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Megalópteros  
Artigo publicado em 08/08/2015, última atualização em 30/12/2023  




Megalópteros



A ordem Megaloptera (do grego megalo = grande, pteron = asa) representa um grupo primitivo de insetos holometábolos, todos com larvas aquáticas ou semi-aquáticas. Somente as larvas são aquáticas, os estágios de ovo, pupa e adultos são terrestres. Há cerca de 350 espécies descritas em 30 gêneros no mundo, há somente duas famílias no Brasil, Corydalidae e Sialidae.

 






Larva de Coridalídeo, Corydalus sp. fotografado em um riacho catarinense. Imagens cedidas por Luís Adriano Funez.



Macho de Corydalus cf. diasi, fotografado em Petrópolis, RJ. Foto cortesia de Maurício Gomes.



 

Lacraia d´água, Hellgrammite, Julião, Bin Laden, Dobsonfly



Insetos pertencentes à família Corydalidae, com grandes larvas aquáticas, no Brasil chamados popularmente de Lacraia d´água, ou pelo nome em inglês, Hellgrammite (etimologia incerta, uma hipótese proposta é Hell + Grim + Mite, algo do tipo "Ácaro Ameaçador do Inferno"). Em Minas Gerais estes insetos aquáticos também são chamados de Julião e Diabo-do-córrego, e no Rio de Janeiro de Lacrau. Cada vez mais têm surgido na internet o nome popular de Bin Laden. Alguns chamam os adultos destes insetos de Formiga-Leão, embora  esta denominação seja mais usada para larvas de neurópteros da família Myrmeleontidae (talvez pela semelhança das enormes mandíbulas).

 

Larva achatada e alongada, pode ter grandes dimensões (até 9 cm). Corpo segmentado, mandíbulas bem desenvolvidas. Seis pernas articuladas nos segmentos torácicos, mas os segmentos abdominais têm oito pares de brânquias filamentosas longas laterais, parecidas com penas, além de um par de falsas pernas anais, dando uma aparência semelhante a uma centopéia. Coloração geralmente castanha a parda.







Hellgrammite fotografado no Parque Estadual do Jaraguá, SP. Fotos de Walther Ishikawa.


 

Ovos são postos nas margens de cursos d´água límpidos e bem oxigenados, preferindo ambientes com correnteza, onde as larvas se desenvolvem. São depositados em conjunto e recobertos por secreção de coloração branca, que escurece próximo à eclosão. Metamorfose completa, formam pupas em ambiente terrestre, geralmente nas margens dos locais onde as larvas cresceram, de onde emerge o adulto alado. As pupas são bem ativas, com pernas e mandíbulas funcionais. Permanecem como larvas por alguns anos, mas a vida adulta é curta, não passa de um mês. Adultos alimentam-se de néctar e frutas.

 







Ovos de Coridalídeos fotografados no Rio Tamanduá, Foz do Iguaçu, PR. Havia uma grande quantidade de ovos (e restos de ovos eclodidos) em folhas de árvores sobre o rio, e em superfícies rochosas, como na ponte sobre o rio. Fotos de Walther Ishikawa.








Ovos de Coridalídeos fotografados em rochas na margem de um rio em Maquiné, RS. Algumas fotos mostram também um cacho de ovos de Mutucas (Tabanidae). Fotos de Camila Hein.



 

Adultos alados, o gênero Corydalus (o gênero mais comum no Brasil, com 16 espécies), a maioria das espécies exibe exacerbado dimorfismo sexual, os machos possuem mandíbulas desproporcionalmente grandes (usados em rituais de acasalamento), sendo por isso chamados de “king bug”. Apesar das mandíbulas enormes, machos adultos não possuem força na sua mordida, ao contrário das fêmeas, com pequenas mandíbulas mas mordida bastante potente e dolorosa. Em geral, possuem coloração parda, dois pares de asas membranosas grandes, repousam dobradas sobre o abdômen, em forma de telhado. Olhos protuberantes posicionados lateralmente, antena longa e filiforme. São os maiores insetos aquáticos conhecidos, recentemente (2014) foi anunciado a descoberta na China de uma espécie com 21 cm de envergadura das asas. Algumas espécies de Corydalus não têm este dimorfismo sexual nas mandíbulas, das brasileiras, C. arpi, C. ignotus, C. hecate e C. cephalotes









Larva de Corydalus sp. em um riacho em Santa Leopoldina, ES. Fotos e vídeo de Flávio Mendes. A primeira imagem do artigo também é do mesmo animal.






