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Libélulas e Donzelinhas  
Artigo publicado em 23/04/2012, última atualização em 23/02/2024  

Uma Donzelinha (Acanthagrion, família Coenagrionidae) e uma Libélula (Micrathyria, família Libellulidae), fotografados em Vinhedo, SP. Foto de Walther Ishikawa.


Libélulas e Donzelinhas

 

Outro inseto que não raramente é encontrado como invasor em aquários é a ninfa de libélula. Por possuir hábitos sorrateiros, com uma eficiente camuflagem, e permanecendo oculto durante a maior parte do dia, muitas vezes só são detectados depois de mais crescidos, com o risco de predar pequenos peixes e invertebrados do tanque.

São introduzidos inadvertidamente no aquário, geralmente junto a plantas ornamentais sem tratamento preventivo adequado. Existem alguns relatos de desovas diretamente no aquário, mas são bem raros.

Originalmente, este artigo abordava também alguns outros insetos aquáticos que podem ser confundidos, as Efêmeras e Perlas. Veja o artigo complementar  aqui . Destes, os únicos realmente preocupantes são as Libélulas, vorazes predadoras, capazes de dizimar uma grande população de peixes e outros animais pequenos. Donzelinhas também são predadoras, mas geralmente são pequenas, com um risco muito menor.

A identificação da ninfa de Libélula é relativamente simples, com seu corpo atarracado e sem filamentos na cauda. A diferenciação dos outros três insetos é mais sutil, pode ser feita pelo número de prolongamentos na extremidade da cauda (três para Donzelinhas e Efêmeras, duas para Perlas), e seu aspecto (lisa nas Perlas, com aspecto de penas nas Donzelinhas, variável nas Efêmeras). A presença de brânquias laterais, comprimento das antenas e o aspecto dos olhos também são sinais auxiliares.

Apesar de geralmente serem consideradas pragas, alguns aquaristas criam deliberadamente estes animais em aquários, especialmente para poder observar sua metamorfose no inseto adulto. Sugere-se um aquário dedicado, sem outros animais (exceto presas para alimentação). A manutenção de mais de uma ninfa também não é recomendada, devido ao canibalismo. Sugere-se pouca movimentação de água, por exemplo com FBF em vazão mínima. É importante deixar um espaço acima da superfície da água para que o inseto possa emergir para a metamorfose. Para tal, são interessantes também a presença de galhos e outros objetos semi-emersos. O ideal é que o tanque não seja coberto, é muito comum os insetos voadores recém-transformados tentarem voar, cair na água e morrerem. Geralmente a transformação se dá de madrugada, algumas horas antes do sol nascer. Por isso, é preciso uma boa dose de sorte para poder acompanhar o processo. Mas é uma experiência única, fascinante e maravilhosa.   

 


Donzelinha Acanthagrion (Coenagrionidae) coletada em Vinhedo, SP. Foi criada em um aquário até sua metamorfose final. Fotos de Walther Ishikawa.

 


Metamorfose de outra donzelinha Coenagrionidae (talvez também Acanthagrioncoletada em Mococa, SP. Fotos de Felipe Lange.










Libélula coletada em Mococa, SP, Pantala flavescens. Foi criada em um aquário até sua metamorfose final. A segunda foto mostra a ninfa alimentando-se, a quarta e quinta flagram a ninfa imediatamente após a ecdise. Fotos de Felipe Lange.

 









Metamorfose de ninfa para adulta de libélula Erythrodiplax sp. (Libellulidae), registrada em Vinhedo, SP. Fotos e vídeo de Walther Ishikawa.



Libélula da família Gomphidae, recém metamorfoseada em adulto, fotografada em Baía Formosa, RN. Somente as libélulas da família Gomphidae conseguem realizar a metamorfose final em uma superfície plana, sem precisar se pendurar em objetos verticais. Foto de Francisco Souza.





