivo, alguns autores preferem se referir a estes insetos aquáticos como “heterópteros aquáticos”. Há cerca de 5000 espécies aquáticas e semi-aquáticas conhecidas no mundo, 480 no Brasil. As poucas espécies semi-aquáticas de homópteros podem ser vistos  aqui .




Louva-a-deus d´água, Ranatra sp., coletado em Vinhedo, SP. Foto de Walther Ishikawa.



Pequeno Naucorídeo em um aquaterrário. Foto de Walther Ishikawa.



Limnogonus aduncus fotografados em Vinhedo, SP, mostrando as duas formas de plimorfismo alar. Na primeira foto, um indivíduo áptero, na segunda, um macróptero predando uma Efêmera. Foto de Walther Ishikawa.


Gelastocorídeo, Nerthra sp., uma espécie semi-aquática. Foto de Walther Ishikawa.




Pequena Barata d´água (1,8 cm), coletado em Vinhedo, SP. O inseto foi coletado como ninfa, visível na primeira foto. Note o grande bolsão de ar na região abdominal, onde ele leva seu suprimento, enquanto não tem asas. A Barata fez uma ecdise no aquário, na segunda foto ele pode ser visto pouco após a ecdise, já com asas, mas ainda com a cor leitosa. Na terceira foto, a exúvia. Fotos de Walther Ishikawa.



Exúvia de Escorpião d´água Curicta sp., fotografado em Extremoz, RN. Foto cortesia de Francierlem Oliveira.


Um grupo de Louva-a-deus d´água, Ranatra sp. Note como os filhotes são miniaturas dos adultos. O "graveto" no centro da foto é o abdomen do inseto maior. Foto de Walther Ishikawa.



Quase todas as espécies aquáticas são carnívoras, com pernas anteriores adaptadas na forma de garras curvas, se alimentando de insetos e outros pequenos invertebrados. Caramujos são uma fonte importante de alimentação de Baratas d´água. Espécies maiores predam vertebrados, principalmente peixes e anfíbios, mas existem registros de grandes Baratas d´água se alimentando até de pequenas cobras e tartarugas. A única exceção é o Barqueiro corixídeo (e alguns Notonectídeos) que são quase todos herbívoros ou detritófagos, seu rostrum é adaptado numa estrutura cônica e curta para este tipo de alimentação.


A sua introdução acidental em aquários é muito rara, mas quando acontece, é prudente retirá-los o quanto antes.



Velídeo, espécie desconhecida, cerca de 3 mm, no momento em que salta sobre um mosquito. Fotografado em Vinhedo, SP, foto de Walther Ishikawa.



Ninfa de quinto estágio de um Gerre macho, Limnogonus aduncus, junto a diminutos velídeos (talvez Microvelia), fotografados em Barra Bonita, SP. Ambos alimentam-se de insetos na superfície da água. Foto de Walther Ishikawa.



A maioria dos hemípteros aquáticos são ferozes predadores. Aqui, uma ninfa de Barata d´água predando uma ninfa de Louva-a-deus d´água. Fotos de Walther Ishikawa.



Pequena Barata d´água, se alimentando de uma ninfa de Efêmera. Foto de Walther Ishikawa.




Velídeo predando um Ostracóide, provável Cypricercus centrura, espécime coletado em Ribeira do Pombal, BA. Fotos de Miguel Macedo Luz Vieira.




Muitos destes hemípteros predadores são peçonhentos, e podem infligir picadas dolorosas a seres humanos, como os Notonectídeos, por isso chamados de "Wasserbienen" (abelhas d´água) na Alemanha. As Baratas d´água são chamadas de “toe-biters” (picadoras dos dedos dos pés) em inglês, e Pica-dedo em algumas regiões do país. O dano é proporcional ao tamanho do animal e tempo de picada, em raros casos, pode haver necrose tecidual, devido às enzimas digestivas injetadas, com ações proteolíticas e hemolíticas. Há também neurotoxinas, algumas potentes, podendo levar a paralisia ou morte quando experimentalmente injetados em pequenos vertebrados. 


Há alguma controvérsia em relação ao papel destes insetos na transmissão de úlcera de Buruli (Mycobacterium ulcerans), a terceira micobacteriose mais frequente no mundo. A doença ocorre no Brasil, mas é bastante raro (somente dois casos, reportados em 2007 e 2009). Trabalhos em áreas endêmicas da África mostram uma grande quantidade destes bacilos na saliva destes hemípteros, de diversas famílias, sugerindo seu papel tanto como hospedeiros quanto vetores.  


Muitos podem voar, procurando outros corpos d´água quando as condições não são adequadas, geralmente à noite. São atraídos por luzes à noite, os Belostomatídeos são chamados de Electric Light Bug por este motivo.