Pupa de Corydalus sp. encontrada em Pinhão, PR. Foto de Adriano Silvério.




As larvas são vorazes predadores, se alimentam de insetos aquáticos e outros invertebrados, e eventualmente de alevinos e peixes pequenos. Possuem fortes mandíbulas, sua mordida é bastante dolorosa, podendo causar ferimentos cortantes em seres humanos. Possui uma das maiores taxas de crescimento dentre insetos, com aumento na sua biomassa em mais de 1000 vezes da primeira à última forma larvar. Isto se deve à sua capacidade de manter um metabolismo constante mesmo com variações na temperatura ambiental, comparável a animais homeotermos, fato extremamente incomum em um inseto.





Casal de Coridalídeos adultos, Corydalus diasi, fotografados em Goianá, MG. Na primeira foto, é bem visível o dimorfismo sexual destes insetos, o macho com as mandíbulas desproporcionalmente grandes. Fotos cortesia de Bruno Corrêa Barbosa.





É predado por peixes maiores, por este motivo é bastante conhecido por pescadores, usados como isca. Nos Estados Unidos, crianças coletam estas larvas como um teste de coragem: introduzindo suas mãos no meio do lodo no fundo do rio, esperando estes animais morder seus dedos, para daí capturá-los. No México e em alguns países da América do Sul as larvas são consumidas como iguarias, e em alguns locais da Ásia são usadas em medicina tradicional.





Corydalus - espécies brasileiras:


Segue descrição das espécies brasileiras conhecidas de megalópteros Corydalus. A sequência seguinte pode ser usada como uma chave de identificação informal, checando características e distribuição de cada espécie, e seguindo para a espécie seguinte. Novamente reforçamos as limitações desta abordagem, chaves acadêmicas se baseiam bastante em estruturas genitais masculinas, que não serão mencionadas aqui. 




Corydalus amazonas - Espécie pouco registrada, até agora só foram encontradas fêmeas. Ocorre no Brasil (AM, RO) e Peru. Identificação fácil, única espécie com cabeça robusta e convexa, não-achatada, com cristas esclerotizadas e escuras dorsolaterais. Cores das antenas e pernas também são bem características.




Corydalus amazonas, fotografado em Alta Floresta, MT. Foto cortesia de Sidnei Dantas.




Corydalus arpi e C. ignotus - Espécies irmãs amazônicas, ambas não mostram dimorfismo sexual nas mandíbulas. C. arpi ocorre no Brasil (AM) e Venezuela, C. ignotus no Brasil (AM, RR) e Guiana Francesa. Asas com regiões costais largas, as veias costais cruzadas amarelas formam uma mancha clara proximal ao estigma, dando um aspecto de "duplo estigma". Antenas curtas, com três cores. As duas espécies são bem parecidas, podem ser diferenciadas pelo espinho pós-orbital (proeminente em C. arpi) e detalhes da venação alar (como as veias Cu1 com 5-6 ramos em C. arpi e 4 ramos em C. ignotus). 



Fêmea de Corydalus ignotus, fotografado em D6 Route de Kaw, Roura, Guiana Francesa. Esta espécie é encontrada também no norte do Brasil, e também não exibe dimorfismo sexual na mandíbula. Foto cortesia de Bernard Dupont.



Corydalus arpifotografado em Balbina, Presidente Figueiredo, AM. Foto cortesia de Rodrigo Frazão Alves.



Corydalus cephalotes C. hecate - Espécies irmãs, ambas não mostram dimorfismo sexual nas mandíbulas (bem discreto em cephalotes). C. cephalotes ocorre no Brasil (MT, RJ), Colômbia e Venezuela, C. hecate no Brasil (DF, MG, ES, SP), Venezuela e Peru. Cabeça e corpo escuros, geralmente asas escuras com manchas claras. Antenas curtas, mais claras e com a ponta escura. A forma mais fácil de distinção entre as duas é pela venação alar, M1+2 com três ramos na primeira, e quatro na segunda.