Libélulas (insetos da ordem Odonata, subordem Epiprocta)

A ordem Odonata é dividida em duas sub-ordens, Zygoptera (donzelinhas) e Epiprocta (libélulas, até há muito pouco tempo classificada como Anisoptera). Existem cerca de 5000 odonatas no mundo, e cerca de 250 espécies descritas no estado de São Paulo. Todas as odonatas são predadores, tanto suas ninfas quanto os insetos adultos, sendo uma peça-chave no controle biológico de insetos nocivos. As ninfas são aquáticas, exceto por algumas poucas espécies com ninfas terrestres (nenhuma brasileira). Todos os adultos são alados, diurnos e com excelente visão, poucos insetos equiparam as libélulas em termos de capacidade de vôo, tanto em termos de duração quanto velocidade e manobrabilidade. Parecem dispender menos energia voando do que as donzelinhas, permanecem com as asas mais rígidas, parecendo planar no ar. 

Tamanho: até 5 cm.

Identificação: Animais com as seis pernas bem visíveis, grandes olhos, corpo achatado e relativamente curto, vivem no substrato. Corpo menos alongado do que ninfas de donzelinhas. Ao contrário destas, não possuem guelras externas na extremidade do abdômen. Ao invés, possuem espículas e orifícios no abdômen que levam a uma câmara branquial interna. Antenas curtas, quase imperceptíveis. Existem espécies fossoriais (como os Gomphidae), com pernas adaptadas para escavação e prolongamentos tubulares na extremidade do abdômen para auxiliar na respiração quando enterrados no substrato. 

Habitat e ciclo de vida: Vivem em águas paradas ou com correnteza. Como muitos outros insetos, são bioindicadores de qualidade de água. A cópula é bem peculiar, será mais bem descrita em Zygoptera, por ser mais típica neste grupo. Ovos são depositados na água pelos adultos voadores. Algumas espécies têm ovos envoltos em material gelatinoso, formando uma fita. À medida que se desenvolvem, realizam ecdises (troca de exoesqueleto), passando por 10 a 12 estágios de ninfa. O tempo de desenvolvimento da ninfa é bastante variável. Chegado o momento, a ninfa sai da água, procura um substrato sólido e o adulto emerge, geralmente de madrugada.

Alimentação e respiração: Invertebrados, pequenos peixes e girinos, geralmente ficam imóveis e capturam alimentos que se aproximam. Capturam suas presas usando uma mandíbula retrátil (chamada de máscara), na realidade um ‘labium’ que recobre a porção ventral da cabeça. Trocas gasosas na câmara branquial interna, não necessitam vir à superfície para respirar.

Perigo para humanos ou peixes: Inofensivo para humanos. Voraz predador, pode se alimentar de alevinos e peixes pequenos. Por outro lado, é predado por peixes maiores.



Curiosidades:

  • A língua assassina do Alien, personagem da série de filmes desenhada pelo suíço H.R.Giger foi baseada na boca de uma ninfa de libélula.
  • Apesar de geralmente rastejarem no substrato, podem nadar rapidamente expulsando água da sua câmara retal, um mecanismo semelhante a uma propulsão a jato.
  • Existem registros de libélulas voando a velocidades de até 56 km/h.
  • Recentemente foi descoberto que a espécie Pantala flavescens (que ocorre no Brasil) é o inseto com a maior distância migratória conhecida. Análises genéticas mostraram que espécimes da América do Norte, América do Sul e Ásia representam uma única população global, que realiza migrações cruzando oceanos, numa distância de 14.000 a 18.000 km (o recorde anterior, a famosa Borboleta Monarca, migra até 8.000 km). É uma espécie bastante prolífica, que se reproduz em corpos d´água temporários.
  • Insetos com metamorfose incompleta têm suas fases imaturas geralmente chamadas de ninfas (e não larvas). Ninfas aquáticas (como das libélulas) podem ser chamadas também de Náiades, que são as ninfas aquáticas da mitologia grega. Porém, estas duas denominações estão em revisão, alguns autores propõem que todos os insetos imaturos Pterygota possam ser chamadas de larvas.
  • Existe uma espécie sueca que passa 20 anos como ninfa, e a forma adulta vive somente alguns dias.
  • "Libélula" também tem uma etimologia interessante, é o diminutivo de libra, a balança, uma alusão à sua forma de voar, pairando no ar.


Pequena Libélula fotografada em Mangal das Garças, Belém – PA. Foto de Cinthia Emerich.




São encontradas no Brasil cerca de 400 espécies de Anisoptera, distribuídas em 4 famílias, descritas abaixo. 



