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Outros Mosquitos - parte2  
Artigo publicado em 13/11/2012, última edição em 07/09/2022  



Outros Mosquitos - Dípteros Nematocera (2)

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Borrachudos (família Simuliidae)

            Existem cerca de 1500 espécies no mundo, e cerca de 40 no Brasil. Conhecidos também por "pinhum", "pium" ou "promotor", são pequenas moscas de cor escura (são chamadas em inglês de “black fly”). Dimorfismo evidente, como nas mutucas, olhos juntos nos machos e separados nas fêmeas. Fêmeas adultas picam humanos, sendo famosos principalmente no litoral por serem bastante numerosos e com a picada bastante incômoda. Picam durante o dia. Sua picada é indolor, mas causa uma forte reação no local, com intensa coceira, inchaço e dor. Diferente dos mosquitos, deixam uma característica marca avermelhada no local da picada. 

      São vetores de várias doenças veterinárias. Na África e América Central também são vetores da oncocercose (causada por um verme nematóide, pode causar cegueira em humanos). No Brasil não há registros de simulídeos vetores de doenças humanas, exceto raros focos destas filarioses entre populações indígenas no extremo norte da floresta amazônica (RR e AM). Alguns estudos sugerem alguma conexão entre picadas de borrachudos e o pênfigo foliáceo (“fogo selvagem”), uma grave doença dermatológica auto-imune, com formação de bolhas e descamação, e também a síndrome hemorrágica de Altamira (uma reação alérgica grave vista no Pará).
            Larvas têm um corpo cilíndrico, com a região abdominal mais larga. Cabeça esclerotizada, pro-pernas macias no tórax. Em Simuliinae, possuem um par de grandes cerdas em forma de leque na cabeça, usadas para filtrar alimentos. Larvas de Gymnopaidinae não possuem estas estruturas, sendo raspadoras do substrato. Um círculo de pequenos ganchos na extremidade do abdômen, usadas para se fixar em algum objeto. Desta região, produzem seda, que auxiliam na sua fixação. Se forem deslocados, e ficam livres na correnteza, usam a seda para criar uma teia, e ficam pendurados neste fio, usando-a para retornarem a uma posição adequada (artifício muito semelhante a de uma aranha). Pupas aquáticas, têm um aspecto bem típico, ficam alojadas em um casulo com formato de cone, cujo ápice fica aderido a algum objeto. A cabeça se situa junto à abertura, da qual se originam finos tentáculos.

          Vivem em águas límpidas com correnteza, podendo ser bastante numerosos, acarpetando rochas submersas. São sensíveis a poluição e salinidade. Adultos liberam ovos na superfície, ou mergulham para depositá-los no substrato. Larvas se movimentam com movimentos alternados de flexão e extensão, como algumas lagartas, usando as garras anais e as pró-pernas no tórax. Mas na maior parte do tempo ficam fixas a algum objeto submerso. A emersão do adulto da pupa ocorre debaixo d´água, o mosquito atinge a superfície em uma bolha de ar, que arremessa o inseto quando se rompe.
            Larvas filtradoras, usam as cerdas em leque para capturar debris e microalgas. Adultos se alimentam de néctar, e fêmeas da maioria das espécies são hematófagas. Larvas obtêm oxigênio através de difusão, usando guelras anais. Pupas também, usando os tentáculos filamentosos da região cefálica.





Cachoeira do Coqueiro Torto, em Águas da Prata, SP. Sobre as rochas, em locais de maior correnteza, havia uma quantidade muito grande de larvas de borrachudo. Fotos de Walther Ishikawa.










As mesmas larvas de borrachudo das fotos anteriores, com cerca de 10 mm, fotografadas em um aquário.
Fotos e vídeo de Walther Ishikawa.




Larva de borrachudo, cerca de 7 mm, coletado em Monte Verde, MG. Espécie desconhecida, curiosamente também não têm as cerdas em leque na cabeça. Fotos de Walther Ishikawa.




Borrachudos adultos, Simulium pertinax, fotografados em plena hematofagia na perna do autor da foto, em um manguezal em Ubatuba, SP. Fotos de Walther Ishikawa.



















Larvas e pupas de Simulídeos fotografados no Parque Juquery, Franco da Rocha (SP), talvez Simulium (Inaequalium) inaequale. Fotos de Walther Ishikawa.


 


Mosquito Blefaricerídeo (família Blephariceridae)

 

            Blephariceridae é outra família cosmopolita de pequenos mosquitos, cerca de 308 espécies no mundo, 76 neotropicais, sem nome popular em português. Em inglês, são chamadas de “net-winged midges”, por possuírem finas dobras formando uma delicada rede entre as veias alares. Todas as espécies têm larvas aquáticas.

            As larvas têm distribuição restrita a ambientes com rápida correnteza, habitando substratos rochosos diretamente expostos à água corrente, posicionando-se com a cabeça à frente, em locais onde o fluxo pode chegar a 1m/s. Alimentam-se do biofilme formado por algas diátomas e outros materiais orgânicos na superfície de rochas. Seu aspecto é inconfundível, com corpo achatado, dividido em seis segmentos, cada uma com uma grande ventosa succional ventral. Movem-se lentamente, destacando sucessivamente suas ventosas. As pupas se desenvolvem no mesmo local onde as larvas vivem. Adultos da maioria das espécies se alimentam de néctar, mas existem algumas espécies predadoras, insetívoras.





Exemplares norte-americanos de Blefaricerídeos, larvas (visão dorsal e ventral) e pupa fotografados em Central, Virgínia, EUA. Fotos gentilmente cedidas por Bob Henricks.