Corydalus hecate, fotografado em Pindamonhangaba, SP, foto cortesia de Caroline Camargo. Esta espécie não exibe o dimorfismo sexual comum no gênero.




Corydalus hecate 
machofotografado no Sítio Terra dos Pássaros, em Ravena, Sabará, MG, 
foto cortesia de Ricardo Martins. A genitália masculina na extremidade do abdômen é visível nesta foto.




Macho de Corydalus cephalotes, fotografado em Petrópolis, RJ, foto cortesia de Maurício Gomes. Esta espécie é irmã da acima, e o dimorfismo sexual é mínimo.



Corydalus primitivus - Espécie tipicamente andina, comum no norte da Argentina e Bolívia. Questionável presença no Brasil, algumas fontes mencionam a presença aqui (MT, MG), além de Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina. Pigmentação das asas típica com manchas brancas margeadas por anéis pretos (nem sempre presente). Mandíbulas dos machos não tão longos como outras espécies. Antenas escuras, finas e longas. Pode ser diferenciado das espécies parecidas pela venação alar, Cu1 com 4-5 ramos (C. australis e C. diasi com 5-7 ramos).


Macho de Corydalus primitivus, fotografado em San Salvador de Jujuy, Jujuy, Argentina. Foto de Jorge Fusaro.



Corydalus tridentatus - Endêmica brasileira, encontrada no ES, PR, RS. Corpo e asas escuras, estas com manchas brancas e negras nítidas e proeminentes. Antenas bastante grossas, é a única espécie não-amazônica com este aspecto. Antenas extremamente longas, a mais longa dentre as espécies brasileiras. 




Machos de Corydalus tridentatus, fotografados em Itapeva, SP (foto cortesia de Kevin Ferraz), e em Painel, SC (foto cortesia de Eliane Dokonal). Note a antena grossa e excepcionalmente longa, típico desta espécie.


Corydalus armatus C. peruvianus - Espécies irmãs com ampla distribuição, C. armatus ocorre na Colômbia, Venezuela, Equador, Peru, Bolívia e Argentina. Algumas fontes mencionam a presença no Brasil, sem especificação dos Estados. C. peruvianus foi recentemente reportada no Brasil (RO), ocorre também desde o México, América Central, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru, Bolívia e Argentina. Antenas dos machos bastante grossas, primeiros segmentos mais curtos do que largos. Possuem tíbia 1/4 basal escura, contrastando com porção apical. Machos das duas espécies podem ser diferenciadas pela cor das antenas, marrons uniformes no C. armatus, e amarelados claros, escurecendo gradativamente nos segmentos apicais no C. peruvianus. Fêmeas são praticamente indistinguíveis.





Macho de 
Corydalus armatus, fotografado em Nocaima, Cundinamarca, Colômbia. Note as tíbias. Foto cortesia de Oscar Enciso.




Macho de Corydalus peruvianus, fotografada na província de Alajuela, Costa Rica. Espécie com ampla distribuição, recentemente reportada também no Brasil. Foto cortesia de Cole Gaerber.





Corydalus flavicornis - Espécie amazônica, é encontrada desde a América Central, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e no Brasil (AM, RR). Coloração global amarelada, daí seu nome. Antena do macho longa e bastante grossa, de cor amarela e extremidade mais escura. Fêmeas lembram C. affinis, mas a pigmentação das pernas é distinta, com tíbias proximais escuras.





Casal de Corydalus flavicornis, fotografado em Olanchito, Yoro, Honduras. Note o exacerbado dimorfismo sexual, nas mandíbulas e antenas. Esta espécie também é encontrada no Brasil. Foto cortesia de Donald Pendleton.




Corydalus batesii, C. neblinensis e C. contrerasi - Espécies irmãs amazônicas, C. batesii é comum, ocorre no Brasil (AM, PA, TO, RO, AP), Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana, Guiana Francesa, Equador, Peru e Bolívia, enquanto C. neblinensis é mais restrita aos altiplanos da região dos tepuis, com questionável presença no Brasil (AM, PA, RR), além de Venezuela, Guiana e Guiana Francesa. C. contrerasi ainda não foi formalmente descrita, foi encontrada recentemente em RR, provavelmente pertence ao mesmo grupo destas duas outras espécies. Antenas dos machos grossas e longas. Antenas amarelo claro, com últimos segmentos abruptamente enegrecidos nos dois sexos. Fêmures e tíbias basais de cor marrom escura, tíbia apical e tarsos amarelo pálido. C. batesii é de identificação simples pela coloração bem típica, cabeça e corpo bem escuros. Asas escuras, com marcações negras bem demarcadas. C. neblinensis possui asas translúcidas com poucas marcações.    