Close na cabeça de uma pequena Barata d´água, são vorazes predadores, note o primeiro par de pernas adaptado na forma de garras. Foto de Walther Ishikawa.


Barqueiros notonectídeos, estes pequenos insetos podem causar uma picada bastante dolorosa. Fotos de Walther Ishikawa.



Close na cabeça de um Louva-a-deus d´água, Ranatra sp., mostrando sua boca sugadora. Foto de Walther Ishikawa.



Geralmente os ovos são depositados em plantas e outros objetos submersos. Mas muitas espécies de Baratas d´água menores depositam ovos na região dorsal dos machos. Os machos dos grandes Lethocerus também cuidam dos ovos depositados em plantas emersas, protegendo-os, e mantendo-os úmidos. E um Corixídeo deposita seus ovos em lagostins, sendo considerada uma praga por criadores. 





Barata d´água, machos com os ovos na região dorsal. Na terceira imagem também é visível uma pequena ninfa. Fotos de Wellington Moreira Ferreira e Walther Ishikawa.








Casais de Gerre Limnogonus aduncus durante cópula, fotografados em Vinhedo, SP. Fotos de Walther Ishikawa. Alguns velídeos podem ser vistos nas fotos, e um notonectídeo na segunda.








Ninfas de Limnogonus aduncus fotografados em Vinhedo, SP. Na primeira foto, duas ninfas de primeiro estágio. Na segunda foto, primeiro e terceiro estágio. Na terceira foto, quarto estágio. Na quarta foto, uma ninfa de quinto estágio. Fotos de Walther Ishikawa. 



Barqueiro corixídeo, um dos heterópteros aquáticos que produzem sons. São usados como alimento em algumas regiões do mundo. Foto de Walther Ishikawa.



Como última curiosidade, muitos destes insetos são servidos como alimentos humanos em alguns países. Desde os tempos pré-hispânicos, os Astecas no México criavam Barqueiros corixídeos (e uma espécie de notonectídeo) em lagos, para obtenção dos seus ovos. São chamados de Axayacatl (nome do sexto rei asteca, uma variação, Axaxayactl pode ser traduzido como "mutuca d´água"), diversos pratos são preparados com o inseto, e principalmente com seus ovos, que são conhecidos como Ahuatle (literalmente "semente d´água", chamados por alguns de "caviar asteca"). Talvez o caso mais conhecido seja das Baratas d´água gigantes, bem populares em países asiáticos, em especial na China e Tailândia, onde é considerada uma iguaria. Neste último são chamados de "Cà cuông". São pescados usando armadilhas com luz negra, para atraí-los, vendidos frescos ou enlatados. Secreções dos machos também são usados para produção de um valioso tempero. Índios amazônicos também consomem hemípteros aquáticos, são chamados de "Rijo" (Ye´Kuana, Venezuela). 




Ahuatle, ovos de Barqueiros corixídeos, considerada uma iguaria no México. A barra de referência tem 2 mm. Imagem gentilmente cedida por Juan Manuel Vanegas-Rico.






Insetos vendidos como alimentos em um mercado em Chatuchak, Bangkok, Tailândia. Na segunda foto, Baratas d´água. Fotos gentilmente cedidas por Ernie Cooper.





1. Infraordem Nepomorpha


São os Hemípteros verdadeiramente aquáticos, habitando o fundo ou a coluna d´água. Morfologicamente, distinguem-se por terem antenas curtas, inseridas abaixo dos olhos, em geral não sendo facilmente visíveis. Não possuem o corpo aveludado, olhos compostos geralmente muito grandes, e frequentemente possuem as pernas anteriores raptoriais.



Belostomatidae


Os representantes desta família são conhecidos como Baratas d´água (obviamente sem relação com estes insetos), e inclui os maiores insetos aquáticos conhecidos, como o Lethocerus maximus sul-americano, podendo atingir 11 cm. Também são chamados de Arauembóia e Bota-mesa. Possuem corpo achatado e de forma elíptica, pernas anteriores adaptados para caça na forma de grandes garras. Pernas posteriores achatadas e franjadas, com forma de remos. Filogeneticamente forma um grupo irmão com os Nepidae, compartilhando um sifão respiratório na extremidade do seu abdômen, emergindo somente a sua extremidade para renovar o suprimento de ar.

Quatro gêneros ocorrem no Brasil, o mais comum é o Belostoma. Há também os grandes Lethocerus e os diminutos Horvathinia. Um gênero raro é o Weberiella, encontrado somente na região amazônica, juntamente com os Belostoma formam o clado Belostomatinae, onde os machos carregam os ovos na região dorsal.