Larva Blefaricerídea fotografada em Ilhota, SC. Fotos de Carlos Henrique Russi.



Pupas de Blephariceridae, no fundo rochoso num riacho perto da Cachoeira do Coqueiro Torto, em Águas da Prata, SP. Foto de Walther Ishikawa.


Blefaricerídeo adulto, fotografado em Araponga, MG. Foto de Frederico Salles.




Mosquitos-fantasma (família Chaoboridae)

            Família cosmopolita, são próximos aos culicídeos, alguns autores chegam a considerá-los uma sub-família dos Culicidae. 50 espécies no mundo, 11 espécies neotropicais (todas do gênero Chaoborus).

            Os adultos são mosquitos voadores inofensivos, não-hematófagos (exceto uma única espécie estrangeira), muito parecidos com culicídeos (em especial anofelinos), podem ser distinguidos pela probóscis curta e poucas escamas nas asas. Possuem larvas de características bem marcadas, são alongadas, nadam na posição horizontal, e têm o corpo bastante transparente, daí o nome em inglês de “phantom midge”. Destacam-se estruturas arredondadas de coloração metálica, que são sacos contendo ar (tubos traqueais expandidos), usadas para flutuação na água. Recentemente foi descoberto um mecanismo único usado para controlar a flutuabilidade através destes sacos, suas paredes contém fibras de resilina, que se expandem ou contraem a depender do ajuste de pH. Vistos de cima, as larvas podem ser confundidas com diminutos alevinos, com olhos escuros. Quando ameaçados, nadam com movimentos de contorção semelhantes a outros mosquitos. Pupas são bastante ativas, mantêm aspecto translúcido, e são mais alongadas do que outras pupas de mosquitos, ficando em posição vertical.

            Vivem em águas paradas e límpidas, durante o dia as larvas se situam mais próximas ao substrato, durante a noite apresentam um movimento migratório em massa para junto da superfície. Durante o dia, vivem em meio à lama anaeróbica, fermentando malato e produzindo succinato que é usada como fonte de energia (metabolismo anaeróbio). À noite passam a ter metabolismo aeróbio, restaurando suas reservas de malato quando se alimentam próximo da superfície. Ovos são depositados na água pelos adultos voadores, formando massas gelatinosas arredondadas ou em espiral, dentro do qual podem ser vistos os diminutos ovos.

            Larvas são vorazes predadores de microinvertebrados, com antenas preênseis adaptadas para capturar presas. Curiosamente, a grande maioria dos adultos não se alimenta, vivendo de reservas obtidas durante a fase larval. Algumas poucas exceções se alimentam de néctar, e existe uma única espécie hematófaga. Larvas obtêm oxigênio diretamente da água, não necessitando ir à superfície.

            Semelhante a alguns quironomídeos, no lago Nyasa (África), o Chaoborus edulis forma grandes enxames que emergem simultaneamente do lago, aos milhões, chegando a obscurecer janelas, dificultar o trânsito local, e até obrigando as pessoas a usar máscaras improvisadas. Têm vida curta, ao morrerem formam volumosas massas flutuantes no lago, coletadas na costa pela população local, que fazem massas compactas vendidas em mercados locais para alimentação humana na forma do chamado "Bolo Kunga".




Larva de Chaoborus sp., foto de Chris Lukhaup.




Larva de Chaoborus sp., coletado em um tanque de piscicultura em Dourados, MS. Fotos de Roberta Mochi de Miranda.



Close na cabeça de uma larva de Chaoborus sp., fotografado em uma lagoa em Almelo, Países Baixos. Foto gentilmente cedida por Gerard Visser.




Pupa e saco-de-ovos de Chaoborus sp., coletado em um tanque de piscicultura em Dourados, MS. Fotos de Roberta Mochi de Miranda.









Chaoborus sp., fotografado em São Paulo, SP (primeira) e Vinhedo, SP (demais). Medem cerca de 6 mm. Fêmea na primeira série de fotos, macho na segunda. Fotos de Walther Ishikawa.




Mosquitos-de-sapos (família Corethrellidae)


                Parentes próximos dos Culicidae e Chaoboridae, até pouco tempo eram classificados como uma sub-família destes últimos. Família monogenérica, somente com o gênero Corethrella, 46 espécies brasileiras (112 no mundo). Os adultos também lembram diminutos culicídeos. Fêmeas hematófagas, alimentam-se de sangue de anuros machos, não usando gás carbônico para localizá-los, mas a sua vocalização (fonotaxia). Desta forma, só são encontrados em locais onde existem estes anfíbios, pesquisadores usam armadilhas com gravações destas vocalizações para atrair estes mosquitos. Machos adultos não se alimentam. Não representam risco para o homem.

            Suas larvas são aquáticas, lembram bastante larvas de culicídeos, com os quais são frequentemente confundidos. Possuem cabeças largas e triangulares. Habitam fitotelmata de bromélias, internódios de bambus e poças d´água no solo. Predadores, alimentam-se de outros invertebrados aquáticos, inclusive larvas de culicídeos.




Corethrella
sp., coletado em criadouro temporário no solo, associado a vegetação aquática, em Macapá, AP. Note a semelhança com uma larva de culicídeo. Vídeo gentilmente cedido pelo biólogo José Fereira (INPA).








Corethrella
sp., coletado em fitotelma de bromélia na Estación Biológica Pitilla, Costa Rica. Imagens gentilmente cedidas por Diane Strivastava.





Grande grupo de Corethrella sp., em plena hematofagia sobre Perereca-martelo (Boana faber) vocalizando no Sítio Cristal, em Domingos Martins, ES. Fotos cortesia de Flávio Mendes.



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