Casal de Corydalus batesii. Fêmea na primeira foto, fotografado na Serra do Tepequem, em Amajari, RR, com padrão atípico de coloração (foto cortesia de Karla Pereira). Macho na segunda foto, fotografado no Sítio Agroecológico Tolú, em Igarapé Açu, PA (foto cortesia de Luciana Araújo Lisboa de Athayde).


Fêmea de Corydalus batesii, fotografada em Curionópolis, PA. Foto cortesia de Joymax Nascimento.




Corydalus nubilus - Espécie com ampla distribuição amazônica, é encontrada no Brasil (AM, PA, RO, RR, TO, AC, MT), Guiana, Guiana Francesa, Venezuela, Colômbia e Peru. Das espécies seguintes, é a única com antena do macho curta e fina. Cabeça e corpo de cor marrom clara, com faixas laterais negras. Mandíbulas do macho de dimensões variáveis. 



Fêmea de Corydalus nubilus, fotografada em São Gabriel da Cachoeira, AM. Foto cortesia de Juliana Lins.



Fêmea de Corydalus nubilus, fotografada em Régina, Cayenne, Guina Francesa. Foto cortesia de Antoine Guiguet.




Corydalus affinis - Espécie brasileira com distribuição mais ampla (AM, PA, AC, RR, AP, RO, TO, BA, MT, ES, SP, SC, RS), encontrada também na Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa, Argentina, Bolívia e Paraguai. Das três espécies remanescentes, é a única com cabeça marrom clara, com marcações laterais marrom escuras. Pernas também de cor clara, bastante útil na identificação. Mandíbulas do macho de dimensão variável, podendo ser longas. Mandíbula da fêmea com os três dentes subapicais equidistantes. Antenas finas, delgadas e escuras em ambos sexos, mais longa no macho. 



Corydalus affinis, fotografado em Pacaraima, RR. Imagem cortesia de Whaldener Endo.




Corydalus diasi - Outra espécie com distribuição ampla (TO, CE, BA, GO, MG, SP, RS), encontrada também na Argentina e Paraguai. Não ocorre na região amazônica. Pernas escuras, com terço basal da tíbia mais escuro, muitas vezes seguido por um fino anel claro. Cabeça geralmente escura. Mandíbulas dos machos grandes, escuras e com dentição reduzida. Antenas um pouco espessas, longas, escuras. Mandíbulas das fêmeas com face basal do dente pré-apical basal côncava.


Corydalus australis - Embora seja afastado filogeneticamente, esta espécie é muito parecida com C. diasi, distinção bastante difícil nos machos sem a análise dos genitais. Distribuição mais restrita (MG, SC, RS), encontrada também na Argentina e Uruguai. Também não ocorre na região amazônica. Nas fêmeas, há diferenças nas mandíbulas, com dente pré-apical basal maior e mais separado do segundo, em ângulo oblíquo com o eixo da mandíbula, e sua face basal apresenta convexidade. O clípeo possui três projeções maiores do que a espécie anterior. Suas pernas têm os tarsos de cor semelhante (os três últimos segmentos são escuros no C. diasi).

    




Macho de 
Corydalus diasi, fotografado em Cabixi, RO. Foto cortesia de Edson Ricardo Barreiro da Silva.


  


Fêmea de Corydalus australis, fotografado na RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, em Itaiópolis, SC. Foto cortesia de Germano Woehl Jr. (Instituto Rã-Bugio para Conservação da Biodiversidade).



Casal de Coridalídeos adultos, Corydalus australis, fotografados em Urubuci, SC. Fotos cortesia de Matheus Mainardi.


Comparação das mandíbulas de fêmeas de Corydalus australis e Corydalus diasi, fotos cortesia de Ryan St. Laurent e Livya Junqueira.







Para a segunda parte do artigo (inclui créditos, agradecimentos e bibliografia), clique  aqui .

 
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