Alguns Lethocerus secretam grandes volumes de uma substância azul-esbranquiçada da sua região bucal, com gosto ruim, agindo como um mecanismo de defesa. O curioso é que a produção destas substâncias (esteróides) ocorre a partir de colesterol, obtido somente através de ingestão de presas vertebradas. As enzimas digestivas salivares destes hemípteros já foram estudadas, mostrando interessantes diferenças entre os clados: Lethocerinae têm três enzimas proteolíticas, enquanto Belostomatinae têm duas enzimas proteolíticas e amilase, uma diferença possivelmente relacionada a diferença de dieta, os primeiros incluindo vertebrados entre suas presas. Há também enzimas pró e anticoagulantes, e um lisofosfolípide que causa bloqueio na junção neuromuscular.



Barata d´água gigante, Lethocerus maximus, fotografado em Abaetetuba, PA. O inseto mede cerca de 10,5 cm de comprimento. Foto gentilmente cedida por Rui Oliveira Santos.


 
 

Barata d´água gigante, Lethocerus maximus, fotografado em Marabá, PA. Fotos gentilmente cedidas por Joelma Santos.




Barata d´água gigante, Lethocerus grandis, fotografado em Iperó, SP. Foto gentilmente cedida por Fábio N. Manfredini.



Barata d´água gigante, Lethocerus annulipes. fotografado na Praia da Costa, Vila Velha, ES. Fotos de André Souza Pellanda.






Barata d´água gigante, Lethocerus sp. predando um anuro. Fotografado em Sabará, MG. Fotos de Robson Antonio Silva.



Lethocerus cf. annulipes, fêmea depositando ovos, registrado em Ouro Branco, RN. Foto de José Vinícius A. de Medeiros.





Lethocerus 
sp., macho protegendo os ovos, registrado em Pirapora, MG. Foto de Rodrigo Tinoco.





Horvathinia pelocoroides
, fotografado em Cesário Lange, SP.
Foto de Adryan Batista.





Baratas d´água Belostoma sp., coletados em Vinhedo, SP. Fotos de Walther Ishikawa.







Belostoma
sp., fotografado em Valinhos, SP. Fotos de Walther Ishikawa.




Ninfas de Belostoma sp., fotografadas em um lago de Foz do Iguaçu, PR. Note como elas têm um comportamento gregário quando jovens. Na segunda foto pode ser vista também uma massa de ovos de quironomídeos sobre o tronco. Fotos de Walther Ishikawa.






Barata d´água Belostoma sp., um macho com ovos no dorso, fotografado em Embu das Artes, SP. Fotos de Wellington Moreira Ferreira.




Nepidae


São os Escorpiões d´água (subfamília Nepinae, somente dois gêneros no Brasil, Curicta e Telmatotrephes) e Louva-a-deus d´água (subfamília Ranatrinae, somente o gênero Ranatra), com seu corpo alongado, achatado ou tubular, medindo até 45 mm. Apresentam um sifão caudal respiratório, não-retrátil, que pode ser tão longo quanto o corpo do animal. Lembram os Belostomatidae, seu grupo irmão, também com pernas anteriores raptoriais, pernas posteriores natatórias, e modo de vida similar. Alguns Nepídeos possuem a região dorsal do abdômen com coloração avermelhada, facilmente visível quando estão voando. Os Ranatrinae são também chamados popularmente de Bicho-pau d´água, ou Alfaiate em algumas regiões.

Seus ovos são depositados em plantas aquáticas, têm um formato alongado, e possuem longos e filamentares sifões respiratórios.



Louva-a-deus d´água repousando sobre uma planta aquática, em uma pequena lagoa catarinense. Imagem gentilmente cedida por Luís Adriano Funez.





Louva-a-deus d´água, Ranatra sp., coletado em Vinhedo, SP. O inseto maior mede 5 cm. Fotos de Walther Ishikawa.








Ovos de 
Ranatra sp. em uma pedaço de madeira caído na água, fotografado em Ribeira do Pombal, BA. Na última foto, uma ninfa recém-nascida. Fotos de Miguel Macedo Luz Vieira.






Escorpião d´água, Curicta sp., fotografados em Boituva, SP, e Camaçari, BA. Fotos gentilmente cedidas por Maurício Carrilho e Alison Morais.





Curicta
 sp., fotografado em um lago em Quinta da Boa Vista, RJ.
Foto de Antonio Carlos dos Santos.



Telmatotrephes grandicollis, um gênero bastante raro, com somente duas espécies no Brasil. Fotografado em Benjamin Constant, extremo oeste de AM, foto de Esteban Diego Koch.



Veja a segunda parte do artigo  aqui .
 
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