Superfamília Aeshnoidea:

Aeshnidae é uma pequena família com 50 espécies brasileiras distribuídas em 10 gêneros. Adultos de grandes dimensões, são excelentes voadores, atingindo altas velocidades. Ninfas robustas e alongadas, com cabeça bem desenvolvida e achatada, olhos grandes e expandidos lateralmente. Ninfas são principalmente escaladoras, ficando agarradas a macrófitas submersas, principalmente em lagos e pântanos.






Ninfa de libélula Anax, família Aeshnidae, cerca de 3cm, fotografado em Gravataí, RS. Na segunda imagem ventral pode ser visto o lábio achatado, característico desta família. Fotos de Walther Ishikawa.







Anax sp. (família Aeshnidae), fotografado em Vinhedo, SP. Fotos de Walther Ishikawa.




Pequena ninfa da família Aeshnidae, talvez Rhionaeschnafotografada na APP Lagoa Encantada, Vila Velha, ES. Algumas ninfas desta família têm este típico aspecto zebrado. Foto de Flávio Mendes.




Ninfa de libélula da família Aeshnidae, surgiu como invasor em um aquário ornamental, introduzido com plantas. Fotos de Márcio Vargas.




Diminuta ninfa de Aeshnidae, surgiu como invasor em um aquário ornamental, introduzido com plantas. Fotos de Fernando Barletta.







Grande ninfa de libélula da família Aeshnidae, provável Rhionaeschna, fotografado em Poços de Caldas, MG. Fotos de Walther Ishikawa.




Ninfa da família Aeshnidae, medindo 3cm, provável Rhionaeschnafotografada no Parque do Jaraguá, SP. Foto de Walther Ishikawa.


Coryphaeschna adnexa, família Aeshnidae, fotografada no Convento da Penha, Vila Velha, ES. Foto de Flávio Mendes.



Superfamília Gomphoidea:

Gomphidae possui 110 espécies em 21 gêneros, é considerada uma das famílias mais primitivas dentre os Anisoptera. Adultos têm os olhos separados na região dorsal. Larvas em geral fossoriais, vivem enterradas nos diversos sedimentos onde vivem, sendo por isso chamadas em espanhol de "libélulas topo". Têm o corpo robusto e geralmente achatado, cabeça estreita e em forma de cunha anteriormente. Pernas curtas e fortes, adaptadas para cavar. Alguns se enterram somente na superfície, enquanto outros de forma profunda, tendo o último segmento abdominal bastante alongado, que mantém acima do sedimento, permitindo respirar. Preferem riachos com pouca correnteza. São os únicos Anisoptera cujos adultos conseguem emergir de uma superfície plana, não necessitando pendurar-se em algum objeto ou superfície vertical.    


Ninfas da família Gomphidae, fotografadas em Bonito, MS. Foto de Evânia Gondim.


Epigomphus sp., família Gomphidae, fotografada na APA do Mestre Álvaro, Serra, ES. Foto de Flávio Mendes.


Ninfas de Progomphus, família Gomphidae, fotografada na Serra do Japi, em Jundiaí, SP. Na última foto, uma das ninfas semi-enterrada. Fotos de Walther Ishikawa.



Ninfa de Gomphidae, Aphylla ou Phyllocycla, filmada em Extremoz, RN. Note o último segmento abdominal bastante longo, indicando hábito fossorial profundo. Vídeo cortesia de Francierlem Oliveira.


Progomphus, família Gomphidae, fotografada em São Luiz do Paratinga, SP. Somente os Gomphidae conseguem realizar a metamorfose em adultos em uma superfície plana. Foto de Shannon Buttimer.



Superfamília Libelluloidea:

Libellulidae é a maior família de Anisoptera, com quase 200 espécies brasileiras em 37 gêneros. Larvas robustas e com pernas fortes, com alguma variação na forma e hábitos, refletindo o grande número de espécies desta família. Ocupam os mais variados nichos ambientais, algumas espécies são encontradas em fitotelmata, como alguns Erythrodiplax e Libellula. Existem espécies neotropicais que vivem em ambientes salobros, mas não no Brasil.







Libélula da família Libellulidae, Macrothemis imitans, fotografados em Amparo, SP. Fotos de Walther Ishikawa.





Duas libélulas Erythrodiplax
(Libellulidae) fotografadas em Vinhedo, SP. Foto de Walther Ishikawa.






Diastatops cf. intensa (Libellulidae), fotografada no Parque Juquery, Franco da Rocha, SP. Fotos de Walther Ishikawa.



Diastatops obscura (Libellulidae), fotografada em Extremoz, RN. Foto de Francierlem Fonseca.






Diastatops intensa (Libellulidae), fotografada em Charqueadas, RS. Foto de Jorge Luiz Wolff.



Ninfa de Diastatops (Libellulidae) fotografada em Liberdade, Santarém, PA. Note as projeções laterais nos olhos, típico deste gênero. Fotos de Isabela Kögler de Miranda.




Libélula "Morpho", Zenithoptera lanei. Estas libélulas receberam algum destaque recentemente, devido a um artigo brasileiro (Guillermo-Ferreira et al, 2017) demonstrando tubos traqueais nas suas asas, um achado não usual, já que geralmente a maior parte das asas são tecidos desvitalizados. Foto de Francisco Almeida.





Ninfa de Pantala flavescens (família Libellulidae), cerca de 3cm, coletado em Vinhedo, SP. Esta espécie tem ampla área de distribuição (América do Norte, Sul, Ásia e África), vive em lagoas temporárias, completando seu desenvolvimento muito rapidamente. Detém o recorde atual de inseto com maior distância migratória (veja texto). Note os típicos tarsos médios e posteriores pretos. Fotos de Walther Ishikawa.



Ninfa de Pantala flavescens, predando larvas de mosquito Aedes. Coletado em Jundiaí, SP. Vídeos cortesia de Arthur Belver.




Ninfa de Tramea sp., família Libellulidae, fotografado na APP Lagoa Encantada, Vila Velha, ES. Foto de Flávio Mendes.






Ninfa de Brachymesia sp., família Libellulidae, fotografado no AP. Fotos de Flávio Mendes.







Ninfa de Brachymesia sp., família Libellulidae, fotografada em Vinhedo, SP. Fotos de Walther Ishikawa.




Ninfa de Libellulidae fotografada em Presidente Figueiredo, AM. Foto de Esteban Diego Koch.







Perithemis mooma
e Perithemis lais (com uma donzelinha), família
Libellulidae, fotografados em Vinhedo, SP. Em inglês, esta família é chamada de "Amberwing" (asas de âmbar). Fotos de Walther Ishikawa.




Perithemis tenera
, família
Libellulidae, fotografada em Aruanã, GO. Foto de Kennedy Borges.








Duas pequenas ninfas de libélulas da família Libellulidae, Elasmothemis constricta, medindo cerca de 0,6cm, e exúvia da mesma espécie medindo 3cm, fotografados em Amparo, SP. Fotos de Walther Ishikawa.





Erythrodiplax sp. (família Libellulidae),
fotografada em Aquiraz, CE. Foto de Walther Ishikawa.





Libélula adulta, provável Erythemis (Libellulidae) recém metamorfoseada, fotografada na Serra do Japi, Jundiaí, SP. Foto de Walther Ishikawa.



Corduliidae é uma família de taxonomia confusa, aparentemente monofilética, mas com bastante discussão em relação à composição e arranjo interno. É a menor família brasileira de Anisoptera, com 40 espécies em 6 gêneros, os mais numerosos são Aeschnosoma, Navicordulia e Neocordulia. Suas ninfas lembram Libellulidae, mas possuem algumas peculiaridades como uma crista dorsal entre as antenas. São mais comuns nas regiões Sudeste e Sul do país, em lagos e riachos montanhosos. Algumas espécies australianas têm ninfas terrestres. Adultos grandes e com reflexos metálicos



Ninfas de Neocordulia, fotografadas em Marechal Floriano, ES. Fotos gentilmente cedidas por Flávio Mendes.


Provável ninfa de Navicordulia, cerca de 1,6 cm, fotografado em Vinhedo, SP. Na primeira foto, com uma pequena ninfa de Efêmera. Fotos de Walther Ishikawa.


Libélula da família Corduliidae, fotografada em Araras, Petrópolis, RJ. Foto de Anderson Rabello Pereira.




Veja a segunda parte do artigo clicando  aqui .

 
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